Miguel Reis, o advogado que divulgou as Actas do Banco de Portugal, numa entrevista na SIC N com Ana Lourenço |
Dando um tremendo bigode a todos os jornalistas deste País, o advogado Miguel Reis de quem ontem falei mostrou que, quando se quer saber alguma coisa, se deve ir à procura dela em vez de ficar, no conforto dos gabinetes, à espera que a informação entre na caixa do correio.
Ele foi à procura da informação na sua origem. E, assim, obteve as esclarecedoras (e algo preocupantes) actas do Banco de Portugal. Numa entrevista extraordinária na SIC Notícias com Ana Lourenço, disse ele que, tendo-se um código de acesso que custa 50 euros, se pode aceder a informação relevante e explicou onde. No seguimento disto, acrescentou que a última acta da administração do BES também é uma coisa jeitosa de se ver.
E interrogou-se sobre como é possível o Banco de Portugal, de repente, poder confiscar os bens às pessoas, sem uma explicação, sem indemnização, as pessoas tratadas abaixo de cão, as tuas coisas ficaram com o Lobo Mau.
Não se referia, claro, a Ricardo Salgado e família ou administradores ou demais coniventes com a gestão danosa - já que esses deverão cair na alçada da justiça - mas, sim, aos pequenos investidores, aqueles que acreditavam nos gestores das agências, que acreditaram na palavra do Governador do Banco de Portugal ou do Presidente da República que todos e até há poucos dias afiançavam que o BES estava sólido.
Pergunta-se Miguel Reis: e quem é Carlos Costa para ter sido escolhido para Governador do Banco de Portugal, vindo de onde veio (do BCP). E pergunta-se como foi o processo de nacionalização do Banco de Portugal. Houve indemnizações? Ou ainda estão a ser pagas de uma outra escusa maneira?
E sobre todo o processo de registo de sociedades, de nomeações não registadas, de confisco de contas, de decisões arbitrárias, diz Miguel Reis que acha que tudo estará eivado de inconstitucionalidade e que os colegas advogados deverão olhar para este assunto não como um negócio mas como um assunto a ser estudado cuidadosamente, no sentido de defender o interesse do Estado de Direito.
Aliás, referiu - tal como eu tantas vezes aqui tenho frisado - a legislação de que se tem falado para justificar esta trapalhada ainda não está em vigor, só deve entrar em vigor em Janeiro de 2015.
Perguntou-se: o que se poderá fazer para chamar a atenção para a arbitrariedade e injustiça implícita em todo este processo? Pedir o arresto da casa de Cavaco Silva ali à Estrela? Pedir o arresto da casa de Carlos Costa? - mas depois disse que ainda não tinha ido ver se eles as têm em seu nome mas que, um dia destes, ainda o iria fazer.
Muitas coisas ele disse. A Ana Lourenço estava admirada a ouvir uma voz que falava uma conversa muito diferente dos colegas-papagaios que lá costuma ter.
No fim cumprimentou-o Chapeau..., dado que de um advogado não mediático veio dar uma verdadeira lição de jornalismo.
De resto, Miguel Reis começou a entrevista dizendo que foi jornalista e creio que disse que ainda tem carteira junto do Sindicato dos Jornalistas. E contou que, em tempos, já teve casos que envolveram o João Rocha e que, por isso, algumas pessoas que o conheciam dessa altura o contactaram.
Da parte que me toca, também digo: Miguel Reis entrou como um vendaval na cena política e económica nacional, falando com um à vontade, uma frontalidade que me agradam sobremaneira. É do estilo que eu aprecio, pão, pão, queijo, queijo. E os bois chamados pelos nomes para não haver equívocos.
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Já antes Octávio Teixeira tinha transmitido a ideia de que a forma absurda, trôpega, obnóxia como Carlos Costa está a gerir este processo está a destruir o que foi um bom banco, dizendo ainda que um banco desta dimensão não pode falir mas que é isso que Carlos Costa parece que se prepara para provocar.
Octávio Teixeira defendeu, claro, que devia ter havido uma tomada de posição clara por parte do Estado em vez de se terem metido num esquema nebuloso que ninguém percebe e que só gera desconfiança - quando o sistema bancário assenta justamente na confiança.
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Um aparte
Um aparte
Nem falo do que por aí vai nesse outro mundo sujo, o do futebol. Fala-se nos jogadores serem propriedade de clubes ou terem sido dados como garantia, e as pessoas já são tratadas como se fossem coisas. Mangala era do BES (O jogador francês vendido pelo FC Porto ao Manchester City estava dado como garantia a um empréstimo de 30 milhões de euros do BES à SAD portista, que tinha de ser liquidado até Julho - leio).
Milhões e milhões, e tudo dívida. As pessoas já são um mero colateral. Que vergonha isto, que vergonha. Foi para aqui que caminhámos?!
E, como em todos os negócios em Portugal, sempre que se fala em muitos milhões, está a falar-se essencialmente de dívida.
Dinheiro, dinheiro, há o dinheiro fresco dos russos, dos angolanos, dos chineses, dinheiro cujo proveniência ninguém quer saber, o que se quer é atrair gente que venha com malas cheias de dinheiro. Que raio de país, que raio de mundo.
Finalmente: que é feito do Governo e do Presidente da República? Que inconsciência é esta? Com clientes, investidores, fundos, etc, toda a gente a mobilizar-se para impugnar ou processar os autores destas decisões arbitrárias e de legalidade duvidosa, o que pode vir a dar uma barraca de todo o tamanho, mantêm-se tranquilamente a banhos...? Como é isto possível, senhores...?
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Caríssima UJM, boa noite.
ResponderEliminarAinda a procissão nem saiu da Igreja.
Aguardemos...
Tudo de bom e mais uma vez obrigado pela partilha
Humberto Barbosa
Cada vez mais admiro o batismo prudencial da dupla Bento / Costa em relação ao nado-banco: NB. Pois não significa Novo Banco? Não necessariamente... Pode também ser Novo Buraco. Sabemos agora que a dívida gerada pelos 10 mil milhões de euros que o BCE emprestou ao BES não "morreu" com o dito BES, antes transitou incólume para o NB. Um bom começo! A Moody's cotou hoje o NB no sexto nível de lixo. Admirável continuação! Até a Dona Inércia já deve ter percebido que está na hora de ir movimentar os dinheiritos. Octávio Teixeira veio rematar com a hipótese de o Governador do BdP poder vir a dissolver o NB se concluir que este não tem comprador. Se tal viesse a acontecer, quem pagaria a fatura desta operação de arresolução?
ResponderEliminarE, é verdade, a invisibilidade do P.R. nesta hora de incertezas que se adensam, é cada dia mais vistosa. Pedro Lains escrevia no jornal "i" sobre o fim do cavaquismo enquanto modo de vida político-financeiro que nos tem governado desde a década de 80. Será bom que disto resulte só o fim do dito modo de vida. Em épocas de aperto, às vezes com os anéis vão também os dedos...
Como tivemos ontem à noite a jantar o filho, nora e neto, saindo tarde, acabei por não ver essa conversa entre Miguel Reis e a excelente Ana Lourenço. Será que se conseguirá apanhar na Net, You Tube? Tenho de ver isso! O Miguel Reis é uma lufada de ar fresco neste lodaçal! BES, Carlos Costa, PM, M.L Albuquerque e essa tristíssima figura em Belém, só servem para ajudar a enterrar o país e desacreditar o nosso sistema financeiro. Seria bom que se pudesse arrestar os imóveis do Governador e do PR e já agora do PM pois também contribuiu para enganar muita gente, accionistas pequenos do BES.
ResponderEliminarP.Rufino
Um desconhecido que faz e diz o que milhares não comentam por submissão a poderes obscuros. Bem haja Miguel Reis e não desista por favor.
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