quarta-feira, janeiro 28, 2015

A maldade humana 70 anos depois (perante a nossa indiferença - apesar de sermos tão bons, tão solidários)


No post abaixo mostrei um anúncio que foi banido da televisão: trata de preservativos mas não foi por isso que foi banido, foi por outra coisa. Mas, se querem saber, deverão ver a seguir.

Aqui, agora, a conversa é outra.

Eu, no Um Jeito Manso, devia arranjar maneira de ter separadores para os temas não se misturarem. Devia ter um separador para política, outro para culinária, outro para poesia, outro para maluquices, outro para coisas sérias e por aí fora. Tenho que ver se descubro e se testo mas, se o fizer, a coisa só ficará arrumada daí para a frente pois até fazer isso ficará este lençol de assuntos misturados.

Estou com esta conversa porque estou com vontade de falar sobre um assunto muito sério mas está a custar-me enfiá-lo entre anúncios de preservativos e o que vier a seguir. Parece até falta de respeito. Mas que hei-de eu fazer se na minha cabeça as coisas se sucedem, sem tapumes entre elas?

Enfim, vamos lá. E, por favor, não tomem por ligeireza porque o não é.








Não sou muito de me alinhar, especialmente em momentos de comoção, quando quase todos se unem no louvor, na condenação, no aplauso, no lamento. Não critico quem o faz, apenas não me dá para me juntar. Por isso, apesar de ter visto nas televisões, jornais e blogues palavras e imagens recordando o horror de Auschwitz, não fui capaz de me juntar ao coro e dizer aqui que Auschwitz nunca mais ou recordar a desgraça acontecida décadas atrás para que as tenhamos bem presentes e não voltemos a permitir que se repitam.

Durante uns tempos, o abismo da maldade suprema atraíu-me e li alguns livros sobre campos de concentração. O que mais me custava perceber era que os principais responsáveis por aqueles brutais atentados contra a humanidade fossem pessoas normais, com família. Lembro-me de ler que um saía do campo e ia para casa ouvir as filhas tocar piano, comovido e terno perante a doçura das meninas. E o cão, quando o via, saltava-lhe ao encalço e ele derretia-se, fazia-lhe festas, todo ele carinho para com o animal.

Todos eles, os mandantes e os mandados, olhavam para aquele processo de extermínio como uma tarefa normal, uma profissão. Alheados da dor humana, quais psicopatas, cumpriam ordens, infligiam sofrimento, e, o horário cumprido, iam para casa, exemplares pais de família.

Mas não eram apenas eles. Era toda a população não abrangida pela perseguição que era conivente. Não sabiam, não desconfiavam, nunca poderiam imaginar. E, no entanto, estava ali, ao seu lado.




Enchem-se agora os meios de comunicação, blogosfera incluída, de afirmações de que nunca mais e tal e coisa.

Fica bem dizer isso uma vez por ano ou quando o aniversário é mais redondo. Mas uma coisa é certa: um dia depois já ninguém falará do assunto. Lavou-se a consciência, está feito.

Pois eu, sabendo disso, não consigo. É que não consigo ignorar que sei que por esse mundo fora, hoje, milhares de pessoas estão aprisionadas em campos que são também atentados à dignidade humana . Podem as motivações ou as formas de manutenção dentro dos campos ser outras mas a base é a mesma: a ideologia fanática, o desprezo pelo outro, a maldade animalesca – e a indiferença de quem não é afectado.

Pense-se em todas as frentes de guerra por esse mundo fora, na destruição de cidades e aldeias, na expulsão das suas casas, nos campos de refugiados, na situação de suprema barbaridade na Nigéria e na desgraça, no extermínio, na indignidade imposta aos seres humanos que tiveram a infelicidade de estar nos lugares onde a alma parece ter abandonado os que se acham ungidos por poderes divinos e com direito a decidir sobre a vida ou morte de outros seres humanos - e é a mesma coisa.

É certo que não é à nossa porta, os seres humanos afectados vivem nos confins do mundo, às portas do inferno, não aqui neste nosso mundo civilizado e higiénico. Mas são seres humanos e o sofrimento limite por que passam é tremendo. E, no entanto, fazemos de conta que não sabemos ou dizemos que não podemos fazer nada, e mudamos de assunto. Ou mudamos de canal.

Por isso, sabendo-me indiferente, egoísta, conivente com toda a barbaridade que grassa por esse mundo fora hoje, Janeiro de 2015, sinto-me incapaz de dizer Auchwitz nunca mais.

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Hoje, 70 anos depois da libertação de Auschwitz, o maior campo de concentração nazi, ainda há coisas assim (por exemplo):



A vida em família num campo de refugiados sírios: 'A mother must be stronger than a mother'




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Fugindo do ISIS no Iraque - Refugiados falam das perdas e da tragédia


Refugees from Mosul have told Sky News of the terror they experienced at the hands of ISIS militants.
Middle East correspondent Sherine Tadros reports from a newly-built refugee camp in the northern area of Dohuk.

 

A maldade humana 70 anos depois.

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O primeiro vídeo mostra nazis a interpretarem Beethoven, o Final da 9ª Sinfonia. O maestro era Wilhelm Furtwängler  e a gravação foi feita durante a celebração do aniversário de Hitler em 1942.


Transcrevo o texto que acompanha o vídeo no Youtube:
At the end of the performance, we can see the conductor shaking the hand of Joseph Goebbels, Reich Minister of Propaganda in Nazi Germany from 1933 to 1945. Goebbels was one of Adolf Hitler's closest associates and most devout followers. When Hitler dead, Goebbels and his wife, Magda, killed their six young children. Shortly after, they both committed suicide.
Besides Beethoven's Ninth Symphony lyrics talk about fraternity, love and uniting all people in universal brotherhood, this concert was dedicated to war and death.

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Claro que não me sinto bem, depois desta conversa pesada, ao relembrar a cena da experimentação, ao vivo e a cores, de preservativos. Mas, também, mal não faz. Diria mesmo que a fazer mal, será o menor dos males.

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1 comentário:

  1. Um dos livros que eu li, durante o tempo em que participei na guerra colonial em Angola, foi um que tinha por título "Um Requiem em Terezín" ou algo muito parecido. Não me lembro do nome do autor. Terezín (em alemão Theresienstadt) é uma cidade checa onde existiu um campo de concentração nazi. O livro foi um dos livros mais impressionantes que li, em parte, talvez, pela circunstância em que eu próprio me encontrava, mas sobretudo porque narrava, de modo mais ou menos romanceado, como os prisioneiros do campo cantaram o Requiem de Verdi perante os seus verdugos. A impressionante história, que é real, está resumida aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/Rafael_Schächter.

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