segunda-feira, fevereiro 17, 2014

O amor no Facebook. Quais as melhores cidades para se arranjar alguém disponível? Como são os contactos nos dias que precedem a concretização da relação? Qual a reacção quando se rompe uma relação? - Usando a vasta matéria disponível nas suas incomensuráveis (e desprotegidas?) bases de dados, os cientistas do Facebook fizeram um estudo em que as probabilidades e estatísticas incidiram sobre os Relacionamentos Amorosos que por lá decorrem. O 'admirável mundo novo' que se antevê no filme Her cada vez mais próximo.


No post abaixo, dei a palavra a pessoas inteligentes, lúcidas e que mostram que sabem manter-se de pé. Publicaram textos admiráveis na última semana e faço questão de ter aqui as suas palavras como um registo dos tempos que correm. 

Estou muito segura das minhas convicções mais profundas (ie, querer o bem comum, não querer que uns explorem outros, querer que todos possam ter as mesmas oportunidades, querer o progresso e o desenvolvimento feitos em nome da melhoria das condições de vida das pessoas, etc - coisas básicas mas das quais nunca me esqueço nem mesmo quando não fazem outra coisa senão atirar-me poeira para os olhos), e sei pensar por mim, sei fazer contas, estudei lógica e faço questão de a exercitar quotidianamente, etc, etc, etc, pelo que considero que sei analisar razoavelmente bem as situações que se me deparam.

Mas ninguém é o melhor juiz em causa própria pelo que, pelo sim, pelo não, gosto de saber o que pensam pessoas que considero terem boa cabeça e não serem desses avençados ou marias-vão-com-as-outras de que os media estão cheios. Gosto de confrontar as minhas opiniões com a de outros que respeito.

O que poderão ler abaixo é uma espécie de best of do que li nos jornais da semana que passou. Palavras fortes ou irónicas, palavras contundentes ou, apenas, desencantadas. 

Estando mais do que avisada para que aqui na blogosfera os textos não se querem grandes, tentei atenuar o efeito de 'lençol', ilustrando o post com imagens da autoria de Pawel Kuczynski que me parece que vêm a calhar com o que ali se diz e escolhi um acompanhamento musical que me parece também adequado, o Lamento da Ninfa, interpretado pelos L'Almodí Cor de Cambra.

Mas isso é no post a seguir a este. Aqui, agora, a conversa é muito diferente. Aqui a conversa é sobre amor. 

*

Eu, como é sabido, prefiro os relacionamentos ao vivo e a cores, cartas de amor, mão na mão, mão na..., etc e tal, pelo que faço entrar Diana Krall para nos cantar a sua versão de Love Letters.






*


Li a notícia 'O olhar do Facebook sobre as relações amorosas' no Público, escrita em toda a sua inocência, fiz pesquisas e em vários outros jornais respeitabilíssimos a nível internacional dei com a idêntica descrição do comportamento dos que se mostram interessados ou apaixonados, depois com a descrição de como decorrem os contactos enquanto dura a relação e, finalmente, quando há um desfecho negativo, como é o day after e os seguintes. Como se isto fosse uma coisa normal.


Não é.

Transcrevo pequenos excertos de um artigo que, por estar em língua portuguesa, retiro do Público; mas, do que vi por todo o lado, o tom é o mesmo - nada mais que uma pequena frase de reserva que quase passa despercebida (coloquei-a mais escura para que reparem nela).


(...) em cerca de dois terços dos relacionamentos entre pessoas de sexo diferente o elemento do sexo masculino é mais velho. Em média, tem dois anos e cinco meses mais do que a mulher. Em Portugal, a diferença está abaixo dos dois anos.

Numa outra análise — que vem mais uma vez ilustrar o poder do Facebook para escrutinar a actividade dos utilizadores —, os investigadores resolveram olhar para as interacções de pessoas que tinham acabado uma relação recentemente. A ideia era perceber se a rede social funcionava naqueles momentos como uma plataforma de apoio por parte de amigos e familiares. Foram recolhidos dados sobre as mensagens enviadas e recebidas, as publicações feitas e os comentários em publicações, tanto dos utilizadores em análise, como dos respectivos amigos.

Os números acabaram por mostrar um aumento médio de 225% nas interacções ao longo do dia correspondente ao fim da relação, seguido por um decréscimo nos dias seguintes, para valores que acabam por ser superiores aos existentes no período anterior ao rompimento.

A rede social também parece funcionar como um instrumento de aproximação entre os elementos do futuro casal, que perde importância à medida que o início do relacionamento se aproxima. Analisando as interacções no Facebook feitas entre duas pessoas nos 100 dias antes daquele em que declararam estar numa relação, é visível um aumento de interacções ao longo de 88 dias. Nos 12 dias anteriores, as interacções sofrem uma queda abrupta, que continua nos dias após o início do relacionamento. Presumivelmente, a interacção online é substituída por outras formas de contacto.

(...)


No estudo é interessante ver os diversos capítulos como, por exemplo, o que se refere à Formação do Amor onde se escrutinam as palavras escritas antes do dia em que a relação é assumida e o que se passa a seguir.

Ler este estudo é tomar contacto com um mar de curiosidades. Contudo, para mim é a prova consumada da perversidade de toda esta máquina fora de controlo onde as pessoas se expõem e inocentemente confiam na privacidade do que lá fica guardado. As pessoas pensam que, por falarem em privado, isso não é visto por mais ninguém.

Engano.

O que é escrito no Facebook, em zonas públicas ou privadas, fica armazenado nos computadores do Facebook, acessível a quem os gere.

Mais do que aquilo estar acessível, aquilo está de facto ao serviço do modelo de negócio da empresa Facebook, uma das maiores do mundo. A empresa Facebook vive de vender publicidade, cruzando o que os vendedores querem vender (pagando por isso) e as pessoas cujos perfis apontam para que sejam receptivas a certos produtos ou serviços.

Por exemplo, se eu tivesse perfil no facebook e falasse de sapatos e tivesse amigas que falassem de sapatos, é certo e sabido que me haveria de aparecer publicidade relativa a sapatos, moda, etc - a mim e a elas.

Ou seja, há programas informáticos que 'varrem' tudo o que é escrito (seja em público ou em privado), catalogando por temas tudo o que por lá se passa. Uma vez tudo devidamente indexado, a máquina comercial começa a funcionar.

Mas a vassoura informática, como agora se vê, não procura apenas temas que possam transformar-se em negócio: procura tudo o que vem à cabeça dos cientistas que por lá trabalham.

Cientistas à solta, num mundo desregulado, e a operarem num mundo global, sem fronteiras, acima dos estados e das leis, são um risco.

Agora deram-se ao luxo de ir ver quando é que as pessoas começam a dar mostras de se estarem a aproximar de outras e, a partir daí, seguem-nas, medindo o número de vezes que dizem amor, desejo, beijo, sexo, etc, cruzando as trocas de palavras entre o par amoroso com as que se dizem aos amigos, contextualizando os factos. Isto e muito mais. Vêem as idades e as religiões dos casais, estabelecem padrões comportamentais.

Claro que tudo isto (até ver e do que se sabe) é feito sem cuidar de saber se estão a ver a informação de A ou de B. Mas, ainda assim, isto revela como tudo está disponível e acessível para que todos os malucos que o queiram usem e abusem do que por lá encontram.

Estas empresas contratam em larga escala os melhores alunos de cursos como a Matemática, a Física, a Engenharia Informática. Cientistas destas áreas pelam-se por estudos deste tipo, desafiantes, complexos, em que possam aplicar tudo o que aprenderam. Eu que estudei matérias destas e modelos e processos de simulação, etc, leio isto e ocorrem-me logo estudos interessantes que se poderiam fazer com base na quantidade quase infinita de informação disponível. Deixassem-me à solta (e fosse eu outra), saberia bem como me tornar um perigo.

O filme Her, em que um homem se apaixona por um sistema operativo, assenta a história no facto de alguém ter concebido sistemas operativos aptos a analisarem a informação relativa a cada utilizador e, a partir daí, assumirem os contornos que venham mesmo a calhar para se tornarem insubstituíveis na vida do user. Ou seja, por exemplo, se o homem se divorciou, sai-lhe um computador que fala com uma voz feminina sensual, atenta e carinhosa, se o homem escreveu num determinado dia um mail mais emotivo, lá estará a voz de mulher a fazer conversa sobre isso, compreensiva, querendo saber pormenores. De facto, um filme como este dá bem o sinal do que será tecnicamente possível se tudo for permitido.

É engraçado uma pessoa apaixonar-se por um programa de computador, é curioso, é perturbante, tem o seu toque de exotismo, de interdito, é tudo isso, mas até que nível de devassa estamos dispostos a permitir por parte de terceiros e para que tipo de solidão caminhará a espécie humana se se for afastando dos seus amigos e amantes de verdade e, aos poucos, se for deixando envolver por programas concebidos para manipular as pessoas, tornando-as dependentes e, de facto, cada vez mais solitárias?






Her é dirigido por Spike Jonze e é interpretado por Joaquin Phoenix que faz o solitário Theodore  .
O sistema operativo dá pelo nome de Samantha e a voz é de Scarlett Johansson


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As imagens sobre o Facebook são, uma vez mais, de Pawel Kuczynski.

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Relembro que se, depois deste, seguirem até ao post abaixo, poderão ler textos admiráveis de vozes inteligentes e lúcidas publicadas na semana que passou (e, também, ver as imagens muito apropriadas do polaco que também ilustra este post.

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Faço ainda questão de vos convidar o irem até ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje é dia grande: há um novo vídeo do Cine Povero. Desta vez é a poesia de Herberto Helder na voz de Fernando Alves e tudo, uma vez mais, maravilhosamente entretecido pelo Cine.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta semana.
Saúde, alegria, sorte - é o que vos desejo.

13 comentários:

  1. "O que é escrito no Facebook, em zonas públicas ou privadas, fica armazenado nos computadores do Facebook, acessível a quem os gere.", pequena correcção, o que é escrito na internet, já não é mais seu.Mesmo que tenha alojamento pago, há servidores a copiar todos os sites criados e actualizados.

    por exemplo o seu site em 14 de fev de 2013 - https://web.archive.org/web/20130214031134/http://umjeitomanso.blogspot.pt/

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  2. e isto fez-me pensar.Para aqueles debates de mer..., tipo quadratura e afins, porquê não colocar 4 especialistas em pesquisa, em vários motores de pesquisa, um para cada convidado, a ouvirem a opinião de cada um (via auricular) e em simultâneo, a projectar num écrã os resultados das pesquisas, sobre o mesmo assunto no passado, daquilo que esta a bitaitar naquele momento.

    só os burros é que não mudam, mas se não gosto da palha A, e vou para a B, até compreendo, mas voltar a comer da A , é que me faz confusão

    ou se calhar não deram lógica

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  3. dava jeito o facebook a estes - http://www.huffingtonpost.com/2014/02/13/cats-and-dogs-who-hate-kisses_n_4762643.html

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  4. Só para levantar a moral de quem tem viagem marcada - http://www.youtube.com/watch?v=5x85YYLuCY4

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  5. esse sistema operativo não é uma ideia má de todo - http://www.youtube.com/watch?v=3DaH9IEZvBY

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  6. O 'admirável mundo novo'- http://www.facebookstories.com/10

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  7. Amor à primeira vista - http://laughingsquid.com/a-loving-little-penguin-chases-after-his-zookeeper-in-japan/

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  8. se faltar o ar no primeiro encontro , a sério, isto é importante - http://www.youtube.com/watch?v=Iz8M0UTkvSU

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  9. 70 anos!!!!!!! - http://chronicle.augusta.com/news/metro/2013-08-10/age-doesnt-define-70-year-old-bodybuilder

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  10. Eu uso isto quando acontece isso (Picalm spray) - http://www.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=6848&tipo_doc=fi

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  11. Oh Marley!
    Você cansa-nos!!!!!!!!!! Porra!!!!!
    Zé dos Anzóis

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  12. Ohh Zé, que isso não te impeça de fazeres a revolução pelo rato e teclado.

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  13. vai uma aposta, como publica este -)))) - https://www.youtube.com/watch?v=zUrqEoeJ1DA


    o Sistema Operativo tem que comer muitos bytes, para fazer isto-)))

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