sexta-feira, março 06, 2015

A menina Otília foi às Finanças







A menina Otília foi às Finanças. Queria um esclarecimento e foi lá informar-se. Não deixando nada ao acaso, produziu-se toda: minissaia justa, decote fundo, meia preta, maquilhou-se cuidadosamente e pintou as unhas de vermelho. E, do alto dos seus maravilhosos 29 anos, bem vividos, lá entrou, triunfante. Tirou a senha e sentou-se, enquanto desfrutava do olhar baboso de uns tantos cotas e menos cotas a olhar para ela, como que a quererem dizer-lhe, “comia-te toda”. 

Quando o seu número surgiu no ecrã, levantou-se e apresentou-se ao manga-de-alpaca da Autoridade Aduaneira (“que raio de nome”, pensou). O “manga”, com um fio de baba a escorrer-lhe pelo canto da boca, com voz trémula de desejo, perguntou-lhe: “então menina, o que temos, enfim, em que lhe posso ser útil?” Otília explicou-se: “Era puta, profissão que exercia desde que começara a crise, visto ter ficado desempregada. Ou seja, há já cerca de 5 anos. Por vezes, recebia a sua clientela em casa, outras ir ao encontro da clientela. E como não era esquisita, muito pelo contrário, tanto satisfazia homens, como mulheres, novos ou jovens. O importante era realizar dinheiro.

Ser puta era um bom investimento, razoavelmente duradouro, mais do que um atleta de alta competição, ou futebolista, por exemplo. Tinha despesas, é certo, porque isto de se ser puta implicava cuidados com a sua forma física nos fitness-centers, bem como na compra de vestuário adequado às circunstâncias. Ao contrário do que muita gente imagina, é uma profissão algo cansativa. Por exemplo, ter de aturar gente, muita das vezes, com gostos e desejos bizarros, etc. 

Mas, agora o que seriamente a preocupava era o seguinte, daí ter vindo aconselhar-se às Finanças: desde que iniciara aquela sua actividade liberal, nunca tinha emitido uma factura, nunca descontara para o IRS, nem tão pouco para a Segurança Social. Ora, depois de ver a perseguição de tinha sido alvo, recentemente, um dos seus mais ilustres clientes, por essa imprensa sem vergonha, ficou apreensiva”. 

Aqui, o “mangas”, já com a camisa húmida de baba, interrompeu-a, muito atencioso: “mas, apreensiva porquê, menina?” 

Otília lá esclareceu: “É que, fui convidada para exercer uma função governamental e tenho medo de que venham a descobrir que, não estando inscrita no Fundo de Desemprego desde que fiquei sem trabalho, o que seria normal, não tendo declarado rendimentos, como poderei justificar o pagamento da renda de casa, da água, gaz e electricidade, como me sustento, como me transporto e de onde me vem a choruda conta bancária que já possuo, embora conseguida com muito esforço, dedicação e entrega? Não queria ter rabos-de-palha, já basta o meu, tão cobiçado pela clientela masculina!”

O Sr. Honorato, o manga-de-alpaca, com um largo e babado sorriso solícito, sossegou-a: “Oh menina, não se preocupe com isso. A menina não faça nada. Vá por mim, salvo seja. Como não tinha que passar facturas, nem estava a recibos verdes, não tem que descontar nada. A menina é uma decentíssima puta e ninguém tem nada com isso. Nunca roubou ninguém, muito menos o Estado, já que essa sua versátil profissão não consta da lista das actividades profissionais reconhecidas oficialmente. Assim sendo, não está obrigada perante a lei e o fisco, quer a descontar para o IRS, quer para a Segurança Social. Se conseguiu viver e sustentar-se razoavelmente bem, furando a crise, até aos dias de hoje, a si lhe diz respeito e a mais ninguém. Olhe, sabe a menina, pode ter essa profissão de puta, como diz, mas puta de profissão é a minha, que não tenho dinheiro para ir às putas, sofro cortes no meu salário, desconto cada vez mais, tenho menos férias, vou ter uma reforma de merda e ainda me obrigam a trabalhar mais horas! Vá com Deus e a Nossa Senhora, aceite o lugarzinho político que lhe vão oferecer, aproveite-o para futuros contactos e influências, que a vida é curta. Tenha uma boa tarde!” 

Otília, de tão contente, até deu um beijo na calva testa do Honorato manga-de-alpaca e, baixinho, ainda lhe disse, ao ouvido: “a si faço-lhe um precinho especial, de amiga!” 

Uns dias depois tomava posse.

E alguns meses após, era capa do CM: “na cama com Otília!” E lá vinham os nomes de vários dos seus clientes. Quase tudo gente fina, banca, empresas, políticos, advogados, um mundo profissional “imaculado”. Como aquilo tinha surgido não sabia.

Mas, aquilo que mais receara não fez parte do tablóides, ou seja, se tinha feito descontos para a Segurança Social, se tinha pago o IRS, nada. Feito o desmentido oficial, Otília por lá continuou. 


Quando o governo cessou funções, era célebre e tinha uma carteira de clientes, do melhor, até ao ano 3 mil! Era puta, mas puta de vida é que ela não tinha. Bem pelo contrário!


Autor: P. Rufino


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Transcrevi a suculenta história que o Leitor P. Rufino me enviou por mail. As imagens, a música (Roberta Sá interpretando A Vizinha do Lado) e o destaque são de minha responsabilidade.

Se a menina Otília é arraçada de láparo ou tem qualquer coisa a ver com as 50 sombras fiscais e contributivas de Passos Coelho isso não sei.


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6 comentários:

  1. Divinais e...suculentas imagens!
    P.Rufino

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  2. Muito Bom !!!
    Parabéns a si ao P.Rufino
    HB

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  3. Bom dia. Parabéns. Valente gargalhada! E grande otilia...como muitas que nos governam.

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  4. São mesmo casos de sucesso...Na senda dum casal ,hoje muito rico,que foram para FRANÇA,com uma mão á frente outra atrás!Daí á fortuna,foi SIMLES...Ela tirou a mão da frente...Ele tirou a mão de trás ! Bom fim de semana.

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  5. Junto, tambem, os meus parabens a P.Rufino.
    SOBERBO !
    Vitor

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  6. Uma grande história!
    Beijinho

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