Formei-me em letras e na bebida busco esquecer. Mas só bebo nos fins de semana. De segunda a sexta feira trabalho numa editora, onde uma das minhas funções é examinar os originais que chegam pelo correio, entram pelas janelas, caem do teto, brotam do chão ou são atirados na minha mesa pelo Marcito, dono da editora, com a frase 'Vê se isto presta'.
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Nas segundas feiras estou sempre de ressaca, e os originais que chegam vão direto das minhas mãos trémulas para o lixo. E nas segundas feiras as minhas cartas de rejeição são ferozes. Recomendo ao autor que não apenas nunca mais nos mande originais como nunca mais escreva uma linha, uma palavra, um recibo. Se Guerra e Paz caísse na minha mesa numa segunda feira , eu mandaria seu autor plantar cebolas.
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Certa vez recomendei a uma mulher chamada Corina que se ocupasse de afazeres domésticos e poupasse o mundo da sua óbvia demência, a de pensar que era poeta. Um dia ela entrou na minha sala brandindo o livro rejeitado que publicara por outra editora e o atirou na minha cabeça. Quando me perguntam a origem da pequena cicatriz que tenho sobre o olho esquerdo, respondo:
- Poesia.
Corina já publicou vários livros de poemas e pensamentos com grande sucesso. Sempre me manda o convite para seus lançamentos e sessões de autógrafos. Soube que sua última obra é uma compilação de toda a sua poesia e prosa, com quatrocentas páginas. Capa dura. Vivo aterrorizado com a ideia de que ainda levarei esse tijolo na cabeça.
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Mesmo as minhas cartas de rejeição mais violentas, minhas diatribes de segunda feira, terminam com um P.S. amável. Instrução de Marcito.
[Excerto do início do romance Os Espiões de Luís Fernando Veríssimo]
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Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar: duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras e eu às quintas.
Nós também dormimos em camas separadas: a dela é em Fortaleza e a minha, em São Paulo.
Perguntei a ela onde ela gostaria de ir no nosso aniversário de casamento, "em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!" ela disse. Então, sugeri a cozinha.
Nós sempre andamos de mãos dadas... Se eu soltar, ela vai às compras!
Ela tem um liquidificador, uma torradeira e uma máquina de fazer pão, tudo elétrico. Então, ela disse: "nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar". Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.
Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.
Mas, tenho que admitir: a nossa última briga foi culpa minha. Ela perguntou: "O que tem na TV?". E eu disse: "Poeira".
[Excerto de Texto Humorístico de Luís Fernando Veríssimo]
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Luís Fernando tem 76 anos, é escritor. As suas crónicas no Expresso eram sempre uma graça, uma graça inteligente, tive imensa pena quando terminaram. É filho de Erico Veríssimo, escritor. Luís Fernando é também músico, toca saxofone.
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Luis Fernando Verissimo está internado em estado grave desde a tarde de quarta-feira no hospital Moinhos de Vento, em sua Porto Alegre natal. Às 18h desta quinta-feira, a equipe médica responsável pelo escritor e colunista do GLOBO, de 76 anos, realizou uma coletiva de imprensa. Segundo o superintendente médico da instituição, Nilton Brandão, Verissimo apresentou melhoras ao longo do dia, mas seu estado de saúde ainda requer cuidados e ele segue no Centro de Tratamento Intensivo (CTI). No momento, está sendo pesquisada a origem de sua infecção.
De acordo com informações do Zero Hora, o primeiro sintoma, uma forte indisposição, foi sentido pelo escritor na última sexta-feira. Na semana passada, Verissimo havia participado de um evento literário em Araxá (MG) e passou alguns dias no Rio de Janeiro.
(Excerto da notícia publicada n' O Globo)
Tomara que Luis Fernando Verissimo se ponha rapidamente bom. Daqui lhe envio o meu voto de francas melhoras.
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A primeira música é de Gabriel o Pensador e chama-se Linhas Tortas.
Convido-vos ainda a visitarem-me no meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras olham os veleiros que regressam vazios e sem destino, para se juntarem às palavras de Ruy Belo. A música é um lamento e, claro, é ainda Henry Purcell.
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E já é outra vez sexta feira. O tempo corre de uma maneira...
Tenham, meus Caros Leitores, um belo dia.
ResponderEliminarOlá, UJM
E eu junto-me a si nos votos de melhoras a este homem que muito nos tem dado, através da sua obra e do seu talento.
Beijos
Olinda
Olá, bom dia
ResponderEliminarVim através do blog da amiga Olinda, de quem sou admiradora, porque pensei: se ela cita este blog, é bom, com certeza.
E assim, aqui estou, encantada!
Estive a ler a história que a Olinda refere - Lídia - de que gostei imenso.
Quanto à última postagem, fiquei chocada com a notícia da doença de Veríssimo, de quem sou fã incondicional. Gosto imenso de tudo que ele escreve, e tenho muitas crónicas gravadas (e algumas já publiquei).
De coração desejo as melhoras. Que ele consiga superar, e continuar a encantar-nos com os seus escritos.
Voltarei, se me é permitido, pois considero este blog de grande qualidade.
Não vi aí como me fazer seguidora... por isso não o pude fazer.
Bom fim-de-semana.
Beijinhos
Esperemos que recupere, que fique bem.
ResponderEliminarPerante esta sucessão de notícias, interrogo-me sobre se a geração que lhes sucede terá esta mesma "qualidade".
Creio que sim.
Há valores emergentes, das Humanidades às Ciências, com provas dadas, provas que são a nossa esperança.
Abraço
Amiga:
ResponderEliminarFiquei triste com esta notícia. Li os livros todos do pai, que considero um grande escritor. Gosto muito de Luís Fernando e do seu humor fino, sarcástico, inteligente.
Fiquei triste, mas não consegui deixar de sorrir, com os textos que publicou. Acho que o meu sorriso, é a melhor maneira de lhe dizer que, ele tem de vencer a doença e continuar a fazer o que faz tão bem. Dar um pouco de cor, à vida de quem tem poucas razões para sorrir.
Espero que ele melhore.
Abraço grande
Mary, com uma lagrimita nos olhos.
Olá Olinda,
ResponderEliminarMuito obrigada.
Sou muito grata a Luis Fernando Verissimo pois devo-lhe muitos sorrisos, muitas gargalhadas.
Escreve bem, com inteligência e graça. Tomara que se ponha bom.
Acho que ele gostará de saber que estamos a torcer por ele. Muito obrigada, Olinda!
Olá Mariazita,
ResponderEliminarAinda bem que veio dar aqui e ainda fico mais contente por ter vindo 'pela mão' da Olinda.
Será sempre muito bem vinda. Espero que nunca se desiluda.
Quanto a isto dos seguidores não consigo ajudar. Quando abro o blogue vejo que tenho vários seguidores e fico muito admirada pois não faço ideia como se juntaram a mim. Nisto de blogues comecei por graça e escrevo tanto que não me sobra tempo nenhum para tentar aprender alguma coisa mais.
No que se refere ao Luis Fernando verissimo fez-me muita impressão como a infecção se espalhou tão rapidamente pelo corpo e foi logo tão grave. Assustam-me estas coisas. Tomara que não tarde esteja aí de novo a escrever para nos encantar.
Por ele, agradeço as suas palavras Mariazita.
Um bom fim-de-semana para si também e um abraço!
Olá GL,
ResponderEliminarEspero que Luis Fernando Verissimo se ponha bom o mais depressa possível pois está a pregar um susto a todos quantos o admiram.
Mas tem razão, há muitos escritores de língua portuguesa muito bons, portugueses e brasileiros. O Brasil, por exemplo, fervilha de novos valores seja na literatura, seja na música, seja no que for.
Muito obrigada e, neste caso, tomo a liberdade de agradecer em nome dele.
Um abraço e bom fim de semana, GL!
Olá Mary,
ResponderEliminarOlhai os lírios do campo, não é? Olhemos. Também sou admiradora do pai.
Ontem escolhi trechos bem divertidos pois não apenas ele todo puxa para o humor como, também, acho que é a melhor forma de lhe transmitirmos que nos faz muita falta. Tenho-me rido muito com o que ele escreve e quero continuar a fazê-lo. A boa disposição dele é inteligente e andamos todos precisados de desanuviarmos, rirmos, estarmos bem dispostos.
Por isso, tomara que ele se ponha bom e volte a escrever coisas engraçadas e desconcertantes.
Um abraço, Mary. E vamos rir para ver se o nosso riso chega até ele e ele arranja força para se pôr bom e voltar a fazer-nos rir.
Bom fim de semana, Mary!
Olá,
ResponderEliminarDo pai, apenas li o 'Olhai os Lírios do Campo', há muito, muito tempo.
Do Luis Fernando Veríssimo, recordo com saudade as crónicas do expresso, que muito me divertiam com o seu humor inteligente e desconcertante.
Não sabia que ele estava assim tão doente.
Junto-me a si e restantes leitoras no desejo que ele recupere rapidamente!
Bom fim de semana, Tázinha, talvez à lareira, a ler as Botas do Sargento aos netinhos (já o tem?), ou a ver o Hachico...
Ontem na Bertrand (está com 20% desconto este fds),
comprei um livro mto giro da Agustina.
Chama-se Dentes de Rato, tem desenhos da filha Mónica Baldaque e é muito barato!
Beijinho e boas leituras.
Antonieta
Olá Antonieta,
ResponderEliminarÀ lareira, é certo, mas nem filme, nem livro. Nem o livro já veio, nem na sexta feira consegui ir 'abastecer-me' (sou addicted, já o confessei). Por isso, por hoje só o Expresso (que só consegui começar a ler depois do jantar, pois o dia foi preenchido com outras ocorrências) e nem vou conseguir escrever nada hoje, para além de responder aos comentários.
A ver se amanhã consigo escrever alguma coisa durante o dia.
Um beijinho, Antonieta.