Transcrevo apenas uma parte do muito esclarecedor artigo de Pedro Santos Guerreiro no Jornal de Negócios mas recomendo mesmo a leitura do artigo completo. Ajuda a perceber muitas coisas.
Não é esta a promiscuidade a que estamos habituados. Falamos de conúbios financeiros há anos, de políticos na banca e de banqueiros na política, nos créditos de uns para as obras de outros, nos financiamentos opacos, leis de favor, benefícios fiscais, dinheiro dos contribuintes, somos catedráticos nessa inconsequente disciplina. Mas isto dos "swaps" tóxicos é outra selva. Não é negociata de paróquia, é prática implacável dos maiores bancos de investimento do mundo. É ao lado negro de um planeta fascinante e sinistro de delícias e sevícias onde se compra e vende tudo, e onde os parvos são palha para estofar sofás.
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Um pequeno relato pessoal: em 2009 infiltrei-me alguns dias em vários bancos de investimento na City, disfarçado de financeiro de empresa cotada em reuniões com investidores, naturalmente vedadas a jornalistas.
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Lá dentro só se falava de bónus. O ano aproximava-se do fim e as bocas desenhavam risos em todas as caras, que se viravam das janelas desprezando as manifestações lá fora. Semanas depois soube-se: depois da hecatombe de 2008, a banca de investimento teve o melhor ano de sempre em 2009. Em grande parte porque os Governos, desesperados com os riscos de depressão económica causada pelo sistema financeiro no "subprime", carregaram no investimento público, aumentando as suas dívidas públicas, com financiamento e assessoria... dos bancos de investimento.
Anatomia descrita de forma simplista porque a realidade é frequentemente muito mais complexa |
Comprar um "swap" é uma decisão normal para proteger uma empresa do risco de taxa de juro.
Mas há "swaps" normais e exóticos - e as empresas públicas (e muitas PME) compraram risco insuportável a troco de ganhos imediatos. Sabendo ou não o que faziam (o que não é indiferente), foram triturados nos passadouros dos bancos de investimento.
A pressão (dos bancos) para os resultados é brutal e o prémio pode ser gigante. A ética não é uma variável. Come-se o que se mata. Mata-se colegas, concorrentes, clientes, empresas, Estados. O serviço destes bancos na Grécia, e que foi proposto a Portugal, não foram produtos financeiros, foram produtos sobre como mentir. Mentir nas contas públicas, mascarar dívidas, esconder riscos, enganar os povos. E, no entanto, mesmo depois da vergonha desmascarada, os mesmos bancos são contratados pelos mesmos Estados (incluindo Portugal), que continuam sujeitos às mesmas agências de "rating". Eles são os mercados. E nós precisamos dos mercados porque somos dependentes da droga que eles vendem: crédito.
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Um grande artigo, este escrito por Pedro Santos Guerreiro, alguém que gosto bastante de ler. Um grande Post.
ResponderEliminarNão vejo como isto se possa resolver, sobretudo em Portugal, com este governo. Mesmo um governo Seguro, tenho sérias dúvidas que o consiga, ou melhor, que tenha vontade e coragem política para alterar este estado de coisas.
A banca e o capital financeiro dominam não só a economia, condicionando-a, mas o próprio poder político.
Mas, atenção, também há muito que contar no que respeita a atitudes e comportamentos quer de políticos, como de empresários – pelo que, ontem, num almoço entre amigos e gente que não conhecia e passei a conhecer, ouvi contar. Gente que nada tinha de esquerda, mas correcta e honesta, a quem estas coisas incomodam.
De Passos Coelho, antes de ser PM a dar cursos de formação para quem iria trabalhar em aeroportos, em lugares onde nunca iriam ser feitos, cursos de formação que eram criação de Miguel Relvas, a quem Passos ficou em dívida pelo que ele lhe arranjou de negócios, etc. Bem como de empresários, médios-grandes, que recebiam apoios financeiros, provenientes de Bruxelas, para criar uma empresa, ou já existente, nela investir e depois, uma vez aquele dinheiro lhes estar na totalidade nas mãos, declarar falência e adeus aueles fundos, que lhes ficavam nos “bolsos”, mais tarde em “off-shore”, etc.
Enfim, coisa bem feitasutilizando os esquemas legais existentes para depois se praticar ilegalidades, fraudes, ou seja, crimes. Que dificilmente, mesmo com algum rasto, podem ser detectados ou passíveis de uma investigação judicial.
Sendo que alguns são conhecidos e apoiantes de muitos dos que nos governam, Hoje e ontem.
Voltando ao artigo de PSG, pergunto-me: que tipo de medidas se deverão tomar para aevitar esta influência nefasta? Quando ouço, como ouvi na excelente investigação e reportagem que o jornalista Pedro Coelho fez na SIC, sobre o BPN, de que já se foram cerca de 8 mil milhões de euros naquela aventura criminosa, que envolveu grandes figurões do PSD, fica-me uma impressão de náuse incontrolável por esta canalha.
Mas que fazer? Uma revolução? Ir embora deste país? Pô-los na ordem? E como?
P.Rufino
Em síntese, anatomia de um crime...
ResponderEliminarPois, isto não tem grande solução enquanto andarmos enrolados nesta teia de interesses e favores. Esses bancos, como o GoldemanSachs, "oferecem", bons cargos com bons ordenados a políticos, ou amigos de políticos... Mas como todos sabemos, não há almoços grátis. Alguém mais tarde, vai ter de pagar.
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