Quero começar o ano a escrever de coisas boas, de coisas que me agradam. Não vou começar o ano a falar de maçadorias, de conversas inconsequentes, de hipocrisias, fantochadas. Falar da conversa de Cavaco Silva? Para quê? Aquilo dá nalguma coisa? Falar no texto interminável que um senhor do PSD que eu nunca tinha visto mais gordo se viu aflito para ler?
(Um texto tão longo que deve ter levado uma semana a escrever e que, depois, foi lido como se tivesse sido escrito em poucos minutos, depois de terem ouvido a conversa do Senhor Presidente. Um senhor com tanta falta de jeito que dava dó e que deve ter sido o único que se prestou àquele frete.)
(Um texto tão longo que deve ter levado uma semana a escrever e que, depois, foi lido como se tivesse sido escrito em poucos minutos, depois de terem ouvido a conversa do Senhor Presidente. Um senhor com tanta falta de jeito que dava dó e que deve ter sido o único que se prestou àquele frete.)
E depois todas televisões inundadas de gente a dizer mais do mesmo. A toda a hora, mais do mesmo. E lá apareceu aquela Teresa Leal do PSD a dizer que o branco é preto e o preto é azul, e o amarelo é verde e o encarnado é cor de pistachio. Ou seja, o que calha. E o Ângelo Correia que parece que está a dar na cabeça do Governo mas que afinal não é bem assim, uma conversa redonda como a carinha dele, benza-o deus. Já cansa.
Não, estou-me nas tintas para eles todos.
Aliás, hoje quero é mesmo abstrair-me de foleirices, papagaiadas.
E não tenho muito de que falar porque, depois do Natal, depois de dias de reformas cá em casa, hoje foi dia de festa de Ano Novo. Por isso, imaginam o estado em que me encontro.
Ontem deitei-me muito tarde, que isto de correr com o ano velho e receber em festa o ano novo requer tempo e festança. Depois, de manhã, foi como no master chef: na cozinha a fazer várias coisas ao mesmo tempo, tachos e frigideiras, tabuleiros de forno, e ir lavando a louça e tudo a correr que à uma hora começariam a chegar. E assim foi.
Gente com apetite - que eu penso que estou a fazer comida que chega e sobra para levarem farnel abastado e, afinal, já não sobra assim tanto. Acabam por levar umas caixitas mas não tanto quanto eu imagino quando faço comida que nunca mais acaba.
O ex-bebé, então, come como um lenhador. Depois de ter comido salada de grão com bacalhau e ovo cozido, e lasanha (fiz duas: lasanha de carne normal e outra de requeijão, espinafres e cogumelos; já agora: em vez de natas usei iogurte para ficar mais saudável), atirou-se ao entrecosto assado como se não comesse há meses.
Ainda faltam uns meses para fazer dois anos mas já não se atrapalha nem um bocadinho, agarra-se ao entrecosto e devora a carne toda, deixando o osso completamente limpo. Comeu três pedaços. No intervalo de cada um, quando lhe tiram o prato para ir buscar mais, até chora. Acaba todo besuntado e satisfeito.
Eu, que gosto de ver as pessoas à minha volta a comer com gosto, fico toda realizada.
E depois foi o que já adivinham: brincadeira, pequenas brigas entre os mais pequenos ('ito é méo!', 'não empéto!'), risos, choros, partidas e, claro, a desarrumação do costume. E puxam uns pelos outros, desafiam-se, aprendem uns com os outros. Dá gosto ver como interagem tanto e como gostam tanto uns dos outros.
Não há nada para que ele não suba (num ápice está em cima das mesas de jantar, da cozinha, do que calha, basta que queira o que lá está em cima e não chegue de outra forma - não se pode perder de vista nem por um instante; por mais que nos zanguemos ou, até, lhe demos palmadas, ri-se, desafiador, e faz o mesmo passado um bocado; mas é ainda tão bebé que não dá para grandes sermões ou palmadas mais a sério) e a prima que, quando ele se vai agarrar a ela, o rejeita, quando ele anda a fazer das dele, é ela que vai atrás do primo para o acompanhar nas suas odisseias.
O mais crescidinho, todo homenzinho nos seus quatro anos, brinca com carrinhos, faz descobertas, conversa, mas, às tantas, vendo as tropelias dos mais pequenos, resolve também fazer disparate, atirando coisas ao ar que aterram sabe-se lá onde.
Falta de dormirem as sestas, dizem as mães. E é. Tinham-se deitado por volta das duas da manhã a festejar a vinda do ano novo, estavam era capazes de ir dormir um bocado. Mas como, quando estão juntos, querem é brincar, ultrapassam o sono com brincadeira e mais brincadeira.
O bebé é que não resiste. Palra, ri, olha para tudo, dá ideia que já quer participar mas depois mama e cai no sono e é um encanto, lindo, fofinho.
Está quase a fazer cinco meses e está enorme. Hoje ia todo vestido não à bebé mas já todo rapazinho, mesmo giro. E é todo espevitado. Daqui por uns meses fará companhia aos outros três na brincadeira e então faço ideia do estado em que ficará a minha casa quando eles cá se juntarem. Se agora já é o que é...
A certa altura estavam todos ao pé uns dos outros, a lanchar na mesa que é ao lado da janela e estavam a ver umas gaivotas que vieram fazer uma coreografia alada aqui em frente, para nossa delícia (foi o nosso bailado de início de ano... quais valsas vienenses, qual carapuça). Quis fotografá-los a todos, pais e filhos. Mas qual quê. Lá tirar a fotografia, tirei. Mas o mais crescido ficou a fugir, a menina com a boca meio aberta e alguns dos outros com a cara meio tapada. Tentei repetir para ver se ficavam quietos, de frente, por uma vez na vida a posarem. Mas qual quê? Num instante um fugiu, o outro baixou-se, o outro virou costas. Mas não desisto, um dia vou conseguir apanhá-los todos aprumados, sorridentes, bem comportados. De qualquer forma, estou agora a ver a fotografia e faz-me rir, estão engraçados, a fotografia tem movimento e tem uma alegria contagiante.
No fim, já depois dos dois primos traquinas se terem ido embora, com o mano a dormir, a bonequinha pôde finalmente sossegar e dedicar-se a uma das suas actividades preferidas: desenhar e escrever. Já pega muito bem na caneta e diz que vai fazer um gato e, então, enquanto desenha, vai dizendo 'as olelhas', 'a boca', 'a cabecha' e quando eu pergunto onde está o rabo ela faz um risco e diz 'táki o ábo'. Depois faz uns risquinhos pequeninos e diz o nome devagar. Está a assinar.
A natalidade no país pode estar uma desgraça mas, na minha família, tem havido nos últimos anos uma reprodução em massa. Para além destes meus quatro, nasceram, no mesmo período, mais quatro primos em segundo grau. Até uma prima minha com quarenta e tal anos, que já tinha uma menina crescidinha e que dizia que não teria mais filhos, teve mais um bebé há dois meses.
Tomara que assim fosse com todo o país. Faz muita falta, a todos os níveis. E faz falta não apenas ao país, mas, também, a todas as famílias. Ter crianças numa família é uma alegria, um reboliço, uma animação. Não há tempo nem lugar para maus pensamentos, angústias, pesares. Com eles tudo é limpo, puro, inocente, feliz.
Para os meus amorzinhos pequeninos vão, pois, as minhas primeiras palavras deste ano que agora começa, para eles e para os meus filhos tão queridos. Que o ano seja muito bom, muito promissor, e que encarem com optimismo, com esperança, o futuro.
E que isso aconteça com todas as famílias. E com todas as pessoas, mesmo que quase não tenham família.
Que tenhamos vontade de caminhar em direcção ao futuro, que tenhamos vontade de construir o futuro para os que virão depois de nós.
São palavras vulgares, muito básicas, eu sei. Mas a felicidade não é senão um conjunto continuado de pequenos instantes, de pequenos bons instantes, e, também, de boas expectativas e de esperança.
*
Hoje no Ginjal a música é de Abrunhosa porque o importante é que nunca caiam as pontes entre nós e as palavras são sobre o breve instante que é a vida, inspiradas pelo breve poema de Rui Caeiro. Aceitem o meu convite: apareçam por lá.
*
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta feira.
Obrigada por este mundo colorido, risonho, feliz. Obrigada.
ResponderEliminarmaravilhosas fotografias
ResponderEliminarCara UJM:
ResponderEliminarCasa cheia com risos e brincadeiras de crianças… uma canseira gostosa! Tão bom poder partilhar e desfrutar desses momentos com os seus netos.
E neste recomeço mais uma mudança de visual. Agora de azul vestida. É bom entrar no novo ano com a cor azul que, dizem, é a cor do recomeço e dos bons inícios.
Mas li que a cor de 2013 será o verde-esmeralda. Num ano de uma profunda crise anunciada, será bom usar-se uma cor associada ao crescimento à renovação e à prosperidade. Diz a Pantone na sua página que “É a cor da elegância e da beleza, que aumenta a nossa sensação de bem-estar, o equilíbrio e a harmonia”.
E, seria tão bom que todos pudessem gozar de harmonia, felicidade e alegria!
E tenha dias muito Felizes!
Abraço amigo da
Leanor
Olá UJM!
ResponderEliminarGostei da forma, solta , jovem , descontraída e compreensiva como nos descreveu a presença dos seus netos em sua casa. Gostei e...muito. Faço votos para que continue assim mansa, jovem e saltitante para nos transmitir o prazer da alegria das suas "crónicas" que tanto bem nos fazem!
Hoje ao almoço lembrei-me do seu neto. Comi "spare ribs" (em estrangeiro é mais fino) e os ossos ficaram também limpinhos.Um sorriso para ele!
Par si um abraço
Abó, muito bom, o seu espaço, o seu mundo, ... a sua visão das coisas... Pudessem ter todos o seu «jeito manso» e a limpidez da sua escrita e teríamos um mundo bem melhor! Obg.
ResponderEliminarApetece-me dizer uma banalidade, mas é tão sentida!...
ResponderEliminarComo diria Linhares Barbosa:
"É tão bom ser pequenino
Ter pai, ter mãe, ter avós
Ter esperança no destino
E ter quem goste de nós"
(...)
A minha Amiga reúne à sua volta quatro gerações, o que constitui uma enorme bênção.
E que gratificante é esta partilha.
Desejo a todos um 2013 sem grandes sobressaltos e, se possível, com a vinda de outro bebé.:)
Beijinho.
Amiga,
ResponderEliminarDe visual novo, neste novo ano...gostei muito, o azul é lindo!!
Os seus meninos e a forma como fala deles...uma maravilha!!
A família unida é o melhor que podemos desejar.
Que a sua se mantenha em harmonia por muitos e bons anos.
Abraço Grande.
MCP
Olá Margarida,
ResponderEliminarPois é, é mesmo um mundo cheio de cor e boa disposição. Ou, então, sou eu que o vejo assim.
Claro que há zonas de sombra. Mas a luz que vem do lado luminoso ajuda a iluminar esse lado sombrio. Ou tento que o faça.
O que desejo é que essa luz (light - já aprendi...) passe um bocadinho para aí, para quem me lê.
Outra coisa: acho fantástica a sua imaginação para dar nomes às suas patudinhas. A gente olha para elas e associa-lhes o nome e é uma graça. A fofa mais nova é uma ternura e tem uma cor linda, entre o castanho e o cinza. As outras, mais maduras e acomodadas, devem ter que ter uma paciência para aturar a irreverência da mademoiselle... Mas, imagino para si, a ternura que deve ser ter uma fofinha assim, só deve dar vontade andar com ela ao colo, não é?
Beijinhos, Margarida.
Olá Patrício Branco,
ResponderEliminarMuito obrigada.
São fotografias tiradas com o coração, não com uma simples máquina.
Olá Leanor,
ResponderEliminarPois é, eu sei. Aliás já era a cor da moda, já muito divulgada pela Kate Middleton. E eu gosto muito de verde esmeralda. A ver se, numa próxima mudança, me lembro de a usar. Agora, com esta fotografia não dá pois as riscas puxam para este azul. Estive a ver a página da Pantone e vejo, para me consolar, que o Monaco Blue, que é muito parecido com este, também é uma das cores do ano...
Agora arranco o ano com azul pois quero mesmo um recomeço com bons augúrios. Daqui por algum tempo, mudo para o verde do equilíbrio e harmonia.
Quanto aos risos das crianças, são um bálsamo. Ainda hoje estive, outra vez, com eles e é sempre um banho de inocência e alegria.
Um abraço, Leanor dos dias felizes!
Olá Joaquim,
ResponderEliminarHoje, o último destes meus diazinhos de férias, fomos à Gulbenkian. E que alegria, os patos, os jardins, o lanche, tudo tão bom, tão feliz. Estava frio mas uma tarde tão bonita.
Fico muito contente por saber que as minhas 'crónicas' são boas de ler.
Ainda hoje a minha filha, que as lê, me dizia em tom de recriminação, que eu, aqui, me queixo que ando cansada e que escrevo com sono mas que não andaria tanto se me deitasse mais cedo. Pois é.
Mas se eu gosto tanto de escrever e se não consigo começar a escrever mais cedo... Ainda agora, já é meia-noite, e ainda estou a responder aos comentários. Vai outra vez dar para tarde... E amanhã já é dia de trabalho.
Mas, enfim quem corre por gosto não se cansa, não é?
Um abraço e muito obrigada.
Olá Pedro Almeida Sande,
ResponderEliminarÉ um mundo muito simples, o meu. E é essa simplicidade que me faz ser assim, bem disposta.
Mas atenção que não sou assim a tempo inteiro. Também tenho os meus momentos de fúria...
Agora uma coisa é certa: por natureza não sou dada a complicar o que pode ser simples mas, racionalmente, também fujo de intrigas, invejas, maus feitios. A vida é curta para a gente a desbaratar. Concentro-me naquilo de que gosto. Natureza, bons sentimentos, bons livros, boa gente, coisas assim.
Muito obrigada pelas suas palavras. Agradam-me. Ou seja, obrigada eu.
Olá GL,
ResponderEliminarPois é, somos quatro gerações e todos a darem-se bem, todos com um feitio parecido, bem disposto, simples. Gosto muito disso. E gosto muito de ver os meus filhos tão amigos dos avós e os meus netos a gostarem também tanto dos avós. Há um fio condutor que é muito forte e nos enche a todos de afecto. Penso que muito do que sou resulta disto, de pertencer a um grupo de gente que se quer bem.
Também eu tive avós até tarde (perdi a minha avó, a última, há cerca de 3 anos) e era uma mulher de mente aberta, moderna, bem disposta. Gostava muito desta minha avó. E os meus filhos também gostavam muito dela.
Quanto a mais bebés já não digo nada. Do que tenho ouvido, não está nos planos mas tem sido uma tal sucessão que, se vier já mais um, já não me admiro.
Obrigada pela alegria das suas palavras.
Um abraço, GL!
Tudo bonito!
ResponderEliminarÉ bom ver a alegria e a felicidade.
Que seja assim todo o ano!
Um beijinho
Olá MCP,
ResponderEliminarPois é, gosto de mudar. Gosto de decoração. Mudei a casa, mudei o blogue. E gosto de azul. Azul é 'boa onda'.
Quanto aos meus pequeninos, havia de vê-los hoje na Gulbenkian. Adoram! Brincam que dá gosto vê-los.
Depois fomos a uma exposição, Um chá para Alice. E há lá um grande vaso com uma planta com bules. E dentro do vaso, a cobrir, há pedrinhas brancas. Pois imagine que o ex-bebé partiu a correr e, num ápice, agarrou uma mão cheia de pedrinhas e atirou-as ao chão... A mãe foi a correr atrás dele mas não foi a tempo. Depois lá andou tudo de rabo para o ar a apanhar as pedrinhas. Aquele miúdo... E depois ri, todo contente. O irmão, responsável, até fica assustado com as coisas que ele faz.
Tirei uma fotografia ao momento e só não a mostro aqui porque se vê as caras deles todos e não quero expô-los aqui, como é óbvio. Mas tem graça, todos de rabo para o ar na exposição.
Um abraço, MCP!
Olá Isabel,
ResponderEliminarFico muito contente por partilhar convosco o ambiente de afectos e sorrisos em que vivo, especialmente quando estou rodeada pelos meus amores, grandes e pequeninos. Agradeço os seus votos. É tudo o que quero, que para os meus meninos, crescidos e pequenos, a vida seja alegre, boa, promissora.
Muito obrigada, Isabel. Um beijinho.
Olá UJM,
ResponderEliminarÉ um encanto tudo o que nos conta e as fotos que nos mostra dos seus netinhos, tiradas com uma máquina muito especial, a máquina do seu "coração"... que transborda de alegria e felicidade, e é de tal maneira contageante, que senti aqui todo esse calor humano, como se fizesse parte dessa família maravilhosa! Obrigada.
Desejo a si e toda a sua família as maiores felicidades e que a alegria de viver, de sonhar e encantar continue neste ano de 2013ainda com mais energia e paixão!
O novo visual é lindo!
Um grande beijinho e obrigada pela partilha.
maria eduardo
Olá Maria Eduardo,
ResponderEliminarAno novo, vida nova. Então ia lá eu mudar a decoração aqui de casa e deixar esta casa onde vos recebo sem um arranjozito...? Não senhor. Aqui, onde recebo os meus amigos, o pó deve estar sempre limpo, os panos sacudidos, e quero cores vivas, alegres, e flores à mesa. Ainda bem que gostou.
Quanto aos meus meninos e à alegria calorosa que me vem deles, gosto de partilhar convosco pois é uma dádiva muito especial e imensa que me custa guardar também para mim. Fico contente por pensar que nos recebem com agrado na vossa casa, no vosso coração. Fico muito agradecida.
Um beijinho, Maria Eduardo!