O meu marido chegou a casa uns minutos antes de mim. Estava eu a chegar, toca-me o telemóvel. Era ele, a voz espantada. 'Então não é que a Joaquina fugiu...?'. Pensei que estava a delirar. Uma tartaruga do tamanho de uma moeda, num aquário em que a água está lá em baixo e com paredes que ela, de todo, não pode saltar, não pode fugir. Não pode. Fugir como?
Pois.
Entrei em casa intrigada. Revirei o aquário. Tirei as árvores de plástico, a pedra de plástico, pensei que a tartaruga se tivesse encolhido (não me perguntem como) e que apenas não a estivéssemos a ver.
Nada.
Trepar, uma tartaruga não trepa. Voar também não. Saltar? Como? Ganha balanço nas patinhas minúsculas, projecta-se...? Impossível.
Olhávamos um para o outro, intrigados.
Resolvemos que, não havendo argumentos contra factos, o melhor era partirmos para as buscas.
O aquário está em cima de um banco e o banco está na cozinha, perto do canto das máquinas. Fomos buscar lanternas, eu com uma agulha de tricot comprida e o meu marido com uma mega-broca para passarmos por baixo do frigorífico e das máquinas, deitámo-nos no chão para espreitar por debaixo de armários que são ligeiramente abertos em baixo.
Nada.
A cozinha, copa, passadas a pente fino. Nada. Tudo afastado das paredes. Nada.
Nem queria acreditar no que estava a acontecer: tínhamos deixado fugir a Joaquina...!
Pensei: terá abalado como eu lhe sugeri? Andaria em campanha com o Tozé? - Já só pensava: ah Jaquina, filha, que burra, então não viste que era a brincar...?
Alargámos as buscas à varanda. A varanda revirada, uma canseira. Nada.
No meio das buscas, o meu marido descobriu numa estante mais umas tretas do meu filho, uns aparelhómetros quaisquer. Nem prestei atenção.
Depois a casa de banho. Ter-se-ia enfiado debaixo da banheira? O meu marido tirou o painel da frente, espreitámos, nada.
Depois já andávamos pelo quarto do meu filho. Secretária, cama, mesa de cabeceira, tudo afastado. Nada.
O meu marido já pelo hall, sala, varanda da frente. E eu a achar que não, que devia estar na cozinha, que seria impossível a moça dar um trambolhão daquele tamanhão, atravessar a cozinha, a copa, e andar por ali - um niquinho de coisa não teria resistência e pernas para tanto.
Não. Não seria humanamente possível.
Pus-me, então, outra vez na cozinha a espreitar e a a afastar o que já estava revisto - já me sentia derrotada. Já me estava a ver a ter que ir amanhã, sem saber onde nem quando, desencantar outra tartaruga para ver se as crianças não davam pela diferença... e a deixar que a Joaquina fenecesse num canto qualquer.
Não. Não seria humanamente possível.
Pus-me, então, outra vez na cozinha a espreitar e a a afastar o que já estava revisto - já me sentia derrotada. Já me estava a ver a ter que ir amanhã, sem saber onde nem quando, desencantar outra tartaruga para ver se as crianças não davam pela diferença... e a deixar que a Joaquina fenecesse num canto qualquer.
O meu marido já sugeria: pergunta no blogue se algum leitor sabe se as tartarugas se aguentam fora de água, se há truque para as recuperar.
Entretanto, pus água no chão e o meu marido pôs 2 camarões, na esperança que lhe desse o cheiro a aparecesse. Nada.
Até que, quando eu já estava a perder a esperança, ouvi o meu marido exclamar: Está aqui!
E lá estava, a grande filha da mãe! Atrás da mesa de cabeceira do quarto do meu filho. Cosida à madeira, num recanto, atrás. Eu tinha afastado, espreitado e não tinha visto. Deve ter a ver com o ângulo, ela é mínima e escura. Filha da mãe.
O meu marido pegou nela. Parecia morta. Cabeça e patas encolhidas, sem se mexer.
Pô-la dentro de água e ela nada. Outro susto. Sacana da Joaquina. Até que vimos umas bolhinhas de ar a subir pela água. Depois, começou a mexer as patas, a cabeça, devagar, aos poucos.
Em síntese: reanimou-se. A seguir demos-lhe camarões, comeu-os de seguida, já quase espevitada.
E agora que sabemos que a Joaquina é uma tartaruga voadora, já enfiámos o aquário dentro de um alguidar. alto. Penso que por cima do alguidar não vai voar, a grande filha da mãe.
E com isto demorámos imenso tempo, uma estopada de todo o tamanho.
Já lhes contei, ao telefone. Riram-se. A sacana da Jaquina não é boa da cabeça, disse o meu filho. Não me agrada nada uma responsabilidade destas, disse-lhe eu. Ele riu-se, disse que eu estava a fazer dramas, que uma tartaruga só custa 10 euros. Mas e a Joaquina ficava a agonizar aí num canto?, perguntei. Tranquilizou-me, Então, algum dia havias de dar com o cadáver.
Não leva estas coisas a sério, é o que é. E eu tão ralada que fiquei.
Sacana da Joaquina!
Há uns dez anos tivemos uma Joaquina, mas um pato, que um dos filhos "adoptou", acabou por...come-la. Teria uns 4 cm. Acabou no papo do pato.
ResponderEliminarP.Rufino
Cá em casa aterram periodicamente 2 goldens,que fazem questão de dormir à porta do meu quarto e de manhã cedo me acordarem com os espanadores que são as caudas.Em tempos que já lá vão,eram 3 gatas "amorosas" que a meio da noite resolviam competir em corridas e saltos que só parecia um filme de terror.Um dia em momentos mais calmos, fui dar com uma comodamente deitada ao lado de uma redoma com um Menino Jesus do tempo dos avós!
ResponderEliminar