Que o BES, face à situação de fim de linha a que tinha chegado, tinha que ser intervencionado disso não tenho dúvidas. Isso, para mim, foi notório quando ainda andavam todos a gabar o Passos Coelho por dizer que não tinha a nada a ver com o BES, que o BES estava são como um pêro saloio, que o BES era assunto dos privados e não do Estado. Na altura, pedi prudência e alertei para a burrice que isso era já que a garantia de que nada de mal acontecerá a um banco é a garantia número um para que se mantenha a confiança - e o sistema bancário vive da confiança.
Que a intervenção devia contemplar uma injecção súbita de capital mas também uma intervenção intrusiva a nível da gestão (incluindo uma auditoria internacional que passasse tudo a pente fino, tudo, desde a intervenção dos supervisores), disso também não tenho dúvidas.
A este propósito, muito se saudaria que fosse pedida uma auditoria externa internacional aos procedimentos internos de supervisão. Verifique-se a evolução/promoções dos técnicos supervisores directos do BES nos últimos anos (em comparação com os seus pares). Verifique-se se estão de acordo com o que se está agora a verificar.
O que aconteceu na Bulgaria parece ser um exemplo a ter em consideração.
A não se olhar de frente para todos os mecanismos de supervisão, estar-se-á sempre na eventualidade de surgir um novo, BES (tal como aconteceu antes com o BPN ou BPP).
Mas muito me andou a espantar ver um vazio de gestão durante mais de um mês (enquanto se resolvia quem é que ia suceder a Ricardo Salgado e até que Vítor Bento entrasse em acção) que deu para tudo e mais alguma coisa, sendo que a maior parte delas foi aparentemente altamente lesiva para o banco (já que o valor do Banco parece ter-se esfumado durante esse mês).
O que aconteceu durante esse mês foi dramático. Levantamento de depósitos, depreciação em bolsa e sabe-se lá que mais que, num mês, estoiraram com o balanço do banco e secaram a sua liquidez.
O que aconteceu durante esse mês foi dramático. Levantamento de depósitos, depreciação em bolsa e sabe-se lá que mais que, num mês, estoiraram com o balanço do banco e secaram a sua liquidez.
Ora, um banco sem liquidez não existe. O BCE fechou a torneira e, in extremis, o BdP actuou.
Onde andou o Governo durante este período dramático não percebo. Aliás percebo: como de costume, andou sem perceber nada do que estava a acontecer (isto na melhor das hipóteses)
Portanto, que agora, face ao estado depauperado a que o BES tinha chegado, se tenha tomado uma posição só posso achar normal, indispensável - e lamentar que tenha sido tão tardia.
De resto, do que sei da solução - que é muito pouco - vejo que os depositantes foram poupados e que os créditos 'normais' também foram respeitados. Vejo também que a solução engendrada supostamente transfere para os outros bancos a responsabilidade pelo 'aguentar' do banco.
Mas, a partir daí, pouco mais percebo.
Que o Estado tivesse tomado uma posição no BES e, tendo isso acontecido, tomasse a decisão, depois, em acto de gestão, de dividir o BES parecer-me-ia razoável. É normal, nestas situações, sanear, isolar as fontes de prejuízos e deixar respirar as actividades rentáveis.
O Carlos Costa bom, ou o NOVO Carlos Costa (O bad Carlos Costa, que é como quem diz, o velho-Carlos Costa está no BdP) |
Se alguns dos accionistas são 'maus', supostamente os Espíritos Santos, já os outros foram pura e simplesmente espoliados sem terem percebido o que lhes aconteceu. Ficaram sem o dinheiro que lá tinham, sem terem direito a piar. E neste grupo estão muitos pequenos accionistas que investiram lá as suas economias convencidos pelas instituições oficiais (BdP, CMVM, Governo e até PR) que andaram a dizer que o BES estava sólido e com uma confortável almofada).
[Além disso, depois de ter percebido a gravidade das suspeitas que envolviam a gestão do BES, espantou-me muito que o aumento de capital tivesse sido permitido para o colocar nas mãos daqueles de quem se suspeitava. Acho isso muito estranho e intuo que daí muito venha a sobrar para nós, contribuintes (porque intuo que vão chover queixas e, se houver lugar a indemnizações, quem vai pagar é o Estado e o Estado somos nós)].
Mas, voltando, ao que o banco de Portugal fez no fim de semana, confesso que não tenho deixado de tentar perceber o que aconteceu - e não percebo.
O Vice-Portas que,
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Que poder é este? As pessoas investiram num banco que pensavam que era bom e de repente sacam-lhes o banco das mãos e deixam-nos com papel que não vale nada. Quem mais vai querer investir num banco em Portugal sabendo que, num fim de semana, o Governador do Banco de Portugal manda o governo e o PR assinarem um decreto para obter poderes para tudo e mais alguma coisa e que, tendo esse poder, faz uma destas...? Acho que ninguém em seu pleno juízo.
Ou seja, imagino que, para quem está de fora, isto aqui pareça uma república das bananas. Num mês aliciam as pessoas para um aumento de capital, ao longo do mês seguinte juram a pés juntos que o banco é um miminho e, de repente, num fim de semana, sacam de lá tudo o que é bom e dão-no de mão beijada a outro (para já um Fundo constituído por outros bancos e, a seguir, para quem der mais) e deixam-nos a eles, inocentes investidores, atafulhados em lixo e com as acções a valerem zero. Eu, pela parte que me toca, acho isto do além.
A sensação com que fico é que Passos Coelho, naquela sua insustentável leveza da ignorância, deu um tiro na cabeça do capitalismo e nem vai perceber porque é que os capitalistas que sobreviveram vão fugir a sete pés de Portugal.
Pode ser que eu esteja enganada ou que haja para aí alguma carta na manga de alguém - porque se o que há é só o que está à vista, isto pode ser mais uma argolada deste Governo e das grossas.
Há dias eu falei que o BdP deveria fazer um raide no BES. A minha ideia era que lá metessem dinheiro (empréstimo, posição accionista, o que fosse) e impusessem alguns administradores por parte do BdP, uma limpeza na equipa de gestão, nomeadamente na equipa que foi conivente com os maus actos de gestão, para suster uma sangria de dinheiros e para inspirar confiança juntos dos depositantes e, em simultâneo, uma auditoria internacional.
Agora isto? Jamais me passaria pela cabeça uma coisa destas. Ia dizer que nem sei se é legal mas se calhar é legal depois do decreto assinado na hora e por correspondência durante o fim de semana.
Não consegui ainda perceber qual a estrutura de balanço deste Novo Banco nem que coisa é que vai acontecer ao velho BES que, do que percebo, está para liquidação nas mãos de alguém escolhido pelo BdP. Mas foi declarada falência do BES para isto acontecer? Tendo agido atempadamente (e, segundo agora se sabe, desde Setembro do ano passado que havia sérias suspeitas de gestão danosa), não haveria maneira de sanear o BES sem saquear todos os accionistas?
A mim parece-me que talvez houvesse.
Ou seja... para mim, nada disto é claro.
Depois há as dúvidas relativas a inside information e sobre quem deixou escapar informação e não travou as consequências dessa fuga e que já levou a CMVM a pedir averiguações. A Goldman Sachs conseguiu vender o número suficiente de acções para não sair totalmente lesada e a PT levantou todos os depósitos. Quem mais o fez? Não sabemos.
Tudo coisas que, para mim, estão mal explicadas. E nem falo das questões operacionais (que sistema informático é que está a funcionar? ou seja: em que empresa, isto é, em que banco estão, de facto, a ser contabilizados os movimentos que estão a ser feitos? não estão, certamente, numa nova empresa nascida a a 4 de Agosto) já que essas me deixam ainda mais confundida.
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Espreitei agora o Público e vejo num artigo de Cristina Ferreira (uma jornalista que desconhecia e que é das melhores que tenho visto) que isto do aumento de capital é castanha quente que já está a estalar nas mãos por onde passou:
BESI e bancos internacionais ligados ao aumento de capital do BES podem ser responsabilizados por perdas de investidores.
Banco de Portugal e CMVM travam braço-de-ferro sobre a responsabilidade de cada instituição na autorização do último aumento de capital do BES que gerou elevados prejuízos aos investidores, nomeadamente aos clientes de retalho da instituição.
CMVM diz que defendeu investidores do BES e que aprovação de aumentos de capital cabe ao BdP.
Esta operação está a ser alvo de um braço-de-ferro entre o Banco de Portugal (BdP) e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Para Carlos Costa a responsabilidade da autorização do aumento de capital do antigo BES e do conteúdo do prospecto é da CMVM, mas Carlos Tavares, através de um comunicado emitido segunda-feira à noite, veio esclarecer que "a CMVM não dispõe de qualquer poder relativamente às decisões sobre aumento de capital de qualquer sociedade".
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De um Leitor a quem muito agradeço, recebi ainda o seguinte excerto que fala por si:
Analysis: Alison Roberts, BBC News, Lisbon
The Banco Espirito Santo (BES) rescue marks a significant shift in banking supervision in the eurozone, in that shareholders are to shoulder a larger proportion of losses than was the case in previous bank bailouts.
Still, it is ultimately Portugal's taxpayers who are underwriting the loan to the newly created bank that is to take over BES's viable commercial activities, since the funds are coming from a part of Portugal's eurozone bailout that the country had not so far needed to draw on, but which it will have to pay back.
There are also questions about the Portuguese authorities' handling of the situation.
Barely a month ago, they waved through a capital increase in which BES raised 1bn euros - money that all but vanished as the share price plummeted.
Such doubts could make it harder for Portuguese companies to raise money in future - while the Portuguese state is already facing higher financing costs.
Claro.
Bem, claro, claro é que isto não é nada... (mas pode ser que isto seja defeito meu que sou míope)
A propósito de isto não ser lá muito claro, permito-me ainda transcrever na íntegra um post de Eduardo Pitta no seu blogue Da Literatura:
Bem, claro, claro é que isto não é nada... (mas pode ser que isto seja defeito meu que sou míope)
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Moreira Rato da Administração do NOVO BANCO
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A propósito de isto não ser lá muito claro, permito-me ainda transcrever na íntegra um post de Eduardo Pitta no seu blogue Da Literatura:
RATO NO RADAR DO WSJ
João Moreira Rato no WSJ — «[...] Eurofin also has an indirect connection to Banco Espírito Santo, whose ultimate parent is Espírito Santo International, through the bank’s new chief financial officer, João Moreira Rato. Mr. Rato is part of a management team brought in last month to try to stabilize the lender. Mr. Rato, a former Lehman Brothers trader, previously helped run a small London hedge fund called Nau Capital LLP, according to regulatory records. Nau originally was seeded with a roughly €200 million investment from Banco Espírito Santo, according to public statements at the time. Mr. Rato’s partner at Nau Capital was João Poppe. Mr. Poppe is the nephew of Ricardo Espírito Santo Salgado, who last month resigned as Banco Espírito Santo’s chief executive and then was detained in a Portuguese money-laundering investigation. In a statement last month, Mr. Salgado said he would cooperate with the investigation and that he “believes truth and justice will prevail.” Mr. Rato left Nau Capital in 2010, according to U.K. records. The next year, Eurofin bought Nau Capital. Mr. Poppe is now a managing director at Eurofin. A Banco Espírito Santo spokeswoman said Mr. Rato wasn’t available for comment. Mr. Poppe didn’t respond to requests for comment. [...]»
Nem digo mais nada.
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Mas mostro este vídeo giríssimo que Leitor generoso aqui deixou
Como ficou a Dona Inércia - um vídeo da Rádio Comercial
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(Gostava de saber o autor das imagens e fotografias que ilustram este post e que obtive por aí mas não sei. Mas estão todos de parabéns).
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http://youtu.be/Ludtex1CM_I
ResponderEliminarOlá Bob Marley,
ResponderEliminarO Vídeo já saltou para dentro do post. Obrigada!
http://www.youtube.com/watch?v=BiRwTb3BZF4#t=23
ResponderEliminarRealmente, tudo isto faz-me imensa confusão. Todo este caso está ainda por explicar – em detalhe. Quanto à Manta Rota e a imagem divertida que aqui publica, ocorreu-me, a propósito, um comentário que ontem de manhã ouvi na Antena 3, enquanto conduzia, sobre o rapaz Passos. Numa gravação sobre uma conversa que o PM teve com um qualquer jornalista, enquanto gozava o doce sossego das suas férias algarvias (com o país a arder financeiramente!), respondeu da seguinte forma, quando lhe perguntaram o que pensava do que estava a acontecer (referindo-se ao caso BES, Governador, etc): “olhe, eu cá não tenho ouvido nada, estou por aqui de férias, com a Laura minha mulher e uma filha e o que eu tenho ouvido é música, ou melhor, é coligir um conjunto de músicas, quer portuguesas, brasileiras, rock, etc, com o apoio delas, para colocarmos num CD, a fim de ouvirmos no decurso da viagem de regresso a Lisboa, uma vez acabe as férias aqui na Manta Rota. Isso tem-nos ocupado bastante tempo, para além da praia, sabe!”. Extraordinário! O PM desconhece os estragos provocados pelo descalabro ou melhor, estoiro, do BES, pois tem, ao que percebemos, um bombeiro serviço (agora reforçado de poderes após o que Portas assinou – e, pelos vistos, a acreditar nas palavras de Passos, por iniciativa de Portas, já que ele, nem saberia, visto “estar de férias e férias são férias, mesmo para um PM com um país em convulsão politico-financeira, e apenas estar preocupado, no presente momento, em seleccionar uns tantos trechos musicais, para ouvir, alegremente, em conjunto com a sua Laura e filha - que sendo de uma das Doce poderá ter exigido que se incluísse um ou mais “clássicos” delas Doces - muito possível”), na pessoa do Dr. Costa, que em vez de supervisionar, como lhe competia, ressonava, alto e em bom som, enquanto Ricardo Salgado e afins transformavam BES num enorme queijo suíço. Essa ideia de uma auditoria externa, conduzida por gente de fora, parece-me excelente. E aí se apanharia ainda muito patife que deste modo escapar-se-á por entre os pingos do ex-BES, com o discreto assentimento do tal Costa que prefere ressonar. Quanto aos accionistas, poder-se-ia ter tentado encontrar uma outra solução, sobretudo os pequenos. Mas mesmo os grandes, poderiam ter sido chamados a coresponsabilizar-se com a criação do Banco Bom e não penaliza-los como foram, o que eu não acrescenta nada à solução e só contribui para descredibilizar a confiança na Banca portuguesa. O Salgado e família e amigalhaços que arcassem, sozinhos com o Banco Mau. Finalmente, o que aqui nos revela sobre o Moreira Rato é incrível! Um tipo que vem de um banco trafulha e depois de uma lavagem de imagem no Instituto onde pairava, vai dirigir um banco onde se praticaram trafulhices do pior! Se calhar é isso: “ O Costa do BdP, com o assentimento do PM e PR, achou que o tipo tinha a “expertise” adequada para o feito, visto de sacanagem bancária saber o Rato, melhor do que ninguém! E o que o outro jornalista inglês diz, também não nos tranquiliza nada. Razão tem o P.S. Guerreiro!
ResponderEliminarP.Rufino