quinta-feira, janeiro 15, 2015

Ainda existe um mundo real?


Sabido é por quem por aqui me acompanha que não sou dada a virtualidades. 

A excepção é isto, os blogues. Escrevo aqui como talvez escrevesse um diário, um livro, ou para um jornal ou revista. Escrevo porque gosto de escrever, partilho as minhas opiniões ou imagens ou músicas porque gosto de partilhar. 

Mas, tirando isto, não tenho conta em mais nada. Nem Twitter, nem Facebook, nem Instagram, nem sequer Linkdin. Essencialmente por razões profissionais, em especial no último dos casos, estão sempre a pedir-me que me agregue - mas não vale a pena. Pode ser que algum dia, por algum motivo que agora não descortino, mude de ideias mas, para já, nem pensar. 


O tempo de que disponho já mal me chega para lidar com todas as pessoas reais e presentes quanto mais estar a conviver com amigos do tempo da escola, ex-colegas, ex-namorados, gente de quem não me lembro ou de quem não sinto falta ou, até, gente que não conheço de lado nenhum e com quem é suposto partilhar selfies, dizer onde é que fui comer um gelado, pôr likes nas selfies de uns e outros.

Para além de que tudo aquilo me parece uma perigosa exposição. Parece que todos sabem tudo de todos, uma coisa incomodativa.

[Por exemplo, uma das razões que se invoca para supor que Irina já se desamigou do Cristiano Ronaldo, para além de já não ser vista com ele há algum tempo, dele não lhe ter agradecido quando recebeu a bola de ouro, etc, foi ela ter-se desarriscado de o seguir no Twitter]. 


Não estou com isto a criticar quem o faz porque cada um sabe de si. Pessoas solitárias, ou que vivem longe dos amigos ou família, pessoas super sociáveis que gostam de arranjar festas, encontros, ou pessoas que querem parceiro e, no meio onde circulam, não divisam nada, sei lá, o que não deve faltar são razões válidas para isso. E, quem o faz, se se dá bem com isso, óptimo. Eu é que não tenho tempo nem vontade.

Já isto do blogue me impede de fazer tapete de Arraiolos, pintar ou ler mais, quanto mais ainda arranjar mais sarna para me coçar. Não.

Há tempos, num almoço, alguém dizia que já toda a gente tem conta numa coisa dessas e, para o comprovar, foi feito um inquérito à pressão.




Pois bem, acho que, tirando dois ou três idosos com aspecto completamente info-excluído, só eu é que me coloquei de fora (mas, lá está, se calhar os outros também me viram como uma anciã do tempo das gravuras rupestres).

Mas, pronto, o que é preciso é que as pessoas que frequentam intensivamente as redes sociais sejam felizes: que não se sintam viciadas, ilusoriamente rodeadas de amigos e que, se pararem para pensar, sintam que estão mais felizes do que se estivessem de fora.

A propósito deste assunto, recebi hoje um vídeo que acho que, em tempos, já aqui o publiquei mas que publico de novo pois não perdeu pitada da sua actualidade.

Look up - de e por Gary Turk

['Look Up' - A spoken word film for an online generation. 'Look Up' is a lesson taught to us through a love story, in a world where we continue to find ways to make it easier for us to connect with one another, but always results in us spending more time alone.
I don't want you to stop using social media or smartphones. It's about finding a balance. It's about making sure you are awake, alive and living life in the moment; instead of living life through a screen.
Written, Performed & Directed by Gary Turk]



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1 comentário:

  1. E quando o virtual não nada!

    E quando me escrevias, era tão belo o que me contavas que me despia para ler as tuas cartas. Só nua eu te podia ler.
    (...)
    Mia Couto

    Beijinho

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