No post abaixo transmiti a minha opinião sobre o aparente desacato da Merkel a propósito de Portugal ter licenciados a mais. Percebo-a. Quando firmo um acordo, também eu faço tudo para forçar o seu cumprimento. Mérito o dela, é o que me ocorre dizer perante a cambada de capachos que vendem Portugal e os Portugueses por dez réis de mel coado e ainda se deixam pisar como servos estúpidos.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.
(Sobre o filme Casanova Variations que está prestes a estrear)
O que é que aprendeu?
Aprendi muito acerca do próprio Casanova que era o assunto da biografia dele ("Histoire de ma Vie"), embora ele tenha escrito de modo interessante acerca das viagens, das experiências, das pessoas, do século em que viveu. A sua autobiografia é uma grande leitura, e um registo muito interessante sobre o século XVIII.
Ele pode ser engraçado... Tem uma memória fantástica para os detalhes, e expressa-se de um modo muito belo em muitas passagens.
Mesmo que, por hipótese, algumas situações nunca tenham acontecido, como alguns defendem, não se pode negar o interesse do que ele escreveu.
Não penso que ele fosse cruel.
E acerca do amor?
Não tenho a certeza de quanto é que cada um de nós pode saber acerca do amor.
O que Casanova diz a propósito da dor é tremendamente certeiro.
Quando ele descreve o duelo ("O Duelo") que tem com o conde polaco conta como os dois ficam feridos e depois amigos. Esse episódio é recontado, de certa maneira, no filme, e o papel do conde é interpretado pelo grande tenor alemão Jonas Kaufman. Casanova diz que se lembra da dor no braço onde foi atingido, mas depois corrige [cita de cor]: "Ou melhor, lembro-me de que houve uma dor, um forte ferimento, como um clarão, um ferrão. Não conseguimos lembrar-nos da dor em si. Uma coisa natural é lembrarmo-nos de tudo relacionado com a dor que sentimos, mas a dor em si só pode ser recordada como a sua própria sombra, como um vestígio a esbater-se. A memória ilumina a maior dor com uma luz suportável. Do mesmo modo, não temos recordação da felicidade, apenas do seu reflexo".
Casanova Variations, por Michael Sturminger com John Malkovich
(Sobre outra das suas várias facetas)
Começo a ficar curiosa acerca do tipo de direcção que dá aos actores.
Há um documentário, "Le Paradoxe de John Malkovich", sobre esse assunto. Vai passar em Portugal. Não lhes digo o que fazer e isso deixa-os loucos.
LE PARADOXE DE JOHN MALKOVICH
um filme de Pierre-François Limbosch (França, 2014)
É um manipulador, como as suas personagens?
Não. Apenas não lhes digo o que fazer.
Porque não sabe ou porque espera ser surpreendido?
Adoro ser surpreendido. Sei o que quero, mas não sou eu que estou a interpretar. Que diferença faz eu saber ou não? Eles é que têm que saber.
As pessoas não sabem as coisas apenas porque nós lhas dizemos. As pessoas sabem coisas quando emocional e intelectualmente as compreendem. Se lhe disser como conduzir aqui, você não sabe do que estou a falar. Saberá no momento em que estiver a conduzir aqui. Se disser aos meus filhos para não fazerem isto ou aquilo, eles não vão querer saber do que lhes digo.
Porquê perder o fôlego? Tenho que deixá-los descobrir quem são as suas personagens, qual é a situação, o que é que aquela personagem sente... Consigo-o dando-lhes confiança, observando-os atentamente e dando-lhes atenção...
Qual é a percentagem de realizadores que sabem o que é dirigir actores? Menos de cinco por cento! É muito raro encontrar algum que saiba. Eles não sabem nada. Sabem de filmes, de imagens, e podem saber um pouco sobre comportamento humano, mas não muito... Não sabem nada do que realmente significa construir uma performance passo a passo. Eu trabalhei com 78 ou 79 realizadores de cinema e poucos o sabiam.
Sim, o que não se diz é tão importante como o que se diz.
O silêncio é sempre muito importante, no cinema como no teatro.
Não podemos cortar e colar tudo. Vou a um ginásio, não muito longe daqui, e não suporto a maior parte daqueles vídeos dos canais de música.... Cortam, cortam, cortam... São parvos de qualquer maneira. Aqueles vídeos estão editados como se todos tivessem transtorno do défice de atenção. Não tenho isso.
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(Sobre Portugal)
Foi Manoel de Oliveira que o levou a querer filmar no Porto?
Não. Tinha lá estado e pensei... o Porto é um lugar tão sonhador. Tem tanta beleza e ao mesmo tempo decadência e perda. Diria que é fisicamente deslumbrante.
Gosta mais de Lisboa ou do Porto?
Não consigo escolher. Gosto das duas cidades. São tão diferentes.
Lisboa é tão luminosa, e o Porto não é luminoso, tem um núcleo de uma grande dureza. Há partes do Porto muito, muito bonitas, mas nelas não há luz. O Porto é o oposto da luz. Adoro essa natureza.
E porque é que ainda não se decidiu a mudar?
Para o Porto ou para Lisboa?
Qualquer um deles...
Oh, falamos nisso muitas vezes. Pode acontecer.
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O que acima se lê são excertos não sequenciais de uma invulgar entrevista que John Malkovich concedeu a Cristina Margato para o suplemento Actual do Expresso de 1 de Novembro de 2014. Está de parabéns a Cristina Margato: uma grande entrevista.
(As fotografias que aqui coloquei não são as que acompanham a entrevista. As primeiras duas são imagens do filme Casanova Variations e as restantes foram escolhidas a partir do vasto número de fotografias que os mais diversos fotógrafos têm feito dele.)
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Para finalizar - e porque a voz de Malkovich a dizer poesia é qualquer coisa - permitam que partilhe convosco:
A drowning swimmers dream - poema dito por John Malkovich
(desconheço o autor do poema que aparece no filme Klimt, sobre Gustav Klimt)
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Relembro: se descerem até ao post seguinte, poderão ler a minha interpretação acerca da desagradável boca de Merkel sobre haver licenciados a mais em Portugal. E desculpem se não sou politicamente correcta mas não, não é na Merkel que eu bato.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quarta-feira.
Be happy.
..
por falar em paradoxo - http://www.youtube.com/watch?v=JFxBvjAdtIQ
ResponderEliminarbob marley