Gnomo no jardim e, ainda por cima, a cavalo num coelho (isto dos coelhos é praga que não nos larga, credo - claro que não tenho nada contra os coelhos de boa índole) |
A propósito de gnomos, nomeadamente dos gnomos no jardim da literatura, a semana passada mostrei o meu desagrado pelas quatro páginas concedidas pelo Expresso ao novo livro de Valter Hugo Mãe. Os meios de comunicação social em peso a divulgarem uma coisa que não passa de um produto comercial de fraca qualidade, imprensa que deveria pautar-se pela exigência a dar honras de capa a um chorrilho de banalidades travestida de pseudo-literatura - tudo isso me arrelia imenso. Claro que tratando-se de produtos de consumo, consome quem quer mas a verdade é que toda a gente sabe que o mainstream se faz de conjugações mediáticas e, aos poucos, a exigência e a qualidade vão ficando pelo caminho. Um dia o campo estará minado por erva daninha - e é sabido como a erva daninha impede as outras espécies de vingarem. Estas coisas fazem com que eu me insurja. Num mundo perfeito toda a gente deveria estar sequiosa de obras de qualidade e, em contrapartida, ficar indiferente perante tentativas de aprendizes mal sucedidos.
Mas, enfim, esta semana o Actual do Expresso surpreendeu-me e eu aqui estou para mostrar o meu agrado. Chapeau.
Clara Ferreira Alves, alguém que sabe de crítica literária e mantém uma notável isenção (pelo menos, assim parece), dedica 3 páginas a José Rodrigues dos Santos (J.R.S.).
Um texto fantástico a que deu o título assassino de O Gnomo no Jardim, título que airosamente assenta sobre a fotografia do ligeirinho e bem-sucedido artista (que vende livros às pazadas enquanto tanto bom escritor não sai do limbo da obscuridade).
Transcrevo:
Também é verdade que certa crítica literária convencional, que em Portugal labora no equívoco dos compadres, na pressão dos pares e na cumplicidade com os autores, condena ao ostracismo autores populares.
Não toca em J.R.S. nem com pinças.
E é verdade que o que muitas vezes é considerado literatura não passa de uma redação de pomposidades e pretensiosismos, literatices embrulhadas numa sintaxe irregular e falsamente pós-moderna.
E Clara Ferreira Alves termina o seu brilhante artigo referindo que a matéria prima usada na construção do livro - a aventureira e riquíssima vida de Gulbenkian - é da melhor. O pior é mesmo o que José Rodrigues dos Santos fez com ela. Volto a transcrever:
É como se JRS tivesse uma mansão construída com boa carpintaria e bons materiais e, ao acabá-la e decorá-la, não hesitasse em colocar dois leões de pedra na portaria e um gnomo no jardim. Como ele diria em tom conversador, o gnomo lixa tudo.
Com artigos como este de Clara Ferreira Alves, tal como com o de Valdemar Cruz sobre António Ramos Rosa a quem chama, 'O poeta cansado', faço, uma vez mais, as minhas pazes com o Expresso.
Os amores são assim mesmo, cheio de arrufos, briguinhas, estardalhaços... e de reconciliações. Por estas e por outras é que me mantenho fiel ao Expresso desde sempre.
*
Já volto.
Olá UJM!
ResponderEliminarÉ sempre reconfortante e massaja-nos o ego verificar que Alguém(com A grande), que respeitamos, vem a público defender aquilo que nos marcou positivamente. Ainda ontem, depois de ler o sereno mas excelente e acutilante artigo de CFA no Expresso, enviei uma série de sms´s e mails a amigos para que o lessem, porque era também uma boa e despretensiosa lição do que é ou deverá ser a Literatura. CFA acertou "na mouche" . Hoje a UJM acertou , como sucede com frequência, na minha "mouche". Obrigado
um abraço
atento, venerador e mais uma vez obrigado.
PS (sem intuitos eleitorais) : Já espalhei uma cópia do seu excelente "post"!
Do que conheço da CFA não escreve menos mal do que o JRS. Pretensão e água benta cada um toma a que quer!
ResponderEliminarAbraço