São tantos os assuntos sobre os quais vou tendo vontade de falar no decurso dos dias e que, por falta de tempo ou inspiração, vou deixando para trás que, quando depois me apetece pegar em alguns, já me parecem ultrapassados.
Mas este, de que tivemos conhecimento durante a semana que passou, é tão preocupante que convém que não o deixemos ir na enxurrada das notícias que passam ao esquecimento.
Transcrevo, embora não pela ordem em que aparecem no Público, excertos do artigo da autoria de Hugo Torres cujo título é:
O Facebook manipula o nosso feed. E se fizer o mesmo connosco?
Quase 700 mil utilizadores da rede social foram submetidos a um teste comportamental sem o seu conhecimento. Uma prática eticamente questionável.
- O feed de notícias, onde lemos actualizações de amigos e páginas, é gerado individualmente a partir de um algoritmo. Não é a rede tal como a veríamos sem filtros. Se já existiam críticas ao afunilamento da realidade que provoca, agora os receios agravam-se. Não só por poderem vir a ser introduzidas variantes ao algoritmo que nos atirem para uma ficção distópica huxleyana, mas por a reacção a este estudo poder inibir o Facebook de publicitar os testes que levar a cabo no futuro. Como é uma empresa privada, não necessita de aprovação de uma comissão de ética.
O Facebook dividiu 689.003 utilizadores em dois grupos e filtrou o tipo de conteúdo que cada um deles recebeu no seu “feed de notícias” durante uma semana, em Janeiro de 2012: uns receberam menos conteúdo “positivo” do que o habitual; os outros, menos publicações “negativas”. O objectivo era perceber se a exposição a conteúdos ligeiramente diferentes afectava o comportamento dos sujeitos da experiência na mesma rede social. Alterou, ainda que de forma pouco significativa.
Os autores do estudo – Adam Kramer, do departamento de investigação do Facebook; Jamie Guillory, da Universidade da Califórnia; e Jeffrey Hancock, da Universidade de Cornell – argumentam que “os estados emocionais podem ser transferidos para outras pessoas através do contágio emocional”. E dizem que o estudo o prova. Contudo, o que a experiência mostra é apenas que o comportamento dos utilizadores foi alterado pelas modificações introduzidas.
Encontro registo indignado a propósito deste tema em vários jornais de todo o mundo. Leio que já não é a primeira vez que estudos comportamentais são feitos sobre o que as pessoas escrevem ou sobre como reagem. E se já é pouco ético 'invadir' os espaços das pessoas para as estudarem e verem qual a melhor altura para as tentarem influenciar na compra de produtos ou serviços, ainda mais abusivo é manipularem deliberadamente o seu estado emocional.
Transcrevo do The Guardian: It already knows whether you are single or dating, the first school you went to and whether you like or loathe Justin Bieber.
A empresa que gere a rede social Facebook sabe tudo sobre as pessoas que lá têm perfil e sabe-o porque as pessoas se desnudam da forma mais imprudente que se poderia imaginar: colocam lá tudo e mais alguma coisa, fotografias suas e da família, dados biográficos, preferências, e não são apenas as próprias que escrevem sobre si próprias, são também os amigos que acrescentam informação. Sobre cada uma das pessoas, a empresa que gere o Facebook consegue, depois, juntar as peças do puzzle e ter informações precisas e completas.
A empresa Facebook, já aqui o disse muitas vezes, tem gastos monumentais na sua gestão: tem muitos cientistas, tem computadores gigantescos, tem centros informáticos onde esses equipamentos estão alojados, tem escritórios, tem despesas de toda a espécie, despesas brutais. E, no entanto, as pessoas que usam o Facebook não pagam nada. Então, de onde vem o dinheiro que alimenta a empresa Facebook e a torna uma das financeiramente mais relevantes da actualidade?
Vem da publicidade, claro.
E como é que os anúncios são distribuídos pelas pessoas que navegam no Facebook? Através de algoritmos concebidos por cientistas e especialistas de quase todos os ramos do saber (matemáticos, físicos, engenheiros... psicólogos, marketeers e etc).
Os algoritmos são 'raciocínios computacionais' que varrem os espaços das pessoas, analisam os conteúdos e 'percebem' que se trata, por exemplo, de alguém que gosta de produtos de beleza, de perfumes, de moda. Então começarão a ser enviados para essa pessoa anúncios de marcas ligadas a estes tópicos, livros sobre esses temas, notícia de eventos ligados a isso, ou começarão a enviar-lhe sugestões de 'amigamento' com outras pessoas que têm gostos afins (porque palavra puxa palavra e é de toda essa movimentação que gera tráfego e, desejavelmente, consumo de publicidade que o Facebbok se alimenta).
E isto porque, de facto, quanto mais pessoas clicarem nos anúncios, mais os anunciantes pagarão (pay per click, é uma das modalidades praticadas) e maior será a fonte de receitas do Facebook - e esse é o único objectivo do Facebook.
Por isso, tudo será feito para que haja muitos cliques nos anúncios e, para isso, tudo será feito para que os anúncios apareçam nos dias e nos momentos em que o Facebook 'perceba' que a pessoa está mais receptiva - e, pelos vistos, nem que, para isso, tenha que manipular emocionalmente as pessoas para que fiquem receptivas.
E isto é assustador. E é assustador porque por aqui se vê como é fácil que toda a informação - que a pessoa coloca inocentemente no Facebook, sem pensar nas consequências, pensando que aquele é um espaço privado - possa ser usada para fins comerciais ou outros e que não há quem o impeça. E se o o Facebbok o faz agora por estes motivos, um qualquer outro dia, pode fazer por outro motivo. Não há regulação, não há limites estabelecidos.
O Facebook pode fazer com que as pessoas se sintam miseráveis ou infelizes colocando-lhe lá notícias que, de antemão, sabem que vão ter efeito negativo ou, pelo contrário, pode fazer com que se sintam eufóricas ou animadas. E podem fazê-lo por motivos venais, fúteis ou apenas porque tal passou pela cabeça de um qualquer maluco.
Daí a fazer as pessoas ficarem enfurecidas contra um qualquer alvo ou rendidas a outro vai um passo.
Tal como a NSA contrata jovens inteligentes e com um grau razoável de autismo, a Facebook também deve ter o seu próprio critério de contratação. Presumo que sejam jovens inteligentes, autênticos cromos, gente que adora um belo desafio, 'bora lá ver se os pomos a chorar...' ou 'vamos ver se as pomos a ir comprar o batôn para não ficarem atrás umas das outras e depois vamos ver quantas compraram mesmo', gente que não sabe o que é ética, respeito pela dignidade dos outros, consciência dos perigos que a manipulação emocional pode comportar.
Convém também não esquecer que o Facebook é um dos grandes abastecedores de informações da NSA.
E como não? Está lá tudo, tudinho. Quem são os amigos, de que é que a pessoa gosta, por onde anda, onde trabalha, onde estudou, onde vive, quantos filhos tem, em que escolas andam, etc, etc, etc.
As pessoas, na sua natural ingenuidade, podem pensar: porque é que a NSA se iria interessar por mim? Mas a questão nem é apenas essa. A questão é que um qualquer maluco de entre os cromos que lá trabalham, por maldade ou simples brincadeira, pode um dia pegar nas conversas de uns e divulgá-las junto de outros. Nem o fará pessoalmente pois tanta é a informação que isto se faz através de programas de computador. Exemplifico: suponhamos que, sabendo através da leitura da informação que lá consta que A é casado com B mas mantém conversações privadas com C em que aparecem palavras como 'amor', 'beijo', 'sexo', etc, C essa que, por sua vez é casada com D, dão uma ordem informática para que as conversações privadas de B com C vão parar ao feed de D. Quem o impede? Nada ou ninguém. Claro que coisas destas descredibilizariam o Facebook pelo que se admite que ninguém de lá o fará. Mas geralmente isso é o que se pretende por parte de um funcionário ressabiado ou simplesmente maluco. Pode parecer ficção mas não é.
Por maluquices assim, já os dados de Michelle Obama, contas bancárias, etc, - e este é apenas um pequeno exemplo (mas cuja informação se julgaria 'blindada') - vieram parar ao domínio público. Hackers ou doidos é o que não falta e o que adoram é experimentar os limites do que conseguem fazer. As consequências do que fazem, isso é coisa em que nem pensam.
As pessoas, na sua natural ingenuidade, podem pensar: porque é que a NSA se iria interessar por mim? Mas a questão nem é apenas essa. A questão é que um qualquer maluco de entre os cromos que lá trabalham, por maldade ou simples brincadeira, pode um dia pegar nas conversas de uns e divulgá-las junto de outros. Nem o fará pessoalmente pois tanta é a informação que isto se faz através de programas de computador. Exemplifico: suponhamos que, sabendo através da leitura da informação que lá consta que A é casado com B mas mantém conversações privadas com C em que aparecem palavras como 'amor', 'beijo', 'sexo', etc, C essa que, por sua vez é casada com D, dão uma ordem informática para que as conversações privadas de B com C vão parar ao feed de D. Quem o impede? Nada ou ninguém. Claro que coisas destas descredibilizariam o Facebook pelo que se admite que ninguém de lá o fará. Mas geralmente isso é o que se pretende por parte de um funcionário ressabiado ou simplesmente maluco. Pode parecer ficção mas não é.
[Recomendo, a este propósito a leitura do artigo do Público NSA recolheu mais dados sobre internautas comuns do que sobre alvos legais, onde se pode ler, por exemplo, que cerca de 160 mil mensagens, entre emails, fotografias e conversas nas redes sociais, foram guardadas pela agência, revela o Washington Post. (...) Nove em cada dez contas interceptadas (89%), escreve o Washington Post, não cabiam dentro do âmbito da investigação da NSA. E entre o material catalogado estão histórias de amor, de relações sexuais ilícitas, conversas sobre política e religião – e tantas outras informações que foi conservada mesmo tendo a NSA considerado inútil essa informação que o Washington Post descreve como “surpreendentemente íntima” e de “teor voyeurista”]
Por maluquices assim, já os dados de Michelle Obama, contas bancárias, etc, - e este é apenas um pequeno exemplo (mas cuja informação se julgaria 'blindada') - vieram parar ao domínio público. Hackers ou doidos é o que não falta e o que adoram é experimentar os limites do que conseguem fazer. As consequências do que fazem, isso é coisa em que nem pensam.
Redes sociais como o Facebook são realidades incontornáveis dos tempos que vivemos; mas é importante que quem as usa saiba os riscos que corre e saiba que, para quem gere essas redes, as pessoas são apenas o veículo para que a empresa possa facturar mais e, para os doidos, é um manancial de infinito de campo de experimentação. E é ainda importante que as pessoas saibam que, sendo uma empresa gerida por pessoas, há riscos que não devem ser negligenciados. Repito: a informação é supostamente privada (privada entre aspas, muitas aspas, como acima referi) mas ninguém está livre de que algum maluco resolva invadir as contas e pôr a informação a descoberto ou que algum erro informático torne público o que é suposto ser privado.
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Este é um mundo global, em que toda a gente pode comunicar com toda a gente, de todas as maneiras possíveis e imaginárias. Até aqui estive a falar em comunicação virtual. Mas, já agora, deixem que vos mostre imagens impressionantes que mostram uma forma de comunicação mais convencional, a do tráfego aéreo, mas aqui vista de uma forma menos convencional. São imagens quase irreais, maravilhosas mesmo - e tanto mais se pensarmos que aqueles pequenos pontos de luz não são pontos abstractos mas são, de facto, aviões com pessoas lá dentro, pessoas voando como pontos de luz cruzando os céus azuis.
Visualização do tráfego aéreo europeu num dia de Julho de 2013
[obtido através da National Air Traffic Services (Nats)]
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Tinha em mente falar de uma outra coisa mas comecei a escrever tão tarde que já são perto das 3 da manhã e os olhos já se me querem fechar.
A todos quantos me perguntaram pelo bebé: agradeço o vosso cuidado. Está bem e recomenda-se, um reguilinha querido, brincalhão, feliz da vida, conversador, meiguinho, irrequieto, e está como se nada se tivesse passado. Acho que lá onde foi operado estavam várias pessoas a tratar de cataratas e coisa do género, quase tudo gente de terceira idade. Pois parece que ele por lá andou a espalhar 'give me five', rindo e metendo-se com as pessoas que iam ficando contagiadas pela alegria dele. Agora tem que tomar um anti-inflamatório, pôr umas gotas no olho durante uns tempos e levar uma massagem na pálpebra para evitar que o canal volte a fechar e isso é, para ele, a parte de que ele não gosta nada mas, tirando esses 3 momentos diários, é assunto que não lhe assiste. Aliás, saíu do hospital sem um penso e sem uma marca.
Este fim de semana estou in heaven, descansando, pelo que hoje não os vi; mas recebi sms com fotografias de todos. Os dois manos pinguços, como a minha filha lhes chama, a andarem num carrocel e numa roda que estão ali para Belém, com o ex-bebé a dizer que parecia que tinha asas, e os primos, o casalinho (bonequinha e mano bebé), num parque infantil.
Chamo-lhe bebé mas qualquer dia tenho que lhe arranjar outra denominação já que daqui por um mês faz 2 anos. E ela também diz que já sou grande porque já vou fazer 4 anos, poij'é?___
E, assim sendo, por agora por aqui me fico. Tenham, meus Caros Leitores, um belo domingo.
Bob Marley, onde é que encontra essas coisas?? Isso é excelente, bloquear os anúncios!
ResponderEliminarUJM, o facebook está a perder a paciência comigo: como o meu perfil está super incompleto, acho que só diz mesmo que sou do sexo feminino, estão-me sempre a perguntar qual a minha cidade, qual o meu local de trabalho, etc. Agora, já me perguntam diretamente: "vives em Lisboa? Trabalhas na empresa ISEG?" Como não respondo, vão variando: "Vives em Santarém? Trabalhas na empresa Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa?" O engraçado é que recebo publicidade do mais variado que há, quer dizer, quase tudo coisas para mulheres: maquilhagem, como perder peso como a Angelina Jolie, e coisas do género.
Ainda bem que tudo correu pelo melhor com os olhinhos do seu bebé!
JV
pois é isso que digo, o pessoal vê uma boazona (que não deve ser ela), ela diz que gosta de cães e gatos, eles fazem gosto, e recebem , publicidade de comida para caes e gatos.
ResponderEliminarpensando bem, é ração-)))
fico contente por ser útil em alguma coisa-)))
Não estou, nunca estive e não penso estar alguma vez no Facebook. E não tenho pena nenhuma daqueles que estão e são vasculhados. Nem estou no Twiter. No mail e chega!
ResponderEliminarQuanto à publicidade, nunca leio, nem na Net, nem a vejo na TV – TV que pouco vejo – nem nos jornais (que raramente compro, era o que me faltava!), nada! Em sítio nenhum. A publicidade comigo não pega, não existe. Não sei o que é. Na rádio, começa um anúncio e mudo imediatamente de canal. Publicidade, não dá comigo, nem com ninguém da família. Sinceramente, só a vê quem ou é tolo, ou realmente não tem mais em que pensar. O que leva alguém a parar um segundo sequer para ver publicidade? Esse alguém não jogo com os parafusos, seguramente!
Quanto ao Facebook as pessoas têm o que merecem, pois vão atrás de tudo o que a publicidade e amigos etc, lhe dizem como fazer e estar. Ainda ontem, um amigo nosso, daqueles que percebem deste tipo de coisas, nos dizia num jantar: “esta tecnologia hoje chega a níveis que nós já não conseguimos abarcar. Como por exemplo proporcionar níveis de visualização, de nítidez, que ninguém consegue ver, pois a nossa capacidade visual é menor do que aquela proporcinada pela tal tecnologia”. E depois o que me espanta é dar-se 300, 500, 700 e mais, etc euros por um TLM, um I-Phone, uma máquina fotográfica digital, etc, etc, quando tal significa uma pipa de massa para eles, uma percentagem elevada do seu salário, ou mesmo o salário inteiro, e para outros uma pequena fortuna, para a sua sobrevivencia diaria! Nem 175 euros eu daria! Nada! Um TLM daqueles para fazer chamadas (20 euros), como fazem os meus filhos, que preferem depois, como nós, gastar o resto em viagens, livros, etc, do que numa porcaria de um TLM, I.Phone, sofisticadas máquinas digitais, etc.
A malta passou-se e já não distingue o que é importante para o dia a dia e o que não é. Vive-se atrás das novas tecnologias, tem que se estar na moda, seguir os outros, etc. Daí estar-se no facebook e outras porras! E sofre-se se não se é como os outros! Sobretudo os mais novos! Patético! Uma vergonha!
Estou-me nas tintas para a malta que segue isso, compra essas tecnologias e está no Facebook e é vítima deles. Que se lixem!
P.Rufino
O Sr. P Rufino tem razão, eu mesmo não tenho um smartphone,vejo as pessoas a fazerem aquelas figuras , a olhar para o tlm e a comer, ou em vez de falarem estarem a olhar para o tlm.Mas, há sempre um mas, tento dentro do possível, juntar-me a eles (novas tecnologias, o analfabetismo tecnológico é uma realidade), mas com um pé de fora.
ResponderEliminaro que mais detesto na publicidade, e quem nunca teve um professor de marketing que levante o dedo, é eles pensarem que somos todos cães de pavlov