sexta-feira, agosto 08, 2014

Lei Seca de Pedro Mexia - Um livro do desassossego em forma de diário com look quase Louboutin


Podia falar da demissão e da humilhante descida aos infernos de Henrique Granadeiro, tal como poderia falar da bajulante entrevista (que vi em repetição) de Gomes Ferreira a Vítor Bento ou de outras coisas do mesmo calibre. Mas não apenas não me está a dar para falar de misérias como não estou com pedalada para corridas de esforço.


Por isso, hoje os temas desviam-se da actualidade pequenina e vão para onde o horizonte parece querer iluminar-se.

Nos dois posts abaixo mostrei duas mulheres-meninas que têm mulheres-fogosas dentro do corpo. Belas, ginasticadas, insubmissas e provocantes, Cara e Michelle parecem associar a rebeldia ao charme e, assim sendo, são bem vindas aqui ao Um Jeito Manso onde todas as mulheres com o seu quê de malandragem se sentirão sempre em casa. As santinhas também, especialmente para eu as poder provocar.


Mas isso é a seguir. Aqui, agora, falo de um assunto que me é caro: livros.







Não estou nos meus melhores dias para falar disto porque a semana tem sido puxada e passa da uma e meia da manhã e eu estou cansada. 

Mas antes de adormecer quero falar deste novo livro de Pedro Mexia. Junta textos do seu blogue Lei Seca e a verdade é que isto lido assim é um prazer ainda maior do que ir vendo as suas ideias destiladas ao longo dos dias.


Os puristas que me perdoem mas a verdade é que eu, ao folhear o livro, me ocorreu o desalinhamento de Pessoa no Livro do Desassossego.

Cada vez mais gosto de ler livros assim, em que a ordem dos factores é aleatória. Abre-se, lê-se, fecha-se e na vez seguinte repete-se o processo, sem querer saber de onde se ia. Entra-se e faz sempre tudo sentido, não precisamos de conhecer a história que trouxe o enredo até ali para se ter prazer no que se lê. É que o enredo não é mais do que a sucessão livre de ideias, sentimentos, apontamentos, um ou outro toque discreto de humor. O livro pulsa como gente, que é a sensação que fica quando se lê um bom diário.

Para exemplificar, vou abrir ao acaso por quatro vezes e vou transcrever pequenos excertos.


EM DUAS OU TRÊS PALAVRAS

As minhas 'relações', mal se anunciam ou enquanto duram, parecem sempre terrivelmente 'complexas'. Mas quando abortam ou terminam, são sempre tão simples, tão evidentes, tão tristemente explicáveis em duas ou três palavras.


VIDA DE ADULTO

Madrugada dentro, numa noite mansamente triste de Inverno, lembro-me bem de quanto mudei. Há quase duas décadas, aqui deitado, não aceitava levar uma vida que não fosse digna de ser vivida. Queria imperativamente deixar alguma coisa que me sobrevivesse. Agora é diferente. Já sei que de mim nada fica, mas não acho a vida menos digna de ser vivida por causa disso. Desisti da infelicidade porque aceitei o fracasso. É a vida de adulto.


O TEMPO E O MODO

Há muitas coisas que aparentemente 'correm bem', não se desse o caso de estar trocado o tempo e o modo como acontecem, ou até as pessoas com as quais acontecem. Como escreveu Winston Churchill, 'o jantar teria sido esplêndido se o vinho não estivesse tão gelado como a sopa, o bife tão mal-passado como o serviço, o brandy tão velho como o peixe, e a criada tão disponível como a duquesa'


LONGA DISTÂNCIA

E de imediato retomámos uma conversa interrompida. E regressou, por uns instantes, a nossa aprendida e instintiva coreografia, os tempos impecáveis, a graça esperada e imprevisível, a sisudez brincada, a inquirição subtil, a provocação elegante. E aquela hipérbole que diz que me fazes muita falta.



Estivesse eu nos meus dias e teceria loas mais do que merecidas a Pedro Mexia que escreve bem, é inteligente, tem bom gosto nas escolhas, tem o ritmo certo para manter vivo o interesse nele e na sua obra. Mas hoje estou tão cansada que receio não dizer coisa com coisa se me puser para aqui a desfiar considerações ou elogios.


A Lei Seca  de Pedro Mexia, edição Tinta da China,
em edição Louboutin entre lenço de seda macia, luxuriantemente colorido



Quanto ao livro enquanto objecto, digo apenas que a paginação está agradável, a capa é apelativa e tem umas entrecapas encarnadas que me fazem lembrar a sola dos sofisticados e elegantes Louboutin. Fica chamativo, agrada-me. Aliás, ainda ontem vi lá na livraria um outro escritor a folheá-lo, hesitante sobre se o haveria de trazer. Era homem, não trouxe. Se fosse uma mulher, fazia como eu, trazia logo.


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A música é Last night I dreamt that somebody loved me interpretada por The Smiths 


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Para verem duas jovens e belas mulheres que quase parecem do além, desçam por favor até aos dois posts já a seguir.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira!


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