No post abaixo falo sobre as diferenças entre homens e mulheres face a situações difíceis ou arriscadas. Vou já adiantando: as mulheres são tendencialmente destemidas. Quanto aos homens... (é melhor descerem até lá para saberem o que acho)
Agora, aqui, falo de uma coisa que não tem nada a ver com isso: vermo-nos ao espelho não por narcisismo nem por vontade própria mas porque a isso não podemos fugir.
Vénus ao espelho - Diego Velázquez (1599-1660) |
Começou por vir a moda da gestão por objectivos e a respectiva avaliação. Pretendia analisar-se se os objectivos traçados a nível de gestão eram atingidos e, se o não estivessem a ser, queria saber-se o que se deveria corrigir ou, então, perceber se os objectivos ainda faziam sentido. Daí passou-se para a avaliação de desempenho das pessoas. Tenho que confessar que, embora ache que a gestão deve ser muito articulada e seguir uma estratégia, sou um bocado avessa a traçar, de forma burocrática, objectivos individuais e sinto-me sempre a fazer um jogo onde não encaixo bem, quer quando sou avaliada quer quando sou avaliadora. Faço a coisa um bocado a despachar e, felizmente, quem me avalia segue o mesmo são preceito.
Mas nisto a coisa está sempre em evolução e, infelizmente, nem sempre no bom sentido.
Da avaliação de desempenho por parte das chefias, passou-se para a avaliação a 360º. Uma pessoa é avaliada pelos superiores hierárquicos, pelos colegas e pelos subordinados. Acho isto não apenas um pincel como um risco.
Um colega meu, este ano, recebeu uma avaliação miserável, uma coisa que o posicionou abaixo de cão, e toda a gente acha que aquilo foi vingança de alguém que não gosta dele nem com molho de tomate.
As avaliações são anónimas por forma a garantir que toda a gente se exprime em total liberdade. As vertentes de avaliação por parte das chefias e dos chefiados é obrigatória. A avaliação lateral é facultativa embora tenha que haver pelo menos três colegas que o façam.
Eu nunca avalio colegas e apenas avalio subordinados e a pessoa de quem dependo por obrigação. Não avalio os meus colegas para que, caso surjam actos de traição, toda a gente saiba que não fui eu. Apresentei desde o início uma espécie de objecção de consciência.
Depois recebemos um relatório com o que os outros pensam de nós. Olhamo-nos a nós próprios pelos olhos dos outros. Tenho a sorte de, até aqui, ter recebido avaliações razoáveis mas tenho que confessar que é sempre com algum desconforto que recebo o dossier. Imagino o que aquele meu colega sentiu quando se viu avaliado pelos colegas como uma nódoa.
Há também uma outra moda. De vez em quando, para verem a nossa adequabilidade às funções, ou no âmbito de planos de sucessão ou de reestruturação, somos submetidos a assessments (avaliações psicológicas, testes de personalidade, coisas assim). Aparecem uns psicólogos que nos entrevistam e que nos fazem responder a vastos questionários. Depois de tudo aquilo processado recebemos a informação sobre nós próprios. Geralmente há uma reunião individual e ali informam-nos sobre o que somos. A nossa descrição pura e dura. Você é assim, assado e cozido. A nossa imagem em palavras.
Mesmo que a gente não se queira ver ao espelho, não há volta a dar. Vermo-nos descritos, ali, não é um exercício de narcisismo: é uma coisa a que somos submetidos - e paciência, há que encarar com estoicismo. Dali podem surgir consequências para a vida profissional das pessoas pelo que nunca ninguém é leviano a ponto de levar isto na desportiva. Ouço sempre coisas muito curiosas nas quais, em regra, me revejo mas tenho, às vezes, algumas surpresas e para as quais solicito explicação.
Mesmo que a gente não se queira ver ao espelho, não há volta a dar. Vermo-nos descritos, ali, não é um exercício de narcisismo: é uma coisa a que somos submetidos - e paciência, há que encarar com estoicismo. Dali podem surgir consequências para a vida profissional das pessoas pelo que nunca ninguém é leviano a ponto de levar isto na desportiva. Ouço sempre coisas muito curiosas nas quais, em regra, me revejo mas tenho, às vezes, algumas surpresas e para as quais solicito explicação.
Quem não está habituado a estas andanças, pode pensar que uma pessoa ver-se descrita é aquilo de que toda a gente gostaria, uma coisa narcísica, abrir um livro e ver um personagem inspirado em si. Mas para quem está habituado a ver-se olhado a 360º e ver descrito, por escrito e verbalmente, cara a cara, como é a sua personalidade e a sua atitude perante a vida e os outros, isto é apenas um episódio inevitável e que, tomáramos nós, não tenha consequências negativas na nossa vida.
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O vídeo lá em cima mostra Alela Diane interpretando Hazel Street.
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Permito-me ainda convidar-vos a visitarem o meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras por lá não me saíram especialmente animadas mas, enfim, tenho dias. O poema é de Maria Andresen e a música que se lhe segue é de Waldemar Bastos.
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Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma semana muito boa, a começar já por esta segunda feira.
por falar em avaliações, avaliam este gajo (pensava que era impossível imitar a voz do Freddie Mercury) - https://www.youtube.com/watch?v=dREKkAk628I#t=80
ResponderEliminarEste quadro de Velazquez que aqui nos mostra foi o único nu pintado em Espanha até Goya. Curioso! Itália já estava muito mais desinibida à época, apesar da influência Papal ali tão perto.
ResponderEliminarQuanto á avaliações, essa dos 360º é incrível. As avaliações, em circunstância alguma, deveriam ser anónimas. Quem avalia deve dar a cara e ser responsável pelo que decide. Começamos a caminhar para uma Sociedade, a todos os níveis, bastante perigosa.
Mas, é aquela que a maioria parece aceitar, sem se preocupar com as consequências.
P.Rufino