No post abaixo mostro as lindas obras que estão a sair dos pincéis de George W. Bush, agora que lhe deu para ser pintor. Ainda bem que nunca me deu para ter uma carreira política internacional, senão ainda corria o risco de me ver retratada por ele.
A seguir a esse post tenho os piu-pius do Maçães e não há voz mais lúcida para falar do ground zero a que a política nacional chegou do que Pacheco Pereira.
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Mas isso é depois. Aqui, agora, a conversa é outra e é da boa (embora verse sobre um tema que não é bom). Se eu fosse imodesta diria que José Tolentino Mendonça me tira as palavras da boca. Assim, digo apenas que este homem sabe bastante da natureza humana.
Basta circular pela blogosfera para ver, volta e meia, aqui e ali, destilada em bílis e azedume aquilo de que o Padre-Poeta tão justamente fala na sua crónica deste sábado na Revista do Expresso: a inveja.
Diz ele que todos nós, em algum momento, incorremos nela. Não sendo eu perfeita, bem, bem longe disso, não posso dizer que nunca a senti em relação a outros. Mas, a ter isso acontecido, terá sido coisa tão esporádica e incipiente que, agora que aqui escrevo, não me lembro de nenhuma situação em concreto.
Mas conheço pessoas invejosas e penso que não é coisa bonita de se ver. Confesso que, uma ou outra vez, já me senti objecto de inveja e sempre achei que quem me invejava não devia estar bem da cabeça porque não me senti merecedora de tal sentimento. Várias vezes algumas pessoas vieram avisar-me contra alguns outros, dizendo que eu deveria ter cuidado com certas pessoas porque me invejavam de uma forma tal que tudo fariam para me prejudicar.
Nunca liguei. Nem nunca passei a olhar essas pessoas com irritação ou mágoa. Sinto até uma certa pena. No entanto, não gosto de me dar com pessoas invejosas, tal como não gosto de me dar com pessoas egoístas, mesquinhas ou mentirosas. Tento manter-me afastada de pessoas assim, tóxicas, com quem não se consegue estabelecer uma relação de verdadeira amizade, onde uma empatia cúmplice (e desculpem a redundância porque a empatia, ao pressupor uma partilha emocional, já significa cumplicidade) nunca consegue edificar-se. Mas não lhes quero mal, apenas tento que a sua maneira de ser não me incomode e, nestas coisas, nada melhor do que manter alguma distância - porque 'olhos que não vêem, coração que não sente'.
Uma pessoa invejosa corrói-se a si própria e corrói o ambiente que a cerca. Penso que ser-se ou não invejoso faz parte do ADN de cada um porque tenho visto cenas de inveja completamente absurdas, pessoas que invejam banalidades ou que invejam alguém com base em motivos inexistentes. Geralmente o que vejo em pessoas assim é uma pobreza de espírito, na verdade. Poderia tentar-se explicar a um invejoso que não tem motivos para o ser ou que está a perder o melhor da sua própria vida mas o facto é que as pessoas são o que são e é difícil tentar meter alguma racionalidade na cabeça de quem não consegue ter comportamentos lógicos nem controlar as emoções.
A crónica de José Tolentino Mendonça inserida na rubrica 'que coisa são as nuvens' na Revista do Expresso é, pois, sobre isto: A Inveja.
Transcrevo alguns excertos:
Estranho sentimento, a inveja. E, contudo, tão infiltrado nas relações humanas, tão abrasivo da vida interior, tão capaz de fazer em cacos ambientes (familiares, de trabalho, de amizade).
Kierkegaard explicava a inveja como uma admiração transtornada, e com isso toca na ferida.
De facto, aquele que inveja reveste o seu objecto de uma admiração que tem pouco a ver com a realidade. Imagina que aquilo que o outro possui (inteligência, sucesso, beleza, bens, o que seja) lhe confere uma espécie de omnipotência, o coloca a salvo da fadiga de viver, da sua turbulência e da sua dor, coisas inteiramente falsas. A desproporcionada felicidade que sonhamos que há nos outros obsidia-nos, e essa admiração adoecida é experimentada como uma perda pessoal e uma injustiça, numa modalidade tão avassaladora que suscita uma ânsia irreversível de destruição, de cancelamento do outro.
A inveja é o sentimento disruptivo em relação a outra pessoa que possui ou desfruta algo de desejável - e o impulso do invejoso é eliminar ou estragar o que pensa ser a fonte daquela alegria.
Cada um traz em si um quinhão de falhas de amor, e a questão é como as reconhece, integra e transfigura.
O contrário da inveja é a gratidão, e esta está intimamente ligada à confiança, no bem que se desenvolve nos outros, no bem que o outro é em si mesmo (independentemente de mim) e no bem que recebo dele.
A experiência de gratificação que o outro constitui torna-se então uma escola de generosidade: passamos a ser capazes de compartilhar com os outros o nosso dom.
A inveja é uma reivindicação estéril e infeliz. A gratidão constrói e reconstrói o mundo, dentro e fora de nós.
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Palavras acertadas as de José Tolentino de Mendonça. Gosto e ler o que ele escreve. É como se houvesse uma luz a iluminar as palavras que dão corpo aos seus pensamentos.
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As imagens são citações colhidas por aí mas, sobretudo por aqui.
A música é Gravediggress das CocoRosie e sobre o vídeo dirigido por Bianca Casady, transcrevo parte do texto que o acompanha:
Shot in Southern France, spanning several different seasons, The Gravediggress emerges from the imagination of the clown. Played and danced by Biño Sauitzvy, The Clown oscillates between young and old, innocent and deranged.
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The time you have
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo domingo!
Gostei do seu post!
ResponderEliminarTambém procuro afastar-me de pessoas invejosas. Acredito que não desperto grandes invejas, mas mesmo assim, Deus nos livre de alguém implicar connosco nesse sentido.
Bom domingo :)
para os invejosos e não invejosos pensarem - http://www.youtube.com/watch?v=BOksW_NabEk
ResponderEliminarOlá Isabel,
ResponderEliminarObrigada. De pessoas invejosas, conflituosas, mentirosas e coisas do género o melhor, mesmo, é guardar-se uma prudente distância. Nunca se sabe do que são capazes e, mesmo que não seja nada de grave, causam mau ambiente.
Também gostei do seu post sobre decoração. Eu também estou assim, sem tempo para nada e também tenho saudades de ver livros e revistas de decoração e fazer pequenas modificações e arranjos aqui em casa. Do que tenho lido por todo o lado, a vida dos professores não está fácil...
Beijinhos, Isabel!
Olá BM,
ResponderEliminarMuito obrigada pelo seu vídeo. Gostei tanto que o incorporei no post. Interessante.
Desejo-lhe uma boa noite.
vou já dizendo que sou invejoso de qualquer pessoa que tenha casa, com terreno, vulgo quintal, pois tenho que passear duas feras todos os diassssss.E o mais caricato, é que quando morrerem , vou ter saudades.
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