Agrípia, foi a partir de ti que eu renasci
na luminosa corola de um sorriso
e os meus navios cinzentos e perdidos
seguiram a bondade do teu rumo.
Esta casa não seria a minha casa
se não fosse a tua branca arquitectura
e o teu hálito límpido que me guarda
nas suas tranquilas coordenadas.
Por ti o horizonte está em casa
e nele eu vivo contigo a ondulada
permanência da alma iluminada.
(...)
a lentidão clara
do sossegado desejo
de não ser nada
*
Gosto de festejar a vida e gosto de trazer aqui os poetas sempre que me apetece a transparência das palavras puras.
Por isso, trago hoje aqui o poema Agrípia de António Ramos Rosa, casado com Agripina Costa Marques, poetisa a quem ele dedicou tantos poemas. Para António Ramos Rosa, Poeta Maior, habitante frequente de Um Jeito Manso e do Ginjal e Lisboa, sempre haverá lugar nestas minhas e vossas casas. Que aqui chegue, curvado, etéreo, luminoso, e nos deixe as suas palavras pausadas.
É certo que já alcançou o seu desejo de lentidão clara e que avança agora, voando, a caminho do sossegado desejo de não ser nada. Mas nós, os que por aqui ficamos por mais algum tempo, iremos continuando a desfazer os nós dos nomes e aceitando a oferta nua da sua abolição, vendo as aves de sombra, sentindo o tempo a fluir sem ecos.
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As imagens são fotografias de Steve McCurry do post Two of Us. A música é Nelson Freire interpretando Gluck / Sgambatti Melodia de Orfeo e Eurydice.
Para além do poema Agrípia, o pequeno excerto bem como as expressões em itálico são também de António Ramos Rosa e fazem parte do poema Passa uma Ave de Sombra e podem ser lidos na sua Antologia Poética (selecção, prefácio e bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes).
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Apenas para espairecerem ou para esparveirarem, ou, então, para acentuar o contraste entre um Poeta Escritor e um Valtinho, permito-me referir que, se descerem um pouco mais, poderão perceber, com provas documentais, o que é um livro muito plástico e uma utopia de purificar a experiência difícil. Admito: reincidi na desumanização. É já a seguir.
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Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma terça feira muito simpática
(agora que já estamos no Outono, tempo de gentilezas e suavidades)
(...)o poema é um sistema de nervos e de músculo / que fluem entre pausas com o veludo do seu sangue(...)
ResponderEliminarNão! o Poeta não morreu.
Há folhas persistentes que resistem
ResponderEliminarapesar do Outono
ResponderEliminarOlá, UJM
Levou-me em tempos, a meu pedido, um texto seu, numa altura em que queria festejar algo no Xaile de Seda. O texto baseava-se num poema de Ramos Rosa, que adorei. Mas é a única referência dele que ali tenho...Falha minha!
'Por ti o horizonte está em casa'
Haverá declaração de amor mais completa?
Obrigada por este post.
Bj
Olinda
Olá UJM,
ResponderEliminarBonita e sentida homenagem a António Ramos Rosa. Os verdadeiros poetas não morrem!
Obrigada por esta homenagem.
Um beijinho