sábado, dezembro 07, 2013

O que falta aos homens que não conseguem acertar-se com nenhuma mulher?






Depois de ontem ter acabado a minha história sobre a Leonor, ou seja, o meu pequeno Conto de Natal, hoje vou falar de um tema muito mais prático.

Porque é que alguns homens arranjam facilmente uma companheira e outros se vêem e desejam e parece que não acertam uma?



Era bom que eu soubesse a resposta pois, divulgando-a, os homens desafortunados que me lêem tinham logo aqui a solução para os seus problemas.

É que eu resposta não tenho: tenho é perguntas e uma ou outra teoria.

Em tempos tive um colega que parecia um bocado atrasado mental. Um bocado é favor. Parecia completamente atrasado mental. Raramente falava, mesmo se estava no meio de uma reunião em que se discutia assuntos que lhe diziam respeito. Era preciso picá-lo, insistir para que falasse. Então, atabalhoadamente, lá dizia umas coisas que ninguém percebia.

Corporalmente também era estranho, alto e meio gordo, todo curvado, aspecto ensimesmado, parecia enrolar-se sobre si próprio. E parecia que andava sempre com a mesma roupa, uma roupa incaracterística.

Ninguém lhe dava nada de especial para fazer porque ninguém sabia se ele era capaz de fazer alguma coisa de jeito. Limitava-se a fazer coisas básicas de cariz basicamente burocrático. Em suma: uma criatura estranha. Quando se cruzava comigo fazia um vago sorriso e um pequeno grunhido, o que eu interpretava como um cumprimento. Toda a gente se interrogava sobre aquele espécime e, sobretudo, ninguém percebia como teria ele conseguido tirar um curso superior.

Durante muito tempo supus que vivesse sozinho, talvez com alguns pais velhos. Quando o conheci deveria ele ter uns 40 ou quarenta e tal anos mas até nisso a coisa era indefinida, ninguém sabia ao certo que idade teria ele.

Alguns anos depois soube, para meu espanto, que tinha enviuvado. É que nunca me passaria pela cabeça que fosse casado. Como poderia uma coisa assim arranjar mulher? Afinal era casado e com um filho adolescente.

Na altura, disseram-me: vai ser o fim dele, da maneira que ele é, vai acabar por morrer sozinho, fechado em casa. Achei que, de facto, só podia ser esse o triste fim dele, coitado.

Na altura já eu trabalhava noutro sítio. Perguntei, Mas continua na mesma? Sem dar uma para a caixa? Sem abrir a boca? Sempre cabisbaixo, incapaz de levantar os olhos do chão? Responderam-me, Ah, sabe lá, muito pior, um bicho, coitado, aquilo só pode ser doença.

E pronto, esqueci-me dele.

Qual não é o meu espanto quando no outro dia uma colega me dizia que a filha se tinha casado e Imagine com quem? Não fazia ideia. Diz-me ela, ar de espanto, Com o filho daquele sujeito estranho que trabalhava lá, aquele que parecia atrasado mental, lembra-se?

Achei engraçado, o mundo é pequeno. E diz-me ela, Mas sabe uma coisa? Voltou a casar.

Digo-vos: fiquei de boca aberta. Voltou a casar?! Mas como? Onde desencanta ele as mulheres? Como as conquista? Falará com elas? E sobre o resto nem ouso perguntar até porque não consigo imaginar. Mas, enfim, tenho que reconhecer: alguns dotes deve ele ter.

Essa minha colega dizia do agora compadre, É de facto um mistério. Mas está um bocado melhor.

Perguntei, E a mulher como é? Normal?

Ela riu-se, Normal. Simpática. Trata-o com carinho. 

Continuei de boca aberta.

*

Bom, mas não é caso único. Um amigo meu, e nem vou entrar em grandes detalhes porque sou mesmo amiga dele, é um bocado mal jeitoso, fisicamente muito curioso até. Tem a favor ser boa pessoa, inteligente e muito divertido. Não tem irmãos e tem uma mãe já de bastante idade. A mulher morreu aqui há uns dois anos e ele teve um grande desgosto. Acompanhei o calvário da doença dela e presenciei o sofrimento dele. Já era a segunda mulher. Não sei o que aconteceu à primeira. Por esta que morreu sei eu que ele era apaixonado, companheiros de hobbies, companheiros de vida. Uns tempos depois soubemos que já andava de namoro. E que depois já era uma outra. Pois bem: já voltou a casar, feliz e inocente como um passarinho de primeiras núpcias. O terceiro casamento.

Um outro amigo nosso interrogava-se hoje: mas onde conhece ele aquele mulherame todo?!? 

Não sei, não faço ideia. Mas mais do que isso, intriga-me como é que consegue desencantar mulheres  disponíveis e depois acertar-se com elas, assim, com tanta facilidade?

É um enigma.
*

E depois há homens interessantes, bem enturmados (e que, portanto, devem ter facilidade em conhecer e conquistar muitas mulheres) e que, vá lá saber-se porquê, não conseguem acertar com um relacionamento bem sucedido. Não sei se será porque são excessivamente exigentes, se será porque não conseguem entregar-se, ou porque não têm mesmo jeito para a vida a dois. Não sei mesmo.

Não sei mas, na minha ignorância, permito-me adiantar  algumas explicações e vou já dizendo que sou uma pessoa simples, nada de metafísicas, nada de altas psicologias. Aliás, dou as explicações no pressuposto de que eu, sobre esta temática, penso como a maioria das mulheres, as mulheres comuns. Ou seja, admito que haja mulheres de tipo alternativo que pensem de outra maneira - só que, sobre essas, não sei pronunciar-me. Eu aqui posiciono-me no mainstream.

Então, acho eu que a explicação pode residir no seguinte: as mulheres gostam de homens que tenham algum sentido prático, que seja visível (a olho nu) se são bons de pegada (‘pegada’ do verbo pegar, na acepção brasileira do termo: a forma como um homem agarra numa mulher e faz o que tem a fazer), se darão bons maridos, isto é, se as acompanharão nas compras se for caso disso, que colocarão uma prateleira se for necessário, que montarão um candeeiro, que ajudarão a mudar a posição dos móveis se a decoração o exigir, que darão bons genros (e, claro, bons pais de família, se a idade e a vontade da mulher ainda for essa), que as farão rir e as farão sentir-se desejadas, etc.

Digo eu: um homem pode ser sofisticado na argumentação, pode ter um maravilhoso sentido poético, pode conhecer todos os filmes, livros, personagens, autores e o escambau  mas isso será sempre apenas um plus, uma mais valia, um add on. Mas se o resto, o lado prático e essencial da coisa, falhar, então, meus caros, esqueçam.

Qual a mulher que quer ter um poeta ou um sábio ali num canto da sala e que não tenha nenhuma outra serventia? Uma brilhante cabecinha pensadora cheia de ideias encasquetadas, de maniazinhas, de inseguranças, e incapaz de ir sozinho ao supermercado ou de usar um berbequim...? Serve para quê, isso?

Mas, enfim, isto sou eu a falar.

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A música lá em cima é Voamos em Contramão de e por Pedro Abrunhosa.

As imagens foram encontradas no google e não consegui idenficar a proveniência original.

Os dois exemplos que dei não encaixam bem na minha teoria? Não sei. As mulheres que os escolheram se calhar viram neles o que eu não vi.


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um sábado muito feliz.

5 comentários:

  1. vejo aqui um negócio para quem quiser ser representante daqueles brinquedos japoneses.

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  2. "Toda a gente se interrogava sobre aquele espécime e, sobretudo, ninguém percebia como teria ele conseguido tirar um curso superior", desculpe perguntar mas o que é que o cú tem a ver com as calças.

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  3. Caro Anónimo,

    Tem toda a razão: o que para uns é um problema, para outros é uma oportunidade.

    (Já lá dizia o nosso Primeiro, referindo-se ao desemprego, essa 'fantástica' oportunidade...)

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  4. Caro Anónimo do 'cu e das calças',

    A questão é que o senhor não dá uma para a caixa, mal fala, mal se percebe o que se diz, nunca emite uma opinião nem diz o que quer que seja, quando fala parece que grunhe, nunca ninguém percebeu se pensa bem, uma coisa que só vista e ouvida.

    Não lhe parece estranho que uma pessoa assim tenha conseguido fazer exames, ter aproveitamento, apresentar trabalhos, essas coisas...? Pois olhe que a todos quantos o conheciam isso era coisa que muito nos intrigava.

    Mas lá está: a criatura deveria revelar-se noutros areópagos.

    Enfim... Quem vê caras não vê corações. Que é como quem diz. A bem dizer.

    Boa noite!

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  5. bom , e os que usam e abusam da verborreia, esses tiram os cursos na boa (cansam os professores), que para não os aturarem mais, passavam-nos.

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