quarta-feira, fevereiro 03, 2016

Alô, alô António Costa, Mário Centeno, Augusto Santos Silva! A hora é de negociar e de ser firme! Não de baixar as calcinhas, ouviram? É deixar as maria-amélias, as vizinhas e as concubinas mais a seita de comentadores avençados carpir, ameaçar, censurar e fazer a intrigalhada deles. Essa é a praia pafiana, não a dos portugueses patriotas.


Ora bem. Depois daquele título quilométrico pouco mais deve haver para dizer. Mas, enfim, palavrosa como sou, cá vão mais uns quantos recadinhos:


1. A hora é de negociar, dizia eu lá em cima. Em primeiro lugar negociar ao mais alto nível: com os presidentes da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu, do BCE. E com a Itália, com a Grécia, com a França, com os socialistas espanhóis e com quem provavelmente eles farão governo, com a esquerda democrática europeia, e, que remédio, também com a Popota, vulgo Merkel.


As opções agora são de cariz político e é a esse nível que, em primeiro lugar, a discussão deve ocorrer.

É hora de abordar também a galinha tonta da Lagarde -- mas ir munido dos mil relatórios dos directores do FMI em que eles provam que os programas que impuseram estavam errados e falharam. É que a galinha bronzeada esquece-se muito, mais vale levar-lhe um best of do que foi dito pelos seus próprios colaboradores

Depois dessa cama estar feita, ajeitar então uma ou outra medida com os técnicos de Bruxelas para que eles achem que têm algum poder e não chateiem muito. Os burocratas, formatados segundo uma certa cartilha, são gente tinhosa. Não se deve mostrar que se tem medo deles, convém mantê-los no lugar senão julgam que mandam. Mas também não se deve subestimar essa gente: ladram que se farta, mordem as canelas, chateiam à brava. Convém ir-lhes dando alguns ossos e é bom que ninguém se esqueça disso. Nada de mais, só isso: mantê-los entretidos e satisfeitinhos.

Em síntese e para acabar este ponto: é importante que Portugal não baixe a guarda, não baixe a cabeça, não baixe as calças.
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Mas, se não se importam, vamos com música que vamos melhor.


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2. A lástima que são as manifestações dos capachos dos fundos especuladores e dos investidores selvagens (e não digo nomes porque são muitos e deixaria certamente alguns de fora) apenas nos devem dar dó. 

A indigência dos comentários das gentes que padecem do síndroma de Estocolmo e que choram por mais austeridade, mais sopa dos pobres. mais desemprego e mais emigração também nos deve dar dó.

A cacafonia dos comentadores e dos jornalistas-papagaios que invocam medos ancestrais e enchem a boca com défices estruturais e outros indicadores que ignoram
(a sério: não há ninguém que se vire para um dos que tem a boca a deitar por fora de défice estrutural e lhe pergunte o que é isso, que explique como se calcule, quanto foi nos últimos quatro anos? Havia de ser um fartote, uma daquelas cenas que se tornaria viral num abrir e fechar de olhos) 
apenas nos deve fazer rir.


3. Outra coisa, agora a ver com comunicação.

PR= Public relations
O que é feito dos spin doctors deste governo ou da coligação que o apoia?

Estão as televisões, jornais e blogs da treta cheios de campanhas negras, tudo a dizer que vem aí o lobo, que os burrocratas nos vão dar tautau, e os anjinhos do governo não são capazes de lançar uma onda de informação a sério, didáctica, desdramatizada? E outra, paralela, a desmascarar os anti-patriotas, as maria-amélias, os caguinchas, as vizinhas, as rameiras, os vendilhões e os vendidos? A desmascarar e a gozar com essa gente.

Não há spin doctors de esquerda?!


4. E mais. Era bom, ó senhores socialistas, que alguém fizesse uns videozinhos simples a explicar como se faz um orçamento, daqueles videozinhos que correm pelo facebook e que estão disponíveis no youtube. Uma coisa explicada como se fosse para crianças de 4 anos ou para mariazinhas que gostam de encher linhas inteiras com uma única letra e que no fim batem palminhas de satisfação e lol, lol, lol.

Uma coisa assim. Se eu ganho 100 e tenho encargos de 40 e mais 50 e mais 20, tenho um défice.

Se eu não quiser ter défice, posso cortar nos gastos mas, ó gente, também posso ganhar mais.

Por exemplo. Se eu na minha casa recebo 100 e quero gastar 50 com os meus filhos, 30 com a casa, 10 com transportes e outras despesas, 10 para mim e outros 10 para amortizar uma dívida, posso:
  • Cortar nas despesas, ou seja, impor austeridade, ou
  • Trabalhar mais e ganhar mais do que 100, ou seja, actuar ao nível da receita.
E outros videos a explicar este tipo de coisas (ex: dívida, impostos, etc) para mostrar que a aritmética é simples mas que gerir um orçamento não é uma coisa determinística, em que as parcelas são fixas, quiçá obra divina: não, há sempre opções. E que optar é próprio de gente livre.


5. Tinha mais coisas para dizer mas, para não cansar a vossa beleza, fico-me por aqui. Mas, antes de acabar, digo ainda só mais esta: o orçamento vai passar e vai mostrar que é possível fazer diferente. Um toque para aqui e outro para ali mas os compromissos serão respeitados e António Costa saberá mostrar que o povo que elege quem governa é soberano (ou, pelo menos, merece ser tratado, com respeito, como tal). E, viva Portugal!

(Olha, até quase versejei)

Soou piroso eu dizer Viva Portugal?
(Paciência. Acho mesmo que falta de auto-estima é um dos problemas deste país.)

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quarta-feira muito feliz.

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1 comentário:

  1. A exemplo de muitos outros, lá vou igualmente seguindo o que se está a passar. Há ainda assim gente capaz de uma certa lucidez que sabe ver e olhar para esta questão sem fel político, ao contrário do que fazem os Partidos do defunto PAF, os mesmos que ajoelharam perante a Troika, uns sabujos que hoje preferem estar do lado dos burocratas de Bruxelas, essa gente sem sensibilidade social e a quem lhes falta a legitimidade do voto secreto e universal para perorar sobre a soberania de países e das suas decisões, democraticamente aprovadas em sede parlamentar. Acredito que António Costa saberá manter a palavra perante os eleitores e os compromissos que assinou com os Partidos à sua esquerda. Acho mesmo que todos os intervenientes, PS, BE, CDU (e agora também o PAN) estão imbuídos de boa-fé e vontade de redigir um OE que, embora possa vir a sofrer uma outra alteração nominal, respeite o acordado, designadamente a devolução de alguns rendimentos, ao longo do ano. Aliás, quando ouvia hoje alguém na rádio a comentar tudo isto, com razoável seriedade, ficou-me a impressão de que o governo já anteciparia algumas destas reacções de Bruxelas e que tinha algumas cartas na manga, just in case. Isto porque não é crível que de repente pudessem vir a ser “descobertas” soluções para contrariar as tais dúvidas dos burocratas de Bruxelas (os mesmo que se preocupam com os litros que um autoclismo deve conter, no caso, para menos do que o actual, a fim de poupar água!). Elas já deveriam ter sido pensadas, se fossem necessárias. O que só demonstraria inteligência. Uma noite destas ouvi também Francisco Louçã e Victor Bento, com a Judite de permeio, do lado do Bento (claro) e deu para perceber, via Louçã, muito comedido, mas racional como é seu hábito, o que se pode fazer para encontrar soluções. O Bento careca já esteve menos bem, profetizando eleições antecipadas já para este ano (wishful thinkin do homem), enrolando-se num palavreado hermético. Também hoje ouvi António Saraivada CIP que foi muito ponderado, o oposto da gritaria que os galináceos da Direita vão cacarejando. Esta questão é também uma questão de soberania. E quer-me parecer que Bruxelas já percebeu que, desta vez, tem em António Costa e Mário Centeno gente que embora não deixando de honrar compromissos, não deixará de saber defender os interesses do país e dos mais fragilizados socialmente e que não aceita, ou ajoelha como estavam habituados quando quem nos governava se chamava Passos/Portas. Vamos aguardar até 6ªFeira e depois, quando o OE for a discussão. De registar ainda o silêncio ensurdecedor de Belém, sobre estas provocações de Bruxelas.
    P.Rufino

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