sexta-feira, agosto 01, 2014

Pode um homem que temos por homem de bem portar-se como um vulgar bandido? Confesso: ainda me surpreendo com algumas situações. Mas não devia. É todo um ambiente malsão em que se aceita ser liderado por chernes ou láparos que atiram com uma 'pipa de massa', aconselhando a que, todo um povo, diga 'obrigadinho' aos senhores que tanta caridade demonstram


O que levou Ricardo Salgado, Joaquim Goes e outros a ignorar a deontologia, a desrespeitar a regulação, a lei, a ética, a moral, e, em última análise, a desprezar aqueles a quem estavam a tornar vítimas?

Não posso colocar no mesmo cesto Ricardo Salgado e pessoas como Joaquim Goes e outros que agora são todos postos no pelourinho como responsáveis por todas as pulhices feitas no Banco, pulhices que têm pesadas consequências para muita gente e para o País.

Ricardo Salgado era o dono e o representante supremo dos restantes donos. Joaquim Goes, António Souto e Rui da Silveira, sendo administradores, eram empregados. É certo que poderiam ter-se demitido para não violarem a sua consciência, poderiam ter-se demarcado. Claro.


Contudo, não o fizeram. A questão é que, quando se está dentro de uma equipa de gestão, fica-se quase automaticamente conivente. A consciência fica dividida entre o dever de lealdade à empresa e o dever de lealdade à própria consciência. Muitas vezes, no enleio das circunstâncias, sobrepõe-se o primeiro.

E o que acontece muitas vezes é que, de pacto em pacto, se chega a um ponto em que é difícil recuar. Já se pactuou demais, já houve demasiada co-responsabilidade e um passo em falso significa sarilhos e dos grandes, para todos, incluindo para o próprio. A partir daí é a fuga para a frente. Fuga tantas vezes cega.

Lembremo-nos. Há muitos advogados, assessores, auditores, gente que sabe como esmiuçar a lei a apoiar as decisões dos senhores do dinheiro (senhores do dinheiro, não: como tantas vezes aqui o tenho referido, são senhores da dívida porque, dinheiro, dinheiro, a bem dizer quase o não há). Gente que é contratada para dar apoio e que o dá. Gente que é paga para dizer o que os senhores querem ouvir. 

Soa-lhe mal isto, meu Caro Leitor? Não é caso para isso. Se o meu Caro Leitor tiver como ganha pão um trabalho que consiste em elaborar pareceres e se tiver como cliente um Grupo que se tinha como poderoso, vai virar as costas? Vai correr o risco de ficar sem trabalho, sem dinheiro ao fim do mês? Se calhar não.

E, escorados por vários pareceres, e habituados a ser poderosos, a tudo poder, a tudo manobrar, a escapar sempre, a empregar meio mundo, a pagar para ter descanso, quem se sente acossado vai em frente, convencido que sempre há-de conseguir escapar ileso.

Estou em crer que não pensam nas vítimas. Aliás: sei que não.

Um abutre que se alimenta de pequenos animais para poder sobreviver, terá pena dos animais que devora? Estou em crer que não. O abutre quer sobreviver e fará o que tiver que fazer para isso. Não faz o Caro Leitor o mesmo quando se alimenta de frangos que são criados e alimentados para lhe servirem de alimento a si? Sente pena dos frangos? Claro que não. Afinal, existem para serem o seu alimento.
Não digo que os banqueiros sob suspeição pensem dos clientes o que o meu Caro Leitor pensa dos frangos com que se alimenta. Aliás, sei que não pensa. Tal como o Caro Leitor nem lhe ocorre pensar na felicidade do frango antes deste lhe servir de alimento.

Ricardo Salgado desviou dinheiro dos bancos para financiar as empresas da família por ser má pessoa? É má pessoa no sentido de querer o mal das vítimas? Joaquim Goes, António Souto ou Rui Silveira sentiram desprezo pelas pessoas que foram ao aumento do capital e que agora se vêem praticamente sem nada? Creio que não. Creio que nem pensaram nisso. 


Do que sei, e nem em especial em relação a eles mas, enfim, do que sei da raça humana, estou em crer que queriam era salvar a situação, salvar a pele.

Gente que vive com centenas de milhares de euros de rendimentos, que recebe bónus escandalosos, que se habitua a um nível de vida estratosférico, gente que se afasta da realidade concreta, que não convive com os pequenos aforradores, que vive entre poderosos, a quem se pedem favores a todo o momento, que vivem entre negociações de linhas de crédito, papel comercial, colaterais, etc, e tudo envolvendo muitos milhões e que sabe que ou fecha os olhos a uma ou outra inconsistência ou a coisa vai começar a derrapar ainda mais, às tantas nem pensa nas consequências práticas da sua negligência ou conivência.

Para evitar situações assim, que podem ficar descontroladas, existem os auditores independentes (como a KPMG), os reguladores, as autoridades de supervisão. Deles se espera presciência, proactividade, rigor, sentido crítico, alta competência, isenção, sangue frio.


Fui ao google à procura de uma fotografia do Carlos Costa e apareceu-me este.
Fica aqui.

Assim como assim, aparentemente, e do que se vai sabendo a cada dia que passa, não fez muito menos pela supervisão do que o Carlos Costa do Banco de Portugal




O que causa espanto em toda esta miserável história é como é que falhou tudo. Tudo. Porquê? Incompetência? Cegueira? Submissão perante os que se pensa serem os donos disto tudo?

E, perante situações como estas, em que tudo falhou, o que é que o poder político vai fazer?

São deputados júniores, ou bimbos que nem educação têm, ou gente que é deputada em part-time e que, no resto do tempo, trabalha para escritórios de advogados que suportam juridicamente partes envolvidas em disputas, que vão saber pensar com elevação, isenção? São estes artistas que têm capacidade para pôr este País pequenino, de plástico, nos eixos? Não são...

E os organismos europeus e mundiais que enviam técnicos pagos a peso de ouro para efectuar testes, que têm gente para fazer estudos, análises de toda a espécie e feitio, auditorias cruzadas, porque é que também nunca dão por nada?

Não me admira: salvo raras excepções, são burocratas ou gente que vai para a UE porque não tem lugar por cá ou porque é incómoda. E como esperar mais quando a grande barca é capitaneada por um cherne caracterizado de estadista que acha que, com um punhado de euros, deveríamos era ficar agradecidos? Manda que os portugueses se calem por terem recebido uma pipa de massa. Não tem vergonha. E o sorrisinho alarvemente paternalista? É maneira de tratar os portugueses? 


Durão Barroso, que vai ficar associado ao mais negro período da União Europeia, e Passos Coelho, que vai ficar associado ao mais negro período de Portugal no pós-25 de Abril: uma pipa de massa, e agora usem-no bem e que ninguém se venha agora queixar que é pouco e que os senhores não são bonzinhos.



26 mil milhões de euros em 7 anos, representa cerca de 3,7 mil milhões por ano. É muito? É alguma coisa. É melhor que nada. Mas não é uma chuva de dinheiro nem é caso para tratar os portugueses como pedintes que devam beijar o chão que os senhores da Europa pisam. E quanto pagámos nós em juros? Não foi bem mais que isso? Não é isto apenas um agrado pelo muito que temos pago, nós os pedintes, nós os desempregados a quem cortaram o subsídio, nós os reformados a quem cortaram a pensão, nós os funcionários públicos a quem cortaram o ordenado, nós os vencidos da vida a quem cortaram o subsídio de inserção?

Ah, como os vendilhões do templo continuam a manipular a opinião da arraia miúda... Ah como continuam a tratar-nos por mal agradecidos... Ah como se unem para nos fazer culpados por precisarmos das migalhas que nos atiram...

Com elites destas, como poderemos esperar estar defendidos de abutres esfomeados, nós pequenos e indefesos animais?

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N.B.


E, nas pobres elites, não me refiro apenas a Durão Barroso, a Passos Coelho, a Carlos Costa, a banqueiros como Ricardo Salgado, a deputados de aviário, a líderes partidários que não valem um caracol furado, a presidentes de universidades que ensinam o que está na moda e que, por aí, andam a difundir balelas. Refiro-me também a comentadores ou pseudo-jornalistas económicos - que papagueiam o que as agências de comunicação e imagem das empresas e dos gabinetes governamentais mandam para as redacções ou lhes contam em pequenos almoços ou almoços - que encharcam os media com tretas, palermices, frases ocas, mentiras, embustes, logros e que, com o que dizem, vão manipulando e entorpecendo a opinião pública. 


Não sei como venceremos um dia esta inércia em que nos deixámos cair. 

Mas, enfim, não vos maço mais. Digo apenas, como um desabafo, que este é mais um momento triste na vida do meu País. Custa-me, em especial, porque haverá muitas famílias destroçadas, umas directa e outras indirectamente e porque, dada a forma desajeitada e amadorística como este assunto tem estado a ser gerido, receio que a procissão ainda vá no adro.


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Para terminar: dizia-se que Jean-Claude Juncker tinha sugerido a Passos Coelho que o comissário português fosse uma mulher. Sabido é que convém que seja experiente nas lides políticas, conhecedor dos corredores europeus, ágil e hábil na negociação. Sabido é que Juncker anunciou que pretende focar-se mais nas políticas sociais e de desenvolvimento.


Face a esse caderno de encargos, pergunto: Carlos Moeda é a mulher que cumpre todos esses requisitos? Carlos Moedas, o braço da troika no Governo que mais defendeu a austeridade em toda a UE, é a Comissária de que Portugal precisava em Bruxelas? É a comissária de que a UE precisa na equipa que pretende relançar a Europa?



Ok, estamos conversados. Vou ali e já venho.

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Assim, vai pois este pobre Portugal, descendo degrau a degrau o buraco que se vai cavando a seus pés.

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4 comentários:

  1. Perdoai-lhe,Senhora,eles sabem o que fazem!SÃO ABUTRES,QUE AINDA A VÍTIMA NÃO MORREU,E JÁ RASGAM O CORPO QUE GEME,olhando incrédula para tão voraz apetite!Depois empanturram-se tanto,que nem conseguem levantar voo para os seus pedestais. É ESTA A IMAGEM QUE O MEU ESPELHO,MOSTRA!Já o limpei umas vezes...mas não SAI...

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  2. Ao ler o seu post confirmei este meu estado de espírito de falta de esperança no futuro, não tanto do meu, mas do meu neto e de outros jovens que como ele vão herdar um país em ruínas. O que mais custa a engolir é a certeza de que tudo vai continuar mal e ninguém faz nada para alterar a situação. Os portugueses já estão num estado de inércia que já nem os move à acção.
    Provavelmente era esse o objectivo desta gente neoliberal, eles sabem que quanto mais pobre for a plebe menos se manifesta. Há estudos que atestam isso mesmo.
    Bom dia e continue a dar a sua contribuição à sociedade denunciando o que vai mal.

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  3. Mais um GRANDE e assertivo " post ", estimada UJM !
    Vivemos, absolutamente, numa " apagada e vil tristeza " . . .
    Melhores Cumprimentos e que a possamos " ouvir" , sempre .
    Vitor

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  4. Fui á minha agência do BES,a conselho do meu espelho(sacana...) !Falei com uma senhora-moça,que estimo,perguntei-lhe? Os PPR,SEGUROS VIDA,(aconselhados) estarão seguros??? Disse-me que sim!!!ASSIM ESPERAMOS,TODOS! Problema?; porquê os candongueiros jornalistas ???(cristo!!!) tipo camilo Lourenço,não explicam isto,nos i(n)dóneos canalhais,da nossa??? RTP... Responda quem sabe! JÁ tenho saudades da minha madrinha de guerra,fria....mas que por vezes a sua voz ....queimava.!!!

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