Quando escrevi o post abaixo estava ainda sob o efeito das notícias do dia, laparices de última hora, trampolinices do irrevogável, ameaças soezes aos socialistas, uma venda da TAP feita a correr, a comunicação social ao serviço dos pafiosos, sei lá.
Mas agora já exorcizei do meu pensamento esses demónios que por aí andam à solta e que, se não nos acautelamos, se aproximam de nós, deixando a sua baba infecta no espaço que pisamos.
Tinha umas quantas ideias em mente, para ainda aqui escrever, mas esta semana tem sido brava e, a esta hora tardia, eu estou cansada. Talvez amanhã fale, então, de gente rica, mas mesmo muito rica, pornograficamente rica, ou fale de poesia e de poetas e de mulheres que inspiram poetas. Ou talvez me ponha para aqui a ficcionar, ando com vontade de desligar o filtro da realidade e deixar a imaginação descobrir, sozinha, os caminhos por onde gosta de se perder. Ou talvez fale de um bosque cujos pinheiros ajoelharam ao ver a luz do dia.
Mas não hoje que hoje tenho que ir descansar. Mas, antes de ir, quero aqui partilhar a notícia boa de que o regime iraniano, aos poucos, começa a dar sinais de alguma abertura e que, como geralmente acontece, esses sinais chegam do lado da arte.
À esquerda, Mark Rothko, Sienna, Orange and Black on Dark Brown, 1962;
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Uma colecção de arte ocidental, obras escolhidas por Farah Diba Pahlavi, estava praticamente escondida desde a revolução de 1979, quando o marido, Reza Shah Pahlavi, foi deposto. Dessa colecção fazem parte, entre outras, obras de Andy Warhol, Claude Monet, Roy Lichtenstein, Jackson Pollock, Alberto Giacometti, Willem de Kooning, René Magritte e está avaliada em cerca de 3.000 milhões de dólares.
Francis Bacon, Reclining Man with Sculpture, 1961 |
A exposição tem o nome de Farideh Lashai: Towards the Ineffable. Farideh Lashai foi um espírito livre, uma mulher moderna -- uma artista iraniana que morreu em 2013 com 68 anos. Na exposição, as referidas obras ocidentais enquadram as suas obras. Há também obras de outros artistas iranianos. A ideia do curador é tecer uma aproximação intercultural - e, mesmo sem ver, já acredito que esta exposição seja um acontecimento fantástico.
Farideh Lashai, I Come From the Land of Ideology, 2010 |
Claro que já há museus interessados em exibir partes desta exposição pelo que, quem possa e esteja de água na boca mas não esteja com muita vontade de ir até àquelas bandas, poderá vir a encontrar, mais tarde, algumas destas obras em exposições em Washington, D.C., Berlim ou Frankfurt.
Farideh Lashai, When I Count, There are Only You… But When I Look, There is Only a Shadow , 2012-2013 [* - Do título deste quadro fiz o título da mensagem.] |
Se eu não estivesse como estou, quase a adormecer, traduziria parte do artigo da Vanity Fair ou do The Art Newspaper -- mas não consigo. Por isso, deixo-vos apenas os links e as imagens de algumas obras.
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E, porque um conjunto tão significativo de obras pede, como acompanhamento, um desempenho musical fora do comum, junto um vídeo que mostra um momento ímpar: em volta de um único piano, um grupo de uma dúzia de conceituados pianistas improvisa uma inspirada orquestra. Só vendo. Ou melhor: só ouvindo. Uma festa.
Washington Conservatory : What is the sound of E. Pluribus Unum?
Maravilhamentos.
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E agora, se vos apetecer emoções fortes, sigam, por favor, até ao post já a seguir.
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Muito bom. Que faria, se não estivesse cansada!
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