Abaixo poderão encontrar dois posts sobre a situação político/económica do país e sobre as PPPs.
Mas agora, aqui, a conversa é outra. Ou melhor: dou a palavra a outros.
A vossa melhor atenção, por favor: les beaux esprits se rencontrent.
A vossa melhor atenção, por favor: les beaux esprits se rencontrent.
Para cantarle a mi amor
tengo mariposas blancas
Muito depende de sermos capazes de estar no momento em que estamos, sem pensarmos no que fizemos para ali estar ou nos preocuparmos para onde vamos a seguir.
Se pudéssemos ser inteiramente inteligentes, não pensaríamos senão no momento em que estivéssemos, sem expectativas. Para estarmos à espera, sem saber de quê. Anteontem, durante um segundo de um almoço de Agosto, pousou num copo uma borboleta espampanante. E logo voou, deixando-nos a falar dela.
O momento e o tempo estão tão ligados como o nosso coração e a nossa alma. Tenho a certeza que todos os dias somos visitados por lembranças do muito que nos pode acontecer, do pouco que sabemos e do pouco tempo que temos para ficar com uma pequena ideia do que tudo isto é.
Estas visitas espantosas, em que só se repara por sorte, só são bem recebidas e apreciadas, quando a nossa atenção se desliga de nós próprios e do mundo que gira dentro de nós e se vira, como se de uma casa vazia, para fora.
Há um estado activo de recepção, de estarmos prontos para o que vier, sem termos nada marcado ou expectativa nenhuma. Não se consegue ver a borboleta, se estivermos à espera dela e resolvermos: 'Agora vou estar aqui sentado, com a cabeça esvaziada, inteiramente distraído pelo que me rodeia, à espera que me apareça pela frente uma coisa maravilhosa'.
É quando se está com que se ama que se é mais visitado. Se calhar, o que atrai as visitas é a doçura da companhia e a distracção em que o amor vive. Ali.
[Mais a Borboleta, de Miguel Esteves Cardoso in 'Como é linda a puta da vida']
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O leitor que, à semelhança do de O'Neill, me pede a crónica que já traz engatilhada perdoar-me-á que, por uma vez, me deite no divã: estou farto de política! Eu sei que tudo é política, que, como diz Szymborska, "mesmo caminhando contra o vento/ dás passos políticos/ sobre solo político". Mas estou farto de Passos Coelho, de Seguro, de Portas, de todos eles, da 'troika', do défice, da crise, de editoriais, de analistas!
Por isso, decidi hoje falar de algo realmente importante: nasceram três melros na trepadeira do muro do meu quintal. Já suspeitávamos que alguma coisa estivesse para acontecer pois os gatos ficavam horas na marquise olhando lá para fora, atentos à inusitada actividade junto do muro e fugindo em correria para o interior da casa sempre que o melro macho, sentindo as crias ameaçadas, descia sobre eles em voo picado.
Agora os nossos novos vizinhos já voam. Fico a vê-los ir e vir, procurando laboriosamente comida, os olhos negros e brilhantes pesquisando o vasto mundo do quintal ou, se calha de sentirem que os observamos, fitando-nos com curiosidade, a cabeça ligeiramente de lado, como se se perguntassem: "E estes, quem serão?"
Em breve nos abandonarão e procurarão outro território para a sua jovem e vibrante existência. E eu tenho uma certeza: não, nem tudo é política; a política é só uma ínfima parte, a menos sólida e menos veemente, daquilo a que chamamos impropriamente vida.
[Coisas sólidas e verdadeiras, de Manuel António Pina in 'Crónica, saudade da literatura']
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Relembro que, se quiserem estragar a vossa disposição, há dois posts abaixo que são bem capazes de cumprir essa missão (e não venham depois queixar-se de que não avisei).
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Mas, caso prefiram antes lembrar o Dia da Espiga e ir espairecer para o meu Ginjal e Lisboa, então Pedro Tamen apareceu vindo de uma Rua de Nenhures para pôr a mão sobre o meu coração sonhador. Para iluminar ainda mais a brancura das palavras do poeta temos mais uma maravilhosa música do Mali.
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E mais nada. Desejo-vos, meus Queridos leitores, uma sexta feira muito feliz, com mariposas blancas voando em volta do vosso coração e rosas tempranas na vossa imaginação (ou nas vossas mãos!).
Sendo assim, prefiro mesmo ficar por aqui "assim".
ResponderEliminarUm texto muito bonito e relaxante, para descomprimir. Depois de uma semana de faz e desfaz, políticos, comentários, debates, etc., soube bem este interregno de coisas sólidas e verdadeiras, onde não faltou M. Esteves Cardoso e M. António Pina...
ResponderEliminarObrigada. Um beijinho e bom fim de semana.