Dia cansativo o meu, meus Caros. Muitas horas de trabalho, viagens para cima e para baixo, chegada a Lisboa à hora de jantar e trânsito, tanto trânsito. Cheguei a casa tarde, completamente exausta. Recostei-me no sofá tentando ver televisão.
Mas adormeci de imediato. Foram uns minutos mas bastaram-me para aliviar o peso que tinha nos olhos, nos pés, na cabeça.
A caminho do jantar, ainda não tinha ouvido notícias, não sabia de nada até que o meu marido me disse a propósito do debate na AR sobre o Estado da Nação : Não consegui ouvir o Portas. Quando ouvi o que ele estava a dizer, senti nojo e desliguei o rádio. Fiquei curiosa. Vi no smartphone e custou-me, de facto, a acreditar. Tanta a falta de coluna vertebral...
Agora que estou em casa, estou a ver na SIC N o noticiário da meia noite.
Vejo Paulo Portas a invocar heranças de que não é digno. De facto sem vergonha nenhuma, depois de ter feito e ter dito o que fez e disse, agora volta a armar-se em patriota, fingindo que tem escrúpulos, chegando ao extremo da falta de vergonha que é invocar Sá Carneiro e Adriano Moreira. Finge que tem escrúpulos mas o facto é que toda a gente sabe que os não tem. Faz dos outros estúpidos e não percebe que, de cada vez que falar ou sequer aparecer em público, o que as pessoas vão ver é um exemplar de uma espécie que gostariam de ver extinta: a espécie dos políticos de baixo nível. Paulo Portas, se lhe resta um pingo de honorabilidade (o que já duvido), deveria demitir-se não apenas do desGoverno mas também da liderança do CDS. E deveria afastar-se. Ir para longe.
Vejo também Passos Coelho, incapaz de perceber o que é a dignidade. Depois das vergonhas a que tem sido sujeito com as demissões repletas de duras acusações por parte dos dois ministros de Estado, depois desta vergonha a que Cavaco agora o sujeitou, ali está, uma osga agarrada a uma parede.
Deveria, se tivesse um mínimo de inteligência (o que duvido) demitir-se do desGoverno e da liderança do PSD. E deveria ir para longe, talvez para Angola, ele o Relvas.
Vejo Maria de Luís Albuquerque no balcão do desGoverno, alheada, completamente noutra, mexendo no cabelo, esfregando a testa, só faltou, distraída que estava, enfiar os dedos no nariz.
Vejo o Montenegro, da bancada do PSD, completamente desnorteado, inventando inimigos, sem perceber bem o que lhe aconteceu, vejo o Magalhães, da bancada do CDS, querendo manter-se leal a um partido que se quebrou com a deslealdade do seu líder.
Uma farsa, tudo isto.
Ouvi agora que o Paulo Portas faz de conta que ainda vai haver aquela surrealista remodelação em que ele ia mandar no Governo e trazer o Passos à trela (e li que já estava, até, a esvaziar o gabinete!), e que o Passos diz que se vai manter no desGoverno até ao fim da legislatura. Não têm vergonha nenhuma.
Ouvi que Cavaco emitiu um comunicado durante a discussão na AR, coisa inédita, como que para lembrar que aqueles dois, Portas e Passos, não são de fiar, estão a prazo, é gente que já não conta.
E face a isto?
O que me parece é que face a isto: batatas.
Passos e Portas não são gente de bem, não são leais, fiáveis, responsáveis, não têm arcaboiço para serem governantes, são uma farsa como estadistas. Qualquer análise que se faça tem que ter isto em consideração.
Acresce que o programa que tem estado a ser seguido, e que é o memorando da troika, ampliado, alterado, extremado, tudo da lavra do Gaspar. Um programa inviável. Todas as políticas que este desGoverno tem posto em prática conduzem ao descalabro.
Querer um consenso que envolva Passos e Portas e, ainda por cima, em torno de um programa que é um absurdo, não faz qualquer sentido.
O que pode fazer sentido é obrigar (e não me perguntem como, porque não sei) Passos e Portas a saírem de cena e, então, com novas lideranças, gente capaz, juntarem-se ao PS e porem-se de acordo num plano de ataque: renegociação do programa de ajustamento. Renegociação total. Fazer delete a toda a porcaria que foi feita, conceber um plano razoável, exequível, rigoroso, um plano que respeite Portugal, que o ponha no caminho do desenvolvimento (e, nunca mais!, do empobrecimento) e negociá-lo com a Comissão Europeia e com o BCE.
Mas não é apenas o PS, o PSD e o CDS: obviamente isso deve ser feito com os contributos e o envolvimento, de igual para igual, do PCP, dos Verdes e do BE. Todos os partidos com assento na Assembleia da República e que representam a parte do povo que os elegeu devem ser chamados a ajudar a salvar o País. Gente decente, honesta, honrada (que ainda os há, acredito) deve ser chamada a levantar Portugal.
Agora confesso que não sei como se chega a entendimentos deste género - que requerem maturidade, inteligência, visão de longo prazo, amor ao País - sem ser através de eleições (que vão implicar, necessariamente, depuração dentro dos Partidos), mas admito que isso seja deficiência minha. Concedo que se poderia esperar mais algum tempo para preparar as coisas como deve ser - mas não é com este desGoverno em funções, uma vez que Passos Coelho e Portas já provaram à saciedade que não são gente que se recomende. Só se entrasse em acção um governo de gente capaz. Mas quem escolhe e decide o que é gente capaz? Cavaco poderia escolher e até acredito que talvez aparecessem alguns nomes inequívoco; mas o Parlamento, com aquela gentinha desqualificada que pulula nas actuais bancadas do PSD (até mais do que nas do CDS), que suporte iria dar a esse governo de transição? Duvido.
(E, aliás, quem é que garante que Cavaco só faria boas escolhas? Toda esta solução, que remete as eleições para Junho do ano que vem, me parece um banho-maria desnecessário, um caldo que tende a tornar ainda mais pantanosa a realidade portuguesa).
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Um aparte: quem pensa que Portas ou Passos governam para os patrões, tire daí a ideia. Já o disse aqui muitas vezes: os patrões que conheço e com quem trabalho (e que podem não ser representativos dos pequenos patrões, mais feudais, digamos assim, mas que são, sem dúvida, representativos do patronato mais moderno e desenvolvido), apesar de até poderem ser politicamente conservadores, não suportam esta gentinha que torna o contexto imprevisível, que desencadeia crises e instabilidade social. Os patrões que conheço queixam-se que potenciais parceiros internacionais receiam investir em Portugal dada a inaptidão absoluta dos governantes, dada a volatilidade que imprimem à conjuntura. Os patrões precisam de ver planos para saber com o que contam, se há ou não rentabilidade nos investimentos que equacionam e, com gente destas à frente do País, é impossível fazer planos.
Acreditem no que vos digo.
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E por aqui me fico que já passa da 1 e meia da manhã. Vou descansar. Na rua está um fresquinho bom mas a casa ainda está quente. Dormimos de janela aberta e sinto o ar fresco na minha pele mas acho que precisava de dormir durante 24 horas perto de um frigorífico de porta aberta.
Amanhã tenho casa cheia. Esta sexta feira o programa não foi de festa. Apenas um jantarinho a dois, no japonês - e não me queixo, bem bom que foi. Mas tão cansada que estava (aliás, que estávamos os dois) que nem se pode falar de festa. Este sábado, sim, haverá bolo de anos, apagar de velas, cantoria, animação. E, tal como refiro em epígrafe, é verdade: eu carangueja me confesso (fosse eu mais lúcida, talvez devesse dizer antes caranguejola; mas não sou lúcida: ainda me sinto uma caranguejinha - mas vocês não estranharão que eu me sinta assim pois estão fartos de saber que não bato bem da bola).
Agradeço a todos as palavras carinhosas e a vossa estima que atravessou o espaço e chegou, intacta, até mim.
Desde o mês de Junho, passando por Julho e até ao fim de Agosto é de enfiada, uma concentração. Apenas quatro, que me lembre assim de repente, fazem anos fora deste período estival. De resto, alguns com dois ou três dias de intervalo, são aniversários de carreirinha.
Depois a ver se descanso. Na praia, no campo, ou na cidade, preciso mesmo de descansar.
E tenho tanta coisa para ler. Tenho aqui comigo a última Ler e o Jornal de Letras e nem folhear ainda consegui. Mas, enfim, não gosto de me lamuriar. Não liguem, isto passa-me quando dormir alguma coisa de jeito.
Amanhã tenho que me levantar cedo para dar a minha caminhada, para ir ao supermercado, para ir à pastelaria, para fazer o almoço, etc, etc, porque à 1 da tarde começará a enchente e, o que não estiver pronto até aí, já não terá mais hipótese de ser feito. É que o que se passa não é bem uma enchente, é mais um tsunami.
Aliás, agora que falo em tsunami, a ver se não me esqueço de tentar comprar uma coisa. No outro dia comprei uma cana de pesca com peixinhos que se põem na água e que se pescam. Pois já deu confusão só com os dois manos pimentinhas, ambos queriam a cana ao mesmo tempo. Amanhã com a prima, duvido que não seja pior. Isto porque o bebé ainda não guerreia com os mais velhos. Ou escondo a cana e os peixinhos, o que duvido, pois gostaram tanto que vão voltar a querê-la, ou tenho que ter mais para não dar bulha. Agora estamos nesta fase: querem todos a mesma coisa ao mesmo tempo, nem que seja uma caneta quase sem bico.
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E desejo-vos, meus Caros leitores, um sábado maravilhoso!
Olá UJM!
ResponderEliminarUm pouco atrasados aqui vão os meus parabéns e os votos,interesseiros confesso, de que continue com toda essa genica e entusiasmo para bem da sua vida familiar e profissional e dos seus fieis leitores que continuam a deliciar-se com as suas belas e certeiras crónicas.
Parabéns e obrigado por ser quem e como é!!!!
Um abraço
Admiro a sua coragem para, mesmo num dia tão cheio de significado para tanta gente boa como a sua, ter escrito sobre tanta gente reles como a deles.
ResponderEliminarUm abraço
Nota: Ainda bem que muitos dos patrões que puseram lá essa gentalha, já viram o logro em que caíram.Mas desses, sinceramente, não tenho muita pena, até porque já têm outros de reserva, que apenas são menos maus. É que empresários com preocupações sociais são raridades.
Um abraço
Estou inteiramente de acordo com o seu marido, se me permite, com todo o respeito, esta observação. Portas e o seu discurso também me meteram nojo.
ResponderEliminarCuriosamente, ontem mesmo, o Público continha um artigo nada lisonjeiro para o dito Paulo Portas (que, aliás, veio suscitado num Blogue que UJM segue). O que é interessante naquele artigo é que revela bem o carácter de Paulo Portas e desmistifica o seu balofo e abjecto palavreado na A.R.
Dizia ali – e não foi desmentido – que Portas, entre outras atitudes, andou, à noite (clandestino? envergonhadamente?) com os seus assessores, à procura de um edifício, do Estado, onde pudesse vir a instalar-se com pompa e circunstância, como Vive-Primeiro Ministro !!!
Isto significa que para Paulo Portas primeiro está ele e depois o Partido, pouco ou mesmo nada importando o Estado, que ele, com aquela bazófia de reaccionário, manipulador, aldrabão, cretino e vigarista político, tanto fingiu defender como coisa prioritária, no seu miserável e sem vergonha discurso na A.R no encerramento do debate sobre o Estado da Nação. Invocando gente séria, honesta e proba, o que ele não é, como Sá Carneiro e, sobretudo, Adriano Moreira. Nem respeito tem por quem está num patamar de dignidade que ele, Paulo Portas, não possui!
Francamente, nunca conheci nenhum político – e pessoa - como Paulo Portas. É um tipo amoral, sem sentido de Estado, sem um pingo de dignidade, sem respeito por ninguém nem sequer por si próprio, sem valores e sem princípios, porque se os tivesse não se comportava como tal, enfim, um miserável videirinho da política de pacotilha que se vive actualmente, um demagogo de baixo nível sempre pronto a vender banha de cobra a qualquer incauto e menos esclarecido eleitor, um contorcionista político, para quem a Palavra não tem significado, em resumo, um traste. E é esta criatura que se diz católica, ofendendo quem o é e em quem Passos Coelho, sorridentíssimo na A.R, apoia e confia. Bem como aquela sinistra esfíngie em Belém.
Vamos bem, por este andar. Em lume brando o país lá se vai afundando. Mas, não me surpreenderia que, apesar de todos este comportamento lamentável, Portas e até, quem sabe, Passos venham, em 2014, ou 2015, a ter um resultado eleitoral honroso. Neste país de anedota já nada me surpreende.
Por fim, pasmo igualmente que alguns membros deste Governo por lá se mantenham (Macedo e Álvaro, por exemplo).
Vá lá que ao menos o tempo começa a melhorar! Valha-nos isto!
P.Rufino
PS: faz anos? Sinceros e amigos Parabéns!
Muitos Parabéns!
ResponderEliminarUm beijinho!
Parabens Jeitinho, que festeje muitos mais na companhia dos seus meninos e menininhos sempre com essa força e alegria.
ResponderEliminarPelo menos que no fim de semana não pense nesta telenovela em que nos meteram.
Um Beijinho