Confessei no post que acabei de escrever e que podem ver já a seguir, que praticamente não tenho visto televisão. Nem putos-charilas-mendes, nem cata-ventos-marcelos, nem espertos-a-metro, nem papagaios-comentadores, nada. Tenho andado numa onda zen, paz e amor, beleza all over, perfumes do mar, perfumes do campo, afectos, descansos do corpo e da alma.
Se abro os jornais online, rapidamente os fecho. O que me interessa não passa pelos jornais nacionais. Há na generalidade da nossa imprensa um imediatismo leviano, fútil, uma efemeridade levada ao extremo em que questões de fundo rapidamente saem de agenda ou se misturam com banalidades e infâmias.
Também ando sem disponibilidade mental para fazer pesquisas ou procurar os grandes jornais de referência. A minha cabeça parece que entrou em modo de funcionamento suave. Depois de umas semanas de ansiedade misturadas com um excesso de solicitações de toda a espécie, parece que o meu corpo me diz que é tempo de tranquilidade e não de agitação ou irritação.
Mas, apesar disso, não posso passar ao lado do período crucial que atravessamos.
Há bocado, eu deitada no sofá, as pernas sobre as pernas do meu marido que se sentava na outra ponta, descansava. Nem lia, nem nada, para ali estava, nem acordada nem a dormir. A televisão estava no telejornal da SIC mas nem eu nem ele lhe prestávamos grande atenção, conversávamos ao de leve, vendo a noite que já tinha caído, os dias mais pequenos, o silêncio que nos envolve e que a televisão, com o som baixo, não perturba.
Mas então reparámos numa reportagem: falava nos últimos anos, nos anos de governação Passos Coelho/Paulo Portas. Creio que o repórter era Pedro Coelho.
E o que vos digo é que a verdade nua e crua esteve ali, desfilando à frente dos nossos olhos, a miséria escondida, a miséria generalizada, gente sem emprego, sem subsídios ou com subsídios miseráveis, gente que subsiste nem se percebe como, gente que vive de ajudas da Igreja, da Caritas, de familiares, gente no limiar da indigência, gente com rendas de casa em atraso, que a custo contem as lágrimas, gente que mantém a cabeça erguida sabe-se lá como, e gente que emigrou, que teve que procurar lá fora o respeito pelo seu trabalho, deixando para trás a família e o investimento feito pelo país, gente que espera horas e horas em filas na rua para conseguir fazer exames médicos, gente que recebe ultrajantes ninharias e daí tem que tirar dinheiro para se tratar, para comer, para pagar a casa, professores sem colocação, o ensino especial que foi cortado, o ensino de adultos que foi cortado. Sei lá que mais. Um desfile de desgraças, de má governação, de vergonhas, de crimes. Que grande reportagem.
Interrogo-me porque é que o PS não faz meia dúzia de vídeos (e os coloca no youtube) com entrevistas deste género, com as estatísticas que demonstram a devastação que esta cambada tem levado a cabo no nosso país, com pessoas como os da Caritas ou de paróquias carenciadas e não ouve o que dizem da austeridade para além da troika, da austeridade a eito, na miséria que isto provocou nas famílias, em comunidades inteiras. E para nada - para nada!
Porque a dívida aumentou, porque a Reforma de Estado não foi feita, porque a economia está exangue, porque o compadrio anda à solta, porque o país foi e está a ser vendido a preços de saldo, sem cuidados, sem concursos, sem nada.E, não menos importante, falar da destruição devastadora no ensino, na investigação, na cultura - porque um país que desinveste do conhecimento e da cultura é um país a soldo, sem brio, pronto para ser tomado de assalto por quem quiser.
Fez mais esta grande reportagem da SIC (e em horário nobre, num canal generalista) pela denúncia da desgraça absoluta que tem sido a governação Passos Coelho/Paulo Portas que o tacticismo cauteloso de António Costa em todos estes meses.
Podem os consultores de imagem que o rodeiam achar que isto se resolve ao centro - e é provável que sim - mas tão cautelosos e atados têm sido que a enorme massa de indecisos não se mexe, ou melhor, engrossa. Do que se vê nas sondagens, há um grupo imenso de pessoas que, não se revendo na porcaria levada a cabo pelos PàFs, não tem encontrado em António Costa a expressão forte de uma alternativa.
É para essa gente que António Costa tem que falar: tem que ser convincente, tem que denunciar esse incompetente que dá pelo nome de Passos Coelho e que, nos últimos 4 anos, tem mostrado à saciedade o incompetente que é, o inimigo de Portugal e dos Portugueses que tem sido. António Costa tem que acusar Passos Coelho das mentiras com que tem enganado os portugueses, das infâmias que tem cometido, tem que o acusar de todos os crimes que tem cometido. E tem que mostrar que o PS é uma alternativa viável, fiável e que ele, António Costa, será um bom Primeiro-Ministro. Não precisa de pôr de parte o seu bom humor, mas não se mostre displicente. Seja acutilante, incisivo, não dê tréguas, mostre que tem punch - mas não perca a tramontana, mostre que convive bem com situações de stress.
E, caraças!, Caro António Costa, não tenha medo de falar de Sócrates. Não tenha medo de defender o que de bom Sócrates fez nos seus governos, em especial no primeiro -- em que não tinha os cães com pulgas a engendrarem maneiras de irem a correr ao pote nem, sobretudo, uma tremenda crise internacional em cima. Não tenha medo. E, se tiver que se demarcar do período em que Sócrates, lutando como um leão para defender o país, se lançou numa corrida quiçá insensata, pois que se demarque. Abertamente, sem meias palavras, sem fugir ao assunto.
Os eleitores gostam de gente que olha a direito, que marra de frente, que não foge das chocas.
E, Caro António Costa, não se esqueça que o povo não gosta de mentirosos: prove que Passos Coelho é um dos piores (mentiu aos eleitores que o elegeram, traíu os interesses do país empobrecendo os portugueses, fazendo regredir a riqueza do país quase uma década, vendendo empresas estratégicas, etc, etc - e, depois, o descarado, ainda vem gabar-se do contrário, julgando que os portugueses são parvos). Atire-lhe isso à cara, António Costa, não o poupe.
Enfim. Tanto que há a dizer desta tropa fandanga, do láparo e do artista-mor, esse troca-tintas vice-irrevogável, que a dificuldade estará em conseguir ser afirmativo e explícito em relação a todos estes pontos.
E, portanto, esta quarta-feira lá abandonarei o meu estado zen e lá estarei a ver o debate -- e só espero que António Costa não desperdice esta oportunidade de ouro. Vou ficar a fazer figas.
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E agora, contra os PàFs, coloco aqui três vídeos que já são bem conhecidos mas nada como divulgá-los o mais possível para que ninguém se esqueça de correr com esta gente, não votando neles nas próximas eleições legislativas. Já chega! Já destruíram o país e a vida dos portugueses para além da conta. Nem pensar em gramar com eles por mais 4 anos - mas é que nem pensar!
Passos Coelho: mentiras, mentiras, mentiras
Votaram ao engano 2,159,742 portugueses. 4 anos depois, Portugal não pode mais.
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Sessões de stand-up em redacções de jornais #PortugalPodeMais
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Paulo Portas: as 7 vidas de um camaleão político
Pequena biografia de um artista de variedades
Obtive os vídeos no canal do Luís Vargas
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E, pronto, já desabafei e já disse de minha justiça.
Se vos apetecer passear comigo in heaven (onde fiz também as fotografias que escolhi para 'enfeitar' este post) ou pela praia, desçam, por favor, até aos posts seguintes: o ambiente é outro, é de paz.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.
E daqui envio uma forcinha especial ao António Costa: levante-se e atire o láparo ao tapete, pleeeeaaaaseeeee....
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Tem toda a razão no que aqui escreve. Costa tem vindo a perder carisma e simpatias políticas e parece ser cada vez mais incapaz de convencer os indecisos, para além de não conseguir travar a subida gradual da coligação de extrema-direita, PSD/CDS. Começa a ser bastante preocupante, para não dizer assustador. E as sondagens publicadas pelo Correio da Manhã hoje deixam-nos estarrecidos. E deveriam fazer tocar o alarme no Largo do Rato. PSD/CDS precisam apenas de mais uns 3,5% para obterem a maioria absoluta na AR. Mas, mesmo que a falhem, a crer nas sondagens e a manter-se este (novo) ciclo, será por pouco, o que significa que o governo recauchutado de Passos/Portas, dentro de pouco mais de 1 ano irá criar uma crise artificial para provocar eleições e então sim obter a tal maioria absoluta, que conseguirá. E teremos 8 ou 10 anos de um governo anti-social, que transformará Portugal, definitivamente, num laboratório neoliberal, com um Estado enfraquecido, a saúde nas mãos do sector privado, o ensino público sem qualidade, os contribuintes a financiarem a saúde e ensino privados, os reformados e pensionistas na miséria, a precarização do trabalho, a segurança social nas mãos das seguradoras, o que resta de empresas públicas vendido a pataco ao estrangeiro, etc, etc, etc. Será de tal ordem o mal, social, económico, financeiro e político, que farão, que não haverá governo que venha a seguir capaz de inverter a situação. E as diversas gerações, das mais velhas às mais novas terão os seus futuros comprometidos, para sempre. O desastre está aí – a apenas pouco mais de 3% dos votos (na coligação). Os eleitores querem mais sofrimento? Ou querem mudança? Já falta pouco para decidirem. Mas, começo a pensar que esta onda da Direita já não volta atrás. Estou céptico, sinceramente. E profundamente desiludido. Pudesse e no dia seguinte à eventual vitória desta cáfila, partia deste País. Emigrava. Se calhar de vez!
ResponderEliminarP.Rufino
pS: não me sinto com grande vontade de ver o debate. Perdi muito da confiança que tinha em Costa. Falta-lhe nervo. Mas, oxalá esteja enganado!
Perante a sondagem hoje publicada que dá a vitória aos PaF, cresce a preocupação daqueles que pensam para além da retória e da mentira. Daqueles que se lembram que em 2004 depois de dois governos PSD/CDS (Barroso e Santana) o défice era superior a 6%, mesmo depois de os ministros das finanças da altura engendrarem coisas tão criativas como apoderarem-se de fundos de pensões dos CTT(cá andamos e continuaremos a pagar as pensões ...) e tomarem outras medidas que, representando na altura um encaixe, a curto prazo geraram para o Estado muito maior despesa.
ResponderEliminarAo fim do 1º mandato o governo Sócrates tinha reduzido o défice para 2,8%...
O aumento do défice no segundo governo Sócrates deveu-se a uma política de investimento público apoiada por aqueles que agora criticam o endividamento, política essa que foi seguida na sequência de instruções da União Europeia perante a perspectiva de recessão das economias. Mas se verificarmos os dados do Pordata do BdP a verdade é que a dívida pública em 2011 representava cerca de 108% do PIB e em 2013 tinha crescido para 129% do mesmo PIB (isto depois de 2 anos de austeridade e aumento de impostos). Que espera António Costa para atirar dados objectivos à cara do sujeitinho que se permite dizer que a troika só veio para Portugal na sequência da governação de Sócrates, quando foi ele, ansioso por ocupar um cargo que lhe permitisse dar vazão aos seus delírios ultra-neoliberais,que provocou uma crise política ao chumbar o PEC4?
Será que este povo acha que ainda não sofreu o suficiente e quer dose reforçada daquilo a que se tem assistido? quer dar mais 4 anos a quem destruiu a economia, abomina a cultura, eliminou a classe média, tem vindo a demolir o SNS? quer que as suas pensões fiquem dependentes da iniciativa privada? Pela sua actualidade, o texto de Daniel Oliveira publicado no Expresso de 14/12/2011 deveria ser de leitura obrigatória na véspera do dia das eleições.
Só uma errada estratégia do PS e o fraco carisma e nula autoridade de Costa (de que é exemplo a candidatura da Sra Belém, pela sua própria existência e pelo momento em que surgiu) justificam a sondagem (admitindo que ela não foi feita a quatro gatos da família dos PaF). Costa tem tido uma atitude pusilânime quando fala de Sócrates, e repetir que a justiça é a justiça e a política é a política não abona a seu favor. É que a política é tudo, e a justiça não é uma entidade bacteriologicamente pura, antes é feita por homens. E sabe deus como são alguns deles ...
MPDAguiar
Que grande comentário, o da comentadora/or MPDAguiar! Cá estou, afinal, a ver o debate (minha mulher levou-me a tal), o que não impede de aqui vir.
ResponderEliminarP.Rufino
Não comentei, oportunamente, os videos que aqui colocou, porque não tive ocasião de, esta tarde, os poder ver. Todavia, agora, com mais calma, permita-me que lhe deixe aqui um elogio e a minha gratidão por o ter feito, pois este tipo de coisas devem ser recordadas e espalhadas em todas as redes sociais, a fim de os portugueses nunca se esquecerem destes bastardos miseráveis, como Passos e Portas, que mentiram despudoramente aos eleitores, aos contribuintes, enfim a todos os que neles confiaram e lhes deram os seus votos, credulamenta. Num país normal, com uma democracia adulta, estes dois patifes já tinham sido. Em vez disso, aqui os vemos impantes, sem vergonha na cara! Dois biltres, dois montes de asco.
ResponderEliminarP.Rufino