Hoje peço-vos o favor do silêncio, do tempo que passa em paz, de uma respiração pausada, de um olhar tranquilo, hoje peço-vos que venham comigo devagar, bem devagar.
Vamos, por favor, ouvir:
Rogério Samora, acompanhado de Rodrigo Leão (autor da música) lê Poema de Mário Cesariny
E agora ler, sentindo as palavras a deslizarem leves à nossa volta:
Por vezes de um poema concluído
Por vezes de um poema concluído
subsiste um aroma frágil instantâneo
que acende sobre nós uma ingénua estrela
que ilumina os nossos gestos
e aligeira os passos sobre as pedras claras
E agora ver, sentir o verde, sentir ternura pelos corpos que se confundem com as flores:
No suave Jardim do Ginjal |
E ler outra vez e apalpar as palavras que falam deste jardim que estremece rente ao chão:
Aceita, acolhe a minúscula anatomia de um jardim: os insectos com as suas múltiplas facetas e as delicadas antenas com que se orientam. Ao rés do chão: um ramo partido, uma formiga, a baba de um caracol. Fascinantes, meticulosos são os vocábulos que compõem as constelações legíveis, intactas. Uma fábula adormece ao sol das folhas: o jardim é um estremecimento.
E, de novo, deliciar-nos ouvindo, deixando que as palavras nos beijem 'como se tivessem boca':
Amar, poema da autoria de Carlos Drummond de Andrade
E, mais uma vez, ler em silêncio para sentir o sopro que se eleva dos barcos que hão-de vir, silenciosos:
Trago na palma da mão a luz diurna: e a ferida no flanco. O meu deus, o meu demónio, respira fundo e alto. Ela, a minha múltipla companheira, é uma coluna silenciosa e ardente. A luz sela esta aliança entre o sopro e a matéria e uma voz se eleva nos barcos do silêncio.
E, ainda em silêncio, dar graças pelo amor sem idade, resguardado, quer o vejamos em nós, quer nos outros:
Em Cacilhas, o Tejo correndo suave e Lisboa, tão perto |
E, pela última vez, ler em repouso, devagar:
Era um país
para onde se ia adormecendo
e se caminhava no repouso
como num adeus invertido
ou numa folha enrolada
no seu próprio silêncio
E, finalmente, agora que estamos repousados, vamos dançar ao som de uma música feita para darmos largas ao corpo - e que viva o amor!
Grupo Corpo Companhia de Dança, coreografia de Rodrigo Pederneiras, música de Ernesto Lecuona
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O poema e os pequenos textos em itálico são da autoria de António Ramos Rosa in Antologia Poética
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Tenham, meus Caros Leitores, um belo sábado, se possível rodeados de beleza, de paz e de amor.
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O poema e os pequenos textos em itálico são da autoria de António Ramos Rosa in Antologia Poética
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Tenham, meus Caros Leitores, um belo sábado, se possível rodeados de beleza, de paz e de amor.
Querida UJM
ResponderEliminarLendo e ouvindo recolhidamente, neste espaço mágico onde tudo é perfeito...
Bjs
Olinda
Bom dia.
ResponderEliminarGostei muito do post. Achei o bailado muito bonito.
Tenha um lindo sábado.
Uma imensa calma e beleza nos invade.
ResponderEliminarMuito bonito.
Obrigada.
Beijinho Ana
Um dia destes vou visitar o Ginjal.
ResponderEliminarAbraço e bom Domingo.
Olá, Querida Olinda,
ResponderEliminarPor vezes apetece-me protestar, refilar, gozar. Mas, outras, apetece-me mergulhar no silêncio.
E, depois, vir acima, devagar, apenas para ouvir poesia dita, ou recolher-me a uma sombra e ler poesia, ou ver o mar, ou ver jardins, ou ouvir música, ou imaginar que poderia dançar tal como gosto de ver dançar. Silêncio, paz, harmonia.
Obrigada pela sua companhia tão 'recolhida'.
Um beijinho e bom domingo, Olinda.
Olá, Isabel,
ResponderEliminarMuito obrigada.
Por vezes estou 'zen' e só me apetece estar em espaços totalmente 'zen'. Ontem apeteceu-me muito partilhar esse estado de espírito com os meus leitores.
Um bom domingo para si, Isabel.
Olá Ana,
ResponderEliminarFico tão contente que a paz e o silêncio habitado por palavras e imagens tenham chegado até vós com a pureza que eu desejava...!
Obrigada eu, pela visita e pelas palavras.
Um beijinho, Ana.
Olá Alice rodeada de Alfazema,
ResponderEliminarQuando me dizem isso fico logo assustada, receando que, indo lá, achem que eu só posso ser doida varrida.
O Ginjal é como que uma longa rua, com um jardinzinho e dois restaurantes pelo meio. De um lado da rua está o Tejo e do outro estão casas (quase tudo antigos armazéns) completamente degradadas.
Mas a vista para Lisboa é fantástica, aquela proximidade do rio a mim fascina-me, aqueles pescadores, gente pobre e simples, a mim fascinam-me, aquelas paredes arruinadas parecem-me belas. Os gatos, as pessoas, os barcos que passam, tudo me fascina. Mas não passa disto e acredito que grande parte das pessoas não fique tão rendida e fascinada como eu.
Por isso, se lá for, Alice, e for num cacilheiro, vá devagarinho, vendo com carinho cada parede decadente, cada pescador, o rio que corre como se fosse um mar... e, se achar que é tudo vulgar, já sabe, dê-me algum desconto... Já está provado, pelo que aqui escrevo às vezes, que tenho alguma 'pancada'...
Um abraço, Alice e bom domingo!
Amiga:
ResponderEliminarOntem, sábado, cheguei tarde, cansada, feliz, muito feliz. Só hoje, tive coragem para visitar os Amigos.
Gostei muito da maneira como o Samora declama.
De aqui a pouco, conto-lhe tudo, via Email.
Beijinho
Mary
Amiga:
ResponderEliminarOntem, sábado, cheguei tarde, cansada, feliz, muito feliz. Só hoje, tive coragem para visitar os Amigos.
Gostei muito da maneira como o Samora declama.
De aqui a pouco, conto-lhe tudo, via Email.
Beijinho
Mary
Mary,
ResponderEliminarO Rogério Samora fica com uma voz quente, densa, quando diz poesia. Gosto muito embora pouco o ouça. Mas apanhei esta e não quis deixar em branco.
Bjs.