quarta-feira, outubro 01, 2014

Quem é Cristina Ferreira, a chamada 'senhora' do PSD, ilustre gestora da WeBrand? - a Revista Visão tem vindo a tentar esclarecer, e o retrato é digno de uma telenovela. O pior é o montão de dinheiros públicos que, por ali anda, descontrolado, ilegal. E pior ainda é termos a fina flor do PSD misturada na história. E estranho, mas tão estranho, é também os bloggers de referência - que tão justiceiros por conta própria eram até há uns 3 anos - andarem tão caladinhos sobre esta fétida 'Face Oculta do PSD'



Hoje, dia de Sporting, alteraram-se-me os horários domésticos e, portanto, estou com mais tempo. Por isso, bora lá, ao tema que me anda atravessado.


Pelo teor do assunto, eu diria que era coisa para virar o país do avesso, toda a gente a vomitar, tanto o enjoo e o escândalo. Mas não. Nem uma palavra. A Visão, na pessoa do jornalista Miguel Carvalho, vai destapando o fétido panelão e nem uma voz de entre os tão assíduos bloguistas se levanta para gritar: ó céus! mas que raio de pouca vergonha se anda para aí a passar debaixo dos nossos olhos?

Vou falar de Cristina Ferreira, não a nossa tão bem conhecida gritalhona da TVI mas sim a madame do jet set do Norte, grande dama das campanhas do PSD.


A partir do que leio na Visão, juntando vários parágrafos, traço o retrato possível dita Cristina Ferreira (que vive com  Renato Guerra, dito 'filho').


Nascida em Fânzeres, Gondomar, há 49 anos, Cristina Ferreira é amiga de infância de Marco António Costa, natural da mesma freguesia. Desde então, a empresária trata por tu o vice-presidente e porta-voz do PSD.



Com dívidas acumuladas ao fisco, o casal tem duas vivendas (uma em Gondomar e outra em Mira), mas nenhuma está registada em nome de ambos. Numa das casas, abundam quadros de Júlio Resende e Cruzeiro Seixas, Cargaleiro, Noronha da Costa, José Guimarães, peças de Rosa Ramalho e Siza Vieira, além de outros luxos.

Os três carros topo de gama (um dos quais um BMW X6) usados pela família estão em nome da empresa, à qual foram facturados ao longo de anos viagens a Nova Iorque no valor de quase 20 mil euros, despesas de cabeleireiro, roupas, jóias, relógios e carteiras das melhores marcas. "Já conheci muitas empresárias e mulheres da política, mas nunca alguém que se vestisse de grifes como ela, da cabeça aos pés, todos os dias", recorda uma ex-funcionária.

Nos anos de ouro da WeBrand, uma das empresas geridas por Cristina e Renato e que tem feito grande parte das campanhas do PSD,  foi assim: marido, família, amigos, viajavam a expensas da empresa, sem cuidar de miudezas. No final de 2009, ano de três eleições contratadas com o PSD, atingiu o zénite: a WeBrand ganhara muito dinheiro com o partido, distribuíra prémios por funcionários e Cristina decidira passar o ano em Nova Iorque com um pequeno grupo familiar e amigo. O hotel eleito foi o Hotel Carlyle, um cinco estrelas na famosa Madison Avenue, onde a estadia para duas pessoas por uma semana rondou os 5 mil euros. O pequeno almoço por casal, pago à parte, superou os 1.600 euros. A cereja no topo do bolo terá sido, segundo antigos colaboradores da agência, a viagem panorâmica de helicóptero para apreciar as vistas sobre Manhattan.

A WeBrand bordaria a vida de Cristina e Renato a ouro. Os gastos pessoais do casal e familiares são quase sempre debitados à empresa. Os ordenados reais não aparecem no papel, as casas estão em nomes de amigos, os carros e os gastos associados são pagos pela WeBrand.

A vida de Cristina divide-se entre o atraso nos pagamentos das prestações das habitações de Gondomar e Mira, dívidas antigas, penhoras e fins de semana na Herdade dos Salgados (albufeira) ou em Paris. Compra carteiras Birkin Hermes - as mais caras do mundo, que custam entre 4.000 a 11.000 euros - e malas Louis Vuitton. Nunca gastou menos de 400 euros no cabeleireiro. Manda vir Botas da Austrália e sandálias de Nova Iorque, e encomenda mobiliário a lojas de luxo com ordens para que a factura seja passada à WeBrand como se fossem ofertas a clientes. 

Em sapatos, carteiras, jóias e relógios, Cristina e Renato teriam, há poucos anos, bens avaliados em cerca de 240 mil euros.

Houve anos recentes em que as despesas fixas de Cristina Ferreira seriam superiores a 9 mil euros. E mesmo quando os funcionários reclamavam pelo facto de receberem o ordenado às pingas - e assim aconteceu, pelo menos ao longo de um ano - Cristina não se apoquentava. Pelo contrário. O que verdadeiramente a stressava era partir uma unha de gel, as invejas, o facto de o Yorkshire não fazer as necessidades no mesmo sítio, e as indecisões quanto à compra de uma cadela Bichon Maltês, a 200 euros a pata, preços por baixo.

Enquanto isso, os jantares e convívios na vivenda de Gondomar deixavam de queixo à banda os visitantes menos prevenidos. Serviços Vista Alegre, cerveja bebida em copos do designer Ritzenhoff, brindes em flutes de champanhe Christofle, chá e café saboreados em peças desenhadas por Siza Vieira.

Do rol das suas amizades contam-se governantes, ex-ministros, deputados, autarcas, gestores de topo e diplomatas que navegam nas áreas do chamado 'bloco central de interesses'.

Sempre desejosa de manter clientes apaparicados ou tentar abrir portas, Cristina não escolhe fronteiras. Nem políticas, nem geográficas. Pelo Natal, envia lembranças da WeBrand para gabinetes ministeriais de sucessivos governos, hospitais, institutos públicos, grupos de construção civil, empresas prestigiadas. Organiza eventos sem cobrar, recebendo a promessa de portas abertas em instituições financeiras e grupos económicos, em Portugal e no estrangeiro. a rede de contactos alcança a África lusófona e até a Guiné Equatorial.



Pois bem, é esta senhora que está no centro das desconfianças dos investigadores, desconfianças relativas a cenas onde se cruzam Luís Filipe Menezes, Marco António Costa, Agostinho Branquinho, Paulo Rangel, Passos Coelho e muitos outros dirigentes do PSD, vários negócios em Maia, a Mota Engil. A trama é de tal ordem, as teias, as tramóias, a desbunda, o regabofe, tudo tanto, tão descarado, tão abandalhado, tão primário, tão escandaloso, que tenho dificuldade em resumir. 


No meio de tudo isto estão 3 empresas geridas pela dita dupla, Cristina e Renato. O dinheiro e as facturas circulavam por ali aparentemente sem rei nem roque, imputadas à empresa que conviesse, tudo numa impunidade absoluta. Isto fora o dinheiro em cash. Saco azul, ora pois.


A engenharia financeira, complexa até para quem, na Faculdade de economia do Porto, está habituado a detectar fraudes, faria o resto, como suspeitam os investigadores: facturas falsas que circulam entre as empresas, sobrefacturação, transferências bancárias em carrossel, comissões para intermediários, fuga ao fisco, etc.

Cristina Ferreira partilhava uma filosofia assente na máxima 'o segredo é a alma do negócio' e na ideia de que nem tudo se deve transmitir a quem nos rodeia. No PSD gostavam disso. Por isso, foi requisitada para diversos actos eleitorais. Mas, sobretudo, 'sabia como as coisas se fazem', dizem fontes com responsabilidade no partido e ex-colaboradores da empresária.


'Estes trabalhos em Portugal não precisam de concurso... precisam de amigos para serem ganhos', dizia Cristina Ferreira.


Os exemplos de irregularidades são mais do que muitos e não tenho como referi-los aqui a todos. Mas transcrevo um pouco mais:




Cristina Ferreira deixou um abundante rasto documental onde são descritos esquemas e estratagemas com a administração da Gaianima, empresa onde se misturavam os assuntos da empresa com os do PSD. Qual o espanto? Em fnais de 2007, Marco António Costa, porta-voz do partido, candidatou-se à distrital do Porto tendo na sua lista Agostinho Branquinho e Virgílio Macedo (actual Revisor Oficial de Contas da Câmara de Gaia e líder do PSD/Porto que, à época, transitou de tesoureiro da estrutura laranja para secretário-geral). Na gestão dos dinheiros do partido ficaria então um administrador da Gaianima, entretanto falecido.

Nesse mesmo ano de 2007, na campanha do ex-autarca à liderança do PSD - eleições fora do controlo da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos do Tribunal Constitucional - a empresa de Cristina Ferreira foi contratada para prestar serviços à candidatura. Organizou jantares, montou estruturas de rua, tratou de palcos e imagens do candidato a líder. Na ocasião, o PSD lançou também uma revista especial, tendo Cristina recebido, em março daquele ano, indicações para facturar o seu custo a uma empresa de construção civil do concelho, conforme documentação a que a VISÃO teve acesso.

A 27 de novembro de 2007 a empresa venceria um concurso público da Câmara Municipal de Gaia superior a 1,2 milhões de euros, para uma obra em Avintes. 


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Hoje fico-me por aqui para isto não ficar muito maçador. Amanhã a ver se tenho tempo para falar de outra notícia da autoria do mesmo jornalista: 



A procuradoria está a investigar suspeitas de interferências políticas numa alegada 'prescrição' de dívidas fiscais do universo da WeBrand relativas a 2008 e 2008. 


A estimativa inicial apontava para 1 milhão de euros, mas a agência que fez campanhas para o PSD terá sido notificada para pagar um valor irrisório. Uma decisão tomada no mandato do actual director de Finanças do Porto. Telmo Tavares. 


Despacho da ministra (Maria Luís Albuquerque) a 1 de Setembro de 2013 (era domingo!) marcou o início de uma série de mistérios relacionados com o processo da WeBrand nas Finanças do Porto.




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As partes em itálico são transcrições, ainda que nem sempre sequenciais, dos artigos publicados na Visão, nºs 1124 e 1125, de Setembro, da autoria de Miguel Carvalho que está de parabéns com esta investigação.

As imagens provêm também de lá.

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[E, caso tenham curiosidade em ler a actualização deste tema, queiram, por favor, clicar aqui]

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4 comentários:

  1. Já repassei este seu excelente Post! Como é possível tudo isto? Que Partidos são estes que nos (des) governam? A traficância de influências, compra de favores, negócios, tudo numa vertigem de Poder e Dinheiro, que mete asco. E quando se olha para o nosso Código Penal até sentimos um aperto por ver que no seu conjunto não possui as ferramentas legais necessárias para criminalizar adequadamente certos tipos de práticas, como deveria suceder. Já em tempos exemplifiquei-lhe isso mesmo num artigo de opinião de um inspector da PJ. Na situação que aqui nos descreve, pergunto-me que tipos de possíveis acusações poderão, eventualmente, vir a ter lugar? Em teoria, são vários, resta saber a sua aplicabilidade no contexto. E a prova dos mesmos. Já nem falo da prova do Dolo. Enfim, a política portuguesa actual no seu pior. Um nojo!
    Fabuloso Post!
    P.Rufino

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  2. Porque será que não investigam as ligações da dona Cristina ferreira e do Sr Renato Guerra com as campanhas feitas pelo PS e não só, com as empresas já encerradas (fraudulentas) Portcom, Dedo, Grafinvest entre outras, que dão em sucessão à Webrand e com toda a certeza não será a última?
    PS. As campanhas que se fala é de gente bem conhecida, Narciso Miranda, Fátima Felgueiras, Fernando Gomes, ou melhor quase todas da região norte e não só todas do Partido Socialista.
    Não será melhor mudar o nome para a Senhora PS.

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  3. Esta senhora é uma verdadeira ladra !

    Trabalhei 1 ano para esta agência, deve -me 2000 eur e tenho um saldo negativo de 228 dolares no facebook gastos em anuncios do Mercado Bom Sucesso que este lixo se recusa a pagar.

    Tenho várias provas da falta de integridade desta personagem, desde pedidos para entrar em contas de email de ex funcionarios até as contradições em que se compromete a pagar as dívidas e dpois diz que não deve nada.

    Um verdadeiro cancro na sociedade

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  4. Grande mal fazem os partidos ao povo que vota neles! Que traições, que teias de interesses altamente prejudiciais à Democracia. Como votar em gente que até pode ser muito séria, mas que, para não perderem a esperança dos prémios a entregar a quem cala, deixam permanecer estas gritantes malfeitorias. Será este o preço a pagar para não termos uma ditadura que certamente não permitiria estes desmandos? E eu alguma vez queria fazer parte de uma associação onde houvesse gente como Duarte Lima, Sócrates, Vara, Isaltino. Loureiros todos, Felgueiras, Marco Antónios, Mirandas, Relvas, Coelhos, Soares, etc, etc, etc? Senhor, Senhor, vinde fazer a justiça que o poder judicial não quer fazer, nem mesmo que lhes paguem cada vez mais euros por mês!

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