quinta-feira, abril 24, 2014

É hoje, é hoje! Arte xávega e, a acompanhar, música da boa que recebi num ovo da Páscoa. Ulf Wakenius & Vincent Peirani & Lars Danielsson na Costa da Caparica. Ó vizinha, há peixe fresco da Costa! Peixe fresquinho do mar!


No post abaixo falei da mulher mais bela do mundo em 2014. Uma escolha atípica, surpreendente mas, ó céus, que justa. E não é apenas bela, é talentosa, orgulhosa, luminosa. No final deste, não deixem, pois, de descer até ao post seguinte para a verem fotografada e em acção.

Mas aqui, agora, vou cumprir uma pendência.


Encore




Já há dias que andava aqui a dizer que tinha tirado umas fotografias à recolha das redes e da pescaria na arte xávega e queria mostrar-vos algumas; mas foi-se metendo isto e aquilo e a coisa foi ficando para trás. 

Mas é hoje. 
Já estive aqui a ver se virava o Um Jeito Manso de pernas para o ar, queria pô-lo cheio de cravos mas não encontro nem fundos nem fotografias que se conjuguem. Resultado: perdi um tempão e não fiz nada.
Por isso, vamos lá, então, à arte xávega. 

Já em tempos aqui falei nela e mostrei fotografias (os meus pimentinhas eram, então, tão pequeninos... e ainda nem havia o bebé... Jesus, que o tempo passa de uma maneira...). 
Nessa altura, teria umas duzentas ou trezentas visitas por dia aqui no UJM e agora, geralmente, passam as mil pelo que deve haver Leitores que não saibam do que estou a falar e, por isso, permito-me repetir o tema.


Em terra, o barco saído da água, com a ajuda de um tractor, vai recolhendo as redes. Na água, os pescadores, de forma coordenada, vão puxando e ajeitando as redes para as unir em cima, retendo assim, no fundo, o produto da pesca.








Gritam uns com os outros, dão vozes, para agirem à uma.

Se repararem na fotografia da direita, no fundo da rede, aqui já a sair da água, poderão ver alguns peixes.

Depois, os pescadores naqueles seus fatos coloridos, estendem oleados e, em cima, as redes e logo, tudo a grande velocidade, começam a enfileirar alguidares. Uns têm água do mar, outros nada.

Se repararem na fotografia aqui à direita, ao fundo poderão ver a parte de cima do tractor que ajuda nesta lida.

Todo o ambiente é ruidoso, palavrão que até ferve, olh'ó peixe!, agarra lá este, ó cab..., não 'tás a ouvir? F... eu aqui de braço esticado com o peixe na mão, ó pá!

As pessoas que por ali estão, começam a rodear os caixotes e a perguntar o nome dos peixes e a conversar entre si e, portanto, no meio de toda aquela algazarra, já mal se ouve o que um e outro diz.

Rapidamente entram as mulheres em acção, começando a separar os peixes que os pescadores vão retirando das redes e lhes vão entregando.

Quando olhámos para a pescaria na rede, nem parecia muito mas aquilo parecia o milagre da multiplicação dos peixes. Eram chocos, lulas, robalos, sargos, massacotes, sardinhas grandes e gordas. Num instante os caixotes iam ficando cheios.

Claro que, pelo meio, há as perguntas do pimentinha mais crescido: porque é que aquele ali está só aos saltos...? Vai morrer? E depois como é que sabemos que já está morto?, perguntas às quais tentamos dar respostas não muito deprimentes. 

A minha filha tenta a abordagem menos cruel: sabes? estes são peixes que existem mesmo só para a gente os comer... - a ver se a coisa não parece pouco amiga da natureza, talvez. Ou então está a acautelar pensamentos perigosos em relação aos peixinhos do aquário Vasco da Gama ou ao Oceanário. Não sei.

Os outros mais pequenos acham tudo normal, olham com muita atenção, seguem aquela movimentação efervescente. Depois dá-se aquele episódio do esguicho de tinta que deixa toda a gente salpicada de preto (falei nisso na sexta feira passada ou no sábado).

Entretanto, desencadeia-se um acelerado mercado. Quanto custa? Quanto é o caixote de sardinha? A quanto vende cada robalo?

E as mulheres que, nitidamente, ali são as comerciantes começam a fazer os preços e a despachar mercadoria.

O meu filho começa a querer trazer peixe, fresco, fresco, e as sardinhas, que boas assadas, gordas, e uns daqueles robalos. 

Mas não vou na conversa. 

O tempo está quente, ainda acabámos de chegar à praia, quando dali saíssemos já o peixe estaria cozido. 

Mas toda a gente fica com pena, eu também.

O meu marido sugere que vamos ao restaurante da praia pedir para o guardarem no frigorífico enquanto estivermos na praia.

Não quero. Se alguma vez as pessoas teriam o frigorífico vazio à nossa espera... E iam lá ficar com o frigorífico a cheirar a peixe, que ideia.

Mas os outros veraneantes não têm desses pruridos, o peixe, os chocos e as lulas desandam num ápice. 
A ver se lá vamos um dia de propósito para isso, levamos sacos, uma geleira com termo-acumuladores e voltamos para casa, não ficamos ali na praia.
Mal despacham a pescaria, os pescadores enrolam a rede que ainda está por terra, o tractor leva de novo o barco para a água, os pescadores saltam lá para dentro e, num abrir e fechar de olhos, aí estão eles, de novo, a fazerem-se ao mar.

Enquanto os miúdos brincam à beira de água ou enquanto os homens da família jogam à bola e as mulheres conversam ou a princesinha brinca às cabeleireiras com a tia, o barco vai-se afastando. Quando o olhamos já lá ele vai ao longe, num mar salpicado de luz. Pequeno e frágil, o barquito. Por isso é que, nos dias de mar grande, tantas vezes a desgraça acontece.




Desta vez não apareceram as gaivotas. No verão, elas esvoaçam por cima dos pescadores e, mal as redes são levantadas deixando restos de peixe ou moluscos na areia, elas pousam e vêm banquetear-se, indiferentes às pessoas que por ali andam.

O nosso país tem tantas coisas tão bonitas. E é tão bom estar junto à natureza, ver estas actividades tradicionais, conviver ao ar livre, partilhar afectos e desfrutar a beleza dos lugares e das pessoas. Eu, pelo menos, não me canso disto. 

*

A música lá em cima, linda, foi-me enviada pela Páscoa pela Leitora GG a quem muito agradeço. 
  • É Encore numa interpretação de Ulf Wakenius & Vincent Peirani & Lars Danielsson. 
  • As fotografias do vídeo são de António Leão. 

O texto que acompanha o vídeo tem a explicação desta arte:

A xávega é uma arte de pesca por cerco, na qual uma extremidade da rede fica em terra, enquanto o resto da rede é colocada a bordo de uma embarcação que sai para o mar, libertando a rede. Terminada a largada, a outra extremidade é levada para terra, e puxada; antigamente com a ajuda de juntas de bois e força braçal, e actualmente recorrendo a meios mecânicos.

A palavra xávega provém do étimo árabe "xabaca", que significa rede. A denominação "xávega" era usada pelos pescadores do sul de Portugal.

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Relembro: caso queiram ver uma mulher muito bela, muito jovem mas muito bela, a mais bela em 2014 segundo a Revista People, desçam, por favor, até ao post seguinte.

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(...)

Tinha começado um outro post sobre o Dia do Livro e sobre um em particular, o Dom Quixote, mas agora já estou com tanto sono que já não consigo acabá-lo. Por isso, voltei aqui para me despedir.

Não sei se amanhã consigo fazer alguma coisa. Quero festejar. Pode ser que um bocado depois da meia noite volte até porque no 25 quero também ir para a rua, em princípio para o sítio onde o 25 de Abril tem um significado especial e, por isso, não posso deitar-me muito tarde. A ver vamos.

Entretanto, desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom 24.
Que seja bom porque (para os que não carregam tristezas grandes demais e que, portanto, não têm ânimo para festas) é dia de sacudir más recordações e maus momentos e de nos prepararmos para uma vida nova.

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