quinta-feira, março 03, 2016

Gainsbourg, ou como um homem muito feio e muito desregrado atraiu várias mulheres muito belas


Vou repetir-me outra vez mas, desta vez, para disfarçar, parafraseio Vinicius: os muito feios que me perdoem mas beleza é fundamental. 

Até hoje, que me lembre, nunca nenhum homem muito feio me atraíu. Acho que a fealdade distrai e eu acho que, nos homens, nada deve distrair a atenção da sua essência. Por exemplo, se vejo um homem todo aperaltado, fatinho à maneira, imaginemos cinzento escuro, boa gravata, nó bem dado, camisa a propósito, digamos que branca, e, de repente, reparo nos sapatos e vejo uns sapatos bons, bem tratados, em castanho, como é de bom tom entre os queques, então logo são os sapatos que captam a minha atenção e dou por mim a pensar, olha, um cagãozinho, e, vá lá saber porquê, parece que já nada do que o pobre faça ou diga fará mudar a minha opinião: um pipi armado em carapau de corrida. E sou assim com tudo. Horrível, isto. Sempre fui assim. As minhas amigas diziam: diz onde é o teu caixote do lixo. E estavam certas: muito homem capaz foi, directinho, para o meu caixote do lixo. E o drama é que, por muito que faça, dificilmente de lá sai.

E, se isto é com sapatos ou uma camisa disparatada ou relógio amaricado ou coisa do género, imagine-se o que é com uma cara de meter medo ou um corpinho mal jeitoso. E não vale a pena virem dizer-me que ninguém tem culpa e que ser feio não é problema. Sei disso. Aliás dou-me lindamente com toda a espécie de camafeus. O que digo é que, numa perspectiva de atracção sexual ou amorosa, digamos, comigo não dá. 

Mas os muito feios que não se entristeçam: é que, se eu sou de má boca - para mim só filet mignon - o que não falta são mulheres que parece que, quanto mais feios, melhor.


(La Decadanse: muito dancei eu ao som disto)


Fez esta terça-feira, dia 2 de Março, 25 anos que Serge Gainsbourg (nascido Lucien Ginsburg) se foi. Tinha 62 anos e uma vida preenchida, transbordante. Escandaloso, polémico, excessivo, foi também uma pessoa extremamente talentosa. Compôs cerca de 550 canções e os sucessos foram inúmeros, tal como inúmeros têm sido os covers a partir dos seus originais.


E feio. Feio, feio todos os dias, e um corpinho franzino, sem história, todo ele mal amanhado. E, contudo, como acontece a tantos homens assim, com uma fenomenal saída junto das mulheres. Mas que, quem não conhece a história, não pense que foram as muito feias, ceguinhas e vencidas da vida que, à falta de melhor, não tiveram outro remédio senão resignar-se a ficar com os restos. Nada disso: mulheres belíssimas, cortejadíssimas, caíram sob o efeito do seu sex-appeal (por muito escondido que, à vista desarmada o sex-appeal estivesse, a verdade é que consta que o homem era uma bomba). As fotografias mostram-no feiozinho, coitadinho, e ao seu lado, belas e cobiçadas mulheres que podiam escolher o que quisessem. Fumava uns atrás de outros, os dedos já queimados, uma chaminé a céu aberto, a toda a hora com um cigarro nos dedos; e bebia, bebia até cair para o lado -- e as mulheres sempre a olharem-no com paixão, doidas por ele.

(Foi o coração que o atraiçoou mas falava-se também de cirrose.)

Mostro, então, as principais mulheres da vida de Serge Gainsbourg


(por facilidade, vou buscar algumas das fotografias legendadas que aparecem no Madame Le Figaro).

Com Juliette Gréco para quem numa noite, em 1959, escreveu a célebre La Javanaise

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Françoise Pancrazzi, a segunda mulher (a primeira foi Elisabeth Levitsky): tiveram dois filhos e divorciaram-se em 1964 pois Françoise não suportava o comportamento de Serge, tinha ciúmes e ciúmes mais que fundados. 
[E eu olho para a fotografia e pasmo: como era possível? Ela linda e ele um feio deslavado]
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France Gall que ganhou o festival da canção com Poupée de Cire, Poupée de Son, composta por ele. Gainsbourg compôs outras canções para ela, tal como Les Sucettes, canção cujo teor erótico ela diz que apenas compreendeu mais tarde, já mais crescidinha. 



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Brigitte Bardot, um amor interdito (já que ela era casada). Sobre a relação que os uniu, confessou ela mais tarde:
« La beauté c'est quelque chose qui peut être séduisant un temps. Ça peut être un moment de séduction. Mais l'intelligence, la profondeur, le talent, la tendresse, c'est bien plus important et ça dure beaucoup plus longtemps. »
Para ela, compôs ele várias canções, entre as quais Je t'aime moi non plus e Initials B.B.


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Com Jane Birkin, o grande amor. Começaram por detestar-se. Depois tornaram-se inseparáveis. Jane torna-se a sua inspiração, a sua musa, e com ela ao lado, os sucessos sucedem-se. Faz uma nova versão de Je t'aime.. moi non plus. Para ela faz também, entre outras, 69 Année Erotique



Com a filha, Charlotte Gainsbourg, em 1971, em Londres

Com a filha Charlotte Gainsbourg, ainda uma miúda, faz um dueto que deixou quase toda a gente escandalizada com a canção Lemon Incest (1984). Compreende-se.


A seguir, faz um filme, também com a filha, Charlotte Forever, que causa igualmente a maior perplexidade (digamos assim). Em vez de um excerto do filme, partilho convosco uma entrevista em que se pode ver a timidez de Charlotte e o polémico pai. Desconcertante, no mínimo.


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Depois da ruptura com Jane, segue-se Catherine Deneuve que o ajudou a esquecer o seu grande amor.
Para ela e para o filme Je vous aime, compôs Dieu fumeur de havanes


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Caroline Paulus, mais conhecida por Bambou, a última mulher. Com ela teve o 4º filho
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Com Vanessa Paradis em 1990, a última musa, para quem compôs, para além de uma outra, Tandem


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Para terminar, uma emocionante homenagem que reuniu alguns dos seus devotos. 
Em 1990, perto do fim.


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Em 2011 saíu um filme sobre a sua vida

Gainsbourg: A Heroic Life 




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Repesco as palavras de BB -- não é a beleza ou o breve instante da sedução: são a inteligência, a profundidade, o talento, a ternura que perduram. Deve ter sido isso que fez com que elas o amassem tanto. E, de resto, admito, a beleza tal como o amor e tantas outras coisas são una cosa mentale.

[NB: Centrei o texto na relação dele com as mulheres mas, bem entendido, o talento de Gainsbourg foi e é apreciado enquanto multi facetado e talentoso artista]
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E agora, se ainda não viram, desçam, por favor, até ao post seguinte: aí se pode ver o hábito que Pablo Iglesias, o líder do Podemos, tem de beijar na boca os seus correlegionários. Pelo que se vê, ele beija qualquer um em qualquer lugar, incluindo no Parlamento. Os cartazes humorísticos começam a surgir e eu imaginei casais que gostaria de ver a cumprimentar-se assim na nossa Assembleia e até me ocorreu uma forma original dos nossos deputados do sexo masculino se despedirem do ainda Cavaco.

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2 comentários:

  1. JOAQUIM CASTILHOmarço 03, 2016

    Ólá UJM!

    Quanto mais leio os seus textos mais sinto prazer em a ler e mais detesto o tão louvado e premiado neoliterato Gonçalo M. Tavares. Eu explico: os seus textos sobre qualquer tema , mesmo quando o tema , como neste caso e em alguns outros, me é perfeitamente indiferente são sempre muito bem escritos, num português que, para além de correcto, é fluido é luminoso. O texto tem uma estrutura, com princípio meio e fim como se costuma dizer, e é escrito com a força sentida dos seus argumentos que as imagens ajudam a reforçar. Mesmos textos sobre futilidades mundanas ganham um inusitado interesse.
    Gonçalo M. Tavares também pode e tem escrito sobre qualquer tema mas os seus textos, crónicas ou mesmo livros, em português correcto são uma lenga-lenga de palavras em novelos que se vão desfiando para se enovelar de novo sem aparente finalidade ,utilidade ou estrutura, um desfilar contínuo de frases, ligadas umas às outras, na maior parte dos casos sem que possamos descortinar nelas qualquer interesse.
    Nova literatura , novos caminho de expressão literária mas, na esmagadora maioria dos casos, muito chata.
    Continue UJM que eu e certamente muitos leitores do seu blog gostamos de a ouvir escrever!!!!
    E para quando um livro????
    Permita-me um grande abraço!

    J Castilho

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  2. Olá Joaquim!

    Gostei tanto de o ter cá. E que simpatia a sua!

    Quanto ao Gonçalo M. Tavares somos dois. Não consigo ler os livros dele. Chatos, chatos... É que nem se percebe qual o propósito daquilo, não é?

    Quanto ao que me pergunta, retribuo com uma outra: e para quando um poema seu aqui nos comentários? Tenho saudades!

    E muito obrigada... e muito!

    Um grande abraço para si também, Joaquim.

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