Depois de, no post abaixo, ter partilhado convosco um momento alto no panorama intelectual português, Jorge Jesus a comparar-se a Paula Rêgo (e tudo porque não viu uma tal Maria a chorar), igualando-se em criatividade aos pintores e, às tantas, embalado na prosa, já a achar-se também um cientista, aqui, agora, parto para outra.
Outro momento de paródia...?
Pois. À primeira vista quase parece. Mas não. Triste. Muito triste.
A vida está uma droga para quem não conseguiu ainda entrar no mundo do trabalho de uma forma estável e bem remunerada.
Ou que dele foi posto fora.
Ou que dele foi posto fora.
Há tanta gente capaz, tanta gente formada, com mestrados, com doutoramentos, a trabalhar por tuta e meia em Call Centers, em Mcdonalds, ou em estágios mal remunerados... - e isso é um horror. Um horror. Quem governa permitindo que isto aconteça mais valia que estivesse quieto.
O conhecimento e o trabalho deveriam ser respeitados, dignificados, e não - como estão a ser - desprezados como bens sem valor. Pior: esquece-se que o trabalho é exercido por pessoas que, como pessoas, devem ser respeitadas, e cujas aspirações e motivações devem ser ouvidas, levadas em conta.
Que país é este que maltrata as pessoas? Pagar a pessoas qualificadas ordenados de mil euros...? Ou de 500? Ou deixá-las estar em casa, angustiadas, sem trabalho, inutilizadas?
Quantas se têm visto obrigadas a emigrar? Tantas. Nem sei quantos maridos de colegas minhas, ou ex-colegas, ou amigos dos meus filhos estão no Dubai, em Angola, sei lá onde?
Quantas pessoas qualificadas vão para fora, deixando de pagar cá os seus impostos, desertificando ainda mais um país envelhecido, levando os seus sonhos para longe?
Isto preocupa-me e entristece-me.
Mas não é só em Portugal (e também por isso é tão importante que todos votemos nas eleições europeias). Em toda a Europa varrida pela austeridade e pelos valores pseudo-liberais (de facto anti-humanistas, estúpidos, perigosos) acontece mais ou menos o mesmo, especialmente quando à frente dos países estão líderes fracos.
Ao aceitarmos ser governados por mentirosos, por nódoas, estamos a compactuar com políticas que anulam a dignidade humana, que achincalham as pessoas, que as impedem de programar uma vida normal, próspera, feliz, que as impedem de ajudar o seu País a crescer.
Estaremos a caminhar para o fim dos tempos? Para aqueles tempos em que os porcos governarão sobre os homens?
Até Jean-Claude Juncker, de quem eu não tinha muito má ideia (apenas que era uma pessoa neutra, que não aquecia, nem arrefecia), se saíu com uma que revela bem o que vai na cabeça desta gente: "Para mim, as pessoas são tão importantes como mercadorias e o capital". Para ele e para os que o apoiam, para os que se regem pelos mesmos princípios, uma pessoa vale, pois, tanto como um saco de batatas, como uma conta no banco.
Estaremos a caminhar para o fim dos tempos? Para aqueles tempos em que os porcos governarão sobre os homens?
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Vaya Semanita - 'La Voz Laboral' nuevo formato de entrevistas
Sketch del especial 'Vaya Semanita': el programa 'La Voz Laboral', donde aspirantes a un puesto de trabajo se venden ante sus posibles futuros jefes.
Uma vez mais agradeço ao Leitor Vítor que me enviou este vídeo que me impressionou tanto.
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Vinha com ideia de falar no relatório trimestral do Banco de Portugal, dos dados do INE, da dívida cada vez mais escandalosamente impagável (já ultrapassou os 132%!), no desequilíbrio das contas com o exterior, no esbulho fiscal, na almofada financeira que nos está a custar os olhos da cara - ou seja, na prova provada do falhanço em toda a linha que foi a governação da dupla de incompetentes Passos & Portas, na prova provada de que todo o sacrifício infligido à população apenas tem agravado a situação económico/financeira/social do País.
Vinha também com vontade de vos falar na indigência absoluta que foi a cena macaca com aqueles dois tristes, o Rangélio e o Mélio, aos saltos na Rua do Carmo (e salta! e salta! - e eles, feitos parvos, a saltarem) ou metidos num autocarro no meio do Tejo, um grupo de indigentes isolados dentro de um anfíbio no meio do rio, uma cena ainda mais macaca.
E vinha também com vontade de falar da invulgar entrevista de Judite de Sousa a Jorge Coelho na TVI 24, ela no fim com lágrimas nos olhos, ele num incrível exercício de contenção emocional.
Ou falar da lista do PS que, apesar do Seguro ser o que é, é uma boa lista, com gente muito competente (Elisa Ferreira, Ana Gomes, Maria João Rodrigues, Pedro Silva Pereira, por exemplo), francamente a melhor lista nestas eleições.
Vinha, até, com a ideia de vos transcrever um excerto de um livro, juntando-lhe fotografias, música.
Mas a verdade é que, escrever isto sobre o desemprego e sobre a humilhação a que as pessoas, por vezes, se têm que sujeitar, deixou-me tão angustiada que não me apetece escrever sobre mais nada. Há dias em que consigo dar a volta, parto para o disparate, gozo, parodio - ou seja, disfarço, distraio-me. Mas há outros em que fico um bocado arrasada. Governar deveria ser sinónimo de tudo fazer para que a população vivesse com dignidade, motivada, feliz. Mas esta tropa fandanga que nos tem desgovernado põe os mercados antes das pessoas, põe a chicana e a mentira antes do respeito, da dignidade, da moral.
E ainda há cerca de 30% de eleitores que aparentemente se predispõe a votar nestes incompetentes ignorantes. Como é isto possível? Que gente é esta que não percebeu a destruição que está a ser levada a cabo? Zombies? Não percebo, juro. Não percebo mesmo.
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Não quero despedir-me assim, meio jururu. Por isso, peço aos que tiverem tempo que vejam este vídeo que aqui vos deixo. É extenso mas vale muito a pena. Não deixem de conhecer.
Som da Rua: Uma Orquestra, Todas as Vidas
Em cada artéria da cidade do Porto, um músico da orquestra "Som da Rua". Dezenas de sem-abrigo juntaram-se ao longo de vários meses em nome de um sonho: cantar contra a solidão no palco da Casa da Música.
De porta aberta ao que a alma de cada um dos protagonistas ditava, vários rostos, muitas histórias contadas na primeira pessoa: a droga, a violência, a discriminação, a fome e a solidão acabaram silenciadas pela música dos que acreditaram até ao último dia. As lágrimas e os aplausos inundaram a casa de todas as músicas.
Um documentário com guião e realização de Ivo Costa e Sérgio Morgado. Produção: Farol de Ideias.
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Relembro: Desçam, por favor, um pouco mais. Humor é necessário.
Não deixem de ver o momento confessional, durante o qual o grande pintor-cientista Jorge Jesus se assume em toda a sua essência.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa sexta feira!
Já me tinham enviado esta. A brincar a brincar é a pura realidade! Tenho exemplos em filhos de amigos de coisas assim!
ResponderEliminarAo que estamos a chegar, ou, pior, já chegámos!
P.Rufino
É de realçar que a praxe académica a humilhação é normal, aceitável e compreensível compreensível !
ResponderEliminar... o meu patrão poderá chamar-me incompetente e eu terei de saber aceitar
...os governantes gozam com o nosso futuro e humilham-nos diariamente na sua tomada de decisões que comportam a satisfação daqueles que já satisfeitos estão!
Os nossos professores chamam-nos de ignorantes e b+os temos de limitar-nos ao silêncio!
...
http://www.publico.pt/multimedia/a-experiencia-da-praxe
Abraço, G.G.