sábado, novembro 26, 2011

No mesmo dia, Durão Barroso e Cavaco Silva chamam pouco inteligente a Passos Coelho; Sampaio da Nóvoa, Reitor da Universidade de Lisboa, diz que estamos a ser governados por manageiros, tecnocratas. E, segundo o Expresso, Isaltino de Morais e Duarte Lima - dangereuses liaisons


Como habitualmente, é no carro, sozinha, sem ter com quem comentar, que ouço coisas fantásticas. Apercebo-me que fico de boca aberta, tamanha a estupefacção que me assola não raramente.

Hoje, de carreirinha, ouvi Durão Barroso, a discursar em Portugal, dizer que é muito pouco inteligente cortar no orçamento da Educação, da Cultura, da Ciência. Frisou: é muito pouco inteligente. E explicou que para que algum país se consiga aguentar neste mundo turbulento é nestas três áreas que mais deve apostar. Que, face à escassez de recursos, há que sopesar onde se investe e que é pouco inteligente cortar onde, justamente, se deveria apostar com convicção. Na plateia Nuno Crato ouviu calado. Não deve ter feito outra coisa senão engolir em seco.

Ouvi também Cavaco Silva, honra lhe seja feita, explicando que cortar na despesa é fundamental, que pagar a dívida é fundamental. Mas que não chega - que tem que se relançar a economia, estimular o crescimento, atacar o desemprego. E que o BCE tem que deitar a mão ao afundamento colectivo da Europa, que tem que assumir a dívida dos países, que tem que emitir moeda e que apenas quem não tem conhecimentos nenhuns nesta matéria é que, numa situação destas, pode achar que isto seria mau por favorecer a inflação.



Mas a coisa não se ficou por aqui. Sampaio da Nóvoa, Reitor da Universidade de Lisboa, homem com um discurso que me pareceu sereno e corajoso, disse que estamos a viver tempos de extrema incerteza, governados por manageiros, tecnocratas sem rosto, mãos invisíveis que ninguém controla. É isto mesmo.

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Agora no noticiário da meia-noite ouço o que vai ser a primeira página do Expresso - aquilo de que já tinha ouvido falar, ainda ontem ao almoço foi tema de conversa. As ligações entre Isaltino e Duarte Lima estão a ser investigadas - terrenos em Oeiras, contrapartidas, etc e tal. Diziam-me ontem: são os custos do regime, os custos de contexto. E aquele grupinho de amigos, de compagnons de route, movimentava milhões, mas muitos milhões. Achávamos muito os 6 milhões de que se falava, ao princípio, relativamente a Duarte Lima? Quais seis milhões? Quais quarenta milhões? Upa, upa, dizem.

Milhões que, em última análise, andamos todos agora a pagar através dos nosso impostos.

Tão revoltante.

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Entretanto, a degradação na Europa, qual gangrena, avança. Todos os dias avança um pouco mais.



Bélgica, Itália, Espanha, a gangrena começa a minar o núcleo duro. A Alemanha e a França já a acelerarem os estudos de retirada; a Holanda já com um grupo parlamentar a estudar o fim do euro. E os investidores, os especuladores, os homens que farejam a carniça a salivarem, vai-lhes tudo cair no colo de mão beijada. E nós no package, nós os que perderemos a soberania, os direitos, o orgulho.

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Mas é sábado, não é dia para carpir. Nem pensar. Sábado é dia de festa. Queiram, portanto, meus amigos descer um pouco mais. Tenho uma coisa à maneira para vos mostrar. Gente divertida, gente que nos diverte, e arte, meus amigos, arte, dança, música. O mundo pode despedaçar-se que nós, meus amigos, continuaremos aqui a fruir a arte. Posso contar convosco, não posso?

Desçamos, então, juntos.
 

3 comentários:

  1. Tão revoltante, como diz. E não digo mais nada, porque a dizer, não mais me calaria. Estou sempre atenta e a sua palavra é a minha. Também, comigo mesma, porque parece, que quando falo destas coisas, existem, trivialidades na vida das pessoas, mesmo das que nos parecem ser as mais inteligentes, que não querem ouvir... Está tudo a querer viver noutro mundo, em que não se passa nada. Esta atitude, é mais preocupante do que aquilo que se vai passando...
    TBM

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  2. É isso, TBM, à ganância torpe de uns quantos, têm depois todos que acorrer, todos os que jamais beneficiaram ou beneficiarão desses rendimentos.

    Quando um terreno para construir um edifício público custa o dobro do que poderia custar, quando uma obra pública custa o dobro do que poderia custar ou quando um banco insolvente é nacionalizado, é através dos nossos impostos que as contas são equilibradas.

    E isso é a 'pequena' corrupção nacional. A seguir há a grande agnância internacional de que nem se conhecem os rostos.

    Deixamos que qualquer um nos possa usar porque nos deixámos tornar demasiado indefesos. E colocámos a governação dos nossos países (e, logo, dos nossos países) nas mãos de quem nem sabe o que anda a fazer.

    Revoltante. Deprimente. Assustador.

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  3. Ora, aí está....
    TBM

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