Quando eu for grande, gostava de ter o poder de contenção, a precisão algébrica, a limpidez de escrita, a capacidade de investigação e de síntese que leva a, em meia dúzia de palavras, agarrar em mil pontas soltas que reconheço no autor do fantástico blog Xilre (a que, aqui na minha galeria lateral, chamo Livro de Horas).
Em tempos, num outro blog, li que o Xilre é um dos melhores blogs de homens, ou o melhor (já não me lembro), e achei isso tremendamente injusto porque, classificando-o dessa forma, parecia reduzi-lo ao género, uma coisa quase tão deslocada como dizer que Ana de Amsterdam é um dos melhores blogues de mulheres. Um blog que é bom, é bom independentemente do sexo de quem o escreve, especialmente quando se distingue pela qualidade da escrita ou quando aflora temáticas que não estão agarradas aos limitados temas supostamente específicos do sexo do autor.
Considero que um blog pode encaixar na categoria de 'blog de homens' quando grande parte do que escreve se dirige explicitamente ao sexo feminino, seja numa de galanteio, seja numa de provocação brincalhona (abundando, então, posts com títulos como, por exemplo: 'O problema das mulheres', 'aquilo de que as mulheres gostam', 'o que as mulheres não conseguem perceber', etc).
Ora o Xilre não é nada disso. Se, por vezes, ali se vêem descritos pequenos episódios do dia a dia ou referências culturais tantas vezes inesperadas e sempre gratificantes de ler, ou pequenos apontamentos poéticos, frequentemente haikus muito pessoais que certamente resultam de uma observação decantada do mundo ou das almas, e/ou uma cuidada e requintada selecção de pinturas ou músicas, é também ali que encontro das mais pertinentes, oportunas e bem fundamentadas reflexões sobre temas marcantes da actualidade.
Hoje li ali um post cuja leitura muito vivamente recomendo.
Sob o título Mestres dos Disfarces, o que ali se lê é o retrato a cru do que tem sido a actuação oportunista, prepotente e arrogante dos alemães tantas vezes em cima de práticas ilegítimas.
Transcrevo apenas a conclusão do post mas, repito, aconselho a sua leitura integral.
Wolfgang Münchau, do Financial Times, antevê: «a minha expectativa é que a VW seja mantida viva através de alguma combinação de ajudas ocultas ou visíveis por parte do estado.» Assim como já fomos chamados a salvar os bancos alemães, resta-nos saber quanto é que nos cabe na fatura das ajudas ocultas à indústria automóvel germânica. Ela chegará, não duvidemos, como a anterior. Só resta saber quando — e quanto.
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A pintura lá em cima é de Marc Chagall: I and the Village (1911).
Alfred Brendel com a London Philharmonic Orch. interpretam o concerto para piano "Emperor" de Beethoven
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E, se para aí estiverem virados, desçam um pouco mais que verão a escola onde os PàFs aprenderam a fazer contas.
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Que dizer, senão que «Um Jeito Manso» é uma leitura obrigatória, diária, inspiradora? De uma rara e tão transversal visão do mundo -- única, diria mesmo. Um lugar que ajuda, tantas vezes, a encontrar as peças que faltam para completar a imagem daquele puzzle a que chamamos mundo.
ResponderEliminarMuito obrigado. Um bom dia, UJM.