sábado, dezembro 26, 2015

Um javali à mesa, uma espécie de tiropitas, trouxinhas de queijos e salpicão e um corredor percorrido de trotineta, ao som de umas valentes pianadas. Ou seja, Natal à moda de Um Jeito Manso




Escrevi o post abaixo, sobre o que ganham os médicos no SNS, porque não descansava se não o escrevesse mas fiquei a pensar que talvez que quem aqui procura as minhas palavras numa noite ou num dia como o de hoje, ainda o dia de natal mal esfriou, não esteja com disposição para ler sobre as incompetências do anterior governo (que não devia conhecer a história da mula do inglês, a tal a quem foi cortada a ração para que ele pudesse poupar na sua alimentação e que tanto ele cortou, tanto cortou, que a pobre coitada morreu). 

Por isso, apesar de estar francamente sem energia, vou tentar escrever qualquer coisa mais noutra onda.


Este sábado ainda vai continuar a ser natal para mim já que este ano, dado o estado do meu pai, nem ele pôde sair de casa nem a minha mãe o quis deixar com a senhora que a ajuda e, por isso, combinámos lá ir todos lanchar no dia a seguir ao natal. Irmos todos na véspera ou no dia, era missão impossível dados os afazeres e compromissos; e a minha mãe preferiu assim já que a semana passada o meu pai esteve um bocado agitado e quase não a deixou dormir. Agora o médico mudou-lhe a medicação e, felizmente, já está mais tranquilo.

Por isso, verdadeiramente só a partir deste sábado à noite é conseguirei verdadeiramente descansar. Não sei se isto já é da idade ou se é de um culminar de muitos dias, muitos meses de muito trabalho ou se é porque este ano que está prestes a acabar foi verdadeiramente pesado do ponto de vista emocional com o meu pai logo no primeiro dia a cair e a partir uma perna, depois a cirurgia, depois complicações, depois internamento numa clínica de reabilitação, depois a descoberta do cancro da minha mãe com os exames e o susto inerente, depois a cirurgia da minha mãe, depois a pneumonia, embolia pulmonar e insuficiência cardíaca do meu pai e mais outro internamento e, para acabar em beleza, a seguir uma bactéria hospitalar. Foi dose. E conjugar o trabalho a decorrer sem pausas com estes medos e as idas e vindas aos hospitais, e com a restante vida familiar a decorrer, não tem sido fácil.

Mas, enfim, tudo tem acabado em bem. A minha mãe está bem, o meu pai também está estabilizado e, portanto, bola para a frente que para a frente é que é caminho.

Mas, dizia eu, não sei se é de tudo isto, se é de, agora neste mês, andar a correr a fazer compras no meio da barafunda, se é do trânsito diário que me dá conta do juízo, ou se é de ter feito cá o jantar de natal e de o dia de natal -- apesar, de no dia, o trabalho ter sido sobretudo dos donos da casa, que está linda, acolhedora, calorosa, e que tiveram uma trabalheira incrível -- ter sido tão animado que tanta agitação
[cerca de 20 pessoas; crianças a andar de trotinete no corredor (crianças e adultos, que, os pais das crianças também não resistiram), meninos a tocar piano e a cantarem alto e bom som e sei lá que mais] 
quase ter funcionado como a gota de água, a verdade é que cheguei a casa e, mal me encostei no sofá, me deixei dormir. Ou melhor: apaguei.

E agora que aqui estou, apesar de já mais desperta, não faço outra coisa senão bocejar.

Tirei milhares de fotografias, quer na véspera cá em casa, quer no dia, na casa do meu filho, mas não tenho das receitas de culinária de que aqui vou falar. Por isso, a comida que aqui vai aparecer não é a que aparece descrita. Tudo obtido na net.

O meu filho fez um grande salmão e uma big perua recheada. E meio mundo levou coisas de toda a espécie e feitio, nomeadamente doces óptimos. E levámos também o que sobrou do jantar da véspera, incluindo o javali*.
Na noite, o mais pequeno não gosta de batatas e eu, no meio da barafunda, esqueci-me disso. Por isso, fui à pressa fazer arroz, para ele comer com o bacalhau e depois com o prato de carne trazido pela mãe da minha nora e que tinha batatas, batata doce e cenoura. A minha filha, quando chegou à cozinha e me viu a pôr um tacho ao lume, perguntou-me o que estava eu ainda a fazer. Respondi que era arroz para o mais pequeno e para o javali. Ela desatou-se a rir: 'O quê? Temos um convidado surpresa...?' Desatámo-nos as duas a rir. Quando ela contou isso à mesa já diziam que era eu que estava a chamar javali a algum dos comensais.
Adiante. Quando comecei a escrever isto, vinha com ideia de vos contar o que tinha feito para levar como entradas para a casa do meu filho e distraí-me a falar de minudências.

Mas, então, levei salmão fumado, chèvre, e acho que mais qualquer coisa de que agora não me estou a lembrar mas não interessa porque o que quero é dizer-vos o que cozinhei para levar porque acho que ficou bom, é fácil, económico, e pode dar-vos ideias para os vossos repastos. Como sempre, foi a primeira vez que fiz -- e tudo a olho -- pelo que, até que provem, estou sempre sem saber se resultou. Mas o perigo é a minha profissão.

Adiante de novo. Vamos mas é à faina.


1. Iscas às lascas

Fritei as iscas, cortadas finas, em azeite, alho abundante e louro. Depois de bem fritas, foram cortadas em tirinhas finas, mesmo muito fininhas. A seguir temperei-as com um dente de alho (cru) finamente picado (poderia ter posto mais, para acentuar o sabor mas isso poderia ter efeitos colaterais desagradáveis pelo que preferi assim, apenas aromatizadas), um fio de azeite e de vinagre balsâmico. Ficam muito agradáveis e podem comer-se as lasquinhas à mão pois absorvem os molhos e ficam quase sequinhas e muito saborosas.


2. Uma espécie de tiropita

Comprei massa folhada fresca, já estendida.

Não é nenhum destes.
Não é que, nisto, o tamanho importe mas o meu rolo é
muito maior. Mas é para verem como dobrei as pontas
Num tachinho, misturei queijo feta, queijo ricotta (em creme) e dois ovos. Misturei bem, até que os queijos e os ovos estivessem bem envolvidos, um creme grossinho.

Pus um fio de azeite sobre a massa, espalhei e, por cima, coloquei o creme de queijos. Depois enrolei a massa como se fosse uma torta. Quando estava o rolo feito, dobrei as pontas para o recheio não escorrer.

Tinha aquecido previamente o forno a 220º durante uns 10 minutos. Quando lá meti o rolo, sobre papel vegetal de ir ao forno, reduzi para 160º. Quando estava a ficar dourado e a massa já estaladiça, puxei para fora, espalhei mel por cima e sementes de linhaça. Voltou ao forno até ficar bem dourado. Ao todo, cerca de 30 minutos no forno (acho eu, porque me regulo não pelo relógio mas pelo aspecto). Depois de frio, na mesa, corta-se às fatiazinhas. Muito bom.


3. Uma espécie de não sei o quê

Não é isto.
Mas é para verem o tipo de rolo
Na mesma, tem como base a massa folhada.

Num tachinho, misturei queijo feta e queijo ricotta, uma alheira, uma bola de espinafres (congelados) e 1 ovo. Mexi até que os espinafres descongelassem e tudo estivesse misturado, uma papa cheirosa e que só apetecia comer assim, à colherada. Mas não a comi.

Espalhei o tal fio de azeite sobre a massa, depois a pasta bem cheirosa. Enrolei e dobrei as pontas.

Foi para o forno ao mesmo tempo que a outra e levou o mesmo tratamento: mel e sementes, e novamente forno. 

Depois de frio, corta-se às fatias. Digo-vos: modéstia à parte, coisa mais boa!


4. Trouxinhas armadas em boas

Também não são estas
Mas o feitio das trouxas é este
Nestas coisas tenho sempre medo que seja pouco e, por isso, na véspera de natal, à última hora ainda me fui enfiar de novo no supermercado para ver se trazia mais massa folhada ou massa filo. Já só encontrei massa folhada aos quadrados pequenos. Trouxe na mesma.

Então, ideia do meu marido, para aproveitar um salpicão que lá tínhamos e que não iríamos comer, fiz umas trouxinhas que foram muito apreciadas. 

Sobre o quadrado da massa folhada, coloquei, ao meio, ricotta, pedacinhos de salpicão, e feta. Fechei os quadrados em forma de trouxa. Foram para o forno ao mesmo tempo que os rolos. O forno ficou cheio disto. Perto do final, o mesmo tratamento de beleza: mel e sementinhas. Muito apreciadas.
....

(Espero que já estejam com apetite). 

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Relembro que, embora não tenha nada a ver com o espírito do que acabaram de ler, se quiserem saber de um dos assuntos de que falámos e que tem a ver com o estado a que a Saúde em Portugal chegou, desçam, por favor, até ao post que se segue.

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Lá em cima, Katie Melua interpreta Have yourself a merry little Christmas

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* Por mail, recebi uma interrogação a propósito do javali (Javali?). Não será o prato mais habitual numa ceia natalícia, concordo. Explico em três palavras: oferta de caçador. 

E, de resto, quem é que disse que o prato de carne na véspera de natal deve ser galo capão ou peru ou sei lá o quê? Havendo javali, pois que o dito vá ao forno e, de lá, se ponha a preceito em cima da mesa. Assim foi.

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6 comentários:

  1. Felizmente que o seu Natal em família foi perfeito e que as contrariedades, embora não completamente ultrapassadas, estejam mais ou menos resolvidas. A saúde continua a ser aquilo que mais nos afeta quando se perde. Graças a Deus que os seus pais estão estáveis. E eu, infelizmente, sei muito bem do que falo.
    Desejo-lhe a continuação de umas Festas Felizes e que 2016 traga toda a esperança de que necessitamos.
    Um grande abraço.

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  2. Este é o blogue da abundância.

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  3. Olá Jeitinho,
    Não consigo encontrar o meu comentário onde lhe desejo Boas Festas, por isso, aqui ficam os meus desejos de Boas Festas.
    Este ano também não foi pêra doce para mim, por isso estou desejando vê-lo pelas costas, sem deixar saudades.
    Quero pedir-lhe para reunir todas as suas receitas numa "etiqueta"(não sei se é o nome correcto, mas espero que entenda), para nos ser mais fácil consultar( no outro dia tentei encontrar uma receita sua com maçãs verdes, e não encontrei no meio de tantos posts).
    Obrigada e que 2016 lhe sorria.
    Beijinhos Ana

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  4. Olá Teresa-Teté,

    sabe que isto é um equilíbrio na corda-bamba mas já aprendemos a contentar-nos com as pequenas coisas: se dormiu bem, se está com apetite, pronto, já é uma boa notícia, já nos alegramos. Com a minha mãe, as análises de controlo nos 3 meses depois da cirurgia estavam negativas e o médico disse-lhe outra vez: 'é uma mulher de sorte, está curada, esqueça que teve um cancro!' e nós só nos apetece atirar foguetes, tanto o alívio.

    E há os tios, um dia ela está com dores que mal se mexe, outro dia é ele com o coração a bater ao retardador. Mas tratam-se, ficam bem... e bola para a frente.

    E ao mesmo tempo há notícias de vida: um dos meus primos, com cinquenta e não sei quantos, com dois filhos já crescidos, agora tem uma bebé. Ao princípio, quando soube, ia-lhe dando uma coisa. Agora, tipo avô, está todo babado.

    Por isso, siga o andor.

    Espero que consigo e com os seus esteja tudo bem, a vida a correr bem, todos felizes e com saúde e esta da saúde é, em particular, para si, Teté.

    Um beijinho de agradecimento e desejo-lhe, a si e aos seus, um 2016 mesmo muito bom.

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  5. Olá Anónimo/a,

    Sobre isso da 'abundância' falei no post que acabei de escrever.

    Desejo-lhe um 2016 com afecto, sorte, saúde e alegria - tudo em abundância!

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  6. Olá Ana,

    O seu comentário das Boas Festas está aqui:
    http://umjeitomanso.blogspot.pt/2015/12/a-entrevista-de-jose-socrates-na-tvi-o.html?showComment=1450359702147#c293319225536323361

    Geralmente quando escrevo coisas com receitas de culinária, classifico com a etiqueta 'Culinária'. Por isso, se for, no blog, à direita, lá mais para baixo, há uma fiada imensa de etiquetas e lá encontrará a da Culinária. Clicando lá vai parar a posts que têm as minhas receitas.

    Gosto imenso de cozinhar mas gosto de improvisar. E, em especial, dá-me para improvisar em situações em que deveria ser prudente. Os meus filhos ficam sempre inquietos com medo que a mãe dê barraquinha, aparecendo com acepipes 'marados'. Mas, por acaso, costuma correr bem.

    Não sabia que o seu 2015 também não tinha sido espectacular. Mas, nisto, eu acho que quando as coisas são más, geralmente, a partir daí, só podem melhorar.

    Espero que consiga isso aconteça: que 2016 seja uma abo fantástico, bom, com novidades boas, com saúde, sorte, com tudo de bom.

    Um beijinho!

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