quinta-feira, abril 16, 2015

Pessoas elegantes


Gosto de partilhar o que sei e penso ou aquilo de que gosto ou acho interessante mas, no meu balanço pessoal, o que tenho aprendido com os leitores ou lendo outros blogues é seguramente muito mais do que o que aqui vos dou. E igualmente importante para mim são as pessoas que tenho conhecido e que, generosamente, me enviam informações abrindo-me janelas para mundos que eu desconhecia e que, provavelmente, de outra forma não conheceria nunca.

Sendo eu uma pessoa curiosa, é sempre com um encantamento de menina que olho para aquilo que me é dado conhecer de novo.

O tema que aqui trago agora era-me inteiramente desconhecido. Já antes me tinha surpreendido, nomeadamente em algumas exposições de fotografia (como as integradas nos ciclos Próximo Futuro da Gulbenkian), vendo uns negros vestidos exuberantemente; mas achava que seriam casos pontuais, um ou outro dandy mais ou menos excêntrico, um certo gosto pelo excesso cromático que, de resto, uma pessoa associa ao gosto africano. Mas nunca me ocorreu que fosse mais do que isso.




Leitor que me tem proporcionado conhecimentos dos quais fruo com prazer e a quem muito agradeço, enviou-me informação sobre o movimento SAPE.


Música e imagens para se perceber melhor o estilo

Losing you - Solange




Do que já li, a sensação que tive foi a que disse: uma janela que se abriu. E através dela vejo uma energia criativa, uma irreverência alegre, uma provocação inocente. Poderia dizer que é o ambiente de celebração e ruptura a que se assiste no carnaval mas talvez seja ainda mais do que isso: é o espírito em festa, é a leveza do ser, é a infância permanente.

Os documentos que recebi são maioritariamente em francês e transcrever aqui alguns excertos não deve ser grande ideia já que muitos leitores talvez não estejam familiarizados com a língua francesa. Por isso transcrevo o artigo do Público pois, do que já li até aqui, parece-me transmitir uma primeira boa impressão sobre o tema.


NO CONGO, ELEGÂNCIA PRONUNCIA-SE SAPEUR



Na forma como se vestem, na linguagem que utilizam, nos seus modos e trato fino, nos seus códigos estéticos, é como se estivessem sempre a rebelar-se contra as condições da vida difícil que levam em Brazzaville, na República do Congo, um país em que 46,5% da população vive abaixo do limiar da pobreza. O fotógrafo espanhol Héctor Mediavilla mostrou ao mundo a realidade desta elite dandy conhecida por sapeur ou les Parisiens.

Para se ser verdadeiramente elegante, não se combinam mais de três cores ao mesmo tempo.”A haver evangelho na vida dos S.A.P.E. (Société des Ambienceurs et des Personnes Élégantes), este seria um dos mandamentos. Héctor Mediavilla, fotógrafo espanhol, passou sete anos a documentar esta elite dandy nascida no bairro do Bacongo, em Brazzaville, inspirada nos ensinamentos que chegavam de Paris (o Congo tornou-se independente em 1960). “A primeira vez que vi esta realidade ao vivo foi num domingo, numa esplanada com música ao vivo, o Détente, no Bacongo. Tinham-me dito que todos os domingos, pela tardinha, chegavam umas pessoas vestidas de uma forma extravagante. Assim foi: chegaram seis, orgulhosos na sua passada enquanto atravessavam a rua. Um deles, Lamante, trazia uma venda num olho e luvas de pele preta. Todos tinham um acessório, fosse um chapéu, uma bengala, uns óculos. Fiquei fascinado pela gestualidade daquelas pessoas e pela admiração que causavam entre os presentes”, recorda Mediavilla por email à Revista 2.

Ser-se sapeur é o mesmo que dizer que se pode fumar charutos Cohiba, vestir um casaco Valentino, usar cintos Dolce & Gabbana ou calçar sapatos Fratelli Rossetti no meio de um bairro de lata. Num país com 46,5% da população a viver abaixo do limiar de pobreza, a filosofia sapeur vive destes contrastes. “Os sapeur não são ricos. Antes pelo contrário. A maioria tem uma escolaridade baixa e eles fazem verdadeiros sacrifícios para se manterem dentro dos códigos de elegância que criaram. Muitos entram para o ‘grupo’ usando roupas emprestadas pelos mais velhos”, explica o fotógrafo. E podem ter mais de um ofício,  precisamente para alimentar os seus excessos de alta-costura.

A história dos sapeur, também conhecidos como les Parisens, remonta aos anos 1920, quando André Grénard Matsoua se tornou o primeiro congolês a regressar à terra natal vestido ao rigor do bom gosto francês. Terá sido ele a fundar este clube da elegância onde rapariga não entra e linguagem menos própria também não. Um sapeur alimenta o sonho de, pelo menos uma vez na vida, ir à sua Meca, Paris. Para a maioria, não passa disso mesmo, um sonho. Para os que conseguem lá chegar, isso pode muito bem significar duas coisas: que trazem malas carregadas de roupas e acessórios para encher os guardas-roupas... e os seus bolsos, porque a seguir vendem a outros sapeur.

Num país marcado por guerra civil e golpes de Estado, os sapeur assumem-se a favor da paz e, “à conta dos seus modos finos, são chamados a abrilhantar celebrações públicas, casamentos, funerais e festivais”, como conta Mediavilla.

Entre 2003 e 2010, este fotógrafo viajou até Brazzaville por cinco vezes para desenvolver o seu trabalho ttp://hectormediavilla.com) e já publicou no New York Times, Time, Business Week, Photo, entre outras publicações. 

No início deste ano, lançou o livro S.A.P.E. (Éditions Intervalles) com prefácio do escritor Alain Mabanckou, nascido no Congo mas actualmente a viver na Califórnia.



[Maria Paula Barreiros, Público, Junho 2013]


Sapeurs




In this documentary we illustrate the brightly coloured and social affairs that bring the 'Sapeurs' together. Their bold choice to live an unexpected lifestyle is a source of celebrated originality and positivity. Their life is not defined by occupation or wealth, but by respect, a moral code and an inspirational display of flair and creativity. The Sapeurs show us that whilst in life you cannot always choose your circumstances, you can always choose who you are. 



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Permitam que vos convide a verem já aqui abaixo a super-avózinha que anda a bombar no Instagram. 
Só vendo para se acreditar.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quinta-feira. 
Boa sorte e saúde é o que vos desejo a todos. O resto há-de vir por acréscimo.

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