sexta-feira, fevereiro 21, 2014

A coragem dos tocadores de música enquanto tudo arde. Na Praça da independência, em Kiev, Ucrânia, piano ou gaita de foles tanto faz. Entre mortos e feridos, que se salve a pureza da esperança, a ilusão do sonho e a força dos que acreditam na democracia.


No post abaixo falo do frio das crianças em países a arder e, um pouco mais abaixo, falo de Eduardo Lourenço e do alerta que lançou contra os vampiros que desceram às cidades, sugando o sangue dos indefesos cidadãos.

Não deixem de ver, por favor. A seguir a este.

*

Aqui, agora, a conversa é outra.

A rigidez muscular que se concentrava na nuca, estendeu-se-me aos ombros. Não são já as dores agudas e incapacitantes de até há dois dias mas, antes, há ainda alguma dificuldade nos movimentos e tudo muito dorido. Deveria tomar o tal Valium que, para além de ansiolítico, é um poderoso relaxante muscular (10 mg, prescreveu o médico há algum tempo ao meu marido e referiu-o o Leitor dbo que é médico), duas vezes por dia para ver se me punha boa. Mas qual quê? Tomo apenas 5mg à noite e entro logo num estado de dormência que mais parece que fui anestesiada.

Ainda não tomei o comprimido de hoje, só o tomarei quando me deitar mas, mesmo assim, ainda sob o efeito do de ontem à noite, não tenho feito outra coisa senão dormir. E, durante o dia, tenho que ir bebendo café e chá verde, levantar-me de quarto em quarto de hora e ir chateando uns e outros para ver se não adormeço no gabinete. E no carro? Tenho que andar de janela aberta, música alto, telefonar (tenho bluetooth....!)  e, mesmo assim, é cá um esforço...

Isto dá-me cabo da produtividade aqui, credo. Daqui a nada são duas da manhã e ainda pouco escrevi. Tinha tantas coisas para dizer (o irrevogável oitavo marido da Zsa Zsa Gabor a quem o outro diz que, para o manterem entretido, deram um espelho e um palácio, o baldinho de água fria que o FMI despejou na cabeça dos esquentados pastorinhos milagreiros de S.Bento, e tantos outros assuntos). Mas como, se não páro de me deixar dormir? Já viram isto? Deve haver gente para quem 5mg de Valium não dá sono nenhum mas para mim é tipo Boa-noite Cinderela, fico neste lindo estado.

É que nem consigo sentar-me à mesa onde habitualmente me instalo para escrever isto aqui. Sento-me no sofá entre almofadas, com o computador no colo e vou acordando entre períodos de sono.

E, com o dito comprimido, o que eu sonho enquanto estou a dormir na cama? Uma coisa... Já por duas vezes sonho que estou numa atrapalhação sem me lembrar onde deixei o carro estacionado. A noite passada sonhei que tinha deixado o carro ao pé do Largo do Rato mas não o encontrava em lado nenhum. Na Rua de S. Bento? Nada. Na Rua do Sol ao Rato? Nada. Na Pedro Álvares Cabral? Na Rua do Salitre? Nem pó. Subia e descia as ruas e não via jeitos de carro. Uma aflição, a ter que ir não sei para onde e a não me lembrar onde tinha largado a porcaria do carro. Quando tocou o despertador ainda estava eu neste desassossego.

Vamos ver daqui a nada, quando chegar à cama, que sonho me vai sair na rifa, onde será que desta vez me vou esquecer de onde estacionei o carro.

Adiante. Deixa-me prestar atenção à televisão a ver se me mantenho acordada.

Agora está a dar o noticiário. Uma coisa medonha.




Vejo na televisão imagens impensáveis: luta corpo a corpo nas ruas da Ucrânia, gente a ser arrastada pelas ruas como animais sangrando, outros arrastados pelo chão como espantalhos, as mãos soltas, puxados pelos colarinhos, nem sei se vão vivos se mortos, fumo, fogo, balas, agora é um estudante português que diz que as caixas multibanco estão fechadas, não se pode levantar dinheiro. E, no meio disto, não se sabe quem são os bons e quem são os maus. Parece um filme caótico, uma balbúrdia à moda do oeste, uma monumental zaragata que correu mal, um nonsense que a gente vê e em que mal se acredita.

Maidan é um inesperado cenário de guerra. Aqui há tempos parecia uma terra civilizada. Não sei se o meu filho andou por lá com a então namorada, lembro-me de ver fotografias giríssimas de países da antiga URSS, já nem me lembro de quais. Tantos países que ele já visitou, bem mais que eu. Até na Patagónia já esteve.

(Isto é do estado em que estou. Começo a falar de uma coisa e que até é uma coisa séria e depois divago para outra. Desculpem lá.)

Voltando.

O mundo virado do avesso. E para a coisa ser ainda mais surreal, aparece-me agora na televisão o Bruninho, o Maçães das polacas, a fazer biquinho e sem saber o que diz, isto é areia a mais para a camioneta dele, o negócio dele é bocas e blogues, não ruas sangrentas, situações descontroladas.

Não.

Isto é mesmo um filme, não uma coisa a sério. É demais para ser verdade. As imagens que agora estou a ver só podem ser ficção.




Passam neste momento imagens que ouço dizer que foram colhidas por um drone. A praça é um acampamento cigano de grandes dimensões, e há fumo e fogo - e acima há um drone a sobrevoar tudo e a filmar. As guerras andam estranhas, exacerbadas, irreais.

E agora mostram em Portugal ucranianos de mão no peito, emocionados, a cantarem o hino ucraniano. Quase comove.

Não sei bem o que é isto. O mundo a endoidecer.

Fui ao youtube procurar para tentar perceber se diziam alguma coisa disto do drone e dei com coisas ainda mais surpreendentes. Um rapaz a tocar piano em Kiev, no meio da confusão.






E um outro homem a tocar gaita de foles no meio do tiroteio. À sua volta tudo a arder e ele a passar a tocar. Corajoso, sonhador, despegado, um jovem faz ouvir a sua música numa praça Maidan em chamas. É de loucos.





E depois vejo este vídeo onde jovens explicam que lutam pela liberdade, contra a ditadura, pela democracia. Pedem que os ajudemos.

Eu apoio a luta de jovens pela democracia, pela liberdade, por um mundo bom para se viver. E, por isso, aqui divulgo o seu vídeo.

Tomara que estes que aqui aparecem estejam vivos, de boa saúda e animados para prosseguirem na luta pelos seus sonhos. E tomara que não apoiem movimentos nazis, perigosos.




*

  • Sobre as crianças na Síria e sobre a criativa campanha lançada na Noruega, desçam por favor até ao post seguinte.
  • Sobre os vampiros relativamente aos quais Eduardo Loureço lançou um aviso, é no post ainda mais abaixo.
  • Convido-vos também a irem fazer uma visitinha até ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, onde hoje temos Jorge de Sena  surpreendentemente dito por Jel e, ainda, Luis Filipe Castro Mendes a falar do poeta exilado.
*

Resta-me, por agora, desejar-vos, meus Caros Leitores, um belo POETS day!

(Aprendi esta do Poets day a semana passada quando um colega meu inglês me perguntou, admirado, o que é que eu estava a fazer a trabalhar àquela hora  - para aí às 4 ou 5 da tarde - num Poets day)


5 comentários:

  1. https://www.youtube.com/watch?v=nvv2vsKVf-I

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  2. Jim Morrison disse...
    https://www.youtube.com/watch?v=nvv2vsKVf-I-ochatodocaraçasquemelgadobobmarleyquemaispareceumvirus!

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  3. ohhh Jim Morrison (pena que tenhas escolhida outro dos meu cantores preferidos), em miúdo ou fostes o gajo do bullying ou a vítima.No 1.º caso não cola, no 2.º podes procurar ajuda especializada.

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  4. Olá, UJM!
    O da gaita de foles realmente é extraordinário! Há pessoas do caraças!
    Todos os dias me surpreendo. Ainda ontem, soube que uma pessoa que conheço se vai divorciar. Foi o marido que quis. Sabe o que é que ele lhe disse? "Olha, minha querida, desculpa, mas quero-me apaixonar." Quer-se apaixonar! Não está apaixonado, nem tem outra, nem sequer está farto da mulher. Até gosta dela e não leva uma vida infeliz, mas acha que está na altura, aos cinquenta e picos, de se voltar a apaixonar. Ou de conhecer o amor verdadeiro, quem sabe.

    Bom fim de semana,
    JV

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  5. Jim Morrison disse...
    Tu gostas de mim oh Bob? Olha-me para o gajo!
    Mas que és um melga do pior é bem verdade!
    Em novo o que te faziam, quando chateavas? Davam-te tau-tau?

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