sexta-feira, setembro 25, 2015

Vem, vamos dançar um tango







Aí onde estás, amor meu, não me vês. Eu estou aqui, estou a falar contido - mas tu não me vês. Fecha os olhos, faz de conta que és cego. Poderás ouvir as minhas palavras, inventar o calor o meu corpo, imaginar o perfume que se desprende dos meus cabelos - apenas não me poderás ver. Aguça, pois, todos os teus outros sentidos, incluindo o da paixão.

Não serás de danças, eu sei. Gostarás de ouvir a música, imagino-te talvez deitado no chão, talvez de olhos fechados, talvez sentindo a vibração que liga a terra, o teu coração, os teus pulmões, todo o teu corpo inquieto ligado à paixão de quem a compôs. Os acordes farão vibrar as cordas da tua emoção, imagino.

Mas hoje não. Hoje quero-te de pé, disponível para mim.

Deixa que eu te ensine, da dança, o sabor do tango; da vida, o enleio da paixão. 

Para começar, meu querido, pensa que nada tens a provar. Quero-te como se tivesses nascido hoje vindo directamente para os meus braços. Quero-te sem nada saberes, sem nada temeres.

Vem. Dá-me a mão, deixa que te leve para o canto mais escuro da rua, lá onde não há janelas de onde nos vejam, nem sombras, nem sustos. Vem. Somos só nós dois, nós e o tango que nos chama.

Aproxima-te. A partir de agora entrega a tua vontade nas minhas mãos. Não penses em nada, deixa-te apenas levar pelo desejo de me conquistares.

Não receies o meu corpo nem o que eu vou fazer com ele. A cada passo teu, o meu corpo ampliará a emoção e rodopiará entre os teus braços, eu toda entregue ao prazer de te conquistar. Nada faças, acompanha-me apenas.

Sente o meu perfume, sente a minha pele, sente como o meu coração bate junto ao teu. Abraça-me, a tua mão deslizando nas minhas costas nuas. Encosta os teus lábios ao meu pescoço. Deixa que a minha perna rodeie a tua, deixa que a tua se aventure entre as minhas, faz-me rodar até que uma vertigem me atire ainda mais para os teus braços.




Mas espera. Espera. Espera. 

Simula que me rejeitas. Simula. Farei o mesmo. Rebelde, afastar-me-ei. Rejeito-te, eu. Mas não demores, não deixes que me tome de amores por outro. Sou tua, és meu. Procura-me, pois, persegue-me, rapta-me, envolve-me, encosta o teu corpo ao meu, deixa que o meu peito sinta a tua face, o calor dos teus lábios frementes. Domina-me, desequilibra-me, faz com que apenas os teus braços me sustenham. Não me deixes cair, estou nas tuas mãos. Cuida de mim, acarinha-me.

Mas.

Não te iludas.

Deixa que te engane, quero que penses que nada sou sem ti, quero que te entregues ao engano da posse. Toma-me que eu vou deixar-te tomar-me, quase, quase. Depois vou mostrar-te que não tenho dono, que me dou a mon seul désir, que me deixo embalar e conquistar apenas para me dar prazer. E a ti. E a ti, que te quero dar prazer. Conquistas-me e eu conquisto-te, eu e tu, corpo a corpo, o meu coração nas tuas mãos, o teu corpo à minha disposição, meu, meu, pour mon seul plaisir.

Não, não acredites. Para meu só, não. Para nosso prazer, dos dois, dos dois. Amor.

E, agora, chega. Respira. Respira, amor meu. Respira. Respira devagar.

E descansa, que os teus braços me envolvam, que o meu amor te sossegue. Te sossegue, mas não muito. Mas não muito. Mas não muito, amor meu.

A lua desceu o olhar. Ama-me de olhos fechados, cego ao mundo, e acende bem vivo o fogo silencioso da tua paixão. Ama-me. Ama-me.




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