Pudesse eu e acolhia no meu coração todos os que me amam. Pudesse eu e nunca, nunca, faria sofrer quem me ama.
Pudesse eu e deixaria ainda espaço para amar também os que, não me amando, precisam de amor na sua vida.
Pudesse eu e escolheria para governar o meu país e o mundo quem mostrasse ter coração, um coração incapaz de ferir pessoa, animal, árvore, pedra ou palavra, um coração também capaz de acolher todos quantos precisam de um canto onde respirar e amar em paz.
Pudesse eu e partiria pelo mundo tentando que, quem um dia perdeu o coração, o tentasse reencontrar para que, de novo, sentisse o calor dos gestos de generosidade.
Pudesse eu e cuidaria de todos quantos têm o coração ferido. Um dia ouvi dizer que o coração é uma ferida aberta e, apesar disso ter sido dito num outro contexto, nunca mais o esqueci. Uma ferida aberta, que sangra. Essa ferida dentro de peito é fundamental à vida, talvez também para que nunca nos esqueçamos do que é sofrer. Sofrer por amor, sofrer por uma perda, por uma ausência, por tudo o que nunca poderá ser, por uma vida que se deixa para trás.
A minha mãe hoje, ao falarmos dos refugiados, dizia, com ar contristado, que ficam por lá os velhos, os que não conseguem fugir. Imagem talvez ainda mais triste do que a dos que se fazem ao mar ou à estrada, arriscando tudo - mas com esperança. Não tinha pensado nisso: os velhos, os que mal andam, os doentes, os acamados, esses estão a ficar para trás, vendo filhos e netos partir.
Vi há pouco na televisão: ao lado das auto-estradas, filas compactas de gente, crianças ao colo, sacos nos braços, quase nada, quase apenas a vida que lhes corre ainda nos corpos. Agredidos, insultados, os corpos cansados - avançam, nem sei como, avançam, dia e noite, dormindo ao relento, ou dormindo em tendas em campos onde são tratados como animais incómodos. Já não há agora onde os acolher, na Alemanha já estão a ficar em campos de concentração.
A história, qual bicho raivoso, parece que desatou a morder as mãos e o coração das pessoas. Não sei o que é isto. Os deuses vomitam as entranhas, cospem fogo, arrancam os olhos às crianças - a terra está a parir monstros sem coração. Não sei.
A história, qual bicho raivoso, parece que desatou a morder as mãos e o coração das pessoas. Não sei o que é isto. Os deuses vomitam as entranhas, cospem fogo, arrancam os olhos às crianças - a terra está a parir monstros sem coração. Não sei.
Em Portugal também há pessoas que não querem acolher as desgraçadas pessoas que fogem da guerra, da miséria, da loucura à solta. Dizem temer que venham tirar o trabalho aos portugueses ou que, entre eles, haja gente desalmada, terroristas.
Gente desalmada sempre a há e de algumas pessoas bem falantes, que não têm cara de terroristas (e o que é ter cara de terrorista?) quem diria o poder de destruição que têm sobre um país? E como sabemos se quem, com ar pacífico, está ao nosso lado numa rua, não está a preparar alguma? Não, não é por aí.
E, com os níveis de desertificação humana que há em tantas zonas do nosso país e com a lástima que está a nossa demografia, com tão poucos nascimentos, pode ser uma bênção que entrem mais uns milhares de habitantes no nosso país. Há apoios europeus para acolher refugiados e, as pessoas uma vez instaladas, começarão a desenvolver actividades, as crianças precisarão de escolas e haverá mais trabalho para professores e precisarão de assistência médica e já tantos enfermeiros não terão que emigrar. E arranjar-se-ão estradas abandonadas e arranjar-se-ão casas antigas, e crescerá o emprego. Será bom para a economia e, a longo prazo, até para a Segurança Social. Mas, ó senhores, e que não fosse... Como fechar as portas, os olhos, as mãos, o coração a toda esta pobre gente?
E Portugal é um país que sabe receber bem quem precisa, que respeita as diferenças, que saberá oferecer carinho, protecção e que beneficiará culturalmente. Um país fica sempre mais rico quando pratica o bem, quando é inclusivo em relação a outras religiões, raças, culturas.
Tomara que os portugueses que hoje se manifestam contra os refugiados encontrem o coração que um dia perderam e venham a acolher com estima, respeito e carinho estas pobres pessoas que deixaram parte do seu coração para trás.
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O apelo de Benedict Cumberbatch a favor dos refugiados
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Permitam que vos informe que, caso queiram mudar de registo e partir para a comédia ao serviço da política, chega via Trump seja via PaF, é descerem, por favor, até ao post já a seguir.
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Desejo-vos, meus Caros leitores, uma bela semana, a começar já por esta semana.
Felicidades a todos.
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Durante cerca de metade do meu serviço militar em Angola (durante a outra metade combati) estive na fronteira norte do território com a República do Zaire, atual República Democrática do Congo. A diferença na densidade populacional entre os dois lados da fronteira era chocante, por causa da guerra em Angola e das centenas de milhares de refugiados que ela provocou. Por exemplo, ao longo da estrada que ligava a vila da Damba à de Maquela do Zombo, numa distância de cerca de 100 km, não se via absolutamente ninguém vivo. Só se viam sepulturas, sucedendo-se umas às outras ao longo da beira da estrada.
ResponderEliminarContactei pessoalmente muitos desses refugiados angolanos no Zaire (diziam-me eles: «Só volto para Angola quando for independente») e muitos zairenses também. O que constatei eu? Que a população zairense era terrivelmente miserável, quase tanto como os refugiados, e no entanto recebeu estes de braços abertos, partilhando com eles o pouquíssimo que tinha, durante todo o tempo necessário.
Agora, aqui na rica, caduca e mesquinha Europa, há manifestações contra os refugiados que fogem de guerras que esta mesma Europa apoiou e patrocinou. Sinto vontade de vomitar.
ResponderEliminarE eu acompanhá-la-ia, UJM, acompanhá-la-ia
nessa cruzada.Já tinha reparado que são os
jovens que se aventuram nessa fuga pela vida,
trazendo os seus rebentos e quase nada
na mão.
Abramos nós o nosso coração nesta hora
difícil, recebendo-os e repartindo com eles
o pouco ou o muito que tivermos.
Bj
Olinda
Eu tb nunca tinha pensado em quem fica para trás. A maioria da população, incluindo 99,9999 % dos velhos, doentes e deficientes. O facto de simples particulares como nós nao terem pensado é mau e é sinal que "compramos" descuidamente o que os jornais e as televisoes nos vendem; terrivel mesmo contudo é o facto dos nossos poderes só se preocuparem com os "desarranjos" que lhes coloca o afuxo de milhares e milhares de refugiados e nao também com a situaçao humanitaria no terreno.
ResponderEliminarbem sei que a autora deste artigo não está em altas aqui no blog, mas vale a pena ler, sobre o assunto:
ResponderEliminarhttp://expresso.sapo.pt/opiniao/opiniao_clara_ferreira_alves/2015-09-04-As-lagrimas-de-crocodilo
J
If...
ResponderEliminarFernando Ribeiro, viu como um dos bem reformados do Regime,apesar de idoso,
impediu e tem combatido o governo, na resistência a algum corte na sua pensão de 170 mil/mês.
Ex banqueiro de sucesso, ex Opus Dei, talvez ex membro de uma qq organização de empresários pela responsabilidade social.
A bem do Regime.
Novos, assim-assim, velhos....não ter um tecto, comida e um sorriso nos lábios é triste.
ResponderEliminar«um dos bem reformados do Regime»???!!!
ResponderEliminar«170 mil/mês»???!!!
«Ex banqueiro de sucesso»???!!!
«ex Opus Dei»???!!!
«membro de uma qq organização de empresários pela responsabilidade social»???!!!
Que palhaçada é esta?
Vou intervir.
ResponderEliminarPubliquei o comentário de BMonteiro apesar de não o perceber. Contudo, imaginei que, se calhar, o problema era meu.
Não sei bem porquê, penso que o que ali se refere tem a ver com Jardim Gonçalves (ex-BCP) mas, francamente, não percebo qual a relação nem porque se dirige ao Leitor Fernando Ribeiro.
Vamos esperar que surja uma explicação. Senão retirarei aquele comentário e os sequentes pois, por não estar claro, presta-se a confusões desnecessárias.
Qualquer pessoa, por muito insensivel que seja, fica de coração destroçado com as imagens que todos os dias nos chegam de refugiados.
ResponderEliminarNão entendo porque não se acaba com o fornecimento de armas se depois se abrem as portas às consequencias, compensa assim tanto?
Não sei se é da idade ou de quanto complicado o mundo ficou, mas não me sinto nada confortavel com esta minha ignorancia, (porque não dizê-lo assim mesmo??)
Há dias fui com a minha neta e uma sobrinha ao Parque da Mónica, na Amadora. Um espaço agradável e dos poucos que conheço com equipamentos para crianças deficientes.
Muitas crianças, de todas as idades brincavam alegremente. De repente vejo uma pequenota, não teria mais de dois anos, correr, agarrou-se às pernas do avô gritando apavorada. As brincadeiras pararam e o parque ficou silencioso. Quando percebi o motivo tambem eu tive medo, só com o aspecto de um casal que entrara no parque. Ele mais ou menos vulgar não fossem as longas barbas, a sua tês e vestes escuras, demasiado escuras para um dia de imenso calor. Ela(deduzi que seria uma mulher) de burca de onde só se viam os olhos, toda de preto ATE LUVAS negras tinha, a completar o quadro, empurrava um carrinho de bebe tambem coberto de negro.
Saí do parque perguntando-me porque é que se permite a circulação de pessoas, mas-ca-ra-das, visto que não se lhe via o rosto, quando a nossa constituição condena. Debaixo da coberta do carrinho de bebe poderia estar uma bomba, em vez de um inocente bebe a quem os pais negam a luz do Sol. E não me argumentem com a cultura de cada um, já la dizia a minha avó:em Roma sê romano.
Não sou contra a ajuda a refugiados, mas abrir as portas a quem ainda em viagem onde todos arriscam a vida, deita borda fora seres iguais só porque são cristaos?
Vejo muitos farrapos humanos, seres que de seu têm apenas a esperança de paz.Mas misturados outros deixam-me duvidas.
Portugal vai receber alguns milhões para apoiar milhares de refugiados. Temos, de facto muitos quarteis desactivados e vazios. Mas já foram divulgadas as medidas de integração? Quem forma a comissão de gestão desses milhoes?
Esperemos que os próximos anos não sejam muito complicados.
Desculpe Jeitinho, alonguei-me demais, espero que ainda esteja de férias.
Nem todos ficam para trás, li numa revista a entrevista a um refugiado de 19 anos que vinha a empurrar a cadeira de rodas da avó e quando a cadeira não passava levava-a ao colo.
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