Não sou nada dada a baptizados. É coisa que para mim não tem significado. Lavar os pecados das crianças por terem nascido de um pecado? Disparate. Ritual iniciático? Não sou de rituais de qualquer espécie.
Por isso, não baptizei os meus filhos. Nem sei se o poderia ter feito já que não sou casada por igreja.
No entanto, tenho uma afilhada. Quando eu tinha 13 anos ainda achava graça a ir à missa já que isso me dava a oportunidade de, aos domingos de manhã, sair com as minhas amigas, ir até à igreja, sentar-me nas últimas filas, estar na risota, etc. Os meus pais não iam mas não se importavam nada de se verem livres de mim durante uma parte do dia. Nessa altura nasceu-me uma prima e eu disse que gostava de ser madrinha dela - coisa de pré-adolescente. Fizeram-me a vontade. Achei um piadão. E acho que essa deve ter sido a minha última manifestação litúrgica deliberada. As que se seguiram têm acontecido por força das circunstâncias.
Quando os meus sobrinhos nasceram, os pais gostavam que eu e o meu marido fossemos os padrinhos. Por uma questão de coerência, não aceitei. Se achava despropositado aquele cerimonial a ponto de não baptizar os meus filhos, não ia ser madrinha de outras crianças. Um bocado aborrecidos - mas, enfim, que remédio - aceitaram.
Quando a minha filha se casou, dado que o namorado e a família dele são muito ligados à igreja, ela não se importou de lhes fazer a vontade. Mas, não sendo baptizada, a figura que encontraram foi que ele se casava pela igreja e ela na igreja. À vista desarmada, um casamento igual a todos os outros só que, se bem me lembro, o dela não ficou registado (não sei onde). Já aqui, no UJM, descrevi, em capítulos e com reportagem fotográfica, esse casamento tão bonito. Se quiserem ver podem clicar aqui. Irão parar ao último de 4 posts mas tenho ideia que, em cada um, se faz referência ao anterior.
Quando o primeiro bebé nasceu, o marido e a família paterna fizeram questão que a criança fosse baptizada. Ela não teve nada a opor mas quis que o irmão fosse o padrinho. Ora o irmão, como referi, também não é baptizado, o que inviabilizava a propósito. Então o padre sugeriu que, para efeitos formais, se arranjasse um padrinho encartado e que o meu filho seria o padrinho de verdade mas não oficial. Lá avançou, portanto, o meu marido que, não sendo praticante, é, tal como eu, baptizado. Foi muito engraçado. Na igreja, lá estavam o meu marido e o meu filho, lado a lado, como padrinhos do bebé (o meu filho, com um sorriso vagamente irónico - ou vagamente derretido, não percebi bem - de vela na mão, uma vela com uma fita de cetim que a minha mãe arranjou). No entanto, quando foi a altura das assinaturas, o padre, que era um porreirão, um 'a la Francisco' avant la lettre, teve um rebate de consciência e disse ao meu filho para assinar também já que a irmã gostava que fosse ele o padrinho. E ele, embora também seja avesso a estas coisas, assinou de boa vontade e acho que até com algum orgulho.
O bebé, que na altura tinha 3 meses, sempre foi um grandalhão. Ora a avó paterna fez questão que o neto levasse um vestido de rendas que já tinha sido usado por várias gerações de princepezinhos. O vestido era o vestido e uma capinha. Tenho ideia que havia também uma touquinha de rendas. A capinha foi logo abolida pela minha filha, a touquinha, se havia, levou logo sumiço: ficou só o vestido. Mas para o bebezão caber naquele vestido de boneca foi o bom e o bonito, a minha mãe teve que engendrar umas fitas atrás (para o vestido, pela frente, parecer bem mas atrás estar aberto). Nem sei o que o rapaz parecia, calmeirão e vestido de rendinhas. Quando, depois da cerimónia religiosa, chegámos a casa, a minha filha tirou-lhe logo as paramentas e vestiu-o com uns calçõezinhos azuis claros com peitilho e uma camisinha branca, um rapazinho.
Pouco tempo depois nasceu o bebé seguinte, a quem eu aqui no blogue chamo ex-bebé (porque, quando era o mais novo e tratado por bebé, nasceu o primo que passou a ser o novo bebé). Claro que se repetiu a cena do vestidinho de rendinhas só que já tinha 6 meses e foi impossível enfiá-lo no vestido de boneca, não houve atilhos que resolvessem a situação. Foi com um fatinho branco de tipo macaquinho a modos que tufado, com uns machinhos à frente, de pernoca gorda ao léu (era verão), uma toilette que uma prima brasileira ofereceu. E claro que se repetiu a cena da escolha dos padrinhos. Desta vez, a minha filha fez questão que a madrinha fosse a sobrinha, poucos meses mais velha que o primo. Claro que, dada a inimputabilidade, teve que avançar uma madrinha oficial: eu.
E, assim, eis que eu, completamente alheia a estas coisas, me vi há uns dois anos a ser madrinha de um bebé grandalhão, pesado como um texugo e vestido como um princepezinho. Ao meu lado, sem perceber bem o que é que se estava ali a passar, estava a verdadeira madrinha, a madrinha do coração, que teria pouco mais de um anoe que estava bonita como um princesinha. E estava também a mãe da princesa, outra herege. Ou seja, num batizado com um aspecto o mais tradicional que se possa imaginar, ali estava no altar um compenetrado grupo do qual apenas um levava a cerimónia religiosa a sério: o pai da criança. O resto, desde a mãe, às duas madrinhas e à mãe da madrinha do coração, tudo um bando de hereges. Não, corrijo: estava o padrinho, um outro tio do bebé, do lado paterno, mas esse, se bem percebo, não é nem deixa de ser. O que vale é que, mais abaixo, nos bancos da igreja, estava a restante família paterna que é tudo gente bem comportada. Do lado materno é o que se sabe (salvo as bisavós maternas, também atiladas e crentes, embora não praticantes).
Tenho aqui à minha frente uma fotografia da minha filha sentada, lá na igreja, com o mais velho ao colo. Ela estava aflita das costas, mas estava toda gira e sorridente, e ele pesava que se fartava. Então, está ele todo refastelado ao colo dela, todo esbodegado, no meio de rendas e mais rendas.
Lembrei-me disto ao ver as fotografias do baptizado (eu sei: o p é para deixar cair, eu sei, mas parece que a coisa até perde o ar de cerimonial sem o amparo do p) de George Alexander Louis, o Príncipe George de Cambridge, nascido a 22 de Julho, filho do Príncipe William, Duque de Cambridge, e de Catherine, Duquesa de Cambridge.
Parece que foi uma cerimónia simples e que foram quebradas várias tradições, nomeadamente no reduzido número de convidados (pouco mais de 20) e na escolha dos padrinhos (apenas um era membro da Casa Real). William e Kate pretendem manter uma vida normal, longe de asfixiantes tradições e imposições vindas do Palácio Real. E fazem muito bem. São simpáticos estes jovens.
George, ao colo de William (que herdou o sorriso de Diana, sua mãe), olha a sua bisavó, a rainha Isabel Kate tem um sorriso sempre muito bem disposto |
Kate Middleton estava muito elegante e feliz (Ai que invejinha tenho dos chapéus delas. Adoro chapéus) |
George, talvez o futuro Rei George, com o seu vestidinho de rendas e folhinhos, gordinho e bonito, penso que alimentado a peito já que Kate parece ser apologista da amamentação materna |
A mãe de Kate, Carole Elizabeth, sempre com uma grande pinta |
Pippa Middleton, uma mana levada da breca, uma safadinha de primeira |
William, elegante e sempre sorridente, Kate com o seu petit prince, e o Bispo que realizou o baptizado |
Carlos e Camila Será que serão Reis algum dia? Provavelmente não. Que sentido faria coroá-los já com este ar de quem passou o prazo de validade? |
O Dirty Harry pelos vistos apareceu sozinho. Tem mesmo ar de safadão, o rapaz. Não se sabe a quem é que ele saíu assim. |
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Muito bem.
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Tinha escrito isto mais por graça mas tinha outra em mente para escrever a seguir, aliás uma coisa que anda aqui para ser escrita e, para a qual, parece que nunca tenho tempo, bolas. Contudo, chove a cântaros, uma coisa torrencial, um autêntico dilúvio, (aliás hoje, durante a minha caminhada nocturna, apanhei uma molha monumental, cheguei a casa a parecer a miss tshirt molhada; tshirt, calças e tudo o resto, a crazy sexy girl- salvo seja, claro) e a internet não faz outra coisa senão ir-se abaixo. Face a isso, já não tenho paciência para mais nada, isto cai de dois em dois minutos, uma maçada, um desespero, não consigo escrever duas linhas de seguida.
E amanhã devo chegar a casa ainda mais tarde, nem sei bem, por isso a ver se dá para escrever alguma coisa.
Enfim, não está fácil.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira.
Chova ou faça sol há sempre algum motivo para a gente gostar de estar viva.
Retenho sobretudo as orelhas do ex-futuro rei Charles.
ResponderEliminar:)
Não me fale em baptisados.
ResponderEliminarO penultimo a que assisti durou cinco horas, cin-co ho-ras! Um grupo de jovens casadoiras cheias de fé e boa vontade.
Realizou-se na Sé Patriarcal, nas cerimónias da Vigilia Pascal(com todo o respeito mas foi uma seca).
No ultimo, o pobre bebé atento a todo o ambiente, tambem na Sé, gritou a plenos pulmões durante toda a cerimonia, pondo à prova a paciencia e o amor ao oficio do Padre Luis (Querido Padre Luis).
Gostei da sua reportagem, gente bonita e uma lufada de ar fresco naquele reinado.