quarta-feira, junho 12, 2013

Cavaco Silva e os discursos fora de portas. Ao fim de alguns anos, depois de muitos milhares de desempregados, de muitas falências, com a dívida em valores insustentáveis, com o país desesperançado, eis que Cavaco Silva me consegue surpreender. O que ouvi acho que foi em Estrasburgo. Contra a austeridade, marchar, marchar. Contra a paralisia europeia, marchar, marchar. Tomara que já o tivesse feito há mais tempo e muito mais vezes. Quanto a querer correr com o FMI tenho sentimentos ambíguos.


Como só vejo as notícias na televisão tarde e más horas e aos bochechos não sei onde é que Cavaco Silva estava mas, verdade seja dita, gostei da parte que ouvi. Penso que estava em Estrasburgo mas não garanto.




Não foi má ideia que tivessem mostrados cartazes quando ele começou a falar: não eram contra ele mas contra a austeridade e contra as medidas chapa 4 da troika. Foi bom que os cartazes aparecessem associados a Portugal para que se perceba que há um consenso em torno dos danos de tanta austeridade.

E, na parte que ouvi, Cavaco Silva falou bem, sem rodeios, preto no branco. Talvez, se a sua voz se tivesse levantado há mais tempo e com frequência e se fizesse o mesmo em Portugal, não estivéssemos hoje como estamos.

Quanto à sugestão de que está na hora do FMI sair da troika não sei bem. Em abstracto faz sentido. Supostamente qualquer país que esteja integrado numa união estaria protegido e seria no seio dessa união que os apoios aconteceriam. Chamar um organismo como o FMI, que existe para acudir aos desvalidos perdidos no mundo, em abstracto, não faz sentido.


Contudo a Europa arrasta-se, pastelonamente, sem um líder, sem um rumo. Mesmo a nível do BCE, está lá agora um Draghi que, do mal o menos, ainda tem algum brio e lá vai abrindo a boca para mostrar que tem algum poder. Mas, antes, era um atraso de vida. O Trichet chocava, chocava, mas nunca nasceu nenhum pinto e, sobre o Constâncio, essa criatura informe, que gosta de brincar aos ceguinhos, nem me pronuncio. De resto, se estamos como estamos, em grande parte devemo-lo a uma Europa que deixa soçobrar os seus membros sem mexer uma palha.

(Quando acabar de escrever isto, em princípio vou escrever outro texto em que vou falar especificamente disso.)

Por isso, uma coisa pode fazer sentido em abstracto e não fazer sentido nenhum perante as circunstâncias concretas da vida.

O FMI é um organismo que fala a várias vozes, onde impera o experimentalismo. Mas, apesar de tudo, e apesar de serem os causadores de muitos disparates, sempre há um ou outro que vem, em público, dizer que estavam enganados e apontar novas direcções.

Da Europa é que nada: debaixo do espesso nevoeiro da burocracia parece que não há nada. Por isso, não sei o que diga sobre isto do FMI sair da troika. É daquelas: venha o diabo e escolha.

Mas ainda o Cavaco: vi-o a dar uma conferência de imprensa. Falador, aberto, a responder a tudo.




Não sei o que dá nesta gente: parece que só se desbocam, ou melhor, se descontraem, quando vão lá para fora. Cá em Portugal, se lhe perguntam alguma coisa, mastiga em seco, franze-se todo, remete para o que disse em tempos e pouco mais. Lá fora parecia outro. Faz-me lembrar o Sampaio: parece que fala mais claro, mais acutilante e concreto, quando fala em inglês. Em português enrola-se todo.

Mas, enfim, em relação ao que vi de Cavaco Silva lá pelas europas, chapeau: falou e, tirando aquilo do FMI que me deixa um pouco de pé atrás, falou bem.

3 comentários:

  1. Como cá não se "importa" é por isso que se exporta.
    Pena é que não fique por lá.

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  2. Tarde piaste, Cavaco.
    E em inglês diz-se "citizens", não havendo lugar a erro como cidadões e cidadãos.
    I am not impressed com o homem. É o mesmo que aqui temos de "consumir". Um PR há deriva, que não consegue o respeito da populaça.
    O mesmo que quer manter este governo contra tudo e contra todos, uma vez regresse de Estrasburgo. Uma figura deprimente.
    P.Rufino

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  3. Um PR à deriva. Assim, sim.

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