segunda-feira, agosto 31, 2015

Vers la flamme


Quem assiste a tamanha beleza não pode fazer de conta que não viu. 

Toca-me a beleza o coração, a pele, os nervos, a alma. Toca-me e fica, por instantes, presa a mim.

Fecho os olhos e revejo, dentro de mim, o que o olhar me trouxe de fora. Tanta, tanta beleza.




O Tejo, os cargueiros ao longe, os elegantes veleiros, Lisboa, suave, suave, o sol que se põe, a luz dourada que se encosta às águas. Fecho os olhos e tudo se mistura ternamente com os meus pensamentos.

Fecho os olhos e vejo um céu navegando nas águas de um rio dourado, lembranças de outros dias, sonhos esfumados, poalhas de luz trazidas pela toada doce que escuto dentro de mim. 




Depois a luz dourada desaparece, agora há um brilho metálico, e os barquinhos não parecem de verdade. Talvez lá vão pessoas de verdade mas eu quase não as vejo. 

As águas parecem estremecer ao de leve sob esta luz prateada.

Noto, então: um veleiro vai, afasta-se de mim, segue o seu caminho rumo a um outro horizonte. E outro vem, aproxima-se, pára. E então reparo em alguém que lá vem. Alguém. Alguém trazido pela luz, sobre as águas, braços abertos, talvez o coração também aberto, respirando a beleza infinita a que eu também assisto.

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Grigorij Sokolov interpreta "Vers la flamme" de Alexander Scriabin 

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1 comentário:

  1. Toda a nossa costa é uma beleza.

    Usufruir da paisagem que o Tejo nos dá e da luminosidade única de Lisboa... é uma benção para a alma.

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