No post abaixo já deixei uns conselhos a Passos Coelho. O PCP quer atazanar-lhe o juízo, o PS e o BE também e os sacanas da coligação assobiaram para o lado. Por isso, o nosso Pedrortas, aquele que abria as portas, lá vai ter que ir fazer mais uns truques de prestidigitação à AR. Não é fácil, poor Pedrortas. Por isso, as minhas desinteressadas sugestões.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra. Aqui fala-se de coisas sérias.
de Emerson Luis Souza (em Curitiba - Paraná-Brasil) |
No penúltimo post antes de se despedir (e espero que seja apenas uma despedida temporária), J. Rentes de Carvalho escreveu um post a que chamou Diferenças e que muito me tocou.
Permito-me transcrever uns excertos:
Entre os imensamente ricos não fica atrás o califa de Abu Dhabi, que não somente é dono do Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo, mas por 650 milhões de US$ mandou construir nos estaleiros Lürssen, de Bremen, o maior dos iates privados que navegam os oceanos, o Azzam, que com os seus 180 m. de comprido deixa atrás muito navio de cruzeiro.
(...) um jovem amigo holandês que, anos atrás, com coragem e forte espírito empreendedor, emigrou para Mumbai e lá fundou uma companhia de internet (...). Uma coisa sinceramente o aflige quando vai para o trabalho: os pobres que, deitados no passeio, lhe dificultam a entrada no prédio. O que ele acabava de descobrir, e no mail me queria contar, era que os infelizes que dormem no passeio não o fazem de graça, têm de pagar umas quantas rupias ao manager do passeio, em geral um ou outro que nessa rua tem loja.
Falta de Educação de Ordi Calder (no Rio de Janeiro)
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As assimetrias brutais na distribuição da riqueza são uma vergonha para a humanidade.
Há pouco ouvi na televisão que Fernando Santos vai ganhar 100.000 euros por mês enquanto seleccionador nacional. Só pode ser piada. Não acredito que, nos tempos que correm, alguém ainda cometa a indignidade de pagar ou receber verbas obscenas como esta.
Mas, isso até serão trocos face ao que alguns plutocratas arrebanham para si, fortunas imorais que ignoram a miséria de muitos, muitos outros.
Nunca hei-de perceber para que se quer tanto dinheiro. A vida é finita e ninguém goza a riqueza depois de morto. Se é para deixar fortunas imensas a filhos e netos, é disparate. Filhos e netos que não tenham que trabalhar ou perceber o valor do dinheiro amolecerão, darão sossego aos neurónios. Ou eles ou outros a seguir a eles tornar-se-ão uns desgraçados, impreparados para a vida.
Por isso, para quê amealhar milhões sobre milhões?
E, sobretudo, como gozar esses milhões sabendo a desgraça e a pobreza envergonhada de tantos, tantos, tantos?
Andarilho urbano II de Denisse Salazar (em Salvador, Bahia)
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Peço-vos que atentem na apresentação abaixo.
Hans Rosling é um sueco de 66 anos, médico, académico, estatístico e que fala de forma muito gráfica e impressiva de realidades que conhecemos; mas, ditas e evidenciadas da forma como o faz, tornam-se ainda mais gritantes.
Hans Rosling's Yardstick of Wealth - Don't Panic - The Truth About Population
E, a propósito dos que têm tão pouco, lembrei-me de uma obra notável, a Universidade dos Pés Descalços. Quando se ouve Bunker Roy sentimos ternura e, ao mesmo tempo, um murro no estômago.
Sei que parece coisa contraditória - e é. Mas há situações em que nos interrogamos sobre a forma mesquinha e egocêntrica como vemos a vida e, ao mesmo tempo, nos orgulhamos por haver outros melhores que nós.
Pergunto-me muitas vezes sobre o que farei quando parar a minha vida de trabalhadora por conta de outrem. Penso que vou ler, ler com tempo, pôr em dia as leituras que tão sacrificadas são agora, ir ler deitada na relva de um parque enquanto ouço saxofone, ir ler sob a copa de um chorão que cai sobre um lago onde deslizam cisnes e esvoaçam gaivotas, e penso que talvez também tenha, então, tempo para viajar, ir de comboio por essa Europa adentro, vendo deslizar as paisagens na janela enquanto leio e me deleito, e mais tempo para os meus sem os quais não passo, e, até, talvez, tempo para escrever. Mas, no fundo de mim, receio que tudo isso me saiba a pouco. Tenho muitas vezes a noção de que o que tenho para fazer nesta vida é mais do que ando agora a fazer ou do que o passeio alegre que, por vezes, imagino quando me reformar. Ainda falta muito tempo mas por vezes tenho vontade de me começar a preparar.
Colocar-me ao serviço dos que precisam de ajuda para superarem melhor a sua condição de muito pobres e invisíveis, parece-me um destino que ainda está por se me cumprir. Mas a vida se encarregará de me ir conduzindo.
Vejam por favor Bunker Roy, o indiano de 69 anos que construíu o Barefoot College (e que já antes aqui falei) e tornou engenheiras solares mulher de idade analfabetas, as orgulhosas avós engenheiras.
(O vídeo, felizmente, está legendado pelo que pode ser mais facilmente acompanhado por quem não compreenda muito bem a língua inglesa.)
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As fotografias que usei fazem parte do projecto Retratos de um Brasil de desigualdades promovido pelo Instituto Maria Preta e nele vários fotógrafos ilustram a assimetria gritante existente no Brasil.
(E, quem diz Brasil, diz muitos outros países.)
Filho de bolivianos e seu sorvete por Claudio Lins (em Paraty)
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Relembro: sobre uns conselhos que generosamente tenho para oferecer a Passos Coelho, desçam, por favor, até ao post já a seguir.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.
Muita saúde, afecto e sorte é o que vos desejo.
Muita saúde, afecto e sorte é o que vos desejo.
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Parabéns pelo post!
ResponderEliminarEsta palestra de Bunker Roy, o indiano (da classe alta) que construíu o Barefoot College, é fabulosa! Tenho-a mostrado aos meus alunos do secundário (a palestra na íntegra).
Boa semana!
Conceição Teixeira
Obrigada, Conceição. Felizes os alunos a quem são mostrados exemplos assim. Espero que eles fiquem emocionados e com vontade de aprender a simplicidade e a atenção aos outros.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana também para si!