Começo por agradecer o vosso cuidado e as vossas palavras simpáticas. Sabem-me bem as palavras de carinho ou apoio.
Não estou ainda grande coisa, longe disso. Nem sei bem que coisinha má é que me deu. Ontem estava febril, com a nuca toda apanhada, dores terríveis. Já tive muitos torcicolos ou dores nas costas mas nada que se compare com isto. É que nem é bem no pescoço, é na base da cabeça, umas dores, um incómodo, uma incapacidade de me mexer. Pus Voltaren em pomada, e nada, e ontem à noite comecei a tomar anti-inflamatório e um relaxante muscular. Aqui há tempos o meu marido também ficou todo apanhado e o médico receitou-lhe isto. Sei que a auto-medicação é coisa que não se deve fazer mas, estando uma pessoa mal se podendo mexer, como ainda ir a algum lado, trânsito, dificuldade em estacionar, tempos de espera? Impossível. Ao médico vai-se quando não se está muito apanhado.
A minha filha fica um bocado apreensiva, acha que isto da garganta e estas dores na nuca não devem ser coincidência, por vontade dela eu ia já para o hospital mas sei que o que me dói são os músculos, não é por dentro, ou seja, não são as meninges. A garganta também ainda não está famosa, estou meio afónica, até me cansa ter que falar. Hoje, de cada vez que alguém me vinha pôr problemas, só não era recambiada a grande velocidade por pura cortesia.
Mas lá me aguentei. Sou razoavelmente estóica (só para verem: tive os meus filhos tirados a ferros e tudo sem anestesia, tinha medo que a anestesia lhes fizesse mal e, para além disso, achava que eu não era mais do que qualquer bicho da natureza que também não recebem anestesia para parir) e, além do mais, detesto estar doente. Por isso, prefiro fazer das tripas coração e fingir que estou melhor.
Uma vez chegada a casa não fui uma vez mais, como é natural, fazer a minha caminhada. Tomei o dito relaxante pois devia tê-lo tomado logo de manhã mas não me arrisquei, desataria a dormir como se não houvesse amanhã. Já hoje de manhã para conseguir acordar foi um castigo mas isso deve ter sido porque mal consegui dormir de noite, nada daquilo me fazia efeito. De madrugada, levantei-me e tomei 1gr de ben-u-ron e acho que foi isso que fez abrandar as dores.
Então agora estou aqui no sofá, toda a apoiada em almofadas e com o computador ao colo. O que vale é que havia comida feita no frigorífico. O meu marido anda a aquecê-la e eu estou a ver televisão e a escrever isto. Comecei às 20h e as vezes que já adormeci já lhes perdi a conta. Depois acordo, escrevo duas linhas, depois volto a cair a dormir.
No meio deste registo vi o Paulo Portas numa feira, a dizer a toda a gente 'Bons negócios', todo ele sorrisinhos, olhos revirados, pestanejares profundos, a provar presunto, bolinhos e sei lá que mais e, actor de primeira água, lá se ia mostrando deliciado, soltando longos huuummms, parecia ele que estava a comer manjares dos deuses, todo ele rejubilante por andar numa coisa parecida com uma feira.
Às tantas aquilo era mesmo uma feira, mas, na parte em que devem ter dito qual o local da cena, estava eu a dormir.
Depois ouvi-o todo ufano a falar do milagre, que os responsáveis eram as empresas mas também o governo, e todo ele requebrava o discurso, poses e frases feitas.
O sound bite do dia foi que as exportações são o porta-aviões da recuperação.
Depois sorriu todo contente - provavelmente contente por ter conseguido dizer aquilo sem que um arreliador lapsus linguae lhe atrapalhasse a festa. Imagine-se se, em vez de porta-aviões, lhe sai submarino...
Depois caí outra vez no sono. Quando vim a mim estava o súbdito do vice-irrevogável, o cervejeiro Pires de Lima, a confessar que aquela tirada do milagre económico tinha sido um exagero linguístico, que claro que não havia milagre nenhum.
Hélàs, bem pode ele agora mostrar-se arrependido que os outros já lhe pegaram na palavra e não fazem outra coisa senão arranjar provas para justificar o milagre.
Um que viu a virgem a deitar lágrimas de vinho tinto, produto que está com uma saída que só visto, outro a dizer que uns anõezinhos juram que viram uma santa exportadeira em cima de uma azinheira, outros que nunca viram exportar tanto sémen da cão - tudo coisas que só provam o empreendedorismo do povo português quando devidamente encarreirado por governantes neo-espertos.
A propósito de cão: quando acordei de novo sono profundo, apareceu-me o Marco António a lamentar-se por os do PS não andarem de rastos a implorar o perdão aos agentes do milagre, os neo-pastorinhos de S. Bento.
... Pausa para ir jantar...
Agora já jantei e já estou outra vez recostada entre almofadas mas agora o meu marido já aqui está também e, portanto, a televisão já está sintonizada no futebol, o Baía e o Dany a comentarem um jogo qualquer e, portanto, já não tenho motivo de conversa. Diz-me que já muda mas que este jogo foi importante. Faço ideia... Uma seca, é o que é.
*
A primeira imagem é do blogue We have Kaos in the Garden e a segunda é do blogue Jumento.
A última deve ser de alguma firma que comercializa tratamentos para dar cabo das pulgas dos cães.
*
A ver se ainda cá consigo voltar - isto se não cair de vez num sono profundo.
Cara UJM,
ResponderEliminarComo é óbvio, sendo médico e apreciador dos seus textos e ideias, não poderia deixar passar em vão o seu mal-estar neuromuscular, provavelmente neurocontracturas que surgem frequentemente com resfriados e síndromes gripais, essencialmente quando febris.
Obviamente agiu bem ao automedicar-se com analgésicos e descontracturantes neuromusculares (miorrelaxantes).
Passou muito pelo colo de Morfeu, porque os miorrelaxantes são levemente indutores do sono, mas tal permitiu-lhe apreciar as faces burlescas de dois belos meliantes do nosso reino, também ele sofrendo de fortes contracturas que encolhem a quase totalidade da população.
Como clínico sugiro-lhe, ao deitar, um DIAZEPAM 10 mg (vulgo Valium), pois além de induzir sonolência é um dos melhores miorrelaxantes.
Desejo-lhe as melhoras e descontracção (muscular). Muita saúde
Olá dbo!
ResponderEliminarQue bom! Ainda bem que concordou com as minhas auto medicações. Já vou esfregar o seu comentário na cara dos que aqui me têm andado a moer para eu ir ao médico...
Agora fui ver que relaxante é o que tomei e que me deixa KO e é o Unisedil, que é justamente o dito Diazepan. Na mouche.
Agora que isso me dá uma soneira, lá isso dá. Como normalmente durmo bem, sem precisar de tomar o que quer que seja, e como além disso, ando sempre com o sono atrasado, isto põe-me como se estivesse a fazer uma cura de sono. Tiro e queda. Não tenho feito outra coisa senão dormitar aqui no sofá e daqui a nada vou-me deitar e, como me estou a sentir melhor, estou muito dorida mas já não com as dores agudas que nem me deixavam mexer, acho que vai ser uma noite e pêras, de um verdadeiro sono dos justos.
Mas tem razão, de cada vez que abro os olhos, vejo logo coisas que só me dão vontade de ir a eles. O mal é que adormeço logo a seguir...
Obrigada e hoje é um agradecimento duplo: obrigada ao Leitor dbo pela sua presença e palavras e obrigada ao Sr.Dr. que já me descansou com a sua opinião médica.
Saúde e boa disposição para si também, dbo!
Olá, UJM!
ResponderEliminarAinda bem que já está melhor. E não dê ouvidos à sua filha! Hospital, isso é que era bom!... Uma enxadinha é que lhe fazia bem! (Lembra-se desta? Em plena campanha eleitoral e agora dizem-me as pessoas que foram enganadas, que não sabiam que este "ainda seria pior do que o outro"...)
Neste comentário fico-me por aqui, porque quando aos outros lhes dá para pensamentos profundos, vou logo atrás, não resisto, e vou portanto comentar o seu outro post já de seguida.
JV
Eu acho que o Paulo Portas deveria, de agora em diante, vestir-se assim, como no Post. Um traje a condizer com o lugar que ocupa e com a pessoa que é, na realidade.
ResponderEliminarBem vistas as coisas, há algo de apalhaçado na criatura, sobretudo quando fala dos pensionistas e reformados. E já agora...da tal Reforma do Estado, que é como a gestação da fêmea do elefante.
P.Rufino