terça-feira, novembro 05, 2013

A actriz brasileira Maria Zilda casou-se com a arquitecta e cenógrafa Ana Kalil. Há pouco tempo tinha sido a Daniela Mercury a casar-se com Malu Verçosa. Em ambos os casos, depois de terem tido casamentos heterossexuais completamente normais. E eu pergunto: mas o que é isto, minha gente? Os homens brasileiros não estão a cumprir? Ou não tem nada a ver? ... Alguém me explica, se faz favor?


No post abaixo mostro dois vídeos emocionantes. Poderia dizer-se, caso se vá pela linha redutora, que são dois exemplos de minorias mas eu prefiro dizer que são dois momentos particularmente tocantes.

Mas isso é a seguir. Aqui, a conversa é outra. No entanto, este, caso concordem, começa também com música.

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Grito de Alerta



(Queria ter aqui colocado o 'Começar de novo' da Simone
mas está interdita para publicação dentro dos blogues
pelo que tive que optar por outra. Calhou esta)

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Até me assustei. Não é por nada, é mesmo só surpresa. Dupla surpresa. Surpresa porque não podia imaginar tal coisa. Surpresa porque qualquer dia começo a acreditar que o número de homossexuais é bem maior do que supunha.

Já quando foi da Daniela Mercury com Malu Verçosa fiquei perplexa. Parecia-me uma alegre namoradeira, feliz da vida, sedutora e bem disposta. Lembro-me que ela dizia que no Carnaval no Rio tantos são os beijos que se dão que às tantas nem se sabe de quem é a língua que se tem na boca. E ria-se, malandreca. Mas, tudo isto, pensava eu, em relação ao sexo oposto. Afinal foi o que se viu.


A gente está muito habituada a estereótipos. O meu filho tinha, na escola primária ou na secundária já nem me lembro, uma colega que era uma rapazona. Rapazona de modos, de aspecto, de maneira de se arranjar e de ser. Quando já era mais crescida e a coisa era por demais evidente, comentei isso com o meu filho. Arreliou-se todo comigo, que eu era preconceituosa e mais não sei o quê, que lá por ela andar vestida mais à vontade já eu estava com parvoíces. Pois. Por essa altura a rapariga fazia parte do grupo dele, rapazolas que gostavam de futebol. Lembro-me que ela rapou o cabelo à escovinha e que ia para o futebol com eles, cachecol e penso que pinturas na cara (deve ter sido por altura de algum campeonato que metia selecção). Nada de mais mas, de facto, ela era tão rapaz quanto os outros. Mais tarde, ou na universidade ou depois de se ter formado, não sei, assumiu-se como homossexual, arranjou namorada e acho que até se casou. De aspecto é um autêntico homem.

Uma outra amiga da minha filha fez o mesmo mas nessa a coisa não era tão evidente, nem de perto. Apenas não se arranjava nem ligava para as coisas de moda das outras. A minha e as outras sabiam de tudo o que era moda, arrebicavam-se todas, brinquinhos, blusinhas, sempre todas cheias de triquitriqui e ela andava simplesmente de jeans, tshirts largas, cabelos escorridos. Alinhava com as outras em tudo mas era muito sóbria. Mais tarde assumiu-se e casou com a namorada.

A minha filha tinha também um colega, rapaz, que era uma autêntica estrelinha, sempre num excitex, sempre com birras, sempre com nervosinhos, e todo muito coisinho, muito estrilicadinho. Eu sempre achei que era um mariquinhas pé de salsa e a minha filha dizia que achava que não mas, de facto, assumiu-o mais tarde: é. Penso até que é figura destacada do jornalismo cultural. Ou é esse ou outro que também foi colega deles. Ou são os dois, não sei. Ainda no outro dia, ela me falava dum, eu pensava que era o outro e ela corrigiu ‘Já expliquei que não é esse; esse também é, mas não é desse que estou a falar’.

Começo a pensar que, se calhar, nos casos em que exteriormente é muito visível, há aquilo do sexo indefinido ou de uma pessoa nascer com o sexo errado. Isto nos homens e nas mulheres.

Mas, se calhar, a homossexualidade comum, aquela que do exterior nem se dá por ela, não é uma pessoa nascer com um sexo que não corresponde à sua orientação, mas haver simplesmente uma outra orientação.

Conheço uma mulher que é homossexual (se calhar conheço mais, só que isso já não sei) mas que não é assumida publicamente. Mas tem um aspecto feminino, cuidado, e, antes da relação homossexual que me surpreendeu, teve mais do que uma relação heterossexual. Esta nitidamente está bem com o seu corpo de mulher.

Agora, ao dar um giro pela internet, nem queria acreditar. A Maria Zilda?




Esse símbolo sexual feminino? Aquela voz rouca e sensual? Aquela malícia toda?

Estive e ver se encontrava mais alguma notícia, não fosse isto ser trote (como dizem os brasileiros) mas vi a confirmação por todo o lado. Já casada anteriormente (com um homem), com filhos e uma neta, eis que, aos 62 anos e depois de uma relação de 5 anos, Maria Zilda resolve casar com Ana Kalil, uma arquitecta. E, ao ler isto, eu fico a olhar de boca aberta para as fotografias da sexy-Maria Zilda. Alguma coisa no seu aspecto ou no seu comportamento faria prever isto? Acho que não mas lá está, se calhar o aspecto e o comportamento não tem nada a ver.


Já uma vez um amigo meu, ao relatar-me que uma figura pública muito conhecida, quase diria um galã, é homossexual consumado e não podendo eu acreditar em tal, e referindo eu que macho mais macho não podia haver, me explicou que uma coisa são as bichas, os seja os gays espaventosos, histéricozinhos, e outra são as pessoas normalíssimas que apenas têm orientação sexual diferente. Tendo ele alguns amigos homossexuais, acho que sabia do que estava a falar.

Mas pronto. A Maria Zilda é homossexual e casou com outra mulher. Tudo bem. 


Que sejam muito felizes, claro. Louvo a sua coragem.

[Há vários livros que versam o amor no feminino. Um dos primeiros que li (depois da Bastarda da Violette leduc) e de que gostei bastante foi ‘Outras mulheres’ de Lisa Alther. Não que a temática fosse especificamente essa mas o facto de a personagem principal ser homossexual tornava o livro ainda mais interessante.]

Mas, voltando à Maria Zilda e à Daniela Mercury. Já foram casadas com pessoas do sexo oposto e na meia idade assumem relações homossexuais - e isto deixa-me surpreendida. Será que já antes se sentiam atraídas por pessoas do mesmo sexo ou é tarde e más horas que mudam de gostos? Intriga-me isto. Ainda há bocado estava a formular esta mesma questão ao meu marido. Como de costume não me respondeu. Se calhar também não sabe. Apenas me respondeu com uma pergunta: 'Mas porquê? Estás com medo?', e fez aquele seu ar indecente de quem talvez até achasse uma certa graça.

Seja como for: como se vê, não é preciso as mulheres terem ar de sapatonas para serem lésbicas. Mas tanto faz. Lésbicas ou não lésbicas, femininas ou nem por isso, são pessoas normais, normalíssimas, e qualquer discriminação é absurda. Que todas as pessoas consigam viver em liberdade e exprimindo naturalmente as suas tendências e os seus afectos é o que importa. O resto é conversa.

E vivam as noivas!

*

Recordo que no post a seguir há duas fabulosas interpretações. Se puderem, não deixem de ver pois são emocionantes. Eu, pelo menos, acho.

Permito-me ainda convidar-vos a visitarem o meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje um poema de Armando Silva Carvalho leva-me por esta Europa que só nos anda a dar desgostos. Para aquecer a nossa alma, tenho por lá a Mayra Andrade (a quem estou, neste momento, a ver no 5 para a Meia-Noite).

*

E, por hoje, nada mais. tenham, meus Caros Leitores, uma terça feira muito boa. 
Não deixem de ser felizes à vossa maneira, está bem?

4 comentários:

  1. http://www.oprah.com/media.html?content_id=20110222-tows-meredith-baxter-nancy-video.xml&type=media&topic=oprahshow

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  2. Olá Margarida!

    Também ela? Não é estranho? É que, quando a gente olha e vê logo que aquilo ali não é lá muito straight, a coisa percebe-se. Agora quando é tudo normalinho da silva, os homens com ar masculino, as mulheres com ar feminino, e casamentos normais, e tudo normal, como se explica este twist de gostos?

    Incompetência do sexo oposto? Uma mudança que acontece (do género: ah, agora vou passar a ser vegetariana)? What?!?!

    Não percebo...

    PS: Um abraço, Margarida!

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  3. Tambem não percebo,Cara Jeitinho.

    Durante muitos anos,lidei de perto com homosexuais cujas qualidades me faziam admirá-los e respeitá-los.

    Eram pessoas muito cultas, educadas, com sentido de humor que tornavam os convivios muito agradaveis.

    Só me apercebi de que eram diferentes dos outros homens por volta dos meus 15/17 anos. A sua maneira de ser nunca denunciava as suas opções sexuais. Eram discretos.

    Mais tarde, já empregada, conheci uma mulher incrivel, tambem com um nivel cultural muito acima do habitual, que me fascinava. Primava pelas toiletes muito classicas de muito boa qualidade. Era uma profissional de primeira, secretária de direcção mas atenta aos mais novos. Anos mais tarde depois de algum tempo de colaboração, quando lhe contei que me casaria depois do verão, confidenciou-me que uma traição de amor a tinha marcado para toda a vida. Tinha uma "amizade" com uma medica reumatologista, mas nunca se viu nada de anormal.

    Hoje os homosexuais fazem gala em exibir a sua diferença, alguns nem idade têm para saberem o que são, apenas querem ser diferentes. Outras, como as artistas creio que recorrem a estas atitudes para se manterem na fama. Sendo já avós tinham idade para ter recato e juizo.

    São os tempos de hoje que me recuso aceitar.

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  4. :)
    Não sei. Não sei nada. E a Portia, mulher da Ellen, tão feminina, tão "normal"? :)
    Cheguei à melhor conclusão: não sei e está tudo bem. Que sejam felizes, isso é que importa. E pelos vistos, são-o. Bem mais do que muitos 'straight'. Ou de igual modo, que sei eu...
    Importante é não magoarmos ninguém pelas suas diferenças, das quais não são responsáveis. Dessas, então, é que é maldade usarmos para pelejar.
    A vida é tão difícil, que sejam livres, caramba!

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