sábado, janeiro 28, 2012

Coisas boas para os sentidos: poemas de o Quarto Azul de Rui Caeiro; fotografias de Mario Sorrenti; dança de Jirí Kilián; e Maria Teresa Horta falando sobre os livros da sua vida


Palavras que fossem
claras  róseas e macias
como a tua pele

para dizerem o sol
ou a sede que fazia
ou nesse lugar havia

by Mario Sorrenti

Há um tempo para estar só
há um tempo para estar nu
há um tempo que falta para ser
o bastante uma coisa e outra
há uma ponte em direcção ao tu

que é necessário atravessar e que
é necessário, coragem, minar
e há um ponto sem chão
nem ponte em que só é preciso
abrir os braços e voar


La Bela Figura
Les Grands Ballets Canadiens
Coreografia de Jiri Kylián


Um deus benovolente atribuiu-nos
uma morada

Disse: só pode ser ali
e por pouco tempo

Que a invasão das águas
o calor e as chamas

não tardam
E assim foi




Houve caminhos fora do quarto
traçados fora da cama, houve

Os principais, porém, foram percorridos
no teu corpo, laboriosamente





Um bom sábado! Divirtam-se! Descansem! Sejam felizes!

&

[PS: A quem, ainda assim, gosta de uma boa e saudável polémica ou a quem se interessa por economia, dívida pública e gosta de reflectir sobre a situação portuguesa, permito-me convidar a ver não apenas o primeiro comentário de hoje mas, também, a descer até ao post abaixo e ver a troca de comentários, agradecendo eu, muito sinceramente aos dois leitores que tão fundamentadamente apresentam as suas razões relativas a este tema]


4 comentários:

  1. Cara UJM

    Obrigado pelo seu comentário, apenas tentei, pôr as “coisas” de uma forma simples. A “economia” é um pouco como o futebol, toda a gente pode ter uma opinião. Já o principal pai da economia moderna, Samuelson, dizia que “a economia era a rainha das ciências sociais, a mais antigas das artes e a mais moderna das ciências”. Agradeço igualmente ao Sr. Paulo Abreu Lima pelo seu comentário.
    Para mim, o que é relevante é analisar a situação duma perspectiva económica. Para mim, volto a referir, interessa-me perceber não quem fez, mas sim o que levou a fazer. Neste sentido, estou convencido que chegámos a esta infeliz situação porque os “fundamentais” da economia portuguesa, estão artificialmente manipulados. Ou seja, na nossa (infeliz) situação económica actual, deveríamos estar com taxas de juro de 20 a 30% inflações de igual número. Se isto tivesse acontecido a nossa dívida externa, tanto se me faz se é privada ou do estado, seria muito menor. Resumindo estivemos a viver em simultâneo, durante demasiado tempo, duas realidades distintas que não são economicamente compatíveis. Fraco crescimento económico, aumento do endividamento sem reflexão nas taxas de juro e inflação, durante 10 anos, é coisa que não faz sentido em termos económicos…

    No enquadramento comunitário, esta realidade de crise é uma situação nova, em que toda a gente anda às “apalpadelas”, para encontrar a melhor solução em termos macroeconómicos…. Quando isto se mistura com política, regionalismos, políticos mal preparados, …. tudo se complica ainda mais.

    Eu não tenho dúvidas, que a solução para esta crise tem que ser equacionada de forma central pela UE. A razão é simples. Fruto da integração na própria UE, e das sucessivas perdas de soberania, reconhecidas e aceites por todos, os estados membros já não dispõem das ferramentas necessárias para enfrentar este tipo de problemas. Essa função, inerente à entrega de soberania dos estados à União, cabe agora também a Bruxelas.

    Para além disto, a nossa posição de subserviência para com Alemanha e França, não ajuda mesmo nada….

    Concluindo, até porque não gostaria de abusar da paciência da anfitriã, não é possível resolver problemas económicos e financeiros sérios, com políticas meramente financeiras e orçamentais. A solução só passa pelo crescimento económico, e neste a UE tem que ter, juntamente com o governo português, um papel relevante.

    JHMP

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  2. a palavra, as (suas) palavras, tentar dizer com elas o que se sente, o que queremos transmitir, descrever.
    as palavras contêm tudo, somos nós que por vezes não as sabemos usar de forma plena, defeito nosso, não delas.
    versos perfeitos e rigorosos deste poema de r c: há um tempo para estar só/ há uma ponte em direcção ao tu/há caminhos fora do quarto.

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  3. Claro JHMP,

    Nada a agradecer, eu é que agradeço o seu contributo para a boa compreensão da aflitiva situação económica e financeira do país (e da Europa).

    Concordo com a sua explicação e com a sua análise técnica. E houve uma sua afirmação sua, com a qual concordo, mas que reflecte bem a situação e que é assustadora, é que anda toda a gente às apalpadelas...

    É que se nós víssemos que quem tem o poder nas mãos sabe o que há a fazer, talvez encarássemos tudo isto com menos pessimismo. Mas assim...

    O que espero, meu Caro, é que muitas mais vozes se comecem a levantar para explicar a situação e que muitas mais pessoas percebam que medidas orçamentais e financeiras, desligadas de medidas sociais e económicas são trágicas para o País.

    Obrigada uma vez mais e volte sempre, os seus comentários são da maior utilidade.

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  4. Caro Patrício,

    Ter leitores que nos compreendem, que recebem as nossas ideias com generosidade e empatia, é um privilégio. Muito sinceramente agradeço as sua palavras.

    A poesia, quando é boa, tem várias características - atravessa o tempo, o espaço, é independente das circunstâncias. E, assim, pode, com delicadeza, vir pousar numa realidade diferente daquela que rodeou a sua génese.

    E Rui Caeiro é um fantástico poeta. Quer aqui, quer no Ginjal, rendo-lhe homenagem. Os poemas dele, para além de uma escrita perfeita, limpíssima, contêm sempre uma narrativa interessante. Sempre que os leio, detenho-me, encantada com o que ele soube escrever.

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