Tinha deixado a máquina fotográfica a carregar durante a noite mas, para minha arrelia, hoje de manhã a bateria estava a meia haste. Uma pessoa passear sozinha é coisa que não deve ter ponta de graça mas eu, que tenho a sorte de ter companhia nas minhas andanças, quando não tenho forma de fotografar fico em estado de carência, quase como imagino que fique uma pessoa a ter belas coisas para ver e não ter com quem as partilhar.
Claro que tentei dosear mas se tirei umas 20 fotografias com a máquina foi muito. Cheguei a Serralves e ela tinha-se ido. Nada a fazer. Fui tirando fotografais com o telemóvel mas está muito longe de ser a mesma coisa. Além disso, naba como sou, ainda não aprendi a passar fotografias do telemóvel para o computador. Deve ser com um cabinho mas nem faço ideia onde esteja isso. E mesmo que ainda exista, deve estar em casa e não aqui comigo in Oporto City.
O dia amanheceu cedo e, depois de um belo pequeno-almoço, ala que se faz tarde.
Durante anos o Porto fazia parte das expedições familiares anuais. Contudo, ultimamente as expedições têm sido meramente profissionais o que, em termos turísticos, é zero. Tantas vezes que venho ao Porto mas é um toca e foge que mete nervos.
Por exemplo, por incrível que possa parecer, eu que tanto gosto de jardins e parques, ainda nem conhecia o Parque da Cidade. Toda a gente me dizia que se trata de uma obra ímpar mas, sei lá como, nunca lá tinha conseguido ir. Fiquei encantada. Enorme, harmonioso, acolhedor. Fez-me lembrar o Parque da Paz em Almada e, fui agora confirmar, de facto é da autoria do mesmo arquitecto: Sidónio Pardal. os mesmos muros e muretes, arcadas e fontes em blocos de granito, as quedas e os planos de água. Mas onde o Parque da Paz tem elevações, grandes desníveis, este é quase plano e estende-se até ao mar. E o de Almada ainda tem muitas árvores jovens enquanto este tem árvores feitas.
De certa forma, até me fez lembrar o Parque do Retiro em Madrid. Para minha admiração (tinha ideia que o pessoal do Porto não era tanto de vida ao ar livre), vê-se muita mas mesmo muita gente: imensa gente a fazer jogging, gente a caminhar, outros a andarem de bicicleta, imensas crianças, pessoas a passearem com os cães. Claro que no parque de Madrid há, por todo o lado, gente a cantar, gente a fazer malabarismos, gente a fazer teatro de marionetas e sei lá que mais - mas, enfim, os espanhóis são espanhóis, são aquela animação que se sabe, enquanto os portugueses preferem carpir ou pôr-se armados em virgens a censurar os outros (e a gente do Porto, embora talvez diferente dos demais, não deve fugir muito à regra).
Seja como for, este Parque da Cidade é notável. Belas árvores, belos percursos, recantos, bom ar, sossego e, apesar disso, um espaço habitado, cheio de vida.
Fomos, portanto, até ao mar. O passeio junto ao mar cheio, cheio, gente a fazer desporto, gente a confraternizar, gente a desfrutar este belo espaço. E uma coisa que também dá gosto ver: também aqui, à semelhança do que vi na Ribeira, as esplanadas todas 'à pinha'. Aliás isto tem sido uma constante e há nisto uma diferença substancial em relação a Lisboa. Aqui, por todo o lado vejo esplanadas, cafés, pastelarias, o que for, tudo cheio. Imensa gente sentada em mesas, a lanchar, e há lojas e lojas de bolos. E é cada bolo... Enormes! E bons. No sábado, numa esplanada cheia de sol, comi uma queijada sem queijo que era uma delícia (e, em tamanho, o dobro do que se comeria em Lisboa).
O passeio junto ao mar é uma maravilha. Trazer as cidades para junto do mar, tornar as cidades aprazíves, dar aos cidadãos a possibilidade de poderem estar na natureza em segurança e com qualidade é uma das virtudes de quem governa uma cidade a pensar na sua população. Aqui vi uma jovem que parecia uma gaivota, ensaiando um voo sobre as rochas, sobre as ondas. Não sei se conseguiu levantar voo mas, se o não conseguiu este domingo, consegui-lo-á um dia. Se tem alma de gaivota, voará.
E há um caminho que sai do passeio e vai mesmo rente ao mar. Que belas caminhadas, que belas lavagens cerebrais e emocionais aqui se podem fazer. Se os meus dias livres não fossem tão escassos, por aqui me quedaria, entre a sombra macias das árvores e a braveza destas águas.
Depois viemos andando pela Av. da Boavista que tem com cada casa que dá gosto, benza-as deus. Que casarões, uns tradicionais, outros modernos, outros condomínios, uma coisa...!
No Campo Alegre também há moradias, casas apalaçadas, que mostram bem o lado abastado do Porto.
No entanto, há contrastes assinaláveis. Há muitos pobres. Há locais em que se vê gente nos caixotes de lixo ou a dormir no chão ou gente com ar de quem não tem muito para viver.
E vi uma coisa que não é frequente: muitas pensões com mulheres à porta, uma prostituição às claras. Estranhei. O meu marido diz-me que, se calhar, se passar pelo Intendente, vejo a mesma coisa. Não sei, não costumo lá passar. Aqui, é o dia todo. E ali para os lados do Bolhão até ouvimos um sujeito mal encarado a discutir o preço, que 20 euros era demais para o serviço. A sério.
Bom, retomo o passeio.
Depois viemos andando pela Av. da Boavista que tem com cada casa que dá gosto, benza-as deus. Que casarões, uns tradicionais, outros modernos, outros condomínios, uma coisa...!
No Campo Alegre também há moradias, casas apalaçadas, que mostram bem o lado abastado do Porto.
No entanto, há contrastes assinaláveis. Há muitos pobres. Há locais em que se vê gente nos caixotes de lixo ou a dormir no chão ou gente com ar de quem não tem muito para viver.
E vi uma coisa que não é frequente: muitas pensões com mulheres à porta, uma prostituição às claras. Estranhei. O meu marido diz-me que, se calhar, se passar pelo Intendente, vejo a mesma coisa. Não sei, não costumo lá passar. Aqui, é o dia todo. E ali para os lados do Bolhão até ouvimos um sujeito mal encarado a discutir o preço, que 20 euros era demais para o serviço. A sério.
Bom, retomo o passeio.
A partir daqui não tenho fotografias pelo que terei que ser meramente descritiva.
Era hora de almoçar pelo que, ficando em caminho, ali na Boavista, fomos ao BB Gourmet. Muito bom. Entradinhas frias e quentinhas, depois um prato quente (bacalhau à bráz feito com todos os matadores), depois umas saborosas sobremesas. Tudo excelente.
Dali seguimos para uma espreitadela à Casa da Música, aquele fantástico edifício, Uma vez mais me surpreendi: dezenas de miúdos fazendo skate nas rampas e contra-rampas que circundam o edifício. Nada pode ser mais agradável do que perceber como um edifício assim foi adoptado pelos jovens da comunidade em que se insere.
Depois fomos, é claro, para Serralves. Serralves é para mim um must. As exposições são frequentemente uma coisa muito estranha mas é, sobretudo, pelos jardins que sou atraída.
Pois bem, uma vez mais, não apenas o museu estava cheio como o parque estava também agradavelmente habitado. Turistas, sim. Mas uma cidade vive mais, embeleza-se, quando há uma miscigenação, quando os seus habitantes se misturam com nórdicos, com japoneses, com o que calhar. Não é bom ouvir o sotaque cerrado do puorto, carág, e, logo a seguir, uma romântica voz italiana, uma sedutora voz francesa, ou ver a elegância de uma jovem japonesa como aquela que ontem fotografei? Eu acho que só faz bem às cidades, torna-as menos ensimesmadas, abre-as à diversidade.
A seguir fomos visitar o Jardim Botânico e ver (mas apenas na entrada e por fora) a Casa Andresen, a casa da família de Sophia e de Ruben A. Já estava escuro, esta porcaria da hora de inverno dá nisto. Antes das seis da tarde e já é quase de noite.
Compras? Não deu para nada. O tempo é curto.
Mas consumista que é consumista não deixa de consumir mesmo quando o tempo é escasso.
Mas consumista que é consumista não deixa de consumir mesmo quando o tempo é escasso.
Então foi assim: na loja de Serralves comprei três livros, um sobre os muitos retratos de Fernando Pessoa (retratos que os vários pintores têm feito de Pessoa), outro sobre Paula Rego (várias pessoas escrevem sobre a sua obra) e um sobre a amizade entre Fenosa e Picasso.
E no sábado, em Gaia, comprei um Santo António, artesanato, uma peça bonita. Se não fosse tão tarde ia fotografá-lo para o mostrar aqui. Mas estou mais para lá do que para cá, um sono... Logo faço isso.
Depois, à noite, porque ainda não estávamos com fome para uma jantarada, andámos à procura de uma coisa ligeira e demos com uma coisa muito simpática, o Lado B, mesmo em frente do Coliseu. Mandámos vir um prego no pão à Lado B, um hamburger com abacaxi grelhado, uma salada mista e, para sobremesa, o melhor bolo de chocolate do mundo e um crumble de maçã com uma bola de gelado. Supostamente deveria estar fechado ao domingo mas a verdade é que estava aberto e repleto. E o meu marido ainda viu um bocado do futebol embora talvez preferisse não ter visto. O Sporting só lhe dá desgostos.
Já agora: no sábado à noite matei as minhas saudades do Abadia. Tão bom. A qualidade de sempre. Já lá vou faz séculos mas há algum tempo que não ia. Das últimas vezes que tenho jantado no Porto tem sido em serviço e, nessas alturas, costumamos ir a lugares onde se bebe do fino. Mas, para mim, esses lugares não têm a mística da Abadia. Pois bem; se era para matar saudades, fizemos de forma a que ficassem bem mortas: Tripas à Abadia e Duo de Bacalhau e Polvo no forno com batatinhas e couve. De sobremesa, tarte escondida de maçã e abacaxi. Tinto para acompanhar, claro.
Amanhã de manhã ainda quero fazer parte do programa que estava destinado para hoje e que não pôde ser cumprido por causa do dia ter encolhido e, a seguir, rumamos um pouco mais a norte.
Foi apenas um fim de semana mas tão recheado que parece que estou de férias há uma porção de tempo. E agora só são mais dois diazitos mas quero lá eu saber: é o que se pode ter e é mais que bom.
Como sempre vim carregada de livros. De cada vez que faço a mala para ir a qualquer lado, não consigo evitar um prenúncio de desaguisado conjugal, Preparo-me sempre para vir com uma carrada deles, para um just in case, e o meu marido força-me a abdicar de alguns, não está para ter a mala tão carregada. Como é bom de ver ainda apenas comecei com a introdução de um deles. Li o Expresso e, mesmo assim, não foi fácil. A ver se amanhã me consigo dedicar a isso, pelo menos enquanto estiver no carro.
E pronto, por aqui me fico. Escrever neste petit notebook e com internet móvel é um suplício, uma pasmaceira, nem sei como não adormeço à espera que isto se mexa.
Para o caso desta minha soneira ter transparecido e vocês estarem também quase a dormir, aqui vos deixo 'O Porto aqui tão perto' do Sérgio Godinho.
Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira.
Be happy.
Olá. Através do "Fio de Prumo" tomei contacto com este título "Um jeito manso". Lido o comentário, despertou a curiosidade para saber o que era um jeito manso. Aqui estou. Tb. gosto do Porto onde tenho fortes amizades.Serralves é um encanto e asua reportagem uma delicia. Ah! eu tb. ando sempre de máquina fotográfica na bolsa.
ResponderEliminarParabéns pelo seu escrever.
UJM a Parfois está com echarpes de lã fininha lindas de morrer entre 7,99€ e 9,99€ e belas carteiras à volta de 25€.
ResponderEliminarComo ambas gostamos deste acessório aqui fica a dica.
Não uso muito azul, mas desta vez, foi coup de foudre!
Já agora, se puder passe na Lanidor onde há malas lindas também, um pouco mais caras. Vi uma vermelha que custava 59€ e era de arrasar...
Benó,
ResponderEliminarMuito obrigada pela sua visita e pelas suas palavras.
Espero que volte sempre e que, por aqui, vá encontrando motivo de interesse.
Helena,
ResponderEliminarAndava eu a passear em Guimarães quando vejo uma Parfois. Uma tentação. Não resisti.
Estava já com a mão deitada a uma écharpe linda, em azul e cinza, quando senti uma mão a agarrar-me pelo braço. 'Até aqui? Mas vieste a Guimarães para comprar coisas que há a pontapé por todo o lado?'. A insensibilidade do costume.
Respondi-lhe: 'É que uma amiga me disse que aqui na Parfois de Guimarães há umas écharpes lindíssimas...'. Não se condoeu.
Respondeu-me 'As tuas amigas são ainda mais malucas que tu'. Lá vim porta fora, infeliz.
Claro que não esclareci quem era a amiga nem que a recomendação não tinha especificado Guimarães mas, afinal, para quê contar tudo, não é verdade...?
Mas amanhã, agora que estou de regresso, lá irei espreitar as suas recomendações.
(O que me vale é que ele não costuma ler os comentários, senão passava-se...)
:)
Um abraço, Bárbara Helena, e obrigada pelas dicas!