terça-feira, novembro 13, 2012

Estarei certa quando penso que a Frau Angela Dorothea Merkel veio cá às compras? A Fraport e a ANA não terão sido tema de conversa enquanto ela e o embasbacado Passos Coelho degustavam o consommé de aves e o cabrito assado? Não...? Veremos. Adiante. Sobre Guilhermina Suggia, Isabel Millet diz-nos aqui, no Um Jeito Manso, que acaba de sair o terceiro livro da sua trilogia dedicada à violoncelista. Chama-se "Rua da Alegria nº 665", a morada da casa onde Suggia foi viver com o Dr. Carteado Mena quando voltou para o Porto. Muito obrigada e boa sorte, Isabel Millet!


Cheguei tarde a casa. Quase não vi televisão e, cá para mim, não perdi muito. 




Enquanto escrevo, vejo agora uma Angela de casaquinha branca, apressada enquanto andava com Cavaco Silva, provavelmente sabendo que ele ia divergir das suas posições, e depois, nas calmas, toda apoiante das políticas restritivas defendidas 'doentiamente' por Passos Coelho.

Agora vejo o Álvaro que parece que descolou deste Governo, ou desaderiu da realidade em que se insere, ou resolveu fazer um número qualquer que ainda não percebi. Atira-se contra a UE, espadeira contra Bruxelas. Não sei qual é a dele. Nem sei se alguma daquelas coisas é a sério ou se é apenas mais um pastel de nata que lhe anda a sair da cabeça. É tudo de uma tal falta de consistência, tudo desarticulado, não se percebe se há uma ideia por trás do que dizem. Este Álvaro, então, parece que ou não está bom da cabeça ou partiu para a oposição sem perceber que está dentro do governo.

Seja como for, também ainda não percebi bem o que veio a Popota Merkel fazer a Portugal: se veio apoiar Passos Coelho, se veio mostrar-se perante o mundo como sendo apoiada pelos pobres e mal pagos intervencionados ou se, muito pragmaticamente, veio tratar de negócios. Cá para mim, deve ter sido um misto das três mas, sobretudo, da terceira. Vamos ver quem é que vai comprar a ANA. Vamos ver se não será, por acaso, a Fraport, um dos três concorrentes. Não é a empresa que está a oferecer o melhor preço pelo que talvez estivesse a precisar de um empurrãozinho (será que a palavra no diminutivo leva til...? Não me parece, mas não me parece nem de uma maneira, nem de outra), mas de um empurrãozinho especial, um chancelerino empurrão. Eu apoio-te, Pedrinho, eu apoio-te, eu incentivo o investimento alemão, e já sabes que somos generosos nas contrapartidas. E descansa, filho, que eu estarei politicamente ao teu lado para deixarem que isso desconte no défice, aqueles tipos de Bruxelas são uns bananas mas uns bananas maçadores, mas deixa que eu dou um empurrãozinho. E até te ajudo, olaré se ajudo, a fazer um banco de fomento, o jeitão que isso nos vai dar, ajudo, então não ajudo? Mas já sabes o que tens que fazer, Pedrinho, tu vê lá, tu facilita. Mas, enfim, isto sou eu a divagar (pois, não acredito que ela o trate por filho).

O país está em saldos, visto de fora é um pequeno rectângulo com uma enorme tabuleta a dizer SALDOS.




Um país de corda na garganta, em que tudo está à venda: as empresas privadas aflitas de tesouraria, as casas, as herdades, a companhia de aviação, os aeroportos, os correios, a água, a televisão, tudo. E os alemães têm liquidez. E têm-na também os chineses, os angolanos, os brasileiros, os colombianos. Não interessa a proveniência do dinheiro, não interessa nada. Passos Coelho, António Borges, Carlos Moedas, Miguel Relvas, Vítor Gaspar querem é despachar tudo, tudo.

Visto de fora Portugal é um país agradável, com um bom clima, um povo hospitaleiro (ainda no outro dia, um alemão que veio trabalhar para Portugal e trouxe a família - simpatiquíssimo, ele, como geralmente o são os alemães civilizados - me dizia que estava encantado, que toda a gente é muito simpática, que já convidaram os filhos para festinhas de aniversário e que os meninos chegaram a casa a perguntar o que quer dizer 'obrigado' porque, na escola, as pessoas estão sempre a dizer 'obrigado'), em que o povo protesta a cantar Lopes Graça, em que, nas manifestações, as meninas se abraçam aos polícias, em que os ordenados baixam, as pensões de reforma baixam, os subsídios de desemprego baixam, em que toda a gente empobrece mas empobrece alegremente, mascarando-se, tocando tambor, fazendo filmezinhos de brincadeirinha e outras brincadeirinhas assim. O local ideal para se investir, o local ideal para se vir tomar conta do que se comprou.

Cá para mim foi disso que a Angela Dorothea veio tratar. Veio às compras.

Mas, aqui chegados, a esta indigência - a esta indigência desavergonhada, um país a portar-se como uma prostituta de beira de estrada, a vender-se barato e sem impor quaisquer condições - uma coisa vos digo: antes aos alemães que aos outros. Mas, enfim, é uma tristeza termos chegado a isto. 




No dia em que nenhuma empresa for portuguesa, no dia em que as equipas de gestão das empresas forem todas estrangeiras, no dia em que sejamos todos tratados como imigrantes na nossa própria terra, o que será de nós?

*

Bom, mas agora não quero falar mais de coisas que me aborrecem tanto, que me preocupam tanto. Vou, antes, falar de uma boa surpresa que hoje tive. 


Suggia e os gatos


Ao abrir os comentários, tinha um comentário de Isabel Millet, a autora do livro Guilhermina e Pablo de que falei aqui há tempos, num texto a que dei o título de  Guilhermina Suggia e Pablo Casals, o violoncelo em todo o seu fulgor e um love affair dos antigos.

Fiquei mesmo surpreendida e mesmo contente. Se forem até lá poderão ler as suas palavras tão agradáveis. Para os mais apressados, permito-me transcrever a parte em que anuncia o lançamento do terceiro livro: 

O terceiro livro foi agora editado. Intitula-se "Rua da Alegria nº 665". É esta a morada da casa, no Porto, para onde Guilhermina e o Dr. Carteado Mena foram viver, quando casaram. Foi nesta casa que Suggia reuniu um grupo de alunos, de que fazia parte a minha mãe e assim se conheceram. Quando Suggia morreu, em 1950, deixou esta casa em herança à minha mãe e foi aí que nasci. Este último livro é mais extenso, pois contém mitas fotografias, cartas, documentos, críticas, artigos, alguns dos quais a cores. Acho que a editora fez um bom trabalho! O lançamento está marcado para o dia 20 de Dezembro, Quinta-feira, às 18h00, no Porto, na escola de música Guilhermina Suggia, na Rua D. Manuel II, perto do Museu Soares dos Reis. Tenciono passar duas entrevistas de Suggia, inéditas.

Haverá um lançamento também em Lisboa, em data ainda não agendada.


Escrever um blogue como eu o faço tem muitos aspectos gratificantes. Desde logo porque, gostando eu tanto de escrever e de partilhar, não podia ter melhor espaço do que este, onde vos falo das minhas ideias, dos meus livros, das músicas de que mais gosto, da minha casa, dos meus gostos, dos meus amores, onde crio histórias que partilho convosco em tempo real. Depois, ao certificar-me de que não cometo erros ao escrever, acabo por descobrir coisas novas, aprendo muito. E, finalmente, porque conheço tantas pessoas, pessoas tão generosas, tão simpáticas, com quem tanto aprendo, que partilham comigo as suas ideias, as suas vidas, as suas dores, as suas esperanças, as suas actividades. Só por isso já esta aventura de aqui escrever já valeria a pena.

Hoje, ao ter lido aqui as palavras da autora de um livro de que eu tinha falado, fiquei mesmo surpreendida, mesmo emocionada. E agradecida, porque nisto de alguém escrever umas palavras dirigidas a uma outra pessoa há sempre muita generosidade. Daí eu ficar sempre tão sensibilizada com todas pessoas que fazem a gentileza de aqui me deixar as suas palavras, nos comentários.

*

Hoje, enquanto estava na fisioterapia, na parte em que não sou eu que faço mas, sim, que me fazem a mim, estando eu, sossegada a ler, comecei um livro interessante, um dos que vos falei aqui no outro dia, Óleo sobre Tela, e tinha resolvido transcrever aqui um pouco de um dos contos para relacionar com alguém de quem já aqui falei noutro dia, Tamara de Lempicka. Mas dado que isto já vai longo e dado que daqui a nada são 2 da manhã, já não o farei (nem vou passar uma vista de olhos pelo que escrevi, pois estou cheia de sono; por isso, se houver muita gralha, por favor, relevem, está bem?). Talvez amanhã.

*

Ainda não é desta que me vou embora... Agora ainda vou convidar-vos a ficarem um pouco mais na minha companhia. Hoje, no Ginjal e Lisboa, continuo com Rameau, magnífico, podem crer, e as minhas palavras hoje estão fogo, nem queiram saber, uma coisa mesmo caliente, e tudo porque um poema de Eduardo Pitta me levou para ali.

***

E nada mais por hoje. desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça feira! 

8 comentários:

  1. A 1ª fotografia deste Post diz tudo: a Popota a falar e em baixo, na tabuleta escrito “Governo de Portugal”. Afinal de contas, como dizia a “Sábado”, na capa, “ela manda em Portugal”. E o Massamá a assobiar para o ar. De óculos. Com o cabelo mais ralo. Quem se mete na política trama-se (a não ser que seja um Relvas, o único a quem não cai o cabelo e não envelhece; quer-me parecer que se deve ao sorriso velhaco). E, interessante, com uma gravata encarnada “à Sócrates”, uma das cores (de gravata, naturalmente) preferidas daquele, hoje a filosofar em Paris, numa “de relax”.
    O Álvaro (ou Alvarito, como me dizia uma amigo ali a trabalhar) é um pimpão, não se deve levar a sério. Quando nos vem propor os tais 10% para o IRC não o levo a sério, pois de certeza que não tem a concordância do “falcão” Gaspar. Levo mais a sério, apesar de tudo, o Miguel Beleza, quando propõe o fim do mesmo IRC, com vista a dinamizar as empresas visto que o dito (IRC) não constitui mais do que 11,8% da receita fiscal. Se deixasse de existir, quem sabe se as empresas passariam a ter um pouco mais de “folga” para continuarem a laborar e manterem emprego!
    Não me admirava que no meio de tanta conversa, entre Angela (que veio, como diz, ás compras) e Pedro (um “romance” a seguir com atenção) estivesse no “menu político” isso mesmo.
    O País está a saldo: é bem verdade! E agora, um dos “compradores” dos nossos anéis, Angola, estrebucha colericamente e de forma grosseira e inqualificável, que os estamos a tratar mal, apesar de aqui virem ao pote, comer “à grande e à francesa” do que por cá ainda “vai havendo”.
    Nós empobrecemos, “cantando e rindo”(até ver.....), o Governo não percebe que quem empresta se está nas tintas que nos vamos afundando porque o que lhes importa é que continuemos a pagar-lhes juros elevados. É esse o (grande) negócio. E quem se lixa é o “mexilhão”, nós contribuintes.
    Outro dia, vi um qualquer programa no estrangeiro onde se se colocava a seguinte questão: “porquê permitir que a Goldman Sachs exista com a dimensão que tem e em vez disso pulveriza-la em várias míriades, para lhe reduzir a nefasta influência?” E eu, ao ouvir aquilo, disse para com os meus botões: “porque não?”
    Uma boa noite!
    P.Rufino




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  2. Cara UJM,
    Apesar de arredado, faz já longo tempo, de comentar neste seu recanto, não me despojei de ler e reler toda a sua escrita destes últimos tempos. “Visitei” consigo as belezas de Amesterdão e o romântico desfecho do idílico casal Paulo e Lídia nesta belíssima cidade. Acompanhei as suas fugas ao remanso do seu “Heaven”. Admirei e adorei vê-la zurzir nos atropelos dos “illuminati” deste país esboroado e numa lenta agonia de um “finis patriae”. Enfim, não estive tão ausente quanto parece.
    Estou plenamente de acordo consigo quando diz: “O país está em saldos, visto de fora é um pequeno rectângulo com uma enorme tabuleta a dizer SALDOS”
    Creio que nos tornámos, tal como a Grécia, no paraíso dos agiotas, num mundo a germanizar, mais dia menos dia, uma coutada de escravos prontos a abater, um paraíso para alheios usufruírem ao som dos nossos lamentos, num quotidiano sem futuro para os indígenas. Fritos, diríamos numa gíria de não ferir tímpanos.
    Continuo extasiado perante a sua fluidez de ideias e palavras! Mantenha o ritmo, sem esmorecer e sem prejuízos de sanidade física ou mental.
    Não me estendo mais e desejo-lhe muitas felicidades e, acima de tudo, muita saúde.

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  3. Olá P. Rufino,

    Ela manda em Portugal porque em Portugal manda uma criatura que não manda nada.

    Ela põe e dispõe porque quer vir comprar barato e quer vir com a certeza que os empregados vão ganhar pouco dinheiro, e, se forem para a rua, vão com uma mão à frente e outra atrás.

    E ela vai ajudar a fazer um banco novo porque os alemães vão entrar nisso e porque é maneira de vir mais dinheiro directinho da Alemanha para cá. A eles custa a 0% ou a negativo e, a nós, vai emprestar a 3 ou a 4% e isso é tudo dinheiro em caixa para a Alemanha.

    É disso que ela anda a tratar, cá para mim. E os próximos tempos dirão se é isto ou não.

    E, se for necessário, a Goldman Sachs dá também uma ajudinha. Aliás, a Goldman tem neste governo os seus homens de mão. Moedas, Borges, colocados cirurgicamente nos pontos mais importantes.

    Mas tudo isto é possível porque Passos Coelho o quer. Este é o regime que ele quer.

    Agora diga-me: mas antes de ele ser eleito não se via logo ao que ele vinha? Aquilo enganava alguém?

    Olha, calo-me já para não me arreliar mais...

    Uma boa noite também para si, P. Rufino!

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  4. Olá dbo,

    Fico contente por saber que tem andado por aqui e que tem gostado do que por aqui vou pondo. Quando aqui me sento, acorrem-me sempre muitas ideias mas o tempo não me chega. Devia ser capaz de não actualizar todos os dias os dois blogues, ou não me alongar tanto nas respostas aos comentários. Mas não sou capaz. Gosto de conversar com quem está aí desse lado. E gosto de funcionar nos registos diferentes do Ginjal e do UJM, são faces diferentes mas sou eu em ambas.

    E ainda há os mails, também recebo muitos mails. E como só me ocupo disto à noite, quase não dou conta do recado.

    Mas já viu como são as coisas. Agora que não tenho tempo, apetece-me escrever quase sem parar. Quando estive em casa a recuperar da operação, era uma preguiça que não imagina. Via o dia a passar e não conseguia ter vontade de fazer o que quer que fosse.

    Agora tenho que pôr de lado ideias pois não consigo acorrer a todas. Venho com a ideia de escrever uma coisa sobre livros, sobre pintura, sobre coisas assim, mais elevadas, e, afinal, com esta gente a fazer tantos disparates, acabo por não resistir a exprimir a minha indignação.

    Gostei de ler a expressão da sua indignação, sempre tão bem escrita. E apreciei a sua contenção, usando um termo mais ligado à culinária em vez de ceder ao vernáculo.

    Animemo-nos com a esperança de que este governo não dure muito mais para não cairmos na depressão, como está a acontecer em tão grande número na Grécia.

    Muito obrigada pela gentileza das suas palavras.

    Saúde e felicidade para si também, dbo.

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  5. Os blogues trazem muita coisa gratificante e se procurarmos os blogues certos, aprende-se muito. Eu tenho aprendido imenso desde que tenho o blogue e conheci pessoas muito interessantes.
    A UJM é uma delas.
    Um beijinho

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  6. Isabel,

    Tão simpática que é. Muito obrigada!

    Um beijinho.

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  7. Isabel Milletnovembro 29, 2012

    Venho aqui dizer que o lançamento do meu 3º livro sobre Guilhermina "Rua da Alegria nº 665", será no dia 7 de Dezembro, Sexta-feira, às 18h00, na Escola de Música Vecchi Costa, Rua D. Luís I nº 19 - 1º andar. Fica perto de Santos. Vou passar um CD com gravações históricas de Suggia e duas entrevistas, uma de 1945 e outra de 1949. Espero que apareçam! Um GRANDE ABRAÇO E MUITOS PARABENS POR ESTE BLOG!

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  8. Olá Isabel Millet,

    Muito obrigada.

    Vou colocar esta informação no corpo de uma mensagem para que seja mais facilmente visível.

    Um abraço!

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