Chegou o Outono. Anunciou-se com algum fragor mas logo se adoçou. Ontem cheguei tarde a casa, por volta da uma da manhã. Li e publiquei os comentários mas estava com muito sono, não consegui responder nem escrever nenhum texto. Durante a noite ouvi que chovia e gostei, assim é que é, um Outono que, logo às primeiras, mostra ao que vem. Mas ao longo do dia o sol foi-se descobrindo e esteve um dia suave, uma dia bom para passear em jardins, para visitar museus. Foi o que fiz.
Quando pousei as mãos no teclado hesitei entre escrever sobre Lídia; mas o tema é-me tão doloroso que hoje vou fazer uma pausa, tenho que ganhar algum distanciamento para que consiga, de novo, meter as mãos nas minhas emoções mais profundas e transformá-las em palavras. Além disso, quero dizer uma ou outra coisa sobre o Conselho de Estado e sobre o recuo do Governo naquela tontice da TSU.
Por isso, hoje isto vai ser uma salada.
1. De novo a Gulbenkian.
1.1. Almoço no Centro de Arte Moderna. Exposições temporárias. Carlos Nogueira, o lugar das coisas.
1.1. Almoço no Centro de Arte Moderna. Exposições temporárias. Carlos Nogueira, o lugar das coisas.
Todo o mundo é composto de mudança, segundo Carlos Nogueira |
Devo confessar que é daquelas obras que me deixa indiferente: é um misto de instalação e talvez escultura, não sei bem definir. O meu menino mais crescido olhou para esta que aqui acima se vê e é como se não visse nada, olha à volta à procura de qualquer coisa e pergunta, onde é que está aquilo que sobe com ar ou onde é que está o avião?, referindo-se a peças que já viu neste local.
Flor branca, quase um bouquet de noiva - parte da obra 'Todo o mundo é composto de mudança' |
Explico-lhe que agora já não está cá isso, que agora é isto, estes papelinhos e estas flores de papel. Puxa-me pela mão, como se nem me ouvisse, aquilo não lhe desperta atenção e a mim também não.
1.2. Mas a Colecção Permanente tem obras maravilhosas e, agora, um espaço inteirinho com a Paula Rego e eu, aí, fico encantada. É um espaço habitado por mulheres reais, mulheres que se encostam cansadas, que se vestem como se fossem anjos ou fossem para uma festa mas deixando revelar através das feições do povo, pelo cabelo pouco cuidado, que o corpo encerra um cansaço e uma vivência que não são os das mulheres de sociedade.
Excerto de pintura de Paula Rêgo, exposta no CAM |
1.3. Seguimos depois para os Jardins, os belos jardins da Gulbenkian cujos recantos conheço desde sempre. Neles namorei, neles tentei estudar, neles brincaram os meus filhos desde bebés, aí brincaram e passearam até que agora já levam os seus próprios filhos. A beleza, a frescura, a intimidade dos recantos, a largueza, os lagos, o som da água que corre, são ainda e sempre os mesmos. Na nossa vida, as coisas importantes são intemporais e os momentos que aqui tenho vivido são sempre muito bons, independentes do tempo que passa.
1.4. Agora nos Jardins há grandes fotografias. Passeamos e ao lado dos caminhos, em recantos arborizados, vemos mulheres olhando para nós, sobre camas. É a exposição 3x4, São mulheres que estão em estabelecimentos prisionais de Maputo, fotografadas por Camila de Sousa.
Fotografia de Camila de Sousa - Uma das mulheres fotografadas em estabelecimentos prisionais feminhinos |
Imagens de grande beleza. Não são prisioneiras, ex-delinquentes, perigosas criminosas. Não, são mulheres sensuais, doces, alegres umas, desencantadas outras, mas todas cheias de vida. E estão ali, naquelas camas, perfeitamente integradas nas zonas de sombra dos jardins.
1.5. A seguir fomos ver uma exposição que tem um nome lindo: Tarefas Infinitas, quando a arte e o livro se ilimitam. Toda a exposição é muito cuidada, muito bela. Quem ame livros e os ame também enquanto objectos, gostará de deslizar como um gato silencioso neste espaço escuro no qual os livros brilham como santos em altares.
Tudo existe para chegar a um livro |
1.6. E depois, claro, há as brincadeiras, os lanches à beira do lago, as corridas, e a visão dos peixes de grandes bocas rosadas que vêm à superfície para comer, e há os patos às vezes agressivos e que roubam o pão da boca dos peixes e há uma tartaruga que nunca consegue comer sem que um pato quase a levante no ar, e há os pombos, e outra vez os patos calmos, deitados ao sol. E há os meus meninos que adoram tudo isto.
Ainda não há muito tempo era a mãe e o tio deles que aqui andavam a brincar |
2. Sigo, então, agora para o tema político. Quase oito horas de duração de Conselho de Estado. Ainda durava o dito e já no Expresso da Meia-Noite se mostrava a primeira página do Expresso na qual se dizia que a TSU tinha caído. Ou seja, muito antes de ter acabado, já se sabia quais seriam as conclusões. Normal, dizem. Normal...? Que o Conselho de Estado seja pouco mais do que uma coisa de faz de conta é normal...? Está bem, estamos entendidos.
E que tenho eu a dizer a todas estas movimentações? Pouca coisa.
2.1. Em primeiro lugar, acho que bem fez Mário Soares que, sabendo que estava, ab initio, tudo cozinhado, disse o que tinha a dizer e foi para casa jantar sossegado.
2.2. Em segundo lugar, acho que foi a mais absoluta desacreditação feita a um Governo. Ficou logo a saber-se que gente do Cavaco e do Banco de Portugal e mais gente do Conselho Económico e Social andaram a estudar as contas e algumas alternativas à TSU ou seja, ficámos a saber que, face à mais absoluta incompetência do Governo de Passos Coelho, Cavaco pegou nas rédeas.
2.3. Não só a imprensa nacional como a internacional anunciam, alto e bom som, que Passos Coelho meteu o rabo entre as pernas e saíu a ganir baixinho.
No entanto, Luis Filipe Menezes, com a presciência e o sentido de estado que se lhe conhece, saíu de lá a dar com a língua nos dentes, concluindo que aquilo a que Passos Coelho foi sujeito foi, afinal, para que o Governo saísse fortalecido. Gentinha assim que brinca com as palavras, dizendo com a maior cara de pau o contrário do que é mais do que óbvio já não devia ter lugar no cenário político actual.
Porque o que é absolutamente óbvio é que Passos Coelho é agora uma múmia política (o que é a versão passista da múmia paralítica), alguém que foi humilhado na rua por quase todos os cidadãos deste País, que foi humilhado na televisão pelo seu leal parceiro de coligação e de Governo, que foi humilhado pelo Conselho de Estado e, em particular, pelo Presidente da República, que é humilhado todos os dias nos meios de comunicação social e internacional.
Ainda este fim de semana The Economist fazia notícia com a situação portuguesa perguntando “O ponto de viragem: Quanta austeridade é demasiada austeridade?”, afirmando que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, “parece ter levado as reformas além do limite (...)"
2.4. E, no entanto, apesar do recuo relativamente à medida mais estúpida que alguém poderia inventar, o que aí vem não é menos gravoso. Roubo de uma parte de um subsídio, mais IRS e o mais que se verá.
Mas se o roubo dos 7% aos trabalhadores era quase todo para dar aos patrões e não ao Estado, alguém me explica porque carga de água é que, o não ir este esbulho adiante, implica que seja substituído por um qualquer outro?
Portanto, se nos vão agora ao bolso de uma outra forma qualquer, já não é para dar uma esmolinha para os patrões (esmolinha que os próprios patrões, como é claro, não quiseram aceitar). Então é para quê?
Só se for para tapar mais buracos daqueles que o Gaspar-não-Acerta-Uma mais o bando de cigarras que faz parte deste Governo, como o Miguel Macedo e outros inteligentes, cavam, cavam, cavam. E nós, pobres formigas, que andemos aqui a trabalhar para o boneco, ou melhor, para que o escasso fruto do nosso trabalho nos seja roubado. E os pobres reformados, que pensavam que tinham a sua pensão de reforma assegurada, que a vejam agora cortada. Porque os grandes especuladores financeiros continuam a bom recato, imunes à crise.
2. 5. Sem quaisquer condições para continuarem a governar, apupados por onde andem, com os resultados a comprovarem que estas políticas são erradas, perigosas e irreversivelmente empobrecedoras, que são políticas que estão a destruir o País, Coelho, o Gaspar, o Relvas, o Borges, o Portas e demais ministros, vivem dias de desnorte, agarrados ao poder, pensando já numa estratégia de sobrevivência nas autárquicas; mostram-se sem estratégia, sem uma ideia válida para o País. Vão viver sitiados até que este malfadado Governo caia, sem deixar saudades.
2.6. Medidas que me pareceram sensatas para cobrir o buraco que o Gaspar e o Passos andam de cabeça perdida a ver se conseguem tapar, são as da CGTP. Que o Governo, os partidos e a opinião pública as ouçam com atenção e sem preconceitos, é o que se espera.
Entretanto, as confederações patronais também não querem que se taxe mais o trabalho, estando contra o corte dos subsídios, e vão propor medidas alternativas, como impostos acrescidos sobre o tabaco ou a energia. Muito bem.
2.7. Há uma certa tendência para se dizer que o mal deste Governo é a má comunicação: que não explica as medidas, que não sabe divulgá-las. Acho que dizer isso é atirar poeira para os olhos. O Governo comunica mal porque faz tudo mal feito.
E esse é o pior dos males, ou seja, justamente, o mal é que as políticas são todas erradas. Podem ser boas para quem pretenda comprar o País a preço de uva mijona. Podem ser boas também para quem esteja a exercer funções de vendedor do País.
De resto, as políticas seguidas são estúpidas, erradas, malvadas. E não há boa comunicação que resista a uma política tão desgraçadamente má.
2.7. Quanto às sondagens que dão o PSD+CDS pelas ruas da amargura e o PS mal descolando, também não admira. Ou melhor, ainda me admira que haja alguém à superfície da terra que apoie o PSD e o CDS com as actuais lideranças e com as políticas que vêm pondo em prática mas, tirando isso, o que lamento é que o PS tenha uma liderança titubeante. É certo que António José Seguro agora parece vir arrebitando mas ainda assim é aquele estilo muito 'situação' numa altura em que os eleitores estão saturados das velhas politicas e pretendem ver algo de novo, uma nova atitude, um murro na mesa, palavras não estudadas, discursos menos redondos, discursos que pouco dizem, que não empolgam; as pessoas estão sedentas de uma política que avance de peito feito em defesa das pessoas, em defesa do progresso, do desenvolvimento, da felicidade.
3. Apenas uma nota final para Marcelo Rebelo de Sousa: pode estar de saia justa pois pertence e é ex-dirigente do PSD e, noblesse oblige, pode não lhe dar grande jeito desancar forte e feio em Passos Coelho. Talvez seja isso. Ou então viciou-se em manipular, em distorcer, em camuflar, em influenciar, em dizer meias-verdades. A verdade é que já me cansa. Com ar doutoral, vai fingindo que é isento e vai enganando os telespectadores. É nefasto o exercício de manipulação que leva a cabo aos domingos à noite na TVI tentando fazer crer que não há alternativa.
E há alternativa, há sempre alternativa, claro que há sempre alternativa.
Marcelo Rebelo de Sousa, apesar da sua inteligência e vivacidade, é a imagem do mundo da velha política, da política dos ardis, das palavras viciadas, dos jogos de poder. Devia ter menos palco, menos tempo, porque, também aqui, há alternativas.
4. E, apesar disto já ir mais do que longo, não quero acabar mal. Permitam-me, pois, que acabe com arte, com poesia.
Por isso, para acabar, escolho as letras, escolho as palavras, escolho um poema de Maria do Rosário Pedreira do seu último livro, Poesia Reunida:
Hoje actualizei o meu Ginjal e Lisboa, a love affair. Caso ainda tenham paciência para continuar na minha companhia, muito gostaria de vos ver também por lá. Ao som de castanholas e de Boccherini, as minhas palavras voam reconhecidas e amantíssimas em volta de um outro poema de amor de Maria do Rosário Pedreira.
2.4. E, no entanto, apesar do recuo relativamente à medida mais estúpida que alguém poderia inventar, o que aí vem não é menos gravoso. Roubo de uma parte de um subsídio, mais IRS e o mais que se verá.
Mas se o roubo dos 7% aos trabalhadores era quase todo para dar aos patrões e não ao Estado, alguém me explica porque carga de água é que, o não ir este esbulho adiante, implica que seja substituído por um qualquer outro?
Portanto, se nos vão agora ao bolso de uma outra forma qualquer, já não é para dar uma esmolinha para os patrões (esmolinha que os próprios patrões, como é claro, não quiseram aceitar). Então é para quê?
Miguel Macedo, uma das várias cigarras do Governo de Passos Coelho |
Só se for para tapar mais buracos daqueles que o Gaspar-não-Acerta-Uma mais o bando de cigarras que faz parte deste Governo, como o Miguel Macedo e outros inteligentes, cavam, cavam, cavam. E nós, pobres formigas, que andemos aqui a trabalhar para o boneco, ou melhor, para que o escasso fruto do nosso trabalho nos seja roubado. E os pobres reformados, que pensavam que tinham a sua pensão de reforma assegurada, que a vejam agora cortada. Porque os grandes especuladores financeiros continuam a bom recato, imunes à crise.
De cabeça perdida, de mãos na cabeça, sem cabeça para nada - escolham vocês, Caros Leitores, a legenda para o triste espectáculo a que assistimos por parte do Governo de passos Coelho e Paulo Portas |
2. 5. Sem quaisquer condições para continuarem a governar, apupados por onde andem, com os resultados a comprovarem que estas políticas são erradas, perigosas e irreversivelmente empobrecedoras, que são políticas que estão a destruir o País, Coelho, o Gaspar, o Relvas, o Borges, o Portas e demais ministros, vivem dias de desnorte, agarrados ao poder, pensando já numa estratégia de sobrevivência nas autárquicas; mostram-se sem estratégia, sem uma ideia válida para o País. Vão viver sitiados até que este malfadado Governo caia, sem deixar saudades.
Arménio Carlos, um homem que se vem afirmando pela energia e determinação e que me surpreendeu com as medidas que agora propôs |
2.6. Medidas que me pareceram sensatas para cobrir o buraco que o Gaspar e o Passos andam de cabeça perdida a ver se conseguem tapar, são as da CGTP. Que o Governo, os partidos e a opinião pública as ouçam com atenção e sem preconceitos, é o que se espera.
Entretanto, as confederações patronais também não querem que se taxe mais o trabalho, estando contra o corte dos subsídios, e vão propor medidas alternativas, como impostos acrescidos sobre o tabaco ou a energia. Muito bem.
2.7. Há uma certa tendência para se dizer que o mal deste Governo é a má comunicação: que não explica as medidas, que não sabe divulgá-las. Acho que dizer isso é atirar poeira para os olhos. O Governo comunica mal porque faz tudo mal feito.
Passos Coelho boceja, Gaspar está sempre noutra e Paulo Portas assobia para o lado: - estas são 3 das cigarras responsáveis pelo desnorte com que Portugal está a ser (des)governado |
E esse é o pior dos males, ou seja, justamente, o mal é que as políticas são todas erradas. Podem ser boas para quem pretenda comprar o País a preço de uva mijona. Podem ser boas também para quem esteja a exercer funções de vendedor do País.
De resto, as políticas seguidas são estúpidas, erradas, malvadas. E não há boa comunicação que resista a uma política tão desgraçadamente má.
2.7. Quanto às sondagens que dão o PSD+CDS pelas ruas da amargura e o PS mal descolando, também não admira. Ou melhor, ainda me admira que haja alguém à superfície da terra que apoie o PSD e o CDS com as actuais lideranças e com as políticas que vêm pondo em prática mas, tirando isso, o que lamento é que o PS tenha uma liderança titubeante. É certo que António José Seguro agora parece vir arrebitando mas ainda assim é aquele estilo muito 'situação' numa altura em que os eleitores estão saturados das velhas politicas e pretendem ver algo de novo, uma nova atitude, um murro na mesa, palavras não estudadas, discursos menos redondos, discursos que pouco dizem, que não empolgam; as pessoas estão sedentas de uma política que avance de peito feito em defesa das pessoas, em defesa do progresso, do desenvolvimento, da felicidade.
3. Apenas uma nota final para Marcelo Rebelo de Sousa: pode estar de saia justa pois pertence e é ex-dirigente do PSD e, noblesse oblige, pode não lhe dar grande jeito desancar forte e feio em Passos Coelho. Talvez seja isso. Ou então viciou-se em manipular, em distorcer, em camuflar, em influenciar, em dizer meias-verdades. A verdade é que já me cansa. Com ar doutoral, vai fingindo que é isento e vai enganando os telespectadores. É nefasto o exercício de manipulação que leva a cabo aos domingos à noite na TVI tentando fazer crer que não há alternativa.
E há alternativa, há sempre alternativa, claro que há sempre alternativa.
Marcelo Rebelo de Sousa frente a Judite de Sousa: Um domingo destes hei-de dar-me ao trabalho de enumerar as incorrecções, meias-verdades e manipulações que leva a cabo na TVI |
Marcelo Rebelo de Sousa, apesar da sua inteligência e vivacidade, é a imagem do mundo da velha política, da política dos ardis, das palavras viciadas, dos jogos de poder. Devia ter menos palco, menos tempo, porque, também aqui, há alternativas.
4. E, apesar disto já ir mais do que longo, não quero acabar mal. Permitam-me, pois, que acabe com arte, com poesia.
Casas feitas de letras ou casas construídas sobre letras - é o mundo de Lourdes Castro no CAM |
Por isso, para acabar, escolho as letras, escolho as palavras, escolho um poema de Maria do Rosário Pedreira do seu último livro, Poesia Reunida:
Esgotamos os desacordos
em livros pequenos: lermos
juntos substitui a cama e as
conversas. talvez esse amor
estivesse escrito e, por isso,
ao virar a página, haja
sempre uma mão do outro lado,
quente, apertada na nossa.
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Hoje actualizei o meu Ginjal e Lisboa, a love affair. Caso ainda tenham paciência para continuar na minha companhia, muito gostaria de vos ver também por lá. Ao som de castanholas e de Boccherini, as minhas palavras voam reconhecidas e amantíssimas em volta de um outro poema de amor de Maria do Rosário Pedreira.
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E só me resta desejar-vos, meus Caros leitores, uma boa semana, a começar já nesta segunda feira. Felicidades!
Este post, pode considerar-se de verdadeiro "Serviço Público", minha amiga UJM!
ResponderEliminarE, como sempre, é na inocência das palavras ditas pelas crianças, que de súbito nos inquietam as consciências, que encontramos as verdadeiras questões; «...onde é que está aquilo que sobe com ar ou onde é que está o avião?»
Ou seja; «mas afinal, onde é que está o essencial? onde é que está aquilo que fará voar a nossa imaginação e fará acordar os nossos ideais e fará reunir-nos em volta deles e fará com que possamos sonhar de novo, e nos fará avançar?
No decorrer do texto, assinalas situações, reflexões, ambiguidades e outros desatinos que nos trazem preocupados e desconfiados, e ao mesmo tempo nos fazem crescer a certeza de estarmos a caminhar cada dia mais um pouco para a beira de um abísmo tenebroso.
No segundo parágrafo do ponto 2.4. colocas a mesma questão, que me coloquei já por diversas vezes e que só ontem, através da opinião de Marcelo Rebelo de Sousa, vi, semi-esclarecida.
Ontem, Marcelo defendendo a necessidade de o governo explicar aos cidadãos o efeito que pretende obter com as medidas de austeridade cada vez mais duras, estabelecia a comparação do estado do país com a de um doente grave, a quem o médico prescreve um tratamento muito duro. Ao verificar após uma sessão de terapia, que os efeitos pretendidos não foram atingidos e que pelo contrário, se
agravaram, o médico decide, para além de insistir no mesmo tratamento, torna-lo ainda mais severo.
Este paralelo usado por Marcelo, deu-me a ideia de que a verdadeira intenção deste governo/médico, é precisamente a de aniquilar o doente, ou então, atirar com ele para a condição vegetalista.
Ou seja; perante a gravidade da doença, o médico decide que é imprescindível cortar uma perna ao doente, para o salvar. Passado um tempo, dado que o corte da perna não causou melhoras ao doente, pelo contrário, agravou-lhe o mal o médico decide cortar a outra perna ao doente. Nessa altura, uma equipe de médicos especialistas reune-se e "obriga" o médico a mudar de tratamento. Então o médico decide: muito bem, não cortarei a outra perna ao doente, vou então cortar-lhe metade da perna e metade de cada braço.
E no meio desta trapalhada toda, ainda ha por aí um bom punhado de gente que acredita piamente, que não temos alternativa...
Amiga:
ResponderEliminarGostei do passeio pela Gulbenkian e penso repeti-lo.
Estou viciada na Paula Rego e a ideia de ver as belas e tristes mulheres de Camila de Sousa espreitando atrás das plantas, agrada-me.
Quanto à política, a frase:"De rabo (e de TSU) entre as pernas, provocou-me e peço perdão por isso, uma ideia maliciosa. Minha amiga, há certas coisas que entre as pernas parecem em repouso, e de repente saltam. Prefiro:"Passos Coelho meteu o rabo entre as pernas e saíu a ganir baixinho". É mais definitiva. O amaldiçoado TSU está morto.
Mário Soares mesmo com a idade que tem, ou talvez por isso mesmo, sabe sempre como e quando sair.
Os outros, são meros peões do xadrez político, salvo o Relvas que é mais o Diabo do baralho de cartas.
Que jogo irá jogar Cavaco?
Marcelo fala bem, (já gostei mais) mas não me alegra.
O poema, muito a propósito.
Agora vou ao Ginjal, lavar os olhos e ouvidos.
Abraço grande
Mary
Olá Querida Jeitinho,
ResponderEliminarApesar deste mundo louco que nos rodeia, vamos valorizando o que de bom ainda temos para nos sentirmos felizes.
Desde que a saude nos deixe caminhar ao lado das nossas crianças e vê-las crescer saudaveis, felizes e alheias ao lado menos bom da vida(para esse têm tempo) já é bom.
Com as novas tabelas e cores do estacionamento de Lisboa, não consigo convencer o meu marido a estacionar na Gulbenkian, já tenho saudades do seu jardim e a minha pequenita tambem. Como alternativa fomos até ao Parque dos Poetas, que é um mundo de descoberta para ela e de revisão para nós.
Parabens por ir dando uma volta à vida de Lidia é uma esperança para todas as Lídias que passam por uma fase não dificil.
Passei em Belem na 6ª.feira e ainda me emocionei ao som dos Vampiros, que em tempos pensei extintos, mas não, continuam a comer tudo e pergunto até quando?
Tenhamos fé.
Um poste magnificente com tanta, tanta gente.
ResponderEliminarA maioria má gente, gentalha.
Mas incluindo gente de verdade que merece a referência, como Paula Rego, Arménio Carlos, Camila de Sousa, Maria do Rosário Pedreira e os Meninos.
Também no bth glosei alguns destes temas.
Abraço
Olá Bartolomeu,
ResponderEliminarHavia em tempos no átrio de entrada do Centro de Arte Moderna uma instalação que tinha um grande suporte metálico elevado e, por cima, um grande plástico. Por baixo havia uma coisa que fazia vento. Então o plástico insuflava e levantava-se, ficava uma coisa enorme, cheia de ar. Depois a máquina parava e o plástico baixava. O meu menino ficava ali que séculos, encantado por ver aquele grande 'balão' que subia, subia. Houve também uma exposição sobre máquinas voadoras, coisa que faria (ou fez?) as delícias de todos os que tivessem alma de Bartolomeus. Um pequeno avião fez as delícias do meu menininho. Mas todas as máquinas o encantaram. Difícil era arrancá-lo de lá.
E é verdade: isso são as coisas que verdadeiramente interessam. A arte, o sonho, o insólito, o diferente, a aventura.
E a natureza, as árvores, os lagos, a sombra, a luz.
O resto é poluição, é poeira efémera. E se a poeira é tóxica é uma chatice.
Querem empobrecer o país. Por estupidez ou interesse pessoa é isso que querem. Que fiquemos todos pobrezinhos para pagar dívidas que não contraímos. Uns quantos contraíram, brincaram com edges, swaps, derivados e outra tretas financeiras e tramaram-se e, tramando-se, agora nós que paguemos a crise. E houve uns quantos que viveram acima das suas possibilidades, é verdade: todos os que ganharam fortunas sem terem mexido um dedo, apenas porque compraram acções baratas que venderam caras e que, com muitas dessas, levaram o BPN ao estado em que ficou - e nós que paguemos o buraco. Ou o Berardo que se quis pegar com o outro e vá daí, pediu dinheiro emprestado à CGD dando como garantia as próprias acções do BCP. Quando as acções despencaram, ficou falido mas o pior é que o calote ficou na CGD que teve que assumir essas e outras que tais imparidades - e nós que paguemos a crise.
E ainda nos querem fazer passar por cigarras ou ainda nos dizem que temos que pagar a dívida. A dívida de uns quantos a sair do corpo de uma população inteira. Isto revolta-me muito.
Mas enfim, calo-me já que, quando me ponho a falar disto, fico furiosa.
Mas uma coisa é certa e estamos de acordo: claro que há alternativa!
Mary, olá,
ResponderEliminarDesde que li este comentário não parei de rir. Essa foi mesmo boa! Mas o drama é que foi premonitória. Não é que a dita TSU que eu tinha dado por morta parece que está a querer arrebitar agora disfarçada de IRS...? Fogo...!
Quanto à Gulbenkian é sempre uma tarde muito bem passada, uma tarde inteirinha, começando pelo self do Centro de Arte Moderna e passando pela esplanada no Museu. E há as exposições no CAM, no Museu ou na Fundação (agora não está nenhuma na Fundação). Depois há agora também o aliciante das enormes fotografias no jardim, uma maravilha. Ao domingo é tudo gratuito mas durante a semana também é capaz de não ser nenhuma fortuna. Gosto imenso da Gulbenkian, é um programa que nunca desilude. E a Paula Rego tem uma força tal. Ela pode ter um ar meio louco mas eu gosto imenso daquele ar dela, da inconveniência, da irreverência dela. E o que pinta ou as mulheres das gravuras, tão reais, uma coisa mesmo impressionante. Vai gostar, Mary.
Gostei imenso da sua apreciação sobre os actores desta peça. Concordo e rio-me de imaginar uma série cómica com personagens assim. Mário Soares o irreverente patriarca que goza com os outros do alto da sua experiência e intuição, Marcelo o inventor de casos, ou talvez a Maia da política, Relvas a alma negra do regime, Cavaco o boneco da Rua dos Fanqueiros.
O livro novo (que é a junção dos anteriores e de um novo) da Maria Rosário Pedreira é imperdível para quem goste muito de poesia.
E, para terminar, de novo o meu agrado pelo divertido comentário. Grande Mary!
um beijinho!
Olá Pôr do Sol,
ResponderEliminarNão sei o que é isso das tabelas e das cores de que fala. Há diferenciamento e paga-se mais, é isso? Como fui lá no domingo não se pagava. Havia um arrumador a quem demos uma moeda. Deixámos ali de lado, junto ao portão em frente da Embaixada. Quando não arranjamos aí nem na rua, pomos no Parque da Av. de Berna.
Os miúdos adoram. Quando se pergunta onde havemos de ir, o crescidinho diz logo que quer ir à Gulbenkian, coisa que aplaudo pois como gosto muito de exposições e museus, conseguimos fazer um programa que agrada a todos.
Mas agora deixou-me também curiosa. Nunca fui ao Parque dos Poetas. Tenho ouvido dizer que é muito bom mas nunca nos lembramos de lá ir. A ver se da próxima vez lá vamos.
Tive pena de não ir na 6ª a Belém. Mas estou já a trabalhar, não saí muito cedo e nunca imaginei que aquilo desse para tão tarde. Mas vi na televisão e acho que os momentos em que cantaram em coro foi emocionante. Acho que os tempos de ouro da vampiragem estão a acabar.
Um beijinho Sol Nascente!
Olá jrd,
ResponderEliminarJá lá vi o seu 'cigarro' mal enrolado, o candidato a chefe dos bombeiros, o Macedo, armado em erudito...
E gostei muito do vídeo da Islândia. Penso que é um caso que deveria ser visto, pensado, e, se calhar... reproduzido.
Nestes tumultuados tempos que correm sinto-me sempre tentada a desatar à espadeirada contra estes fracos figurantes. Só que isso me rouba tempo e espaço aquilo de que mais gosto de falar: pinturas, livros, natureza, passeios, fotografias, ou contar histórias. Hoje é outro desses dias. Neste momento, o meu coração balança.
Obrigada pelas suas palavras, jrd, e um abraço.
Olá outra vez,
ResponderEliminarSouto Moura vai decidir sobre o futuro politico de Isaltino Morais.
O que venha a acontecer não deita abaixo a obra feita.E o Concelho de Oeiras tem obra feita.
Vem isto a propósito da sua curiosidade sobre o Pq dos Poetas, que recomendo assim como o parque do Jamor. Este tem equipamento para os pequenos desportistas e um rio com patinhos divertidos, que aguardam sempre que os meninos levem o pão duro da semana.
Bons passeios e até amanhã.
Olá Pôr do Sol,
ResponderEliminarOeiras é uma cidade cuidada, bonita. Não conheço o Parque dos Poetas mas conheço bem outras zonas da cidade. Isaltino fez um bom trabalho, sim. Mas se beneficiou pessoalmente com isso, se fugiu descaradamente ao fisco, se não declarou bens e rendimentos quando o deveria ter feito, então a Justiça deverá actuar. Mas, de recurso em recurso, a coisa vai expirar...
Um beijinho, Sol Nascente!
Embora tardiamente, quero-lhe agradecer por ter partilhado connosco a visita que fez ao CAM e aos jardins da Gulbenkian, na companhia dos seus Meninos. A Gulbenkian é um espaço muito acolhedor que também não me canso de revisitar sempre que me sobra tempo do meu tempo. Há um mês atrás também andei por aí e deliciei-me com a frescura dos jardins, os pequenos lagos e cascatas e fotografei a passarada e pombos, eram tantos empoleirados nos ramos de uma só árvore, que preenchiam a copa da árvore por completo. Provavelmente escolheram aquele sítio para seu habitat.
ResponderEliminarAdorei os seus comentários sobre o Conselho de Estado, e a máxima foi a frase "De rabo (e de TSU)". Para já este TSU foi enterrado à nascença!...
Obrigada por estes belos momentos de humor.
Um beijinho
Olá Maria Eduardo,
ResponderEliminarEste Governo não é de fiar. Enterraram a TSU mas... apenas mais ou menos porque, na prática, vão ressuscitá-la com ouro nome. Mais IRS, taxas suplementares, etc, ou seja, vão-nos ao bolso com o mesmo descaramento.
A Gulbenkian é um sítio de boas recordações para mim, para os meus filhos e também já o é para os meus netos. Adoram patinhos, pombinhos, peixinhos. Lá vamos com pão duro para darem aos bocadinhos. No outro dia quase nem podíamos dar passo tantos eram os pombos aos nossos pés.
Já vi o passarinho que foi ver o filhote que caíu do ninho lá no jardim. E o gato muito atento...
A natureza é uma coisa boa de ver, não é? Eu também gosto muito.
Um beijinho, Maria Eduardo!