quinta-feira, dezembro 26, 2013

Cristina Ferreira é entrevistada por Judite de Sousa: e é assim, vendo a nova directora da TVI, que retomo a vida normal depois de dois dias sem ver televisão e depois de um Natal vivido em família com os pimentinhas na maior alegria. De caminho, falo na ementa de dia de Natal e dos presentes que recebi.


Como é bom de ver, durante estes dois dias praticamente não vi televisão. Por isso não ouvi o que o Passos Coelho, o Cavaco e o Bispo Clemente disseram. Isto é, presumo que terão dito (tenho ideia de que, por esta altura, também eles se sentem na obrigação de dizer qualquer coisa). No entanto, se eles falaram, tenho cá para mim que não perdi nada por não os ter ouvido. Ou melhor, acho que só ganhei por não os ter ouvido. Quero dizer, em relação a Manuel Clemente não o conheço o suficiente para me pronunciar de forma muito afirmativa, apenas tenho ideia de que não aquece nem arrefece. Já os outros dois ou me deixam ao rubro ou me deixam gelada.


Neste momento em que estou a escrever, e já passa da uma da manhã, na TVI 24 está a dar a repetição de uma coisa que deve ter dado em horário nobre: a Judite de Sousa a entrevistar a Cristina Ferreira. 



Não vi o início da entrevista pelo que não ouvi a explicação para isto. Não sei que importância ganhou ela para aqui estar a ser entrevistada. Responde como se fosse muito importante, falada por todo o país, parece julgar-se no topo do mundo. Acabo de ouvir a Judite a dizer-lhe que ela é a apresentadora mais valiosa no país, é capaz de isso querer dizer que é quem ganha o maior ordenado. E ela explica as razões disso. Entre outras coisas diz que um amigo lhe diz: tu transformas todas as energias positivas em força. E diz que o filho nasceu com o ónus de ser filho da Cristina Ferreira.

Antes falou do ex-marido e do filho e toda comovida falou da separação e da forma como resolvem a questão do poder parental.

Agora ouço dizer que passou a directora de não sei o quê, conteúdos ou lá o que é. A Judite está a estender-lhe a passadeira vermelha e ela, toda convencida, inclusivamente falando dela própria na terceira pessoa, sorri toda contente. Provavelmente tem mesmo razão para estar toda contente.

É o que eu digo: o que é importante parece que teima em passar-me ao lado. A Cristina Ferreira é uma das pessoas mais conhecidas e mais faladas no país? Como é que ninguém me avisou disso? 

Ora bolas, assim não dá... Eu a achar que sou uma pessoa razoavelmente informada e, afinal, a toda a hora sou confrontada com a evidência da minha ignorância.

*

Enfim. Há muitos mundos paralelos e a gente move-se num e parece ignorar o que se passa nos outros. E no entanto esses mundos existem. 

*

De resto, foi Natal. Dias muito felizes para mim, a família reunida, os miúdos felizes, uma festa. Sou afortunada e sinto-me sempre muito agradecida e reconhecida pela felicidade que me é dado viver.

As crianças, crescendo num ambiente de afecto, demonstram-no também espontaneamente. O ex-bebé sempre achou muita graça ao bebé e vendo toda a gente com o bebé ao colo, sempre teve esta coisa de querer, também ele, pegar no bebé. 

O bebé já anda, corre e trepa por todo o lado mas, para todos, ainda é o bebé. E assim o vê também o primo, o ex-bebé. 

Fomos dar com eles assim, como os vêem aqui ao lado. Não sei como fez ele para pôr o primo ao colo, mas lá que foi assim que os vimos, lá isso foi.

E o engraçado é que o bebé - que não pára sossegado em lado nenhum - ali estava muito quieto, como se estivessem na conversa um com o outro. 

Desde a véspera de Natal à noite que andámos de festa em festa. No dia de Natal, de tarde, ainda cheios até ao pescoço com a comida do almoço (já não atino com as quantidades: desta vez saíu-me demais - o que também não é grave, já que deu para levarem várias doses), fomos a casa dos meus pais. Mais comes e bebes (também um exagero: a minha mãe, mais que avisada que iríamos chegar sem fome e, portanto, para não preparar um banquete, esticou-se outra vez; e lá tiveram os meus filhos que levar mais um farnel), e, claro, mais presentes (e toda a gente, eu incluída, armada em Frei Tomás, a dizer que é um disparate este consumismo).

No entanto, quando lá vão, as crianças mal entram numa das salas, querem sempre que a minha mãe abra uma escrivaninha e tire lápis e canetas, papel, plasticinas. Assim foi hoje. A minha menina mais linda - aqui já com uma sobreposição de peças de vestuário que foi recebendo ao longo do dia (incluindo com umas botas da Hello Kitty - coisa que o pai, antes, achava o cúmulo da pirosice mas que agora, que remédio, já começa a tolerar) - e o irmão, o bebé, e o primo terrorista, o ex-bebé, resolveram pôr-se a amassar a plasticina dizendo que estavam a fazer pão. Pareciam que iam fazer uns bolinhos mas, num ápice, fizeram este lindo serviço que aqui vêem ao lado: o pão ficou agarrado à mesa... Isto com crianças é assim: parece que estão muito entretidos e, num abrir e fechar de olhos, pregam uma partida qualquer.

Estamos a olhar para um e, num instante de distracção, já outro fez outra coisa qualquer.
Mas, enfim, nada de mais. Todas as crianças são assim. Estes a particularidade que têm - se é que se pode chamar particularidade a isto - é que são quatro e, ainda por cima, de idades muito próximas.

Mas brincam uns com os outros que dá gosto vê-los - excepto quando lhes dá para quererem a mesma coisa. Parece que todas as vezes que estão juntos tem que haver um momento de disputa. Felizmente é sol de pouca dura e, depois de uma pequena tempestade, a coisa vai ao sítio e regressa a bonança.

O mais crescidinho é um querido, compreensivo, com um vocabulário espantoso e um poder argumentativo que nos deixa espantados. E tem uma paciência infinita com os mais novos. Aqui ao lado, como poderão ver, enquanto tentam montar a casa do Mickey, o ex-bebé também está com umas galochas que o levaram a fazer toda a espécie de extravagâncias, como se tivesse ficado com super-poderes por causa das suas super-botas. Fazia voz grossa, dava saltos, uma coisa surreal que deixou o irmão e a prima estupefactos. O bebé não ligou. 

Desde que nasceu que o bebé vive no meio desta confusão e, portanto, tudo para ele é normal. Uns gritam, outros choram, outros riem, outros bulham: tudo para ele é tinto, está sempre na maior. Cai, levanta-se, leva encontrões, desvia-se, tropeça, levanta-se: raramente chora. Às vezes fica meio abananado ou dorido mas é coisa que dura uns segundos. Tem a testa cheia de galos, até faz impressão, mas não se torce nem se amolga. Sempre em pé, a rir, a brincar. Já diz imensas coisas e o que não sabe dizer não se atrapalha, inventa palavras e sons como se estivesse a falar, coisa que os outros também acham normal.

De resto, tive presentes de que gostei muito. Recebi o tachalhão que tinha pedido ao Pai Natal. Para coisas volumosas já não tenho que fazer a ginástica que, antes, me atrapalhava. Por exemplo, para o bacalhau do almoço, para além das batatas, das cenouras, do feijão verde, do grão e dos ovos tinha duas couves portuguesas gigantes. Desta vez, as couvonas couberam dentro deste tachão. O bacalhau foi feito noutro tacho. As batatas e restantes legumes num outro e os ovos num outro. Depois fiz quatro franguinhos no forno acompanhados com legumes estufados no molho que pingou dos ditos franguinhos (abóbora, cenoura, batata doce, cebola, courgette, cebola, tomate, coentros). A minha filha trouxe leite-creme com merengues (feito por ela) e a minha nora trouxe tarte de natas, ou seja, com recheio de pastel de nata (também feita por ela). E eu tinha bolinhos, uns  recheados com maçã, outros com noz. E antes tinha havido, de entrada, salmão, queijo, espargos.

O tinto foi Quinta de la Rosa: bom.

Mas eu estava a falar era de presentes. Portanto, tive o tacho, tive um mini-cabaz de Natal, tive uma blusa térmica para usar em casa e não precisar de usar casacos (como só chegamos a casa à noite, a casa está fria e leva tempo a aquecer), tive umas calças cinzentas, macias, tive o Nº 5 da Chanel, tive desenhos e postalinhos de Natal e fotografias dos meninos na escola, tive um fiozinho com um coraçãozinho com brilhantes, e tive bombons e tive mais umas coisas bonitas que, há bocado, antes de arrumar, fotografei.

Um colar largo, um colar com um pregador a fazer conjunto, um cachecol de lã muito macia em encarnado, preto e dourado, uma bolsa para trazer na carteira, uma caixa vintage de produtos faciais Vichy, um livro sobre Lisboa, 'A Invenção de Lisboa - as vésperas' e um jogo de pistas e enigmas, 'Perdidos por Lisboa', que mais não é do que um conjunto de roteiros pedestres para se fazerem caminhadas temáticas: Lisboa maçónica, Lisboa gráfica, Cidade de Espiões, Enamorados por Lisboa, Lisboa botânica, Os bairros árabes, etc. Traz uma bússola, não vá a gente não atinar com as pistas e perder-se. É da Lisbon Walker, caso queiram saber.

E tive mais uma fadinha, linda, colorida. A minha filha disse que era uma fadinha a la Noronha da Costa.

A ideia era que eu a pendurasse no tecto, aqui por cima de mim, junto à bailarina, à outra fadinha e à mulher voadora. Mas esta, porque é toda de algodão, acho que seria difícil limpá-la e, portanto, já a coloquei dentro de uma estante que tem portas de vidro, para ficar mais resguardada. É tão gira.

***

Bom, isto já vai para além de longo, um disparate.

É tardíssimo e vocês, os que tiverem chegado até aqui, já devem estar exauridos, coitados. Peço desculpa pelo exagero. Como costume, vai assim para o ar, sem eu o conseguir rever, estou cheia de sono (e temo bem que vocês, depois de lerem isto, também já não façam outra coisa senão bocejar).


*

PS: Tentei seguir o conselho da Margarida-Maggie que, num comentário no post da véspera de Natal, desejou que eu me portasse de forma mais mansa. Espero ter conseguido.

*

Abaixo poderão ver o Natal segundo Banksy, coisa sempre boa de ver.

***

E, assim sendo, por aqui me fico.

Tenham, meus Caros Leitores, uma boa quinta feira.
E, se estiverem como eu, vamos mas é entrar em dieta até à passagem de ano...

13 comentários:

  1. não percebo nada mas entra no ouvido - https://www.youtube.com/watch?v=hlb1zry_KaI

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  2. Uma pequena curiosidade, quando se registou o Google, houve um engano, porque era para ser Googol, depois deixaram ficar assim - https://www.youtube.com/watch?v=0lFQOmb6mVs&list=PLB6CC5E523F9AF076&index=22

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  3. "Entre outras coisas diz que um amigo lhe diz: tu transformas todas as energias positivas em força."

    Dá para perceber que o amigo deve ser da capitau, porque se fosse ao Bolhão no Porto via que isso é o pão nosso de cada dia.Dou um exemplo.

    vá comprar peixe, e caia na asneira de cheira-lo, e vai ouvir tipo (Ohhhhh, menina(o), o peixe cagou-se)

    ora digam-se lá se isto num é energia positiva-)))

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  4. tinto esteva , qualidade/preço

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  5. Bom dia!
    Gostei deste relato.
    Sei quem é a Cristina Ferreira e lembro-me que quando começou era bem tolinha. Agora já não vejo televisão há uns anos, não sei nada dela, mas o que surpreende é que actualmente os´"heróis" são pessoas que se fizeram à custa da imagem na televisão e não do seu valor (podem vir dos programas de diversão, dos concursos ou dos big-brothers...)são os novos heróis. É uma tristeza. Talvez por isso, temos o país que temos.E não digo que alguns não tenham valor, cultura, trabalho, obra feita... (não sei se é o caso desta Cristina Ferreira), mas a maioria deixa muito a desejar...

    Gostei dos seus presentes fashion!

    Um beijinho e continuação de boas festas!

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  6. https://www.youtube.com/watch?v=mS9CklTJ6rc&feature=youtube_gdata

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  7. muito esclarecedor - https://www.youtube.com/watch?v=mk6vgZGdar8#t=16

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  8. Estimada UJM, apenas um detalhe sem importância de maior. O Manuel Clemente (ainda) não é Cardeal.

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  9. Tambem vi uma parte dessa entrevista. Estava toda ela muito bem ensaiada. E só pensei será a Judite Sousa capaz deste "lambe botas"? Assim se fazem as vedetas.

    Com o seu amor aos livros não se surpreenda quando um destes dias se deparar com uma montra cheia deles, com o titulo Deliciosa Cristina.Creio que se trata de um livro de culinaria.

    Parabens pela festa do seu bonito Natal. Isso sim é importante.

    Um beijinho e continuação de Festas Felizes.

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  10. Domingos,

    Sem tempo para responder a todos os comentários, venho aqui de propósito só para lhe agradecer e para lhe dizer que lá fui trocar o Cardeal por Bispo. Ignorância minha, está a ver? e espero agora ter acertado porque abaixo de Cardeal é Bispo, acho eu. Devia ir confirmar mas estou com tanto sono que arrisco.

    Obrigada!

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  11. Não vi a entrevista, pouco sei do que se passa nas TVs, visto ver muito pouco (um ou outro comentário, debate, e pouco mais), mas daquilo que consigo ver, a ideia que tenho é que a tal Cristina é uma bimba e uma pateta até dizer chega. Quanto à Judite, não há pachorra (então quando se junta com esse macambúzio reaccionário do Medina é de fugir!). Aquilo é um circuito que não vale a pena perder tempo, entrevistam-se para se divulgar, se publicitarem ambas, etc. Nada têm para nos dizer que verdadeiramente interesse de substancial. O costume.
    Quanto ao Natal, lá se passou, como sempre, mais coisa menos coisa, com o discurso do Passos a estragar o período. As (nossas) famílias vão crescendo, outras prioridades se impõe, como filhos e sobrinhos, etc com filhos e novas famílias e, num processo natural, vão-se separando do antigo encontro entre todos, para se juntarem ás novas famílias que foram constituindo e de quem se passaram a agregar. Natural. A vida é e sempre foi assim e assim continuará.
    Por fim, permita-me uma sujestão: mantenha o seu estilo. Não vá em “mansidões”. Quanto mais vozes lúcidas, como a sua, abrandarem nas críticas a estes facínoras, mais eles agradecem. Mais se convencerão que venceram, que tinham razão, que tudo está bem, que o povo tudo aceita, mais ímpeto terão para atacar os mais fracos e continuarem a poupar os mais ricos, mais impiedosos continuarão a ser. Não mude o seu estilo, culto, educado, divertido – mas duro para quem não merece consideração, como esta corja que nos desgoverna. Um Jeito Manso é um blogue de grande qualidade, com uma escrita excelente, um humor muito particular, mas também acutilante e impiedoso nas críticas que faz a...quem nos defaz (as vidas).
    Cordialidade e continuação de Boas festas,
    P.Rufino



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  12. A TODOS,

    Muito obrigada a todos. Bem hajam. Saibam que agradeço do fundo do coração a vossa presença aí desse lado e as palavras que me aqui me deixam.

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