sábado, fevereiro 15, 2014

Filomena - ou a história verdadeira de uma mulher a quem a família escondeu num convento quando engravidou e a quem as freiras roubaram o filho, vendendo-o para o estrangeiro. Uma de entre muitas histórias iguais. Uma de muitas páginas negras da Igreja Católica.


Bom, apesar de ter chegado há bocado a casa, este já é o quarto post do dia (ou melhor: da noite). Abaixo poderão ver o primeiro carro que saíu no sorteio da Factura da Sorte e depois uma coisa intrigante que alguém escreveu no google e que o trouxe até aqui e, finalmente, uma dúvida sobre a Ana Lourenço.

Vinha com ideia de me limitar a contar sobre o filme que fui ver mas não resisti.

Bom, mas isso é a seguir a este.

*

Aqui, agora, a conversa é outra. Resolvemos ir ao cinema e, antes, jantar por lá, no centro comercial onde está o cinema.

Pois não imaginam: uma enchente brutal. É certo que estávamos na zona dos restaurantes rápidos e, logo, económicos mas, mesmo assim, fiquei espantada. Até que o meu marido (que, no fundo, é um romântico) disse: isto é de ser dia de S. Valentim. Pois, capaz disso. De facto, resmas de casais de todas as idades. No fundo, e não é surpresa nenhuma, os portugueses são uns pinga-amores, uns lamechas. Lá está: uns piegas, já o Láparo o dizia.

A seguir fomos então ver o filme. O meu marido contrariado, temia uma xaropada, se a coisa mete história de tristezas de caixão à cova ele está fora. Mas lá consegui arrastá-lo, que não, que era do Stephen Frears, o das Dangerous Liaisons, que o filme era bom, que era com a Judi Dench, etc, etc. Talvez por ser Dia dos Namorados lá me fez a vontade.




Chorei, confesso. Impossível não chorar. Aliás, logo às primeiras cenas, o rosto de Judi Dench me comoveu.

Mas há contenção no desempenho, contenção no desenrolar da história (verdadeira), e uma mistura suave com o humor britânico que atenua a densidade do que ali se mostra. Não é, nem de longe, um filme lamechas.

Anthony Lee com uma freira antes de ser vendido
A Igreja está cheia de situações que envergonham qualquer um que tenha uma mente saudável. A Igreja Católica é responsável por crimes horrendos, desde logo o dos abusos sexuais (centenas de padres têm sido expulsos - e, confesso, fica-me a dúvida: haverá alguma outra profissão em que haja tão grande percentagem de pedófilos?), e o da repressão e violência sobre jovens internados, o da sonegação dos filhos às mães, quando não o que aqui é relatado, de venda de crianças. E já nem falo de uma coisa que a mim me incomoda sobremaneira e por isso me afastei da igreja, não me casando por igreja nem baptizando os meus filhos: o da instilação dos conceitos da culpa, do pecado, do arrependimento por tudo e por nada.

Quantas pessoas vivem uma vida inteira amargurada a expiar e a esconder o que julgam ser pecados ignominiosos? E tantas vezes não foi culpa sua: foram, sim, vítimas. Mas os agressores costumam inculcar o sentimento de culpa nas vítimas (e a igreja alimenta esta doentia atitude perante a vida).

A verdadeira Philomena em Sean Ross Abbey,
um Convento em Roscrea,
onde deu à luz e a partir do qual as freiras venderam
o seu filho de quem ela nunca mais conseguiu saber o paradeiro

Foi o que aconteceu a Filomena, the facto Philomena Lee, a mulher interpretada por Judi Dench (uma mulher bela nos seus quase 80 anos) a quem a igreja roubou o filho (que era Anthony mas a quem foi depois dado o nome de Michael Hess) para o vender a uma família rica americana.


Não conto o resto da história mas deixo links para que, quem não possa ou não queira ver o filme, possa conhecer a realidade aqui descrita.

Depois da publicado em 2009, o livro Philomena levantou o véu opaco que escurecia a vida de muitas pessoas e tem levado a que milhares de crianças irlandesas adoptadas e as suas mães 'envergonhadas' tenham dado um passo à frente, contando as suas histórias. Muitas ainda estão à procura dos seus familiares perdidos. Uma coisa terrível. Uma coisa em que custa a acreditar.

Muito boa também a contida interpretação de Steve Coogan que faz o papel de Martin Sixsmith, o jornalista que acompanhou Filomena na procura do seu filho e que, depois, escreveu o livro. É também produtor do filme.


Deixo-vos com o trailer do filme que, como de costume, aqui no youtube está legendado em língua de tradutor automático, uma coisa catastrófica, mas o que me permito recomendar-vos vivamente é que vão vê-lo ao cinema. É um filme a não perder - e aprovado pelo meu marido!





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Relembro: Abaixo deste post há mais três e, descansem, tratam de assuntos bem mais leves.

Caso estejam afim de um cocktail espumoso e tutti frutti, desçam por favor.

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E, com isto, passa das duas da manhã e amanhá tenho que estar a pé cedinho e, portanto, agradecendo os comentários a que, como ultimamente vem sendo hábito, não consigo responder, e não conseguindo sequer rever o que acabei de escrever, despeço-me por agora.

Tenham, meus Caros Leitores, um belo fim de semana.


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