Igreja de Luis Barragán, arquitecto mexicano (o calor das cores da América Latina) |
Francisco, nosso irmão e irmão de tudo!
Sublime doido, jóia rara
com a nossa miséria por engaste...
Quem, de ti digno, te cantara!
Mas a mim, dá-me a glória de ser mudo:
irmão das pedras que pisaste.
Rothko Chapel em Houston, Texas, com pinturas de Mark Rothko (o despojamento absoluto das cores em recolhimento) |
Meu o ofício incerto das palavras
a evocação do tempo
o recurso ao fogo
Meu o provisório olhar
sobre este rio
o fascínio consentido das margens
sitiando a distância
Meus são os dedos que em tumulto
modelam capitéis
de sombra e arestas
Mas oculto na brisa
és Tu quem percorre o poema
despertando as aves
e dando nome aos peixes
O espaço de recolhimento de uma agnóstica, in heaven |
Estarei ainda muito perto da luz?
Poderei esquecer
estes rostos, estas vozes,
e ficar diante do meu rosto?
Às vezes, como num sonho,
vejo formas como um rosto
e pergunto: "De quem é este rosto?"
E ainda: "Quem pergunta isto?"
E: "E com quem fala?"
Estarei ainda longe de Ti,
quem quer que sejas ou eu seja?
Cresce a noite à minha volta,
terei palavras para falar-Te?
E compreenderás Tu este,
não sei qual de nós, que procura
a Tua face entre as sombras?
Quando eu me calar
sabei que estarei diante de uma coisa imensa.
E que esta é a minha voz,
o que no fundo de isto se escuta.
*
O primeiro poema é de José Régio e chama-se 'O Pólo Sumo, em louvor de S. Francisco de Assis'
O segundo poema é de José Tolentino Mendonça e chama-se 'Revelação'
O terceiro poema é de Manuel António Pina e chama-se ' Estarei ainda muito perto da luz?'
A música é uma Cantata de Bach (BWV 63) e é interpretada pela orquestra Divino Sospiro
*
Este é o meu segundo post de hoje. Abaixo poderão ver a minha primeira impressão de Francisco, antes Jorge Mario Bergoglio, depois de o ter visto dirigir-se aos fiéis que o aguardavam à chuva.
*
Se me permitem, muito gostaria que hoje me visitassem também no meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras seguem as linhas da minha mão, guiada pelas mãos de Maria do Rosário Pedreira, e dedico-as à Leitora amiga que me falou nas linhas da minha mão e neste poema. A música é de sonho: numa grande interpretação Mischa Maisky toca Tchaikovski.
*
E, tirando isto, nada mais a não ser desejar-vos uma quinta feira muito boa (apesar de fria).
E que o afecto aqueça os vossos corações (...soa piroso, não é?... Mas é o que vos desejo mesmo...).
Escolhas, poéticas e musical excelentes, UJM!
ResponderEliminarOlá,
ResponderEliminarAdorei o espaço de recolhimento de uma agnóstica lá no in heaven.
Deve ser reconfortante meditar nesse seu pedacinho de céu.
UJM, you're a remarkable woman!
May all the Gods bless you!
Beijinho
Antonieta
Ontem pensei em si, cara UJM.
ResponderEliminarEspreitava de vez em quando a chaminé da Capela Sistina esperando o famoso fumo.
Eis senão quando uma garbosa gaivota aterra sobre a dita chaminé e lá fica por largo tempo.
Mal a vi pensei:
O que faz a qui a gaivota da UJM? A sério foi o que me ocorreu.
O pedaço de telhado que se via, podia ser de Lisboa e o fundo azul até podia ser o Tejo.
http://mediaserver2.rr.pt/newrr/gaivota-22040a580_400x225.jpg
Também gostei do Papa. Do nome,do ar afável, da alegria, da simplicidade, do calor, de tudo.
Mas, descreve-o tão bem no que publicou através de palavras, imagens e música que dispensa outros comentários.
Tão bonito o "espaço de recolhimento de uma agnóstica in heaven".Não só pela beleza do espaço propriamente dito mas, sobretudo, pela subtileza da legenda.
Pode até ser piroso mas afecto que aquece corações parece-me muito bom.
Da minha parte agradeço e retribuo.
Um beijinho,
MJ
É curiosa a coincidência da eleição e escolha de um novo Papa com a convicção, hoje noticiada, dos cientistas de que a partícula subatómica identificada em Julho passado, se trata afinal da “Partícula de Deus” (ou o “Bosão de Higgs” na linguagem da Ciência).
ResponderEliminarQuanto à Igreja, desejo sinceramente (apesar de não ser crente) que todos os males que a têm vindo a afligir, se dissipem, após a tomada de medidas adequadas.
Voltando à Ciência, li igualmente que o telescópio Alma, nas montanhas secas do Chile poderá revelar-nos brevemente o início do Big Bang, ou como se processou.
Enfim, coincidências de momentos de Fé e da Ciência! Curioso.
P.Rufino
Cara UJM
ResponderEliminarBem haja pela sua atenção. O ano de 2013 não está a ser fácil.
Queria só dizer-lhe que o seu espaço de recolhimento se parece muitíssimo com aquele em que converso com o meu Deus e muito em particular com o meu filho que deve, sei, estar a velar por mim com o seu doce sorriso.
Fé ou recolhimento poderão não ser o mesmo, mas têm, creio, o mesmo valor humano!
Gostei do seu post. Gosto dos três poetas escolhidos e acho o seu canto lá em Heaven, uma maravilha.
ResponderEliminarGostei deste Papa Francisco, numa primeira impressão, e parece-me que vou continuar a gostar.
Eu sou uma pessoa de fé, embora muitas coisas da igreja não me digam nada.
Tenho vindo aqui espreitar, mas ando cansada e confesso que leio assim meio a despachar para não demorar muito. E acabo por nem deixar comentários.
Mas gosto sempre de aqui espreitar.
Um beijinho
Desconfio de que do Chico I não virá nada de bom!
ResponderEliminarBeijinho
Olá UJM,
ResponderEliminarEscolhas excelentes para ilustrar este seu post dedicado a S.Francisco de Assis e agora ao seu seguidor Francisco I. Também me parece ser um homem bom, simples, humilde e solitário e poderá abrir novos caminhos para a igreja e para o mundo. A ver e a crer, vamos!
Gostei imenso dos poemas, e da Cantata de Bach!
Também gostei muito do seu espaço de recolhimento,no seu in heaven e imagino como se deve sentir bem na sua Capelinha, nos momentos em que necessita da companhia da Virgem Maria e do Menino!...Todos nós temos a nossa fé, ou não, todos a sentimos de maneira diferente!
Comungo da mesma opinião da sua Leitora Antonieta, pois são as palavras certas para definir o que também sinto:
"You're a remarkable woman" and also "May all the Gods bless you"!
Um beijinho grande de agradecimento por mais esta partilha tão especial!
maria eduardo
Olá UJM!
ResponderEliminarMais um belíssimo post. Belo nas palavras e nas imagens. E por falar em imagens, não é que eu não goste de JS Bach, antes pelo contrário, mas já que mostrou as Rothko Chapel sugiro uma peça da tão incompreendida musica erudita contemporânea da autoria de Morton Feldman intitulada e inspirado nas pintura de Rothko para a referida capela.
Atrevo-me a dizer que é quase tão belo e espiritual quanto Bach.
Pode ouvir a peça no You Tube em:
http://www.youtube.com/watch?v=x-9QcADiekY&list=PLC5A06361CCC231D2&index=1
e ir vendo as pinturas de Rothko.
Será que vai gostar???
um abraço
Olá Bartolomeu,
ResponderEliminarMuito obrigada. Escolhi-as com gosto. Não sendo eu católica praticante e não sabendo dizer muitas coisas, o que me ocorreu foi usar palavras de poetas e imagens de lugares de recolhimento (a igreja de Barragán, um arquitecto mexicano cuja obra muito admiro, a capela Rothko porque sou devota de Rothko, e o meu local de recolhimento, um local muito meu, muito íntimo.
Um abraço!
Olá Antonieta,
ResponderEliminarÉ um lugar muito especial, muito meu. Lutei durante anos para ter aquele lugarzinho. Já aqui o contei: ninguém na família percebia, gozavam, era a anedota da família. Os meus filhos contavam na paródia 'a minha mãe quer ter uma capela!' e logo a mãe deles que nem os tinha baptizado, nem mandado à catequese. O meu marido, incrédulo, perguntava para quê e dizia que, se me andava a dar para rezar, porque não ia à missa, que saía mais barato do que ter uma capela em casa. Os meus amigos, a quem eles contavam isso como graçola, queriam que eu explicasse, não conseguiam perceber. Só a minha mãe é que dizia 'se ela quer, ela lá sabe, e não vejo porque não'.
Tanto lutei que a coisa lá foi avante. É um lugar sempre muito temperado. Não é fria no inverno nem quente no verão. Sabe muito bem estar lá. É tudo rústico, tijoleira artesanal, azulejos pintados à mão, troncos de madeira. Agora com estas chuvas e ventos, devem ter-se levantado umas telhas, porque escorreu um pouco de água na parede que se vê na fotografia. A ver se agora vamos ver o que se passa e se retocamos a pintura.
Gosto muito de lá estar. Mas só gosto de estar sozinha. Se estão lá várias pessoas, torna-se um lugar como os outros.
Se perguntar ao meu marido e aos meus filhos o que acham disto, não lhe dirão que sou remarkable: dirão que tenho é uma grande pancada! E acho que eles são capazes de ter razão...
Beijinhos!
Olá MJ,
ResponderEliminarNão vi! Gostava tanto de ter visto! A fotografia é de lá? Mas há lá gaivotas?!?! De onde vêm elas? Será costume aparecerem lá gaivotas? Que engraçado.
Sabe que eu, que nunca ligo patavina a estes assuntos, ontem estava curiosa, acho que estava com um 'good feeling'. Quando ia à tarde a conduzir já tinha saído o fumo branco mas nunca mais aparecia na varanda para se saber quem era. ia ouvindo o reporter entusiasmado e expectante e as opiniões de quem era entrevistado a partir do estúdio mas não podia ver imagens. Só quando cheguei a casa e liguei a televisão é que vi um pouco das imagens. E simpatizei muito com ele, a a começar pela escolha do nome.
Tomara que sejam tudo bons augúrios. Bem que o mundo está a precisar de uma boa condução espiritual.
Gostei muito do que escreveu. Obrigada.
Beijinhos, MJ!
Olá P. Rufino,
ResponderEliminarPois. Já fui ler e parece que se confirma mesmo. A Ciência vai-se encarregando de descobrir os grandes mistérios e a Religião, perdendo essa componente de fantasia em torno dos mistérios, pode dedicar-se à defesa das causas justas, à defesa das pessoas, da sua dignidade, dos seus direitos a uma vida melhor, do dever de honestidade e honradez.
Temos, pois, ALMA perscrutando os espaços longínquos e temos a percepção de que a partícula que desvenda o princípio dos tempos também já está descoberta. Por isso, aos poucos, pode ser que a Igreja se centre, agora, na defesa da melhoria das condições de vida das pessoas. Tomara, não é?
E tomara que o novo Papa esteja sempre perto das pessoas que tão abandonadas andam.
Muito obrigada pelas suas palavras que nos dão sempre que pensar.
Um abraço!
Olá Helena,
ResponderEliminarPelo natal costumam aparecer lá na empresa alguns antigos colegas. Há dois que vão sempre. Um é o director financeiro (DF) de quando eu entrei e outro é o seu contabilista. Quando eu entrei, eram homens 'entrados'. Discretos, afáveis. Tantos anos depois ainda são assim e fisicamente quase parece que os anos não passam por eles. Este ano fez-me impressão o que o ex-DF me disse quando lhe perguntei como estava. Sorrindo, com a doçura do costume, disse-me 'Cada vez mais sozinho. Vão partindo, sabe? Já se foram muitos, volta e meia lá vai mais um'. Ele disse isto sem drama, como uma constatação triste. Fiquei sem jeito, sem palavras. Ele reagiu 'É assim, é a vida' e sorriu. Depois lá mudámos de conversa. Não é fácil. Mas, de facto, é a vida.
Como acima contei, este meu canto é um canto especial, onde me sinto sempre muito bem, tranquiliza-me. O silêncio e aquele ambiente faz-me muita falta, faz-me bem.
No seu canto, com certeza que o sorriso doce e travesso do seu menino desce para se vir sentar ao seu colo, porque colo de mãe é para sempre e dar colo a um filho é também para sempre.
O sorriso dele está ainda muito presente em todos nós. E se está para nós, para si, então, estará ainda milhões de vezes mais. O sorriso, as palavras, o abraço. E sempre estará para a abraçar de cada vez que mais alguém se vai.
Um abraço Helena, e que para sempre seja Bárbara Helena!
Olá Isabel,
ResponderEliminarGosto sempre imenso das suas palavras, sempre tão directas, tão sinceras. Eu também ando cansada, ando a precisar de dormir. Compreendo-a muito mesmo. As palavras saem sozinhas dos meus dedos mas, se tivesse que fazer algum esforço, não conseguia de tão cansada que ando.
Deito-me tarde, levanto-me cedo, tenho tido muito trabalho e, a acrescer, tenho fisioterapia que acaba muito tarde (duas horas e meia que me cansam) e chego a casa muito tarde (como foi hoje o caso, outra vez).
Junto-me a si nos votos de que Francisco I seja um grande Papa, bondoso, tolerante, lutador em favor das pessoas, justo, aberto.
Beijinhos Isabel!
Olá lino,
ResponderEliminarAcha?! eu sei que sou optimista e que me fio muito na minha intuição mas olhe que a impressão que me ficou é muito favorável e tenho esperança que Francisco I agite consciências e denuncie injustiças. Esse é o papel da Igreja, não é?
Vamos ver. Eu tenho esperança.
Um abraço, lino!
Olá Maria Eduardo,
ResponderEliminarGostei do que escreveu, em especial quando deseja que todos os deuses me abençoem. Tomara que sim. eu acho que não faço mal a ninguém e, quando isso acontece, temos menos a temer.
Agora, por dizer isto, lembrei-me do que me admirei quando, no casamento da minha filha (que, como não é baptizada, casou 'na' igreja, enquanto o marido casou 'por' igreja), a minha filha resolveu ir comungar. eu fiquei espantada e perguntei-lhe 'Mas confessou-se?!' porque, da ideia que tinha, não se podia comungar se, antes, não se tivesse confessado. Pois bem, a minha mãe respondeu-me 'Não. Mas não é preciso que eu também não faço mal a ninguém, não tenho pecados'. E lá foi comungar. Tenho pensado muito nisso. A minha mãe é assim, sempre na boa apesar das contrariedades. E eu acho que herdei um bocado isso dela. Também não faço mal a ninguém. Quando me insurjo contra os incompetentes e ignorantes que nos desgovernam não é para os chatear mas sim para os denunciar pois são eles que estão a fazer mal à população. Mas tirando as irritações de que sou acometida quando falo destes incompetentes, geralmente sou pacífica. Frontal mas incapaz de intrigas, de destemperos.
Acho que Francisco I vai ser uma grande Papa e se uma gaivota foi mesmo levar-lhe a graça dos largos voos, então acredito que ele irá voar.
Obrigada pelas suas palavras e um beijinho, Maria Eduardo!
Olá Joaquim,
ResponderEliminarA si apenas lhe consigo dizer que gostei... e muito - e vai ver quanto.
Muito obrigada por tudo.
Um abraço.
Olá, UJM!
ResponderEliminarGostei muito do seu espaço de oração, apela à alegria, lindo, fez-me lembrar a capela do Convento da Arrábida, mas quando está sem pessoas, apenas eu e o silêncio, talvez também o vento ou mesmo a chuva, enfim a energia que vem da Natureza.
Bom fim de semana
Um Abraço.
Olá Alice rodeada de Alfazema,
ResponderEliminarTambém eu sinto um envolvimento maior quando, em dias de inclemência, chuva, vento, me abrigo aqui, recolhida. O silêncio interior ou os sons da natureza têm em mim, também, um efeito apaziguador. Uma paz muito grande.
Um beijinho, Alice!