E se aquela farsa de domingo à tarde, dia 5 de maio pelas 19 e picos, não tiver sido uma farsa a solo mas sim uma cena a dois?
Se aquela cena do Paulo Portas não foi um número de desobediência pública relativamente ao seu superior hierárquico mas sim uma rábula ensaiada a dois, entre ele e, justamente, o Passos Coelho?
Se aquela cena do Paulo Portas não foi um número de desobediência pública relativamente ao seu superior hierárquico mas sim uma rábula ensaiada a dois, entre ele e, justamente, o Passos Coelho?
Hoje fui pensando nisso ao longo do dia e, enquanto fazia a minha caminhada com o meu marido, vínhamos pensando alto e chegando a essa conclusão.
Há pouco, no comentário da Constança Cunha e Sá na TVI 24, ouvi-a a exprimir também essa dúvida.
Vejamos.
No domingo de tarde, Passos Coelho esteve reunido com Paulo Portas. Estiveram certamente a conversar sobre o assunto.
Mas, enfim, só isso não denunciaria uma farsa.
Mas o que dizer do facto de a carta para a troika, carta datada de 3 de Maio, já conter a seguinte afirmação: "Acresce que o valor global agora apresentado é superior ao necessário, dando-nos assim uma margem para diminuir a contribuição de sustentabilidade do sistema de pensões"?
Ou seja, o deixar cair a medida que Paulo Portas finge mexer-lhe com o sistema nervoso já estava previsto na carta que tinha já seguido para a troika...! O que quer dizer, desde o início, que aquela foi uma medida para chamariz, para proporcionar um número circense, para distrair o pagode!
Li a carta, não gosto de falar de cor. O que está em causa com a dita taxa de contribuição que, ab initio foi destinada a chamariz para distrair atenções, são 436 milhões de euros por ano.
- E pensem: porque carga de água ia Paulo Portas ficar incomodado com uma medida que, por escrito, já foi dada como causa perdida, e que vale 436 milhões, e ficar indiferente perante uma outra, a que resulta da convergência de sistemas de pensões do público com o privado, e que vale 740 milhões por ano? Ou seja, as pensões dos funcionários públicos vão ser amputadas em 740 milhões por ano e com isso Paulo Portas já não está nem aí?!?!? Isso, que vale quase o dobro da tal taxa-chamariz, é uma fronteira que se pode espezinhar à vontade??!!! A sério?!
- Mais: os funcionários públicos, por via da uniformização de tabelas, vão levar um corte adicional de 445 milhões de euros por ano. Isso Paulo Portas acha bem? Os funcionários públicos - que têm vindo a ser o bombo da festa - vão levar mais uma facada destas... e ele acha bem?!?!? A sério?!
E os cortes nos ministérios?
Vejamo-los:
- No total: 505 milhões ainda este ano que já vai a meio; 1.100 milhões para o ano e 1.228 milhões em 2015
- Segurança Social: 221 milhões, 299 milhões, 299 milhões
- Educação: 106 milhões, 325 milhões, 325 milhões
Pergunto: Com aqueles cortes na Segurança Social, nomeadamente com os cortes nos subsídios para com pessoas desempregadas e doentes, Paulo Portas não fica chocado? Aí não há fronteira?! Não?!?!?
E, na Educação, o que é aquilo? São cortes em quê? Não é o despedimento de professores porque isso deve estar numa outra rubrica, esta:
- Na Desvinculações e Mobilidade Especial: Este ano 50 milhões, para o ano 448 milhões e para o seguinte 394 milhões?
Com todos esses despedimentos, em que as pessoas não terão direito a subsídio de desemprego nem poderão voltar a empregar-se no Estado, Paulo Portas não tem um fanico?
Só teve um chilique justamente com a única medida que já estava dada como sendo para riscar?! A sério...?!
Poderia dar mais exemplos mas a minha conclusão, face a isto, é que tudo aquilo a que assistimos este domingo foi um frete de Paulo Portas a Passos Coelho, uma encenação a dois, uma encenação para enganar os portugueses, uma farsa que só revela o desprezo que sentem por nós, só revela a baixeza a que eles já chegaram.
Sabendo que a nossa Comunicação Social é, em geral, gente que actua como pequenos cães a quem se atira um osso, indo a correr atrás, sem pensar, presumo que aquelas luminárias terão combinado este número para distrair as pessoas, com a desfaçatez de quem sabe que o irá conseguir sem qualquer dificuldade.
Para aquela gente, já vale tudo.
Para aquela gente, já vale tudo.
Devem, pois, ter congeminado e ensaiado esta vil rábula a dois, devem ter dito: Enquanto os cães ladram e toda a gente se entretém a discutir que há cisões e sensibilidades e outras tretas, e fronteiras e cismas grisalhos, e que em vez de 66 anos poderia ser 67 anos, e que um é o polícia bom e outro o polícia mau, e outras poeiras, a carruagem segue. E, sem que ninguém dê por isso, a coisa avança até que a troika dê o ok e, a seguir, já está toda a gente amarrada e não haverá volta a dar. 728 milhões de cortes ainda este ano, 4.315 milhões para o ano e 4.788 para o ano seguinte. Que nem ginjas!
E, contentes com o sucesso do expediente, babões e risonhos, devem agora estar os dois a bater palminhas: É canja! É canja! É canja de galinha!
É canja! É canja! É canja de galinha!
E a verdade, meus Amigos, é que a carruagem segue, segue com a sua miserável carga de cortes a eito, de miséria para os mais velhos, para os funcionários públicos, para os mais pobres, para os doentes, para os desempregados, para com as pessoas que têm a pouca sorte de ser vítimas indefesas à mão destes bárbaros.
Até quando vamos permitir isto? Pergunto.
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E, se estou a alucinar e se não é nada disto, por favor não se acanhem: expliquem-me, está bem? Mas expliquem bem devagarinho, como se estivessem a explicar a uma criança de três anos.
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As inspiradas e bem humoradas imagens são, de novo, retiradas do blogue We Have Kaos in the Garden
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Ainda tinha vontade de escrever outra coisa mas já é tarde e já não tenho tempo. Por isso, não tenho outro remédio senão ficar-me por aqui.
Mas muito gostaria de vos convidar a visitarem o meu Ginjal e Lisboa. Hoje há um poeta que lá aparece pela primeira vez, João Miguel Fernandes Jorge, e as minhas palavras saltaram do poema dele para uma certa parede e daí para o colo de um marinheiro. Gostava de vos ter por lá. A música é uma maravilha, ainda música do Mali com Toumani Daibaté.
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E, assim sendo, despeço-me por aqui, desejando-vos uma bela terça feira. Felicidades!!!
Olá UJM!
ResponderEliminarAgradeço-lhe as suas considerações e a desmontagem da prestação televisiva do Paulinho. Na realidade o que o Sr Ministro de Estado apresentou não foi propriamente teatro mas sim uma pantomina barata. O Paulinho não é propriamente um bom actor mas sim um pantomineiro!
Já agora viram a prestação do académico Maduro ontem no "Prós e Contras" repetindo até à exaustão um único argumento para defender a política do Governo. Temos que cumprir o que manda a Troika porque só assim, sendo bom aluno, cumpridor e obediente temos possibilidade de conseguir melhores condições! Claro que o aumento da recessão, o desemprego, as falências , o empobrecimento, são apenas danos colaterais sem mínima importância!!!! Foi brilhante a nova estrela governamental.Já caiu de Maduro!
Um abraço
Li com atenção aquilo que escreveu e aqui nos diz, numa demonstração excelente e explicação da encenação, fraude e embuste que aqueles dois figurões, Passos e Portas, nos preparam e nos tentam vender. E ouvi também a Constança Cunha e Sá, que foi igualmente brilhante a desmontar a farsa.
ResponderEliminarÉ, como diz, uma cena lastimável, de total falta de respeito por todos nós. A Política nos tempos actuais ultrapassou patamares nunca antes imaginados. Manipulam-se informações, declarações sem a menor pinta de vergonha. E vejo com preocupação que, entre outros, os funcionários públicos vão levar mais uma fatia de cortes, agora através dos tais 740 milhões da CGA, com as suas reforma a encolherem ainda mais. Curiosamente, nem Portas nem Passos (e muito menos o odioso Gaspar) mencionam os desempregados, essa chaga que vai abrindo cada dia que passa. Nem as empresas que fecham. Nem o investimento que cai. Nem as inúmeras famílias que cada vez têm mais problemas em manter as suas responsbilidades para pagar a casa que até há poucos anos podiam pagar, visto hoje este governo lhes ter retirado uma fatia substancial dos seus vencimentos, assim sem mais.
Portas é um vergonha, um manipulador, um farsante, um tipo sem moral e sem escrúpulos. Tal como Passos, Gaspar, Moedas, Borges, Moreira Rato (o menino que Gaspar foi buscar a Londres, de sorrisinho parvo, cujo Instituto passou para as mãos do Estado e cujo vencimento é “especial” e muito acima da média de qualquer alta quadro da Função Pública – um malandro de primeira). E quem mais os apoia.
Uma esterqueira este governo. E, sinceramente, já nem na tese de que o CDS poderá vir a sair do “barco” se os resultados eleitorais das autárquicas for péssimo, acredito. Portas e Passos farão as suas campanhas como se vivessemos num país virtual e depois tudo continuará na mesma até 2015. Pergunto: e em que estado estará o País depois desta violência político-social-financeira que nos fizeram aceitar? Será possível recupera-lo? Temo que não. E nesse caso o que irá suceder?
P.Rufino
Será canja de Galinha mas quem canta de galo é o Paulo e tem um libreto com muitos "milhares de páginas".
ResponderEliminarAinda que trágica para o país, nesta ópera bufa nada sucede por acaso, porque se dependesse só do Coelho bastava uma rapidinha para o tirar de cena.
Esperemos os encores.
Cara UJM,
ResponderEliminarEstupendas e realistas as suas observações, aliás compartilhadas por outros analistas que admiro. Obviamente a encenação estava encomendada pelo PM, e PP apenas teria que cumprir o eterno ritual das suas desventuras, tantas vezes experimentadas e encenadas nas feiras das vaidades entre sorrisos plastificados e degustação de sapos e lagartos. Nisso sempre o PP foi um verdadeiro artista e PC soube aproveitar e construir uma cena a dois. Creio que se enquadraria perfeitamente numa rábula de Molière.
Tal como o Joaquim Castilho, seu leitor, acho que o Maduro, nos “Prós e Contras” mostrou a verdadeira face e …”já caiu de Maduro”. Tudo farinha do mesmo saco, pensadores do mesmo séquito.
Felicidades e muita saúde
Olá UJM,
ResponderEliminarSubscrevo tudo o que diz, o que assistimos foi um frete de Portas a Passos, uma encenação e estratégia a dois para levarem a água ao seu moinho, não olhando a meios para atingir os seus fins.
Agradeço-lhe também a excelente análise que nos mostrou para percebermos as trocas baldrocas que estão a preparar para nos voltarem a enganar. Não há direito! Basta!
Obrigada por partilhar connosco os seus conhecimentos, sempre tão brilhantes e assertivos.
Um beijinho e um bom resto de semana.
Que se fundam
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